Aula de Náutica do Porto: diferenças entre revisões
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A Aula de Náutica do Porto foi criada em 30 de Julho de 1762 por iniciativa da Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756), pertencendo a um conjunto de investimentos em instrução em que se incluem a fundação da [[Aula de Desenho e Debuxo do Porto]] e a Aula de Matemática, Comércio e Línguas Vivas<ref>Ribeiro, ''Historia'', 296.</ref>. | A Aula de Náutica do Porto foi criada em 30 de Julho de 1762 por iniciativa da Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756), pertencendo a um conjunto de investimentos em instrução em que se incluem a fundação da [[Aula de Desenho e Debuxo do Porto]] e a Aula de Matemática, Comércio e Línguas Vivas<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos Scientificos'', 1:296.</ref>. | ||
A criação da Aula de Náutica procede do Alvará Régio de 24 de Novembro de 1761, que acede ao pedido da Junta Administrativa da Companhia para a criação de duas Fragatas de Guerra para protecção das esquadras comerciais com destino ao Brasil contra as abordagens e perseguições de "''toda a sorte de Mouros''" e "''alguns Piratas''" nas costas continentais portuguesas e em alto-mar<ref>Ribeiro, ''Historia'', 300-301.</ref>. A petição da Junta Administrativa procurava assim garantir a segurança do transporte para portos estrangeiros da principal riqueza produzida, o vinho. Em resultado, o decreto de 30 de Julho de 1762 estabelecia por necessário "''que ao mesmo tempo se criem Oficiais com educação para aquele importante serviço [nomeadamente] doze Tenentes do mar e dezoito Guardas Marinhas'' (...) ''com Aula, e Residencia na mesma cidade do Porto''"<ref>Ribeiro, ''Historia'', 300-301.</ref> sendo, a par das Fragatas, custeados por um acréscimo de 2% na tributação alfandegária e fretes pagos pela Companhia. | A criação da Aula de Náutica procede do Alvará Régio de 24 de Novembro de 1761, que acede ao pedido da Junta Administrativa da Companhia para a criação de duas Fragatas de Guerra para protecção das esquadras comerciais com destino ao Brasil contra as abordagens e perseguições de "''toda a sorte de Mouros''" e "''alguns Piratas''" nas costas continentais portuguesas e em alto-mar<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos Scientificos'', 1:300-301.</ref>. A petição da Junta Administrativa procurava assim garantir a segurança do transporte para portos estrangeiros da principal riqueza produzida, o vinho. Em resultado, o decreto de 30 de Julho de 1762 estabelecia por necessário "''que ao mesmo tempo se criem Oficiais com educação para aquele importante serviço [nomeadamente] doze Tenentes do mar e dezoito Guardas Marinhas'' (...) ''com Aula, e Residencia na mesma cidade do Porto''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos Scientificos'', 1:300-301.</ref> sendo, a par das Fragatas, custeados por um acréscimo de 2% na tributação alfandegária e fretes pagos pela Companhia. | ||
A criação da Aula de Náutica do Porto enquadra-se no processo de institucionalização descentralizada do ensino náutico até então assegurado, em Lisboa, pela Aula do Cosmógrafo-mor (séc. XVI) e pela Aula da Esfera do Colégio de Sto. Antão, regida pela Companhia de Jesus e extinta aquando da expulsão dos Jesuítas, de que resultou o "''elevado estado de degradação''" do ensino náutico em Portugal<ref>Araújo, ''250 anos'', 15-16.</ref>. A criação da nova Aula resultava assim "''a partir de interesses instalados, cujo relacionamento próximo entre o comércio e a política iria rentabilizar e agilizar''", o que explica a celeridade do Marquês de Pombal na resposta à petição dos comerciantes e o enquadramento daquela nas reformas de instrução que realizou<ref>Ferreira, "A Institucionalização", 138-139.</ref>. | A criação da Aula de Náutica do Porto enquadra-se no processo de institucionalização descentralizada do ensino náutico até então assegurado, em Lisboa, pela Aula do Cosmógrafo-mor (séc. XVI) e pela Aula da Esfera do Colégio de Sto. Antão, regida pela Companhia de Jesus e extinta aquando da expulsão dos Jesuítas, de que resultou o "''elevado estado de degradação''" do ensino náutico em Portugal<ref>Araújo, ''250 anos'', 15-16.</ref>. A criação da nova Aula resultava assim "''a partir de interesses instalados, cujo relacionamento próximo entre o comércio e a política iria rentabilizar e agilizar''", o que explica a celeridade do Marquês de Pombal na resposta à petição dos comerciantes e o enquadramento daquela nas reformas de instrução que realizou<ref>Ferreira, "A Institucionalização", 138-139.</ref>. |
Revisão das 17h06min de 7 de agosto de 2022
Aula de Náutica do Porto | |
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(valor desconhecido) | |
Outras denominações | Aula Náutica do Porto |
Tipo de Instituição | Ensino civil |
Data de fundação | 30 julho 1762 |
Data de extinção | 9 fevereiro 1803 |
Paralisação | Início: valor desconhecido Fim: valor desconhecido |
Localização | |
Localização | Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, Porto,- |
Antecessora | valor desconhecido |
Sucessora | Academia Real de Marinha e Comércio do Porto |
História
A Aula de Náutica do Porto foi criada em 30 de Julho de 1762 por iniciativa da Junta Administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756), pertencendo a um conjunto de investimentos em instrução em que se incluem a fundação da Aula de Desenho e Debuxo do Porto e a Aula de Matemática, Comércio e Línguas Vivas[1].
A criação da Aula de Náutica procede do Alvará Régio de 24 de Novembro de 1761, que acede ao pedido da Junta Administrativa da Companhia para a criação de duas Fragatas de Guerra para protecção das esquadras comerciais com destino ao Brasil contra as abordagens e perseguições de "toda a sorte de Mouros" e "alguns Piratas" nas costas continentais portuguesas e em alto-mar[2]. A petição da Junta Administrativa procurava assim garantir a segurança do transporte para portos estrangeiros da principal riqueza produzida, o vinho. Em resultado, o decreto de 30 de Julho de 1762 estabelecia por necessário "que ao mesmo tempo se criem Oficiais com educação para aquele importante serviço [nomeadamente] doze Tenentes do mar e dezoito Guardas Marinhas (...) com Aula, e Residencia na mesma cidade do Porto"[3] sendo, a par das Fragatas, custeados por um acréscimo de 2% na tributação alfandegária e fretes pagos pela Companhia.
A criação da Aula de Náutica do Porto enquadra-se no processo de institucionalização descentralizada do ensino náutico até então assegurado, em Lisboa, pela Aula do Cosmógrafo-mor (séc. XVI) e pela Aula da Esfera do Colégio de Sto. Antão, regida pela Companhia de Jesus e extinta aquando da expulsão dos Jesuítas, de que resultou o "elevado estado de degradação" do ensino náutico em Portugal[4]. A criação da nova Aula resultava assim "a partir de interesses instalados, cujo relacionamento próximo entre o comércio e a política iria rentabilizar e agilizar", o que explica a celeridade do Marquês de Pombal na resposta à petição dos comerciantes e o enquadramento daquela nas reformas de instrução que realizou[5].
A Aula de Náutica ficava sobre a alçada da Companhia Geral da Agricultura e da sua implementação foi incumbido João de Almada e Melo, governador de armas do Porto[6], sendo a nomeação de professores efetivos e substitutos prerrogativa régia[7]. Constituída numa das salas do Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, as primeira lições decorreram a partir de 1764[8] em formato diário[9]. Já em 1779 a Companhia representava com sucesso a D. Maria I pela criação de uma Aula de Desenho e Debuxo para que os alunos da Aula de Náutica recebessem instrução sobre cartas geográficas e topográficas[10]. Entre 1775 e 1782, o livro de matrículas da Aula Náutica registou uma média de dez alunos matriculados por ano, com excepção dos anos de 1778 e 1779 em que se verificou a matricula de apenas três e dois alunos, respectivamente[11]. A procura continuada pela Aula de Náutica explica-se também pela necessidade decorrente da intensificação dos contactos comerciais entre a Companhia Geral e o Mar Báltico, cuja navegação era exigente do ponto de vista técnico e constituiu experiência de ensino prático da náutica para os alunos[12].
Não obstante, na transição para a centúria de oitocentos a Aula de Náutica registava um estado de degradação possivelmente iniciado com a morte do Lente José Monteiro Salazar. Verificava-se um decréscimo acentuado de alunos inscritos na Aula de Náutica, contando apenas uma matrícula em 1796, e a ausência das condições necessárias para preparar os alunos do Colégio de Órfãos para a prática nos navios ou para o exame de pilotagem dados os poucos ou nenhuns conhecimentos de náutica que adquiriam[13]. Em resultado, a Aula de Náutica foi extinta e, juntamente com a Aula de Desenho e Debuxo, constituiu a instituição que lhe sucedeu, a Academia Real de Marinha e Comércio do Porto criada em 9 de Fevereiro de 1803[14].
Outras informações
Instrumentos adquiridos: agulha de marear (1765); dois globos (1766) e quadrantes (1773)[15].
Manuais adoptados: M. Pimentel. Arte de Navegar, 1762?[16].
Professores
António Rodrigues (Roiz) dos Santos (1764 e 1769).
José Monteiro Salazar (1770 e 1789).
Desconhece-se o Lente que sucedeu a José Monteiro Salazar[17].
Curricula
Notas
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos Scientificos, 1:296.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos Scientificos, 1:300-301.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos Scientificos, 1:300-301.
- ↑ Araújo, 250 anos, 15-16.
- ↑ Ferreira, "A Institucionalização", 138-139.
- ↑ Araújo, 250 anos, 16.
- ↑ Ferreira, "A Institucionalização", 139; 141.
- ↑ Araújo, 250 anos, 17.
- ↑ Arquivo da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro. "Registo da carta patente nomeando António Rodrigues dos Santos, capitão-tenente das fragatas e mestre da Aula Náutica, conferida em 12 de Maio de 1764", Cópias de avisos e ordens régias 1761-1800, inv. F.001 - liv. 2, p. 15.
- ↑ Araújo, 250 anos, 18.
- ↑ Idem, Ibidem.
- ↑ Araújo, 250 anos, 18-19.
- ↑ Araújo, 250 anos, 20-21.
- ↑ Idem, Ibidem.
- ↑ Araújo, 250 anos, 31.
- ↑ Idem, Ibidem.
- ↑ Araújo, 250 anos, 17-18.
Fontes
Arquivo da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro. "Registo da carta patente nomeando António Rodrigues dos Santos, capitão-tenente das fragatas e mestre da Aula Náutica, conferida em 12 de Maio de 1764", Cópias de avisos e ordens régias 1761-1800, inv. F.001 - liv. 2, 15.
Bibliografia
Araújo, José Moreira de, Bernardo, Luís Miguel, Monteiro, Marisa. 250 anos da criação da Aula Náutica do Porto. Porto: Universidade do Porto, 2012.
Ferreira, Nuno Martins. "A Institucionalização do Ensino da Náutica em Portugal (1779-1807)." PhD diss., Universidade de Lisboa, 2013.
Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia. Vol. 1. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.
Ligações Internas
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Categoria: Aula de Náutica do Porto
Ligações Externas
Autor(es) do artigo
João de Almeida Barata
https://orcid.org/0000-0001-9048-0447
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-cientificas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
Citar este artigo
- Aula de Náutica do Porto (última modificação: 07/08/2022). eViterbo. Visitado em 27 de setembro de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_de_N%C3%A1utica_do_Porto