Pedro de Azevedo Carneiro: diferenças entre revisões

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===Dados biográficos=== <!--Nome pelo qual é conhecido. Local de nascimento. Data. Filiação (pai/mãe). Casamento(s). Filhos(s). Formação escolar e académica. Sítios onde estudou. Outros dados biográficos que sejam interessantes/relevantes-->
===Dados biográficos=== <!--Nome pelo qual é conhecido. Local de nascimento. Data. Filiação (pai/mãe). Casamento(s). Filhos(s). Formação escolar e académica. Sítios onde estudou. Outros dados biográficos que sejam interessantes/relevantes-->
Pedro de Azevedo Carneiro era natural de Lisboa, filho de Pedro Carneiro<ref>Chambouleyron, Viana, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 44.</ref>, e terá nascido por volta de 1646-1650.   
Pedro de Azevedo Carneiro nasceu, possivelmente, entre 1646 e 1650. Era natural de Lisboa e filho de Pedro Carneiro<ref>Chambouleyron, Viana, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 44.</ref>, tendo sido pai de Félix de Azevedo Carneiro e Cunha<ref name=":3" />. Não foi possível aferir a data da sua morte.   


Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi um dos doze alunos com partido na ''“aula real”'' ([[Aula de Fortificação de Lisboa]]) onde aprendeu ''“geometria e fortificação”'', ''“mostrando muito bom talento e suficiência não só nas ditas ciências mas também na arte do manejo e formatura dos esquadrões”''<ref name=":4">Arquivo do Conselho Ultramarino, liv. 7 de Officios, fólio 98, registo 120. Citado in Viterbo, ''Diccionario Histórico e Documental dos Architectos'', 1:78-79.</ref>. Estas informações constam da sua carta de nomeação para o cargo de Engenheiro do Estado do Maranhão, para onde foi, em companhia do governador Gomes Freire de Andrade, em 1685. Acompanharam-no seu filho Félix de Azevedo Carneiro e o seu sobrinho Manuel Correia Campelo<ref name=":5">Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 3, D. 267. </ref>. Trabalhou no Estado do Maranhão e Grão Pará entre 1685 e 1692, quando voltou para Portugal. Desconhece-se a data da sua morte.   
Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi um dos doze alunos com partido na ''“aula real”'' ([[Aula de Fortificação de Lisboa]]) onde aprendeu ''“geometria e fortificação”'', ''“mostrando muito bom talento e suficiência não só nas ditas ciências mas também na arte do manejo e formatura dos esquadrões”''<ref name=":4">Arquivo do Conselho Ultramarino, liv. 7 de Officios, fólio 98, registo 120, citado in Viterbo, ''Diccionario Histórico e Documental dos Architectos'', 1:78-79.</ref>. Estas informações constam da sua carta de nomeação para o cargo de Engenheiro do Estado do Maranhão, para onde foi, em companhia do governador Gomes Freire de Andrade, em 1685. Acompanharam-no seu filho Félix de Azevedo Carneiro e o seu sobrinho Manuel Correia Campelo<ref name=":5">Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 3, D. 267. </ref>. Trabalhou no Estado do Maranhão e Grão Pará entre 1685 e 1692, quando voltou para Portugal.   


===Carreira===<!-- Fazer copy/paste do que escreveram em Excel (caixas de notas). Incluí prémios e condecorações/homenagens/ títulos honoríficos. Este é o local para colocar toda a informação que não cabe nas info-box, como por exemplo, as justificações das informações que estão na info-box. subdividida em períodos se necessário-->  
===Carreira===<!-- Fazer copy/paste do que escreveram em Excel (caixas de notas). Incluí prémios e condecorações/homenagens/ títulos honoríficos. Este é o local para colocar toda a informação que não cabe nas info-box, como por exemplo, as justificações das informações que estão na info-box. subdividida em períodos se necessário-->  


Em 1662, fez a campanha de Jerumenha como simples soldado voluntário. Em 1663, já pago, embarca em uma das fragatas da armada destinadas a correr a costa, em 1664 estava no comboio que foi para a Bahia. Em 1666, era cabo de esquadra da armada e depois da paz passou a alferes e ajudante de um dos terços da Corte<ref name=":1">Sepúlveda, ''História Organica e Política do Exército Português'', 7:177.  </ref>. Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi, como se disse, aluno com partido na [[Aula de Fortificação de Lisboa]]<ref name=":4" />. Em 1685, foi nomeando para o cargo de engenheiro do Estado do Maranhão e Grão Pará, em substituição de [[Tomé Pinheiro de Miranda]] que tinha falecido. Tal como o seu antecessor, recebeu o posto de capitão de infantaria e o soldo correspondente.  
Em 1662, fez a campanha da Jerumenha como simples soldado voluntário. Em 1663, já pago, embarca em uma das fragatas da armada destinadas a correr a costa. No ano seguinte encontrava-se em trânsito, no comboio que foi para a Bahia. Em 1666, era cabo de esquadra da armada e, depois da paz, passou a alferes e ajudante de um dos terços da Corte<ref name=":1">Sepúlveda, ''História Organica e Política do Exército Português'', 7:177.  </ref>. Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi aluno com partido na [[Aula de Fortificação de Lisboa]]<ref name=":4" />, tendo sido nomeado, nesse último ano, para o cargo de engenheiro do Estado do Maranhão e Grão Pará, em substituição de [[Tomé Pinheiro de Miranda]], que tinha falecido. Tal como o seu antecessor, recebeu o posto de capitão de infantaria e o soldo correspondente.  


Na sua correspondência, em mais de uma ocasião, refere as dificuldades que tinha para sustentar-se com o seu soldo nas dilatadas jornadas que tinha de fazer para cumprir as ordens que recebia. Numa destas representações esclarece que não podia atender com o seu soldo à sua mulher e filhas que tinham permanecido em Lisboa e que estas ''“da mesma maneira lhes não é possível passarem com as limitações dos trinta (ou três?) mil reis da aula que Vossa Majestade foi servido me ficarem correndo para seu sustento”''<ref name=":5" />.  
Na sua correspondência, em mais de uma ocasião, refere as dificuldades que tinha para sustentar-se com o soldo recebido nas dilatadas jornadas que tinha de fazer para cumprir as ordens que recebia. Numa destas representações esclarece que não podia atender com o seu soldo à sua mulher e filhas, que tinham permanecido em Lisboa, e que para aquelas, ''“da mesma maneira lhes não é possível passarem com as limitações dos trinta (ou três?) mil reis da aula que Vossa Majestade foi servido me ficarem correndo para seu sustento”''<ref name=":5" />.  


Em 1690, Azevedo Carneiro pediu para que lhe fosse concedida licença para voltar ao reino para tratar da sua saúde, frequentando as Caldas, pois tinha adquirido uma doença no Cabo do Norte que o deixara aleijado do braço esquerdo e de uma perna. Na petição, alegava os termos da sua carta de nomeação, que determinava que deveria voltar com o governador Gomes Freire de Andrade (1685-1687)<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ ACL_CU_009, Cx. 7, D. 827.</ref>. Em 1691, a licença foi concedida e, neste mesmo ano, [[Custódio Pereira]] foi nomeado para o substituir no cargo de capitão engenheiro da capitania do Maranhão. Azevedo Carneiro voltou para Lisboa em 1692. O seu filho deve ter permanecido no Pará, pois há na Torre do Tombo uma carta de confirmação de sesmaria em nome de Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, datada de 1714<ref>Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/TT/RGM/C/0006/379732. Carta de confirmação de sesmaria a Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, 1714 </ref>.  
Em 1690, Azevedo Carneiro pediu para que lhe fosse concedida licença para voltar ao reino para tratar da sua saúde, frequentando as Caldas, pois tinha adquirido uma doença no Cabo do Norte, que o deixara aleijado do braço esquerdo e de uma perna. Na petição, alegava os termos da sua carta de nomeação, que determinava que deveria voltar com o governador Gomes Freire de Andrade (1685-1687)<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ ACL_CU_009, Cx. 7, D. 827.</ref>. Em 1691, a licença foi concedida e, neste mesmo ano, [[Custódio Pereira]] foi nomeado para o substituir no cargo de capitão engenheiro da capitania do Maranhão. Azevedo Carneiro voltou para Lisboa em 1692. O seu filho deve ter permanecido no Pará, pois há na Torre do Tombo uma carta de confirmação de sesmaria em nome de Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, datada de 1714<ref name=":3">Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/TT/RGM/C/0006/379732. Carta de confirmação de sesmaria a Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, 1714. </ref>.  


Em 1695, o engenheiro escreveu, já em Lisboa, um longo relatório sobre todas as fortificações do Estado apontando as obras e guarnições que lhe pareciam necessárias em cada uma delas. Neste relatório recomenda que se cuidasse especialmente da instrução dos artilheiros sugerindo que se mandasse fazer na casa forte do Pará ''“uma casa de tenência onde esteja o trem de artilharia, e onde se leia lição, ao menos duas vezes na semana, e quando se queira encarregar o sargento mor engenheiro [[José Velho de Azevedo]] me parece capaz de poder ensinar artilheiros, e mais oficiais na lição assim de suas obrigações”''<ref name=":2">Relatório de Pedro de Azevedo Carneiro, datado de 30 de Dezembro de 1695. Publicado em Reis, "As Fortificações da Amazônia no Período Colonial", 217-227.</ref>.
Em 1695, o engenheiro escreveu, já em Lisboa, um longo relatório sobre todas as fortificações do Estado apontando as obras e guarnições que lhe pareciam necessárias em cada uma delas. Neste relatório, recomendava que se cuidasse, especialmente, da instrução dos artilheiros, sugerindo que se mandasse fazer na casa forte do Pará ''“uma casa de tenência onde esteja o trem de artilharia, e onde se leia lição, ao menos duas vezes na semana, e quando se queira encarregar o sargento mor engenheiro [[José Velho de Azevedo]] me parece capaz de poder ensinar artilheiros, e mais oficiais na lição assim de suas obrigações”''<ref name=":2">Relatório de Pedro de Azevedo Carneiro, datado de 30 de Dezembro de 1695, publicado em Reis, "As Fortificações da Amazônia no Período Colonial", 217-227.</ref>.


Em outras ocasiões já tinha feito recomendações similares, quer para a instrução de artilheiros, quer de engenheiros, propondo-se para ambas as funções. Embora tenham sido objeto de duras críticas da parte do então governador do estado Artur de Sá e Menezes, as suas propostas são muito interessantes, sobretudo porque antecedem a carta régia emitida por D. Pedro II, em 1699, que determinava que havendo engenheiro no Estado, se deveria estabelecer uma aula de fortificação. Ver mais elementos sobre este assunto em [[Aula de Fortificação de São Luís]].
Em outras ocasiões, já tinha feito recomendações similares, quer para a instrução de artilheiros, quer de engenheiros, propondo-se para ambas as funções. Embora tenham sido objeto de duras críticas da parte do, então, governador do estado Artur de Sá e Menezes, as suas propostas são muito interessantes. Sobretudo porque antecedem a carta régia emitida por D. Pedro II em 1699, que determinava que havendo engenheiro no Estado, se deveria estabelecer uma aula de fortificação. Relativamente a esta última, podem ser consultadas mais informações no verbete sobre a [[Aula de Fortificação de São Luís]].


Em 1697, foi nomeado capitão engenheiro das fortificações da praça de Peniche na vaga deixada pelo sargento-mor [[Mateus do Couto (2)|Mateus do Couto]]. Receberia por soldo ''“nove mil reis por mês, entrando nele os três mil que vence do partido da Aula e os seis mil dos dez que vagaram pelo sargento-mor Mateus do Couto”''<ref name=":1" />.    
Em 1697, Pedro de Azevedo Carneiro foi nomeado capitão engenheiro das fortificações da praça de Peniche, ocupando a vaga deixada pelo sargento-mor [[Mateus do Couto (2)|Mateus do Couto]]. Por soldo receberia ''“nove mil reis por mês, entrando nele os três mil que vence do partido da Aula e os seis mil dos dez que vagaram pelo sargento-mor Mateus do Couto”''<ref name=":1" />.    


===Outras informações=== <!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
===Outras informações=== <!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
Teria alguma relação com a casa de Pedro Sánchez de Farinha, que foi secretário de estado do rei D. Afonso VI, de 1663 a 1667, e secretário das mercês do rei D. Pedro II de 1668 a 1693. Foi também capitão donatário das Ilhas do Pico e Faial, tendo lhe sucedido o seu filho Rodrigo Sánchez de Baena e Farinha, a quem Pedro de Azevedo Carneiro refere como seu amo<ref name=":5" />.  
Pedro Carneiro teria alguma relação com a casa de Pedro Sánchez de Farinha - secretário de estado do rei D. Afonso VI entre 1663 e 1667, bem como, secretário das mercês do rei D. Pedro II de 1668 a 1693. Foi também capitão donatário das Ilhas do Pico e Faial. Foi sucedido pelo seu filho Rodrigo Sánchez de Baena e Farinha, a quem Pedro de Azevedo Carneiro refere como seu amo<ref name=":5" />.
 
==Obras== <!-- Incluí projectos não realizados mas sobre os quais tenhamos informação. Pode incluir informação que não sendo segura, pode ser atribuída; por exemplo: uma determinada obra sobre a qual haja informação de que deve ser atribuída a x pessoa, não deve ser acrescentada na info-box, mas deve constar aqui-->
==Obras== <!-- Incluí projectos não realizados mas sobre os quais tenhamos informação. Pode incluir informação que não sendo segura, pode ser atribuída; por exemplo: uma determinada obra sobre a qual haja informação de que deve ser atribuída a x pessoa, não deve ser acrescentada na info-box, mas deve constar aqui-->
Pedro de Azevedo Carneiro conheceu e atuou em, praticamente, todas as fortificações existentes no Estado do Maranhão e Grão Pará no período em que ali permaneceu.  
Pedro de Azevedo Carneiro conheceu e atuou em, praticamente, todas as fortificações existentes no Estado do Maranhão e Grão Pará no período em que ali permaneceu.  


Entre 1685 e 1687, durante o governo de Gomes Freire de Andrade, foi encarregado de desenhar as fortalezas que o superintendente Francisco da Mota Falcão se obrigou a fazer no rio Amazonas. ''“Chegado ao Maranhão, depois de sossegado aquele povo, me ordenou o general Gomes Freire de Andrade partisse com o superintendente ao Pará para dali fazer viagem aos lugares ou sítios que vinham nomeados na provisão'' (...) ''para os rios Tapajós e Urubu e Madeira e rio Negro, para onde logo com efeito parti"''<ref name=":5" />.
Entre 1685 e 1687, durante o governo de Gomes Freire de Andrade, foi encarregado de desenhar as fortalezas que o superintendente Francisco da Mota Falcão se obrigou a fazer no rio Amazonas: ''“Chegado ao Maranhão, depois de sossegado aquele povo, me ordenou o general Gomes Freire de Andrade partisse com o superintendente ao Pará para dali fazer viagem aos lugares ou sítios que vinham nomeados na provisão'' (...) ''para os rios Tapajós e Urubu e Madeira e rio Negro, para onde logo com efeito parti"''<ref name=":5" />.  
 
O primeiro trabalho foi a seleção de um sítio para estabelecer uma fortificação na proximidade do rio Urubu. É o próprio engenheiro que diz que desenhou ''“uma fortaleza não muito capaz de defensa pela pequenez dela, suposto que desenhei segundo a arte”''<ref name=":5" />. Refere, expressamente, que a fortificação se destinava sobretudo a resistir aos gentios ''“que para estes qualquer casa forte bastava para se resistir”,'' e que o Governador tinha concordado ''“que se fizessem na forma das plantas que remeteu a Sua Majestade pelo seu Conselho Ultramarino”''<ref name=":5" />.
 
Azevedo Carneiro interveio também na fortaleza do Gurupá e na fortaleza Paru sobre a qual diz a ter desenhado ''“na forma de uma estrela  quadrangular”''. Sobre a fortaleza de Tapajós diz que “''desenhei esta fortaleza, cidadela regular com quatro baluartes''”<ref name=":5" />.
 
As obras da fortaleza do Tapajós foram logo iniciadas, e juntamente com elas instalaram-se os conflitos entre o engenheiro e o superintendente responsável pelas obras. Pedro Azevedo Carneiro acusava constantemente Francisco da Mota Falcão de não ter o empenho necessário para fazer as obras que se tinha comprometido. Sobre a fortaleza do Tapajós dirá, em 1687, que a tinha ''“desenhado há muito mais de um ano”'' e que ainda não se tinha acabado de abrir os alicerces ''“por mais diligencias que tenho feito”.'' Esta acusação vai ser muitas vezes repetida pelo engenheiro que argumentava que as fortificações deveriam ser feitas ''“por conta de Sua Majestade”'' pois não era conveniente fazerem-se por particulares que visavam sobretudo os seus interesses próprios.


Em 1687, enquanto ainda estava no Tapajós, Azevedo Carneiro recebe ordens para ir para o Cabo do Norte para vistoriar os locais onde se deveriam estabelecer fortificações para defender a região do perigo que representavam as entradas dos franceses a partir de Caiena. O engenheiro vai juntamente com o então capitão-mor do Pará, António de Albuquerque Coelho de Carvalho e com o padre jesuíta [[Alois Konrad Pfeil]], que era reconhecido pelos seus pares como excelente matemático, pintor e cartógrafo<ref name=":0">Leite, ''História da Companhia de Jesus no Brasil'', 3:533. </ref>. Segundo o capitão-mor, o objetivo da expedição era vistoriarem-se as fortalezas de Torrego, Cumau e Araguari, ''“todas ganhas pelas armas portuguesas”'', que o engenheiro deveria ''“fazer plantas para se reedificarem ou fabricarem de novo solicitando porém descobrir outros melhores terrenos, que achar pudesse, em os quais, se respeitasse o salutífero dos ares, a qualidade da terra, e fertilidade de mantimentos, que tudo capacitasse o sítio para poder ter povoação de brancos”''<ref name=":0" />. A decisão tomada pelo integrantes da expedição foi fazer-se apenas uma casa forte no rio Araguari, porque o local era alagadiço e não permitia fortificação melhor, mas era importante para impedir a entrada dos franceses, e uma fortaleza no Cumaú, na terra firme, onde se poderia fazer uma povoação.  
O primeiro trabalho foi a seleção de um sítio para estabelecer uma fortificação na proximidade do rio Urubu. É o próprio engenheiro que afirma ter desenhado ''“uma fortaleza não muito capaz de defensa pela pequenez dela, suposto que desenhei segundo a arte”''<ref name=":5" />. Refere, expressamente, que a fortificação se destinava, sobretudo, a resistir aos gentios, ''“que para estes qualquer casa forte bastava para se resistir”,'' e que o Governador tinha concordado ''“que se fizessem na forma das plantas que remeteu a Sua Majestade pelo seu Conselho Ultramarino”''<ref name=":5" />.  


O desenho para a casa forte no rio Araguari, feito em 1688, encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CARTm_013, D. 0788.</ref>. Acerca desta casa forte Azevedo Carneiro dirá que ''“por não haver no dito sítio, nem nos seus arredores, pau incorruptível de girau, a fiz com paus de breu, e outros deste género, pouco duráveis, e faxina porem feito com tal arte, que vindo ali em uma ocasião o Governador de Caiena, Monsieur de Ferrolle acompanhado de um capitão com sua companhia de mais de trinta soldados e mais oficiais, e índios seus compadres, se não atreveu a assaltá-la, disfarçando o intento por não experimentar o perigo, e continuando a conseguir outra empresa mais a seu salvo se partiu para Cumaú”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino cartografia manuscrita Maranhão 828-829 e documentação anexa, 15 de Março de 1692. AHU_CARTm_009, D. 0828/D. 0829 </ref>.  
Azevedo Carneiro interveio também na fortaleza do Gurupá e na fortaleza Paru. No que concerne à última, referia tê-la desenhado ''“na forma de uma estrela  quadrangular”''. Sobre a fortaleza de Tapajós diz que “''desenhei esta fortaleza, cidadela regular com quatro baluartes''”<ref name=":5" />. Quando as obras da fortaleza do Tapajós foram iniciadas, juntamente com elas instalaram-se os conflitos entre o engenheiro e o superintendente responsável pelas obras. Pedro Azevedo Carneiro acusava constantemente Francisco da Mota Falcão de não ter o empenho necessário para fazer as obras que se tinha comprometido. Sobre a fortaleza do Tapajós dirá, em 1687, que a tinha ''“desenhado há muito mais de um ano”'' e que ainda não se tinha acabado de abrir os alicerces ''“por mais diligencias que tenho feito”.'' Esta acusação vai ser muitas vezes repetida pelo engenheiro que argumentava que as fortificações deveriam ser feitas ''“por conta de Sua Majestade”'' pois não era conveniente fazerem-se por particulares que visavam sobretudo os seus interesses próprios.  


A seguir às obras no Cabo do Norte, foi encarregado das fortificações da barra do Pará e de São Luís. No início de uma memória sua intitulada ''“extracto da Planta do Forte que se está fazendo na ponta de João Dias, barra da cidade de São Luís do Maranhão”'' diz o engenheiro: ''“... pois que eram irremediáveis as dificuldades apontadas, e tão necessária a fortificação a aquela barra, me acomodei ao mais pequeno polígono que admite o nosso Methodo Lusitâno, e ao mais pequeno perfil da taboada nª 7 sobre as grossuras dos fortes quadrados...”''<ref name=":2" />.  
Em 1687, enquanto ainda estava no Tapajós, Azevedo Carneiro recebe ordens para ir para o Cabo do Norte vistoriar os locais onde se deveriam estabelecer fortificações para defender a região do perigo que representavam as entradas dos franceses a partir de Caiena. O engenheiro vai juntamente com o então capitão-mor do Pará, António de Albuquerque Coelho de Carvalho e com o padre jesuíta [[Alois Konrad Pfeil]], que era reconhecido pelos seus pares como excelente matemático, pintor e cartógrafo<ref name=":0">Leite, ''História da Companhia de Jesus no Brasil'', 3:533. </ref>. Segundo o capitão-mor, o objetivo da expedição era vistoriarem-se as fortalezas de Torrego, Cumau e Araguari, ''“todas ganhas pelas armas portuguesas”'', que o engenheiro deveria ''“fazer plantas para se reedificarem ou fabricarem de novo solicitando porém descobrir outros melhores terrenos, que achar pudesse, em os quais, se respeitasse o salutífero dos ares, a qualidade da terra, e fertilidade de mantimentos, que tudo capacitasse o sítio para poder ter povoação de brancos”''<ref name=":0" />. A decisão tomada pelo integrantes da expedição foi fazer-se apenas uma casa forte no rio Araguari, porque o local era alagadiço e não permitia fortificação melhor, sendo, porém, importante para impedir a entrada dos franceses; e uma fortaleza no Cumaú, na terra firme, onde se poderia fazer uma povoação.  


Na mesma carta, depois de seguir justamente explanando a metodologia utilizada na conceção do projeto do forte em São Luís cita a fortaleza da Barra de Belém ''“... a qual há de ser redonda como a torre do Bugio da Cidade de Lisboa, como se verá da planta que fiz...”''<ref name=":2" />.
O desenho para a casa forte no rio Araguari, feito em 1688, encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CARTm_013, D. 0788.</ref>. Acerca desta casa forte Azevedo Carneiro dirá que ''“por não haver no dito sítio, nem nos seus arredores, pau incorruptível de girau, a fiz com paus de breu, e outros deste género, pouco duráveis, e faxina porem feito com tal arte, que vindo ali em uma ocasião o Governador de Caiena, Monsieur de Ferrolle acompanhado de um capitão com sua companhia de mais de trinta soldados e mais oficiais, e índios seus compadres, se não atreveu a assaltá-la, disfarçando o intento por não experimentar o perigo, e continuando a conseguir outra empresa mais a seu salvo se partiu para Cumaú”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino cartografia manuscrita Maranhão 828-829 e documentação anexa, 15 de Março de 1692. AHU_CARTm_009, D. 0828/D. 0829. </ref>.  


Não se conhece a planta original de Azevedo Carneiro, mas um desenho executado em 1696 por [[José Velho de Azevedo]], apresenta a fortaleza da Barra que terá sido executada segundo o seu projeto em forma redonda<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D. 0790/0791. </ref>.  
A seguir às obras no Cabo do Norte, foi encarregado das fortificações da barra do Pará e de São Luís. No início de uma memória sua intitulada ''“extracto da Planta do Forte que se está fazendo na ponta de João Dias, barra da cidade de São Luís do Maranhão”'' diz o engenheiro: ''“''(...) ''pois que eram irremediáveis as dificuldades apontadas, e tão necessária a fortificação a aquela barra, me acomodei ao mais pequeno polígono que admite o nosso Methodo Lusitâno, e ao mais pequeno perfil da taboada nª 7 sobre as grossuras dos fortes quadrados'' (...)''”''<ref name=":2" />. Na mesma carta, depois de seguir, justamente, explanando a metodologia utilizada na conceção do projeto do forte em São Luís, cita a fortaleza da Barra de Belém ''“''(...) ''a qual há de ser redonda como a torre do Bugio da Cidade de Lisboa, como se verá da planta que fiz'' (...)''”''<ref name=":2" />. Não se conhece a planta original de Azevedo Carneiro, mas um desenho executado em 1696 por [[José Velho de Azevedo]], apresenta a fortaleza da Barra que terá sido executada segundo o seu projeto em forma redonda<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D. 0790/0791. </ref>.  


==Notas==<!-- a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->  
==Notas==<!-- a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->  
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==Bibliografia== <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Bibliografia== <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
Arthur Cézar Ferreira Reis. "<i>As Fortificações da Amazônia no Período Colonial</i>." <i>Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro</i> 344, (jul/set. 1984): 217-227.
Arthur Cézar Ferreira Reis, "<i>As Fortificações da Amazônia no Período Colonial</i>." <i>Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro</i> 344, (jul/set. 1984): 217-227.


Barreto, Aníbal (Cel.). <i>Fortificações no Brasil (Resumo Histórico)</i>. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958.
Barreto, Aníbal (Cel.). <i>Fortificações no Brasil (Resumo Histórico)</i>. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958.

Revisão das 12h16min de 29 de maio de 2023


Pedro de Azevedo Carneiro
Nome completo Pedro de Azevedo Carneiro
Outras Grafias valor desconhecido
Pai Pedro Carneiro
Mãe valor desconhecido
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) Félix de Azevedo Carneiro
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento valor desconhecido
Morte valor desconhecido
Sexo Masculino
Religião Cristã
Residência
Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Data Início: 1681
Fim: 1685

Residência Belém, Pará, Brasil
Data Início: 1686
Fim: 1690

Residência São Luís, Maranhão, Brasil
Data Início: 1690
Fim: 1691

Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Data Início: 1692
Fim: 1697
Formação
Formação Engenharia Militar
Data Início: novembro de 1681
Fim: março de 1685
Local de Formação Lisboa, Lisboa, Portugal
Postos
Posto Soldado
Data Início: 1662
Fim: 1665

Posto Cabo de esquadra
Data Início: 1666

Posto Ajudante
Data Início: 1681
Fim: 1685
Arma Infantaria
Cargos
Cargo Aprendiz
Data Início: 1681
Fim: 1685

Cargo Engenheiro
Data Início: 1685
Fim: 1692

Cargo Engenheiro
Data Início: 1697
Actividade
Actividade Desenho de fortificação
Data Início: 1686
Fim: 1691
Local de Actividade Belém, Pará, Brasil

Actividade Desenho de fortificação
Data Início: 1686
Fim: 1691
Local de Actividade São Luís, Maranhão, Brasil


Biografia

Dados biográficos

Pedro de Azevedo Carneiro nasceu, possivelmente, entre 1646 e 1650. Era natural de Lisboa e filho de Pedro Carneiro[1], tendo sido pai de Félix de Azevedo Carneiro e Cunha[2]. Não foi possível aferir a data da sua morte.

Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi um dos doze alunos com partido na “aula real” (Aula de Fortificação de Lisboa) onde aprendeu “geometria e fortificação”, “mostrando muito bom talento e suficiência não só nas ditas ciências mas também na arte do manejo e formatura dos esquadrões”[3]. Estas informações constam da sua carta de nomeação para o cargo de Engenheiro do Estado do Maranhão, para onde foi, em companhia do governador Gomes Freire de Andrade, em 1685. Acompanharam-no seu filho Félix de Azevedo Carneiro e o seu sobrinho Manuel Correia Campelo[4]. Trabalhou no Estado do Maranhão e Grão Pará entre 1685 e 1692, quando voltou para Portugal.

Carreira

Em 1662, fez a campanha da Jerumenha como simples soldado voluntário. Em 1663, já pago, embarca em uma das fragatas da armada destinadas a correr a costa. No ano seguinte encontrava-se em trânsito, no comboio que foi para a Bahia. Em 1666, era cabo de esquadra da armada e, depois da paz, passou a alferes e ajudante de um dos terços da Corte[5]. Entre novembro de 1681 e março de 1685, foi aluno com partido na Aula de Fortificação de Lisboa[3], tendo sido nomeado, nesse último ano, para o cargo de engenheiro do Estado do Maranhão e Grão Pará, em substituição de Tomé Pinheiro de Miranda, que tinha falecido. Tal como o seu antecessor, recebeu o posto de capitão de infantaria e o soldo correspondente.

Na sua correspondência, em mais de uma ocasião, refere as dificuldades que tinha para sustentar-se com o soldo recebido nas dilatadas jornadas que tinha de fazer para cumprir as ordens que recebia. Numa destas representações esclarece que não podia atender com o seu soldo à sua mulher e filhas, que tinham permanecido em Lisboa, e que para aquelas, “da mesma maneira lhes não é possível passarem com as limitações dos trinta (ou três?) mil reis da aula que Vossa Majestade foi servido me ficarem correndo para seu sustento”[4].

Em 1690, Azevedo Carneiro pediu para que lhe fosse concedida licença para voltar ao reino para tratar da sua saúde, frequentando as Caldas, pois tinha adquirido uma doença no Cabo do Norte, que o deixara aleijado do braço esquerdo e de uma perna. Na petição, alegava os termos da sua carta de nomeação, que determinava que deveria voltar com o governador Gomes Freire de Andrade (1685-1687)[6]. Em 1691, a licença foi concedida e, neste mesmo ano, Custódio Pereira foi nomeado para o substituir no cargo de capitão engenheiro da capitania do Maranhão. Azevedo Carneiro voltou para Lisboa em 1692. O seu filho deve ter permanecido no Pará, pois há na Torre do Tombo uma carta de confirmação de sesmaria em nome de Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, datada de 1714[2].

Em 1695, o engenheiro escreveu, já em Lisboa, um longo relatório sobre todas as fortificações do Estado apontando as obras e guarnições que lhe pareciam necessárias em cada uma delas. Neste relatório, recomendava que se cuidasse, especialmente, da instrução dos artilheiros, sugerindo que se mandasse fazer na casa forte do Pará “uma casa de tenência onde esteja o trem de artilharia, e onde se leia lição, ao menos duas vezes na semana, e quando se queira encarregar o sargento mor engenheiro José Velho de Azevedo me parece capaz de poder ensinar artilheiros, e mais oficiais na lição assim de suas obrigações”[7].

Em outras ocasiões, já tinha feito recomendações similares, quer para a instrução de artilheiros, quer de engenheiros, propondo-se para ambas as funções. Embora tenham sido objeto de duras críticas da parte do, então, governador do estado Artur de Sá e Menezes, as suas propostas são muito interessantes. Sobretudo porque antecedem a carta régia emitida por D. Pedro II em 1699, que determinava que havendo engenheiro no Estado, se deveria estabelecer uma aula de fortificação. Relativamente a esta última, podem ser consultadas mais informações no verbete sobre a Aula de Fortificação de São Luís.

Em 1697, Pedro de Azevedo Carneiro foi nomeado capitão engenheiro das fortificações da praça de Peniche, ocupando a vaga deixada pelo sargento-mor Mateus do Couto. Por soldo receberia “nove mil reis por mês, entrando nele os três mil que vence do partido da Aula e os seis mil dos dez que vagaram pelo sargento-mor Mateus do Couto”[5].  

Outras informações

Pedro Carneiro teria alguma relação com a casa de Pedro Sánchez de Farinha - secretário de estado do rei D. Afonso VI entre 1663 e 1667, bem como, secretário das mercês do rei D. Pedro II de 1668 a 1693. Foi também capitão donatário das Ilhas do Pico e Faial. Foi sucedido pelo seu filho Rodrigo Sánchez de Baena e Farinha, a quem Pedro de Azevedo Carneiro refere como seu amo[4].

Obras

Pedro de Azevedo Carneiro conheceu e atuou em, praticamente, todas as fortificações existentes no Estado do Maranhão e Grão Pará no período em que ali permaneceu.

Entre 1685 e 1687, durante o governo de Gomes Freire de Andrade, foi encarregado de desenhar as fortalezas que o superintendente Francisco da Mota Falcão se obrigou a fazer no rio Amazonas: “Chegado ao Maranhão, depois de sossegado aquele povo, me ordenou o general Gomes Freire de Andrade partisse com o superintendente ao Pará para dali fazer viagem aos lugares ou sítios que vinham nomeados na provisão (...) para os rios Tapajós e Urubu e Madeira e rio Negro, para onde logo com efeito parti"[4].

O primeiro trabalho foi a seleção de um sítio para estabelecer uma fortificação na proximidade do rio Urubu. É o próprio engenheiro que afirma ter desenhado “uma fortaleza não muito capaz de defensa pela pequenez dela, suposto que desenhei segundo a arte”[4]. Refere, expressamente, que a fortificação se destinava, sobretudo, a resistir aos gentios, “que para estes qualquer casa forte bastava para se resistir”, e que o Governador tinha concordado “que se fizessem na forma das plantas que remeteu a Sua Majestade pelo seu Conselho Ultramarino”[4].

Azevedo Carneiro interveio também na fortaleza do Gurupá e na fortaleza Paru. No que concerne à última, referia tê-la desenhado “na forma de uma estrela  quadrangular”. Sobre a fortaleza de Tapajós diz que “desenhei esta fortaleza, cidadela regular com quatro baluartes[4]. Quando as obras da fortaleza do Tapajós foram iniciadas, juntamente com elas instalaram-se os conflitos entre o engenheiro e o superintendente responsável pelas obras. Pedro Azevedo Carneiro acusava constantemente Francisco da Mota Falcão de não ter o empenho necessário para fazer as obras que se tinha comprometido. Sobre a fortaleza do Tapajós dirá, em 1687, que a tinha “desenhado há muito mais de um ano” e que ainda não se tinha acabado de abrir os alicerces “por mais diligencias que tenho feito”. Esta acusação vai ser muitas vezes repetida pelo engenheiro que argumentava que as fortificações deveriam ser feitas “por conta de Sua Majestade” pois não era conveniente fazerem-se por particulares que visavam sobretudo os seus interesses próprios.

Em 1687, enquanto ainda estava no Tapajós, Azevedo Carneiro recebe ordens para ir para o Cabo do Norte vistoriar os locais onde se deveriam estabelecer fortificações para defender a região do perigo que representavam as entradas dos franceses a partir de Caiena. O engenheiro vai juntamente com o então capitão-mor do Pará, António de Albuquerque Coelho de Carvalho e com o padre jesuíta Alois Konrad Pfeil, que era reconhecido pelos seus pares como excelente matemático, pintor e cartógrafo[8]. Segundo o capitão-mor, o objetivo da expedição era vistoriarem-se as fortalezas de Torrego, Cumau e Araguari, “todas ganhas pelas armas portuguesas”, que o engenheiro deveria “fazer plantas para se reedificarem ou fabricarem de novo solicitando porém descobrir outros melhores terrenos, que achar pudesse, em os quais, se respeitasse o salutífero dos ares, a qualidade da terra, e fertilidade de mantimentos, que tudo capacitasse o sítio para poder ter povoação de brancos”[8]. A decisão tomada pelo integrantes da expedição foi fazer-se apenas uma casa forte no rio Araguari, porque o local era alagadiço e não permitia fortificação melhor, sendo, porém, importante para impedir a entrada dos franceses; e uma fortaleza no Cumaú, na terra firme, onde se poderia fazer uma povoação.

O desenho para a casa forte no rio Araguari, feito em 1688, encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino[9]. Acerca desta casa forte Azevedo Carneiro dirá que “por não haver no dito sítio, nem nos seus arredores, pau incorruptível de girau, a fiz com paus de breu, e outros deste género, pouco duráveis, e faxina porem feito com tal arte, que vindo ali em uma ocasião o Governador de Caiena, Monsieur de Ferrolle acompanhado de um capitão com sua companhia de mais de trinta soldados e mais oficiais, e índios seus compadres, se não atreveu a assaltá-la, disfarçando o intento por não experimentar o perigo, e continuando a conseguir outra empresa mais a seu salvo se partiu para Cumaú”[10].

A seguir às obras no Cabo do Norte, foi encarregado das fortificações da barra do Pará e de São Luís. No início de uma memória sua intitulada “extracto da Planta do Forte que se está fazendo na ponta de João Dias, barra da cidade de São Luís do Maranhão” diz o engenheiro: (...) pois que eram irremediáveis as dificuldades apontadas, e tão necessária a fortificação a aquela barra, me acomodei ao mais pequeno polígono que admite o nosso Methodo Lusitâno, e ao mais pequeno perfil da taboada nª 7 sobre as grossuras dos fortes quadrados (...)[7]. Na mesma carta, depois de seguir, justamente, explanando a metodologia utilizada na conceção do projeto do forte em São Luís, cita a fortaleza da Barra de Belém (...) a qual há de ser redonda como a torre do Bugio da Cidade de Lisboa, como se verá da planta que fiz (...)[7]. Não se conhece a planta original de Azevedo Carneiro, mas um desenho executado em 1696 por José Velho de Azevedo, apresenta a fortaleza da Barra que terá sido executada segundo o seu projeto em forma redonda[11].

Notas

  1. Chambouleyron, Viana, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 44.
  2. 2,0 2,1 Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/TT/RGM/C/0006/379732. Carta de confirmação de sesmaria a Félix de Azevedo Carneiro e Cunha, 1714.
  3. 3,0 3,1 Arquivo do Conselho Ultramarino, liv. 7 de Officios, fólio 98, registo 120, citado in Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, 1:78-79.
  4. 4,0 4,1 4,2 4,3 4,4 4,5 4,6 Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 3, D. 267.
  5. 5,0 5,1 Sepúlveda, História Organica e Política do Exército Português, 7:177.  
  6. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ ACL_CU_009, Cx. 7, D. 827.
  7. 7,0 7,1 7,2 Relatório de Pedro de Azevedo Carneiro, datado de 30 de Dezembro de 1695, publicado em Reis, "As Fortificações da Amazônia no Período Colonial", 217-227.
  8. 8,0 8,1 Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, 3:533.
  9. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CARTm_013, D. 0788.
  10. Arquivo Histórico Ultramarino cartografia manuscrita Maranhão 828-829 e documentação anexa, 15 de Março de 1692. AHU_CARTm_009, D. 0828/D. 0829.
  11. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D. 0790/0791.

Fontes

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CARTm_013, D. 0788 Carneiro, Pedro de Azevedo. Caza Forte feita em hu[m] fortim de Estrella: a qual fiz em o cabo do Norte em o rio Araguari... / Pedro de Az[eve] do. Carn[ei]ro. feset. –  escala [ca.1:440]. – [ca. 1688]. - 1 planta ms.: color., desenho a tinta ferrogálica; 29,1 x 20,8 cm. em f. 29,8 x 41,8 cm. Escala gráfica de 60 pés [=4,5 cm.]

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_009, D. 0828/D. 0829Carneiro, Pedro de Azevedo. Planta do forte, que disinhei, e se fica fazendo na ponta de João Dias barra na Cidade do Maranhão... / Pedro de Azevedo Carneyro fecit. – 1692. - 2 plantas ms: color., desenho a tinta ferrogálica; 41, 8 x 28, 5 cm. in fólio 43 cm.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 3, D. 267. 1687, setembro, 19. Carta do Governador e capitão General do Estado do Maranhão e Grão Pará, Artur de Sá e Meneses, para o rei sobre a construção de fortalezas no Cabo do Norte. Anexo: 5 cartas.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_009, cx. 9, D. 950. 1697, Novembro, 18, Lisboa. Consulta do Conselho Ultramarino ao rei D. Pedro II, sobre vários assuntos: apontamentos do capitão engenheiros Pedro de Azevedo Carneiro acerca das fortalezas do Maranhão; sobre a obrigatoriedade do engenheiro José Velho de Azevedo ensinar os artilheiros e ainda sobre a ida de soldados da ilha da Madeira para o Maranhão.

Arquivo Histórico Ultramarino.AHU_ACL_CU_009, cx. 8, D. 843. Consulta do Conselho Ultramarino sobe várias cartas de António de Albuquerque de Carvalho e Pedro Azevedo Carneiro acerca do estado em que se encontrava a fortaleza da ponta de João Dias.

Arquivo Nacional Torre do Tombo, Registo da Secretaria da Guerra,1697-1698, L.49, fl.143.

Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/TT/RGM/B-B/0002/19634 Registo Geral de Mercês, Mercês de D. Pedro II, liv. 2, f.135v . Carta de nomeação como Engenheiro do Maranhão. 15 de março de 1685.

Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/TT/RGM/C/0006/379732 Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 6, f.209v Carta. Confirmação de Sesmaria de Féliz de Azevedo Carneiro. Filiação: Pedro de Azevedo Carneiro. 17 de março de 1714.

Bibliografia

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Barreto, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958.

Chambouleyron, Rafael; Viana, Wania. “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial.” Em O Imenso Portugal estudos luso-amazônicos, 43-63. Belém: UFPA, Cátedra João Lúcio de Azevedo, 2019.

Leite, Serafim, História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomos 1-9. Belo Horizonte: Itatiaia, 2006.

Sepúlveda, Cristóvão Aires de Magalhães. História Organica e Política do Exército Português: Provas. Vol. 7. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1913.

Viterbo, Francisco de Sousa. Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou a serviço de Portugal. Vol. 1. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1899.

Autor(es) do artigo

Renata Araújo

CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Algarve

https://orcid.org/0000-0002-7249-1078

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/tkml-e9o5

Citar este artigo

Araújo, Renata. "Pedro de Azevedo Carneiro", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 29/05/2023). Consultado a 18 de abril de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Pedro_de_Azevedo_Carneiro. DOI: https://doi.org/10.34619/tkml-e9o5