Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho: diferenças entre revisões

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Opondo-se ao relato anterior, Silvestre Ribeiro avançou uma outra descrição sobre o ensino ministrado na Academia, datada de 1822 e da autoria de Adriano Balbi. Apresentando uma perspectiva mais positiva sobre o ensino, a descrição sublinhava a realização de exercícios práticos por alunos conduzidos por professores, previamente aos exames<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>, e concluía positivamente sobre os professores, seguindo a anterior posição sobre os compêndios adotados: "Os professores preenchem com os seus profundos conhecimentos o que há de deficiente nos compêndios, que em verdade estão muito longe dos progressos que as ciências hão feito nestes últimos anos"<ref>Balbi, Andriano, ''Essai Statistique sur le royaume de Portugal'', tomo II, 1822, citado em Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>.   
Opondo-se ao relato anterior, Silvestre Ribeiro avançou uma outra descrição sobre o ensino ministrado na Academia, datada de 1822 e da autoria de Adriano Balbi. Apresentando uma perspectiva mais positiva sobre o ensino, a descrição sublinhava a realização de exercícios práticos por alunos conduzidos por professores, previamente aos exames<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>, e concluía positivamente sobre os professores, seguindo a anterior posição sobre os compêndios adotados: "Os professores preenchem com os seus profundos conhecimentos o que há de deficiente nos compêndios, que em verdade estão muito longe dos progressos que as ciências hão feito nestes últimos anos"<ref>Balbi, Andriano, ''Essai Statistique sur le royaume de Portugal'', tomo II, 1822, citado em Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>.   


Em 1823 o orçamento da Academia Real era levado a discussão nas cortes, de que resultou a criação de uma comissão incumbida de apresentar um plano de reforma do estabelecimento. Não obstante o plano apresentado ter sido rejeitado em votação, a comissão propunha, entre outras medidas, a supressão da cadeira de hidráulica e do lugar de um dos dois substitutos da aula de desenho<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 2:373-374.</ref>.     
Em 1823, o orçamento da Academia Real era levado a discussão nas cortes, de que resultou a criação de uma comissão incumbida de apresentar um plano de reforma do estabelecimento. Não obstante o plano apresentado ter sido rejeitado em votação, a comissão propunha, entre outras medidas, a supressão da cadeira de hidráulica e do lugar de um dos dois substitutos da aula de desenho<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 2:373-374.</ref>.     


Entre 1823 e 1837, "a Academia de fortificação foi vegetando" muito devido à necessidade que fazia de uma reforma profunda do seu plano de estudos, que não viria a ser aplicada. A instituição foi extinta em 1837, sendo a reforma dos estudos militares concretizada com a criação da Escola do Exército, sucedânea da Academia Real, e da Escola Politécnica de Lisboa, que garantia aos futuros alunos os plenos conhecimentos científicos necessários à sua formação militar<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 5:220.</ref>.   
Novamente, em 1836, os poderes públicos procuraram concretizar a reforma financeira da instituição, sendo os lentes ordenados a propor um plano de reforma. Em consequência, a Academia Real passou a ocupar, provisoriamente, as salas do Colégio Real de Nobres<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 6:197.</ref>.   
 
Entre 1823 e 1837, "a Academia de fortificação foi vegetando" muito devido à necessidade que fazia de uma reforma profunda do seu plano de estudos, que não viria a ser aplicada<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 5:220.</ref>. Afora as necessidades de reforma interna da instituição, considerava-se que a missão da Academia Real a que estavam entregues os estudos de guerra somente poderia ser verdadeiramente útil quando se encontrasse "criada uma Escola de Ciências físicas, e matemáticas, na qual os Alunos adquirissem todos os princípios necessários". Por consequência parte da reforma da Academia Real foi concretizada com a criação da [[Escola Politécnica de Lisboa]], em 1837<ref>Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", ''Diário do Governo'', 15, 84.</ref>. 
 
A instituição foi extinta nesse ano e adoptou "a designação de [[Escola do Exército]]", na qual seria garantida a instrução dos "Oficiais do Exército Português de um modo completo", até então não verificado<ref>Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", ''Diário do Governo'', 15, 85.</ref>.   
      
      
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Aquando da sua fundação a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho foi estabelecida no edifício da Fundação de Cima, no Arsenal do Exército, no Campo de Santa Clara. Em 1793, a instituição foi transferida para o Palácio da Regência, localizado no Rossio<ref>Barata, "O Exército e o ensino superior militar", 1054.  </ref>.
A admissão dos alunos na Academia Real com vista à obtenção de patente de oficial engenheiro ou de artilharia era condicionada à apresentação de certificado de aprovação no primeiro e segundo ano do curso matemático da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]]. Para os alunos que se destinassem às patentes de oficiais de infantaria ou cavalaria apenas era necessária aprovação no primeiro ano daquele curso. Todos os alunos deveriam comprovar, junto do professor de primeiro ano, deter os conhecimentos suficientes de língua francesa. No caso específico dos oficiais de engenharia, os alunos deveriam também comprovar ter "constituição robusta, e que não tem defeito na vista, ou alguma tremura nas mãos"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.</ref>.
A admissão dos alunos na Academia Real com vista à obtenção de patente de oficial engenheiro ou de artilharia era condicionada à apresentação de certificado de aprovação no primeiro e segundo ano do curso matemático da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]]. Para os alunos que se destinassem às patentes de oficiais de infantaria ou cavalaria apenas era necessária aprovação no primeiro ano daquele curso. Todos os alunos deveriam comprovar, junto do professor de primeiro ano, deter os conhecimentos suficientes de língua francesa. No caso específico dos oficiais de engenharia, os alunos deveriam também comprovar ter "constituição robusta, e que não tem defeito na vista, ou alguma tremura nas mãos"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.</ref>.


Determinava-se que fossem criados 12 partidos (bolsas) destinados aos alunos para oficiais engenheiros, ainda que o número de alunos não pudesse ultrapassar os seis. Estabelecia-se a criação "de novo mais dezoito Partidos", repartidos entre cada aula, com preferência para os alunos que tivessem frequentado os dois cursos de matemática<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581.</ref>.
Determinava-se que fossem criados 12 partidos (bolsas) destinados aos alunos para oficiais engenheiros, ainda que o número de alunos não pudesse ultrapassar os seis. Estabelecia-se a criação "de novo mais dezoito Partidos", repartidos entre cada aula, com preferência para os alunos que tivessem frequentado os dois cursos de matemática<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581.</ref>.


Nas primeiras décadas do século XIX o número de alunos variava entre os 80 e os 100, com representação das várias armas do exército<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>. No ano lectivo de 1826-1827 matricularam-se um total de 98 alunos com a seguinte distribuição anual: 21 no 1.º ano; 33 no 2.º ano; 34 no 3.º ano; e 10 no 4.º ano. Destes 77 eram militares e 21 paisanos<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 5:219.</ref>.
Nas primeiras décadas do século XIX o número de alunos variava entre os 80 e os 100, com representação das várias armas do exército<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 2:372.</ref>. No ano lectivo de 1826-1827 matricularam-se um total de 98 alunos com a seguinte distribuição anual: 21 no 1.º ano; 33 no 2.º ano; 34 no 3.º ano; e 10 no 4.º ano. Destes 77 eram militares e 21 paisanos<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 5:219.</ref>. Em 1834, a perspectiva geral apresentada por José Silvestre Ribeiro sobre as matrículas na Academia Real variava entre os 80 alunos e os 130 alunos, número que se ultrapassava não poucas vezes<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 6:196.</ref>.   
 
 
 
 
Localização: no Arsenal do Exército, edifício da Fundação de Cima, Campo de Santa Clara, 1790, fundação.
 
Palácio da Regência, 1793, próximo do ROssio. Barata, Manuel Themudo, "O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII)". Em ''Fraternidade e Abnegação''. Vol. 2. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1999, 1054.   
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
O Corpo Docente da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho era composto por cinco professores e um professor de desenho, estando os primeiros distribuídos por cada ano do curso militar. Cada professor seria coadjuvado por um professor substituto na realização dos exercícios, e em caso de impedimento<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579-580.</ref>.
O Corpo Docente da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho era composto por cinco professores e um professor de desenho, estando os primeiros distribuídos por cada ano do curso militar. Cada professor seria coadjuvado por um professor substituto na realização dos exercícios, e em caso de impedimento<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579-580.</ref>. Em 1834 encontravam-se vagos três lugares de professor e era considerada necessária proceder a uma extensão do corpo docente, que foi concretizada com a contratação de cinco comissionados "para interinamente coadjuvarem o serviço académico", que recaíram em alunos distintos da instituição<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 6:196-197.</ref>.


1801 – Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Director da Academia Militar
1801 – Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Director da Academia Militar
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- Quarto ano: "Arquitetura Civil, o Corte das pedras, e madeiras, o Orçamento dos Edifícios, e tudo mais que for relativo ao conhecimento dos materiais, que entram na sua composição; como também se explicarão os melhores métodos, que hoje se praticam na construção de caminhos e calçadas. No mesmo ano se ensinará igualmente a Hidráulica, e as mais partes que lhes são análogas, como a Arquitetura das Pontes, dos Canais, dos Portos, Diques, e Comportas;"
- Quarto ano: "Arquitetura Civil, o Corte das pedras, e madeiras, o Orçamento dos Edifícios, e tudo mais que for relativo ao conhecimento dos materiais, que entram na sua composição; como também se explicarão os melhores métodos, que hoje se praticam na construção de caminhos e calçadas. No mesmo ano se ensinará igualmente a Hidráulica, e as mais partes que lhes são análogas, como a Arquitetura das Pontes, dos Canais, dos Portos, Diques, e Comportas;"
Na disciplina de desenho os alunos deveriam ser ensinados a "desenhar (...) o que forem aprendendo em todas as três Aulas; como também a copiar, e reduzir plantas, representar perfis, e configurar diversos terrenos, e a traçar com perfeição a letra redonda"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579.</ref>. Os exercícios de desenho decorriam todos os dias durante uma hora e um quarto.


O Curso Militar cursado por Oficiais de Infantaria e Cavalaria do Exército completava-se somente com a frequência dos três primeiros anos.
O Curso Militar cursado por Oficiais de Infantaria e Cavalaria do Exército completava-se somente com a frequência dos três primeiros anos.
Na disciplina de desenho os alunos deveriam ser ensinados a "desenhar (...) o que forem aprendendo em todas as três Aulas; como também a copiar, e reduzir plantas, representar perfis, e configurar diversos terrenos, e a traçar com perfeição a letra redonda"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579.</ref>. Os exercícios de desenho decorriam todos os dias durante uma hora e um quarto.


Os Estatutos da Academia Real estabeleceram a realização de exercícios práticos no campo enquanto tal fosse permitido pelo tempo: "O Lente do primeiro ano ensinará o uso dos Instrumentos pertencentes à Geometria prática; fará medir distâncias inacessíveis, nivelar terrenos, e tirar diversas plantas; como também construir trincheiras, fazer sapas, e tudo quanto puder praticar-se das matérias que tiver explicado. O Lente do segundo ano fará tirar a planta de alguns terrenos próprios para se traçar o projeto de uma Fortificação irregular; ensinará a construir todos os diferentes Fortes, e Redutos de Campanha; assim como a Castrametação, e tudo quanto puder praticar-se relativamente às matérias que tiver tratado. O Lente do terceiro ano ensinará o manejo das bocas de fogo, que se usam na Artilharia; fará construir Baterias, e exercitará os Discípulos em tudo o que for suscetível de praticar-se. O Lente de Desenho ensinará também a tirar uma planta sem Instrumento, configurando as diferentes irregularidades do terreno, e fazendo aplicação das regras da Ótica, e Perspetiva"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.</ref>.  
Os Estatutos da Academia Real estabeleceram a realização de exercícios práticos no campo enquanto tal fosse permitido pelo tempo: "O Lente do primeiro ano ensinará o uso dos Instrumentos pertencentes à Geometria prática; fará medir distâncias inacessíveis, nivelar terrenos, e tirar diversas plantas; como também construir trincheiras, fazer sapas, e tudo quanto puder praticar-se das matérias que tiver explicado. O Lente do segundo ano fará tirar a planta de alguns terrenos próprios para se traçar o projeto de uma Fortificação irregular; ensinará a construir todos os diferentes Fortes, e Redutos de Campanha; assim como a Castrametação, e tudo quanto puder praticar-se relativamente às matérias que tiver tratado. O Lente do terceiro ano ensinará o manejo das bocas de fogo, que se usam na Artilharia; fará construir Baterias, e exercitará os Discípulos em tudo o que for suscetível de praticar-se. O Lente de Desenho ensinará também a tirar uma planta sem Instrumento, configurando as diferentes irregularidades do terreno, e fazendo aplicação das regras da Ótica, e Perspetiva"<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.</ref>.  
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Finda a frequência das Aulas na Academia Real os alunos deveriam completar tirocínios em corpos específicos da Arma a que se destinavam, os quais completados com sucesso lhes garantiam o acesso às patentes<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581-582.</ref>.     
Finda a frequência das Aulas na Academia Real os alunos deveriam completar tirocínios em corpos específicos da Arma a que se destinavam, os quais completados com sucesso lhes garantiam o acesso às patentes<ref>Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581-582.</ref>.     


Compêndios adotados nas aulas da Academia Real<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 2:372.</ref>:   
Compêndios adotados nas aulas da Academia Real<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 2:372.</ref>, que segundo José Silvestre Ribeiro "os compêndios adoptados na Academia, e o sistema de ensino, foram até 1834 os mesmos que haviam sido adoptados na época da criação daquele estabelecimento"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 6:196.</ref>:   


- Primeiro e segundo ano: "compêndio de Arquitectura Militar de Antoni, e a tactica do general Azedo".   
- Primeiro e segundo ano: "compêndio de Arquitectura Militar de Antoni, e a tactica do general Azedo".   
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- A disciplina de desenho era enquadrada pelo tratado de Azevedo Fortes.                             
- A disciplina de desenho era enquadrada pelo tratado de Azevedo Fortes.                             
Em 1834, após solicitação do corpo docente, os compêndios utilizados na Academia Real foram actualizados, sendo "ampliadas as doutrinas de outros [autores]", e o ensino ministrado reformado com a alteração da ordem dos trabalhos escolares, a divisão de matérias, e o maior desenvolvimento dado ao ensino pelos professores e pela aplicação dos alunos. Relativamente à aula de desenho foi estabelecido um lugar de director por forma a consolidar o ensino respectivo de acordo com as matérias leccionadas em cada ano<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 6:196.</ref>.                                                                                   


Verifica-se assim que, uma vez extinta a velha Aula de Fortificação em 1779, tardou a organizar-se uma instituição de inequívoca orientação militar, já que a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho apenas foi decretada em 1790 (transformada em Escola do Exército na reforma de 1837). A estrutura do curso incluía toda a gama das matemáticas, bem como hidráulica e construção de edifícios, etc. (ver esquema das disciplinas), revelando até que ponto foi complexa e lenta a separação entre a ciência militar tout court, a engenharia e a arquitectura. Aspecto visível numa brevíssima amostra dos manuais adoptados e escritos pelos próprios lentes: Compêndio de Minas de José António Rosa, de leitura obrigatória entre 1791 e 1834; Regras de Desenho para a delineação das plantas, perfis e perspectivas pertencentes à architectura militar e civil…, por Antonio José Moreira (Lisboa, 1793); Compendio Militar, escripto segundo a doutrina dos melhores auctores … (Lisboa, 1796, 3 tomos), de Matias José Dias Azedo, o autor do plano defensivo (e vitorioso) das Linhas de Torres, que tinha coordenado a monumental tradução, realizada por um colectivo de professores, do manual de artilharia de Alessandro d’Antoni, publicado sob o título Architectura Militar (Lisboa, 1790, 9 tomos), que conheceu sucessivas edições.   
Verifica-se assim que, uma vez extinta a velha Aula de Fortificação em 1779, tardou a organizar-se uma instituição de inequívoca orientação militar, já que a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho apenas foi decretada em 1790 (transformada em Escola do Exército na reforma de 1837). A estrutura do curso incluía toda a gama das matemáticas, bem como hidráulica e construção de edifícios, etc. (ver esquema das disciplinas), revelando até que ponto foi complexa e lenta a separação entre a ciência militar tout court, a engenharia e a arquitectura. Aspecto visível numa brevíssima amostra dos manuais adoptados e escritos pelos próprios lentes: Compêndio de Minas de José António Rosa, de leitura obrigatória entre 1791 e 1834; Regras de Desenho para a delineação das plantas, perfis e perspectivas pertencentes à architectura militar e civil…, por Antonio José Moreira (Lisboa, 1793); Compendio Militar, escripto segundo a doutrina dos melhores auctores … (Lisboa, 1796, 3 tomos), de Matias José Dias Azedo, o autor do plano defensivo (e vitorioso) das Linhas de Torres, que tinha coordenado a monumental tradução, realizada por um colectivo de professores, do manual de artilharia de Alessandro d’Antoni, publicado sob o título Architectura Militar (Lisboa, 1790, 9 tomos), que conheceu sucessivas edições.   
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Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=109&accao=ver&pagina=603 .]
Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790.'' Lisboa: Typografia Maigrense, 1828[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=109&accao=ver&pagina=603 .]


Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 5. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 218-220.
Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", ''Diário do Governo'', 15, 84-87[https://digigov.cepese.pt/pt/pesquisa/listbyyearmonthday?ano=1837&mes=1&tipo=a-diario&pm=&res= .]
 
 
 


Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 6. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 196-198.


Vide, capturas de ecrã no doc. word, guia.
Vide, capturas de ecrã no doc. word, guia.
Linha 186: Linha 190:
Vide, Actas III Colóquio de História Militar, "A influencia europeia na academia real de fortificação, art....". Lisboa, Ana Isabel Seixas, p. 68.
Vide, Actas III Colóquio de História Militar, "A influencia europeia na academia real de fortificação, art....". Lisboa, Ana Isabel Seixas, p. 68.


Remunerações de lentes: 23/Abr/1790.
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Vide, Cordeiro, 266; 374-376.
Vide, Cordeiro, 266; 374-376.
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==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
 
Barata, Manuel Themudo, "O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII)." Em ''Fraternidade e Abnegação'', 1064. Vol. 2. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1999.


Balbi, Andriano, ''Essai Statistique sur le royaume de Portugal'', tomo II, 1822, citado em Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 2. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872, 372.
Cordeiro, João Manuel, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza''. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.  
Cordeiro, João Manuel, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza''. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.  


Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 2. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.  
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 2. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
 
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia''. Vol. 5. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 218-220[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
 
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia''. Vol. 6. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 196-198[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]


==Ligações Internas==
==Ligações Internas==

Revisão das 13h12min de 23 de agosto de 2022


Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho
(A.R.F.A.D.)
Outras denominações Academia Real de Fortificação, Academia de Fortificação‎, Academia de Fortificação de Lisboa‎
Tipo de Instituição Ensino militar
Data de fundação 2 fevereiro 1790
Data de extinção 12 janeiro 1837
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Arsenal do Exército, Lisboa,-
Início: 02 de fevereiro de 1790
Fim: 18 de junho de 1793

Localização Palácio da Regência, Lisboa,-
Início: 18 de julho de 1793
Fim: 1795

Localização Lisboa, Lisboa, Portugal
Início: 1795
Fim: 1796

Localização Palácio Calhariz-Palmela, Lisboa,-
Início: 1796
Fim: 1810
Localização Lisboa, Lisboa, Portugal
Início: 1810
Fim: 1811

Localização Palácio Calhariz-Palmela, Lisboa,-
Início: 1811
Fim: 1823

Localização
Lisboa, Lisboa, Portugal
Início: 1823
Fim: 1825
Localização Palácio Calhariz-Palmela, Lisboa,-
Início: 1825
Fim: 27 de dezembro de 1836
Antecessora Aula de Fortificação de Lisboa

Sucessora Escola do Exército


História

A Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho foi fundada por decreto de 2 de Janeiro de 1790[1] com o fim de desenvolver a instrução militar das várias armas do Exército.

Segundo o preâmbulo ao decreto fundador, o estabelecimento de uma nova academia de estudos militares em Lisboa justificava-se por não se ter verificado o reforço dos estudos de matemática na Academia Real de Marinha, em consequência da extinção da Aula de Engenharia e como inscrito nos Estatutos, reformados em 1779[2]. Simultaneamente, no que concerne em específico à instrução de artilharia, a criação da Academia Real justificava-se pelo insucesso da anterior tentativa de desenvolvimento daquela instrução, concretizada, na segunda metade do século XVIII, através de uma rede de Aulas Regimentais de Artilharia, de que foi exemplo a Aula de Artilharia de São Julião da Barra, verificando-se a falta de "unidade de ensino" das Aulas, o seu atraso perante os avanços europeus, e por não se demonstrarem "à altura da ciência da artilharia os indivíduos encarregados de a ensinar"[3].

Segundo José Silvestre Ribeiro, baseado em artigo publicado na Gazeta de Lisboa, a instrução ministrada na Academia Real, em 1823, havia decaído na sua qualidade. Essa situação dever-se-ia a vários factores, entre eles, a má escolha dos compêndios, "pois que as suas doutrinas não eram as mais exactas, nem as mais bem ordenadas; não estavam bem traduzidos" e, no geral, desactualizados face aos avanços científicos da época; a ausência de instrução prática dos alunos; e a qualidade do estudo de desenho que se acusava incompleto devido ao "sistema seguido" na aula, sucedendo "que os alunos da academia ensinavam uns aos outros a desenhar"[4].

Opondo-se ao relato anterior, Silvestre Ribeiro avançou uma outra descrição sobre o ensino ministrado na Academia, datada de 1822 e da autoria de Adriano Balbi. Apresentando uma perspectiva mais positiva sobre o ensino, a descrição sublinhava a realização de exercícios práticos por alunos conduzidos por professores, previamente aos exames[5], e concluía positivamente sobre os professores, seguindo a anterior posição sobre os compêndios adotados: "Os professores preenchem com os seus profundos conhecimentos o que há de deficiente nos compêndios, que em verdade estão muito longe dos progressos que as ciências hão feito nestes últimos anos"[6].

Em 1823, o orçamento da Academia Real era levado a discussão nas cortes, de que resultou a criação de uma comissão incumbida de apresentar um plano de reforma do estabelecimento. Não obstante o plano apresentado ter sido rejeitado em votação, a comissão propunha, entre outras medidas, a supressão da cadeira de hidráulica e do lugar de um dos dois substitutos da aula de desenho[7].

Novamente, em 1836, os poderes públicos procuraram concretizar a reforma financeira da instituição, sendo os lentes ordenados a propor um plano de reforma. Em consequência, a Academia Real passou a ocupar, provisoriamente, as salas do Colégio Real de Nobres[8].

Entre 1823 e 1837, "a Academia de fortificação foi vegetando" muito devido à necessidade que fazia de uma reforma profunda do seu plano de estudos, que não viria a ser aplicada[9]. Afora as necessidades de reforma interna da instituição, considerava-se que a missão da Academia Real a que estavam entregues os estudos de guerra somente poderia ser verdadeiramente útil quando se encontrasse "criada uma Escola de Ciências físicas, e matemáticas, na qual os Alunos adquirissem todos os princípios necessários". Por consequência parte da reforma da Academia Real foi concretizada com a criação da Escola Politécnica de Lisboa, em 1837[10].

A instituição foi extinta nesse ano e adoptou "a designação de Escola do Exército", na qual seria garantida a instrução dos "Oficiais do Exército Português de um modo completo", até então não verificado[11].

Outras informações

Aquando da sua fundação a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho foi estabelecida no edifício da Fundação de Cima, no Arsenal do Exército, no Campo de Santa Clara. Em 1793, a instituição foi transferida para o Palácio da Regência, localizado no Rossio[12].


A admissão dos alunos na Academia Real com vista à obtenção de patente de oficial engenheiro ou de artilharia era condicionada à apresentação de certificado de aprovação no primeiro e segundo ano do curso matemático da Academia Real de Marinha. Para os alunos que se destinassem às patentes de oficiais de infantaria ou cavalaria apenas era necessária aprovação no primeiro ano daquele curso. Todos os alunos deveriam comprovar, junto do professor de primeiro ano, deter os conhecimentos suficientes de língua francesa. No caso específico dos oficiais de engenharia, os alunos deveriam também comprovar ter "constituição robusta, e que não tem defeito na vista, ou alguma tremura nas mãos"[13].

Determinava-se que fossem criados 12 partidos (bolsas) destinados aos alunos para oficiais engenheiros, ainda que o número de alunos não pudesse ultrapassar os seis. Estabelecia-se a criação "de novo mais dezoito Partidos", repartidos entre cada aula, com preferência para os alunos que tivessem frequentado os dois cursos de matemática[14].

Nas primeiras décadas do século XIX o número de alunos variava entre os 80 e os 100, com representação das várias armas do exército[15]. No ano lectivo de 1826-1827 matricularam-se um total de 98 alunos com a seguinte distribuição anual: 21 no 1.º ano; 33 no 2.º ano; 34 no 3.º ano; e 10 no 4.º ano. Destes 77 eram militares e 21 paisanos[16]. Em 1834, a perspectiva geral apresentada por José Silvestre Ribeiro sobre as matrículas na Academia Real variava entre os 80 alunos e os 130 alunos, número que se ultrapassava não poucas vezes[17].

Professores

O Corpo Docente da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho era composto por cinco professores e um professor de desenho, estando os primeiros distribuídos por cada ano do curso militar. Cada professor seria coadjuvado por um professor substituto na realização dos exercícios, e em caso de impedimento[18]. Em 1834 encontravam-se vagos três lugares de professor e era considerada necessária proceder a uma extensão do corpo docente, que foi concretizada com a contratação de cinco comissionados "para interinamente coadjuvarem o serviço académico", que recaíram em alunos distintos da instituição[19].

1801 – Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Director da Academia Militar


Professores do 1.º ano:

1795 / 1811 - Matias José Dias Azedo*, Lente do 1º ano

1795 / 1811 – José Lani / Lane, substituto do 1º ano de Fortificações

1826 - Fortunato José Barreiros.


Professores do 2.º ano:

1793 / 1821 – Pedro Joaquim Xavier*, Lente do 2º ano de Fortificações

1795 / 1811 – Cipriano José da Silva, substituto do 2º ano de Fortificações

1826 - António Anacleto de Seara.


Professores do 3.º ano:

1793 – Joaquim José Portelli, substituto do 3º ano de Fortificações.

1826 - Joaquim Gregório de Alpoim.


Professores do 4.º ano:

1801 / 1811 – António Anacleto de Seara, lente substituto do 4º ano de Hidráulica, aluno da academia*

1801 / 1811 – Vicente António Correia da Silva, Lente de Hidráulica.

1826 - Evaristo José Ferreira (Lente substituto).


Professores de Desenho:

1794 / 1811 – Luís André de Puy (Tenente coronel do Real Corpo de Engenheiros). Director da Aula de Desenho, e de gravura das Cartas Geographicas e Hidrographicas[20].

1795 / 1811 – Pedro Celestino Soares, Lente de Desenho.

1792 / 1811 – Anastácio Joaquim Rodrigues, substituto de Desenho.

1794 – Carlos Frederico Bernardo de Caula é nomeado lente substituto (de Pedro Celestino);uma nota na lista de oficiais de serviço em 1808 diz que “não foi aluno da Academia Militar e só o foi da de Marinha” (v. Viterbo)

1811 – Lourenço Homem da Cunha d’Eça, lente jubilado de Desenho


Outros:

1791 a 1834 – José António da Rosa*, lente, autor do “Compêndio de Minas”[21]

1793 – António José Moreira*

1829 - Caetano Paulo Xavier, coronel, lente proprietário da Real Academia (R. Carita, cat.: 39)

Curricula

Os alunos inscritos na Academia Real cursavam o Curso Militar com a seguinte distribuição anual de matérias[22]:

- Primeiro ano: "Fortificação Regular, o Ataque e Defensa das Praças, e os princípios fundamentais de qualquer Fortificação".

- Segundo ano: "Fortificação Irregular, a Fortificação Efectiva, e a Fortificação de Campanha".

- Terceiro ano: "Teórica de Artilharia, das Minas, e Contraminas, e a sua aplicação ao ataque, e defensa das Praças".

- Quarto ano: "Arquitetura Civil, o Corte das pedras, e madeiras, o Orçamento dos Edifícios, e tudo mais que for relativo ao conhecimento dos materiais, que entram na sua composição; como também se explicarão os melhores métodos, que hoje se praticam na construção de caminhos e calçadas. No mesmo ano se ensinará igualmente a Hidráulica, e as mais partes que lhes são análogas, como a Arquitetura das Pontes, dos Canais, dos Portos, Diques, e Comportas;"

Na disciplina de desenho os alunos deveriam ser ensinados a "desenhar (...) o que forem aprendendo em todas as três Aulas; como também a copiar, e reduzir plantas, representar perfis, e configurar diversos terrenos, e a traçar com perfeição a letra redonda"[23]. Os exercícios de desenho decorriam todos os dias durante uma hora e um quarto.

O Curso Militar cursado por Oficiais de Infantaria e Cavalaria do Exército completava-se somente com a frequência dos três primeiros anos.

Os Estatutos da Academia Real estabeleceram a realização de exercícios práticos no campo enquanto tal fosse permitido pelo tempo: "O Lente do primeiro ano ensinará o uso dos Instrumentos pertencentes à Geometria prática; fará medir distâncias inacessíveis, nivelar terrenos, e tirar diversas plantas; como também construir trincheiras, fazer sapas, e tudo quanto puder praticar-se das matérias que tiver explicado. O Lente do segundo ano fará tirar a planta de alguns terrenos próprios para se traçar o projeto de uma Fortificação irregular; ensinará a construir todos os diferentes Fortes, e Redutos de Campanha; assim como a Castrametação, e tudo quanto puder praticar-se relativamente às matérias que tiver tratado. O Lente do terceiro ano ensinará o manejo das bocas de fogo, que se usam na Artilharia; fará construir Baterias, e exercitará os Discípulos em tudo o que for suscetível de praticar-se. O Lente de Desenho ensinará também a tirar uma planta sem Instrumento, configurando as diferentes irregularidades do terreno, e fazendo aplicação das regras da Ótica, e Perspetiva"[24].

A organização e distribuição das lições e exercícios semanais seguia a forma estabelecida nos Estatutos da Academia Real de Marinha.

Finda a frequência das Aulas na Academia Real os alunos deveriam completar tirocínios em corpos específicos da Arma a que se destinavam, os quais completados com sucesso lhes garantiam o acesso às patentes[25].

Compêndios adotados nas aulas da Academia Real[26], que segundo José Silvestre Ribeiro "os compêndios adoptados na Academia, e o sistema de ensino, foram até 1834 os mesmos que haviam sido adoptados na época da criação daquele estabelecimento"[27]:

- Primeiro e segundo ano: "compêndio de Arquitectura Militar de Antoni, e a tactica do general Azedo".

- Terceiro ano: "a tradução em português do Tratado de Artilharia de Müller, e o das Minas composto pelo general Rosa;

- Quarto ano: "Hidráulica de Bossut".

- A disciplina de desenho era enquadrada pelo tratado de Azevedo Fortes.

Em 1834, após solicitação do corpo docente, os compêndios utilizados na Academia Real foram actualizados, sendo "ampliadas as doutrinas de outros [autores]", e o ensino ministrado reformado com a alteração da ordem dos trabalhos escolares, a divisão de matérias, e o maior desenvolvimento dado ao ensino pelos professores e pela aplicação dos alunos. Relativamente à aula de desenho foi estabelecido um lugar de director por forma a consolidar o ensino respectivo de acordo com as matérias leccionadas em cada ano[28].

Verifica-se assim que, uma vez extinta a velha Aula de Fortificação em 1779, tardou a organizar-se uma instituição de inequívoca orientação militar, já que a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho apenas foi decretada em 1790 (transformada em Escola do Exército na reforma de 1837). A estrutura do curso incluía toda a gama das matemáticas, bem como hidráulica e construção de edifícios, etc. (ver esquema das disciplinas), revelando até que ponto foi complexa e lenta a separação entre a ciência militar tout court, a engenharia e a arquitectura. Aspecto visível numa brevíssima amostra dos manuais adoptados e escritos pelos próprios lentes: Compêndio de Minas de José António Rosa, de leitura obrigatória entre 1791 e 1834; Regras de Desenho para a delineação das plantas, perfis e perspectivas pertencentes à architectura militar e civil…, por Antonio José Moreira (Lisboa, 1793); Compendio Militar, escripto segundo a doutrina dos melhores auctores … (Lisboa, 1796, 3 tomos), de Matias José Dias Azedo, o autor do plano defensivo (e vitorioso) das Linhas de Torres, que tinha coordenado a monumental tradução, realizada por um colectivo de professores, do manual de artilharia de Alessandro d’Antoni, publicado sob o título Architectura Militar (Lisboa, 1790, 9 tomos), que conheceu sucessivas edições.

Notas

  1. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579-582.
  2. Governo Português, "Lei de 2 de Janeiro de 1790". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 578.
  3. Cordeiro, Apontamentos para a História da Artilharia, 266.
  4. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:371.
  5. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:372.
  6. Balbi, Andriano, Essai Statistique sur le royaume de Portugal, tomo II, 1822, citado em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:372.
  7. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:373-374.
  8. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 6:197.
  9. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 5:220.
  10. Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", Diário do Governo, 15, 84.
  11. Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", Diário do Governo, 15, 85.
  12. Barata, "O Exército e o ensino superior militar", 1054.  
  13. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.
  14. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581.
  15. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:372.
  16. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 5:219.
  17. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 6:196.
  18. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579-580.
  19. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 6:196-197.
  20. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:370.
  21. Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 12.
  22. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579.
  23. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 579.
  24. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 580.
  25. Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828, 581-582.
  26. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 2:372.
  27. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 6:196.
  28. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 6:196.

Fontes

Governo Português, "Lei de 2 de Janeiro de 1790". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828.

Governo Português, "Estatutos da Academia Real de Fortificação, Artelharia, e Desenho". Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1775 a 1790. Lisboa: Typografia Maigrense, 1828.

Governo Português (18 de Janeiro de 1837). "Decreto de 12 de Janeiro de 1837", Diário do Governo, 15, 84-87.



Vide, capturas de ecrã no doc. word, guia.

Vide, Actas III Colóquio de História Militar, "A influencia europeia na academia real de fortificação, art....". Lisboa, Ana Isabel Seixas, p. 68.

.

Vide, Cordeiro, 266; 374-376.

ver CAIXARIA, Eduardo. (2006). O Real Archivo Militar. Cronologia histórica e documental, 1802-1821. Lisboa: Direcção de Infra-Estruturas, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 2006



Bibliografia

Barata, Manuel Themudo, "O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII)." Em Fraternidade e Abnegação, 1064. Vol. 2. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1999.

Cordeiro, João Manuel, Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia. Vol. 2. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 5. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 218-220.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 6. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1886, pp. 196-198.

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