Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra

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Aula de Desenho e Arquitetura da Universidade de Coimbra
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula de Desenho da Universidade de Coimbra
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 1772
Data de extinção 1911
Paralisação
Início: 1772
Fim: 1840
Localização
Localização Coimbra, Coimbra, Portugal
Início: 1840
Fim: 1911
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

A Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra foi criada anexa ao curso de matemática pelas reformas dos Estatutos e planos de estudo universitário datadas de 1772, aplicadas durante o governo de Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, no reinado de D. José I. Segundo os Estatutos, a Aula de Desenho e Arquitectura reunia as dimensões civil e militar e era recomendada aos cursos de matemática e de medicina, sem obrigação de realizar exame. Podiam também ser assistidas por aqueles "que tiverem gosto, e propensão para a Arquitectura, e Desenho", os quais deveriam assistir previamente às lições de aritmética e geometria elementar. Os alunos que frequentassem livremente a Aula poderiam requer exame público e "conforme os seus merecimentos, se lhes passarão Cartas de Desenhadores, e Arquitectos, com as Formalidades Academicas."[1]

Em 1836, a Aula foi reformulada no âmbito das reformas educativas prosseguidas por Manuel da Silva Passos, mantendo-se anexa à Faculdade de Matemática e passando a ser de frequência obrigatória pelos alunos das Faculdades de Filosofia, Matemática e Medicina, na qual deveriam realizar "um rigoroso exame nesta Disciplina, sem o qual não poderão obter a Carta de Formatura"[2]. Porém, a Aula de Desenho e Arquitectura não chegaria a ser instituída na prática e apenas foi inaugurada no ano lectivo de 1840-1841[3].

Em 20 de Setembro de 1844 era legislada a reforma da instrução pública por António Costa Cabral, ministro do Reino, que no que concerne à Aula manteve as disposições de 1836 e criou um lugar de professor substituto[4].

Entre 1840 e 1849, a Aula de Desenho e Arquitectura funcionou sem regulamento próprio, sendo dele dotada a partir do ano letivo de 1850-1851, determinando-se a obrigatoriedade da frequência para os alunos do primeiro e segundo ano do curso de matemática, e os alunos do primeiro ano do curso de filosofia.

Em 1872, o Regulamento da Aula era revisto e reforçava essa obrigatoriedade, alargando-a para os alunos dos três primeiros anos do curso de matemática e dos dois primeiros anos do curso de filosofia[5].

Com a reforma do plano de estudos da Aula, que se manteve entre 1901 e 1911, data da reforma universitária republicana, distinguiam-se dois cursos de desenho segundo a vertente matemática ou filosófica, ficando adstrito um professor e uma faculdade para cada curso[6].

Entre 1867 e 1877 regista-se um número de matrículas na Aula de Desenho e Arquitectura pouco flutuante, mantendo sempre o mínimo de 100 alunos por ano letivo[7].

Outras informações

Inicialmente localizada no edifício do Colégio das Artes, transita para o edifício do Museu da Universidade em 1856, onde permaneceria até à reforma universitária de 1911[8].

Professores

Por ser considerado que a Aula não tinha "exactidão Matemática (...) governando-se mais pelo gosto, do que por demonstração", não era exigido o grau de Doutor ao seu professor, nem este poderia ter "lugar de Examinador em Acto algum de Matemática", ainda que fosse subordinado à Congregação de Matemática[9].

Em 1851, a Aula encontrava-se sem professor e o Conselho da Faculdade de Matemática solicita ao Conselho Superior de Instrução Pública autorização para a contratação de "professor particular de desenho", a qual foi concedida, entrando ao serviço um professor nesse mesmo ano[10].

Em 1901, a situação dos docentes não havia sido normalizada e o preâmbulo ao decreto de reforma dos estudos da Universidade acusava serem os dois cursos assegurados por professores provisórios e não efectivos, situação que não era aconselhada[11]. A reforma de 1901 especificava sobre a natureza do ensino ministrado na Aula ser "indispensável" que fosse "essencialmente prático e simultaneamente educativo", à semelhança das experiências estrangeiras". Então, apesar do rigor exigido pela aplicação da geometria ao desenho, este era "acima de tudo um ramo de belas-artes". Uma condição que alertava para a necessidade do seu professor não ser "exclusivamente um artista", pois não era fim do curso "preparar artistas", mas sim "instruir os alunos que se destinam a outras carreiras", pelo que se admitiam ao concurso de professor aqueles oriundos das escolas industriais[12].

Professores da Aula de Desenho e Arquitectura, entre 1840 e 1911:

Manuel da Fonseca Pinto (1802-1882) - professor interino (1840-1842).

Francisco Pedro Bernardes de Carvalho Simões Vaz Velho (?-?) - professor substituto interino (1842-1853).

António Tomás da Fonseca (1822-1894) - professor proprietário (1853).

António Victor de Figueiredo Bastos (1829-1894) - professor substituto (1856); professor proprietário (1856).

Luís Augusto Pereira Bastos (?-?) - professor interino (1857-1871).

José Miguel de Abreu (1850-1921) - proprietário interino (1871-1873); professor proprietário (1873-1887).

João Vieira Rodrigues (1856-1898) - professor substituto interino (1887); professor proprietário (1888-1898).

António Domingues Cortês da Silva Curado (1849-1904) - professor interino (1897, 1900-1901).

António Augusto Gonçalves (1848-1932) - professor interino (1898-1902); professor proprietário na Aula anexa à Faculdade de Filosofia (1902-1911).

José Luís de Andrade Mendes Pinheiro (1872-1951) - professor interino (1898); professor proprietário (1898-1910)[13].

Curricula

Os diversos documentos que regeram a Aula de Desenho e Arquitectura indicaram na sua maioria as matérias a reger pelo professor. Os Estatutos de 1772 especificavam as matérias a serem leccionadas, mais precisamente, na parte de desenho abordar-se-iam as "Regras fundamentais da Arte" a par da instrução na "espécie particular de Metafísica (...) para que adquiram não somente o hábito de executarem com primor; mas também possam com inteligência julgar do estilo, expressão, e exatidão das obras de arte."[14]; no que concerne às matérias de arquitectura civil deveria ensinar-se "os diferentes modos de edificar dos Antigos, e Modernos; os meios, que se devem aplicar para a segurança, comodidade, e decoração dos edifícios; as diferentes ordens de Arquitectura; e as obras, em que cada uma delas deve ter lugar (...) fazendo-lhos copiar, e desenhar, para se formarem ao mesmo tempo no Desenho, e no gosto da mesma Arquitectura"[15]; no que refere à matéria de Arquitectura Militar abordavam-se "os Princípios fundamentais dela: Mostrando os diferentes métodos de Fortificação (...) Sendo tudo acompanhado com o Desenho dos modelos mais perfeitos, que até o presente se tem executado"; acrescendo ainda exercícios em "Cartas Geograficas, e Topograficas; no Desenho dos animais, plantas, aves, e outros productos da natureza, sem iluminação, e com iluminação;"[16]. Menos profuso, o texto legislativo de 1844 indicava geralmente as matérias inclusas, nomeadamente, "ensino dos princípios de Desenho linear, de figura, de paisagem, de plantas, de animais, de arquitectura, de máquinas e aparelhos, e de quaisquer outros ramos desta Disciplina"[17].

No seguimento de portaria de 27 de Dezembro de 1861, o conselho da Faculdade de Matemática determinava a organização do programa da Aula de Desenho segundo as seguintes bases: "Artigo 2.º No 1.º ano estudar-se-á o seguinte: Desenho linear, tanto à mão como por meio de instrumentos matemáticos; e tanto por imitação de modelos, como por designação dos objectos susceptíveis de definição rigorosa. Desenho geométrico, com as reduções, e conhecimento das escalas e petipé. Aplicação às máquinas e aparelhos, ou instrumentos, e ornatos. Copia de originais em relevo. Art. 3.º No 2.º ano estudar-se-á o desenho aplicado à arquitectura, e paisagem: regras de perspectiva, e sombras. Copias de modelos, e do natural"[18].

Conhece-se o programa da Cadeira de Desenho para o ano letivo de 1872-1873 da autoria do professor José Miguel de Abreu, que especificava as matérias próprias de cada curso, de desenho para matemática ou filosofia. Para o curso de matemática, realizado em três anos, especificavam-se as seguintes matérias: primeiro ano, traçados geométricos; estudo das projecções: suas aplicações, especialmente à arquitectura e máquinas (em que se incluía o estudo das cores e materiais do desenhador); princípios elementares das sombras, suas aplicações; continuação do estudo das sombras; estudo das aguarelas; intersecção das superfícies, aplicações; e princípios elementares de arquitectura; no segundo ano, desenho de máquinas, desenho de arquitectura; e, no terceiro ano, continuação do desenho de máquinas; desenho topográfico e aplicações. No primeiro ano do curso filosófico abordavam-se o desenho de paisagem e elementos de figura, e, no segundo ano, desenho de figura[19].

No seguimento da reforma de 1901, foi aprovado novo programa da Aula na sua vertente matemática, conservando a frequência em três anos[20].

Notas

  1. UC. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772). Coimbra : Por Ordem da Universidade, 1972, Liv. 3, Part. 2, Tit. 3, Cap. 3., 168.
  2. David Justino (Dir.). Reformas e bases da educação, 68.
  3. ?????? Artigo pedido
  4. Artigo 111.º, Capítulo IV, Título VI, Decreto de 20 de Setembro de 1844, in David Justino, dir. Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009). Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017, 93.
  5. Regulamento para a Aula de Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73, Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1872-1873, 209-210.
  6. Decreto de 24 de Dezembro de 1901, Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1902-1903, 54-56.
  7. Para consultar o número de alunos matriculados na Aula de Desenho e Arquitectura, por ano, vide, Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16: 457.
  8. http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento
  9. UC. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772). Coimbra : Por Ordem da Universidade, 1972, Liv. 3, Part. 2, Tit. 3, Cap. 3., 167.
  10. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos, 15:379.
  11. Preâmbulo do Decreto de 24.12.1901, sobre a reforma dos estudos da Universidade, no que respeita ao ensino do Desenho. UC. Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1902-1903, 28-29.
  12. Preâmbulo do Decreto de 24.12.1901, sobre a reforma dos estudos da Universidade, no que respeita ao ensino do Desenho. UC. Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1902-1903, 29.
  13. http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento
  14. UC. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772). Coimbra : Por Ordem da Universidade, 1972, Liv. 3, Part. 2, Tit. 3, Cap. 5., 196.
  15. Idem, Ibidem.
  16. Idem, 197.
  17. Artigo 111.º, Capítulo IV, Título VI, Decreto de 20 de Setembro de 1844, in David Justino, dir. Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009). Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017, 93.
  18. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16: 76.
  19. Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73, in UC. Processos individuais dos professores. Arquivo da Universidade de Coimbra, 157-160.
  20. UC. Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, Programa de Desenho para o curso matemático aprovado em 7.7.1902 ,78-79.

Fontes

Regulamento para a Aula de Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73, Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1872-1873, 209-210.

Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73, in UC. Processos individuais dos professores. Arquivo da Universidade de Coimbra.

UC. Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, Programa de Desenho para o curso matemático aprovado em 7.7.1902 ,78-79.


Decreto de 24 de Dezembro de 1901, Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911, 1902-1903, 54-56.

Bibliografia

David Justino, dir. Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009). Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017.

Ribeiro, Historia dos estabelecimentos, 15:379

Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16: 76.

website: http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento

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Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-cientificas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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