Aula de Artilharia de Lagos

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Aula de Artilharia de Lagos
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula do Regimento de Artilharia de Lagos, Aula Regimental de Artilharia de Lagos, Aula do Regimento de Artilharia da Província do Algarve
Tipo de Instituição Ensino Militar
Data de fundação 1763
Data de extinção 1776
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Lagos, Faro, Portugal
Início: 1763
Fim: 1764

Localização Forte da Feitoria, Oeiras, Lisboa,-
Início: 1764
Fim: 1776
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Aula de Artilharia de São Julião da Barra


História

A Aula de Artilharia, ou Aula Regimental de Artilharia, de Lagos foi criada em finais de 1763, não sendo certa a data precisa, ainda que seja referida no Plano de Julho de 1763[1]. A criação da Aula sucedeu-se à reorganização do Regimento de Artilharia de Lagos, pelo tenente-coronel escocês, James Ferrier, no seguimento da extinção do Regimento de Artilharia e Marinha do Reino do Algarve, naquele ano[2].

A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas, datadas da segunda metade do século XVIII e da autoria do conde de Schaumbourg Lippe, aplicadas ao ensino de artilharia, com fim à sua modernização e uniformização, anteriormente sustentado pela rede de Aulas de Fortificação[3]. Identificando a "decadência a que n'estes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia", arma considerada a "principal força das monarquias", e a necessidade de conservar os seus corpos "com ciência e exercício", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade[4].

Em 1763, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "quatro regimentos de doze companhias cada um"[5], a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Nesse ano, em 15 de Julho, era decretada nova organização dos planos de estudo a observar nas Aulas de Artilharia, provendo sobre "a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores"[6]. Longe de se restringir ao ensino militar, a instituição das Aulas Regimentais de Artilharia "pela sua natureza transversal (...) exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química [sendo, por isso,] percursoras de um ensino moderno, científico e prático"[7]. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o Plano constituído pelo conde de Lippe, estabelecia-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"[8]. A partir de 1779, estabelecia-se que os exames para os postos de artilharia fossem realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula[9].

No que concerne, em específico, à Aula de Artilharia de Lagos determinava-se que os instruendos fossem instruídos nos mesmos exercícios e manobras "necessários para o serviço da mesma Artilharia a bordo dos Navios de Guerra"[10]. Incumbência que partilhou com a Aula de Artilharia de São Julião da Barra e que se alargava à instrução das guarnições instaladas em fortalezas da Marinha, no Castelo de São Jorge e no presídio de Beirolas[11].

Antes de se verificar a sua completa organização, em 8 de Junho de 1764 o Regimento de Artilharia de Lagos era mobilizado para Lisboa com fim de aí desenvolver a sua instrução em artilharia[12], "pois o marechal [conde de Lippe] pensava que em Lagos a instrução não podia desenvolver-se"[13].

Passados três anos da sua fundação, segundo o memorial escrito sobre o desenvolvimento da Aula pelo Mestre de Aula, ou professor, João Python, em 1767, esta saldava-se infrutífera, verificando-se pouca aplicação por parte dos oficiais, entre estes poucos que soubessem escrever, sendo que na maioria "nem sabiam numerar.[14]"Instalado no quartel da Feitoria, na tapada de Alcântara, o Regimento e a respectiva Aula ficaram anexos ao Regimento de Artilharia da Corte, no qual foram integrados, após extinção, em 1776[15].

Outras informações

Professores

O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"[16].

- João Bento Python (Francês. Tenente-coronel)[17].

1811 – Eusébio de Sousa Soares, lente do Regimento de Lagos????

Curricula

O Plano decretado em 1763 determinava que se observassem, sob pena de expulsão das Aulas e Regimentos, "precisa, e inalteravelmente os seguintes" dos quais "se farão traduções Portuguesas para os que não possuem a língua Francesa"[18]:

- Curso de Matemática, Monsieur Bellidoro.

- "Para a Arte de lançar as Bombas se deve seguir Monsieur du Lacq naquela parte do seu livro intitulado, Mecanismo de Artilharia, que trata desta matéria", e, em alternativa, "farão o uso do Bombardeiro Francês Monsieur Bellidoro."

- "Os seis Artífices pertencentes à Companhia dos mesmos Bombardeiros devem estudar, entender, e praticar todas as diferentes composições de fogos de Artificio, que servem para a Guerra, pelas explicações do Monsieur de Saint Remy"[19].

- "Para a Ciência das Minas se devem seguir as obras de Monsieur de La-Valiere o Pai, de Monsieur de Lorme, e de Monsieur Bellidoro", inclusos nas "Memórias de Saint Remy".

- "Para a Engenharia, e Fortificações (...) se deve seguir o livro intitulado: O Ataque, e defensa das Praças, por Monsieur de Vauban."

- "Para o Estudo dos Mineiros, e Bombeiros, se deve seguir a Ciência dos Engenheiros do mesmo Monsieur Bellidoro nas partes em que tem uma conexão imediata com a profissão dos sobreditos."

- "Para o Exercício das Peças de Campanha [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém.[20]"


Segundo o Plano de 1763, as Aulas Regimentais deveriam observar três dias de prática[21]. Na Aula de Artilharia de Lagos observava-se a realização de "exercícios práticos no campo, de Agosto a Novembro, quer de manobra quer de tiro ao alvo". Estas manobras foram demonstradas perante o marechal conde de Lippe e a Corte, em 1764, na tapada de Alcântara[22]. Consta que a Aula de Artilharia de Lagos, e a Aula de Artilharia de São Julião da Barra, tenha recebido "uma barreira artilhada com morteiros, obuzes e peças, onde se «faziam exercícios de alvo e demonstrações matemáticas». No mesmo lugar se construiriam minas para exercícios do respectivo pessoal[23]."

O professor João Python requisitou o seguinte material para a Aula de Artilharia: "1 prancheta, 1 bússola, 1 teodolito, 1 círculo dimensório, 1 cadeira, 2 níveis, 6 estojos matemáticos, 6 mãos de papel grande para riscar, 2 resmas de papel de Holanda, papel ordinário, papelão, lápis, pincéis, tinta da China, etc.[24]"



Notas

  1. Botelho, Novos subsídios para a História, 108.
  2. Botelho, Novos subsídios para a História, 105; 109.
  3. ??????
  4. Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.
  5. Ribeiro, 1:303.
  6. Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46.
  7. Coelho, Sérgio Veludo, Os Arsenais Reais de Lisboa e do Porto. 1800-1814., 49. Visualizado em 18 Agosto, 2022. http://repositorio.uportu.pt:8080/bitstream/11328/598/3/TDH%2034%20-%20Corpo%20do%20texto.pdf
  8. Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.
  9. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilheria, 265.
  10. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 50.
  11. Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 16.
  12. Abreu, Filipe, "As principais reorganizações do Exército", 6.
  13. Botelho, Novos Subsídios para a História, 109.
  14. Botelho, Novos subsídios para a História, 116.
  15. Botelho, Novos Subsídios para a História, 32.
  16. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.
  17. Botelho, Novos subsídios para a História, 115.
  18. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
  19. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.
  20. Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
  21. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 49.
  22. Botelho, Novos subsídios para a História, 116.
  23. Botelho, Novos subsídios para a História, 116.
  24. Botelho, Novos subsídios para a História, 116.

Fontes

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Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.

Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46.

Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-50.

Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.

Bibliografia

BOTELHO, General Teixeira, Novos subsídios para a história da Artilharia Portuguesa, Volume II - S.C. 17606 V.

BARATA, Manuel Themudo. O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII). In: Fraternidade e Abnegação, Academia Portuguesa de História, v. 2, LX, 1999, pp. 1047-1055. - .G. 47058 V.

EBIANO, Rui. A arte da guerra: o seu imaginário e a sua deontologia. In: HESPANHA, António Manuel (Coord.). Nova História Militar de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2003, vol.2 - 355.48 NOV

VIEIRA, Belchior, “O ensino científico-militar em Portugal no século XVIII – Anastácio da Cunha, discípulo da Aula de Artilharia da Praça de Valença do Minho”, Anastácio da Cunha 1744/1787 o matemático e o poeta, IN–CM, pp. 7–17, 1990. - H.G. 39626 V.NOS 250 ANOS DA CHEGADA DO CONDE DE LIPPE A PORTUGAL - S.C. 143592 V.

PRO-MEMORIA A RESPEITO DE HUMA DIFFERENÇA DE OPINIAÕ NA AULA DE ARTILHERIA DE S. JULIAÕ DA BARRA SOBRE O MODO DE REGULAR-SE PARA SE LANÇAREM BOMBAS COM CERTEZA / CONDE DE SCHAUMBOURG LIPPE - S.A. 20157//6 P. Fundo Geral Monografias Mau estado, acesso sob autorização

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Abreu, Filipe: “As principais Reorganizações do Exército do século XVIII ao século XXI. Reflexos para a Artilharia.” (ACADEMIA MILITAR DIRECÇÃO DE ENSINO CURSO DE ARTILHARIA TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO APLICADA As Principais Reorganizações do Exército do Século XVIII ao Século XXI. Reflexos para a Artilharia., Amadora 2008): https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/7312/1/Asp%20Art%20Abreu%20-%20As%20Principais%20Reorganiza%C3%A7%C3%B5es%20do%20Ex%C3%A9rcito%20do%20S%C3%A9culo%20XVIII%20ao%20S%C3%A9culo%20XXI.%20Reflexos%20.pdf


Botelho, José Justino Teixeira, Novos subsídios para a História da Artilharia Portuguesa. Vol. I. Lisboa: Comissão de História Militar, 1944.

Coelho, Sérgio Veludo, Os Arsenais Reais de Lisboa e do Porto. 1800-1814., 49. Visualizado em 18 Agosto, 2022. http://repositorio.uportu.pt:8080/bitstream/11328/598/3/TDH%2034%20-%20Corpo%20do%20texto.pdf

Cordeiro, João Manuel, Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.

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Ligações Externas

?????Arquivo Historico-Ultramarino."Direcção para o exercício da Artilharia de campanha ou das praças vulgarmente chamadas de Nova Invenção para uso dos Regimentos de Artilharia do muito alto e muito Poderozo, Rei Fidelissimo Dom José I, Nosso Senhor. Ordenado pelo coronel F. Macheau, Inspector Geral da Artilharia". Fundo 3, série 5.2, Caixa 1, Peça 7, Doc. 2.

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Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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