Associação dos Arquitectos Civis Portugueses: diferenças entre revisões

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Em 1864, a Associação solicita ao governo português a cedência das ruínas do Convento do Carmo onde funda o Museu Arqueológico do Carmo e instala a sua sede. O espaço museológico do Carmo não seria perspectivado segundo uma lógica centralizadora do património nacional. Pelo contrário, a Associação assumiu a necessidade de promover uma musealização regional e local que, não se limitando ao espaço nacional continental, abrangeu também as dimensões culturais ultramarinas de que foram representativas a constituição da Comissão Arqueológica da Índia Portuguesa e a criação do Museu Real da Índia Portuguesa em Goa, em 1896<ref>Martins, "A Real Associação", 104; 108.</ref>.   
Em 1864, a Associação solicita ao governo português a cedência das ruínas do Convento do Carmo onde funda o Museu Arqueológico do Carmo e instala a sua sede. O espaço museológico do Carmo não seria perspectivado segundo uma lógica centralizadora do património nacional. Pelo contrário, a Associação assumiu a necessidade de promover uma musealização regional e local que, não se limitando ao espaço nacional continental, abrangeu também as dimensões culturais ultramarinas de que foram representativas a constituição da Comissão Arqueológica da Índia Portuguesa e a criação do Museu Real da Índia Portuguesa em Goa, em 1896<ref>Martins, "A Real Associação", 104; 108.</ref>.   


A adesão na qualidade de sócio fundador era permitida aos arquitetos pertencentes à Academia Real de Belas Artes de Lisboa e à [[Academia Portuense de Belas Artes]], empregues no Ministério das Obras Públicas, na Casa Real, com nomeação régia de arquitecto civil ou àqueles que tivessem mais de 25 anos e experiência na direcção de obras consideradas importantes. Acresciam as categorias de membros efetivos e correspondentes, e de sócios amadores e honorários. Entre 1864 e 1866 verificou-se a existência de apenas 23 arquitectos num total de 107 sócios. Em consequência, a relação associativa de proximidade entre os profissionais de arquitectura e de arqueologia determinou a possível "''indefinição do estatuto e profissão de arquitecto [implicando] a inexistência de uma consciência de grupo profissional autónomo''". Uma indefinição no processo de profissionalização dos arquitectos que seria alterada com a fundação da Sociedade dos Arquitectos Portugueses já na primeira década do século XX (1901)<ref>Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 21-22; 43.</ref>, impulsionada pela alteração oitocentista do conceito de arquitecto enquanto "''homem universal''", de origem renascentista, para uma concepção "mais adaptada ao novo contexto de mercado" caracterizado pelos processos de urbanização e desenvolvimento da burguesia urbana<ref>Gomes, "A construção da profissionalização", 84.</ref>. A constituição da Sociedade dos Arquitectos Portugueses ofereceu um espaço à discussão de problemas de valorização profissional e de educação dos arquitectos que, alguns sócios, consideraram não serem suficientemente tratados pela Associação dos Arquitectos Civis Portugueses ou na sua sucedânea, a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.
A adesão na qualidade de sócio fundador era permitida aos arquitetos pertencentes à Academia Real de Belas Artes de Lisboa e à [[Academia Portuense de Belas Artes]], empregues no Ministério das Obras Públicas, na Casa Real, com nomeação régia de arquitecto civil ou àqueles que tivessem mais de 25 anos e experiência na direcção de obras consideradas importantes. Acresciam as categorias de membros efetivos e correspondentes, e de sócios amadores e honorários. Entre 1864 e 1866 verificou-se a existência de apenas 23 arquitectos num total de 107 sócios. Em consequência, a relação associativa de proximidade entre os profissionais de arquitectura e de arqueologia determinou a possível "''indefinição do estatuto e profissão de arquitecto [implicando] a inexistência de uma consciência de grupo profissional autónomo''". Uma indefinição no processo de profissionalização dos arquitectos que seria alterada com a fundação da Sociedade dos Arquitectos Portugueses já na primeira década do século XX (1901)<ref>Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 21-22; 43.</ref>, impulsionada pela alteração oitocentista do conceito de arquitecto enquanto "''homem universal''", de origem renascentista, para uma concepção "mais adaptada ao novo contexto de mercado" caracterizado pelos processos de urbanização e desenvolvimento da burguesia urbana<ref>Gomes, "A construção da profissionalização", 84.</ref>. A constituição da Sociedade dos Arquitectos Portugueses, em 1901, ofereceu um espaço à discussão de problemas de valorização profissional e de educação dos arquitectos que, alguns sócios, consideraram não serem suficientemente tratados pela Associação dos Arquitectos Civis Portugueses ou na sua sucedânea, a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.
===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
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A Associação dos Arquitectos Civis Portugueses difundiu as suas atividades e estudos através de órgão periódico próprio publicado a partir de 1865 sob o título ''Archivo de Architectura Civil'', o qual, em 1874, passou a designar-se ''Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes''<ref>Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 10.</ref>.
A Associação dos Arquitectos Civis Portugueses difundiu as suas atividades e estudos através de órgão periódico próprio publicado a partir de 1865 sob o título ''Archivo de Architectura Civil'', o qual, em 1874, passou a designar-se ''Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes''<ref>Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 10.</ref>.

Revisão das 15h14min de 12 de agosto de 2022


Associação dos Arquitectos Civis Portugueses
(valor desconhecido)
Outras denominações Associação dos Architectos Civis Portuguezes, Associação dos Arquitectos Civis‎, Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, Real Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses
Tipo de Instituição Profissional
Data de fundação 30 janeiro 1864
Data de extinção 1911
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Convento do Carmo, Lisboa,-
Início: 1863
Fim: 1911
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Sociedade dos Arquitectos Portugueses


História

A Associação dos Arquitectos Civis Portugueses, ou Associação dos Arquitectos Civis, foi criada por decreto régio de 30 de Janeiro de 1864[1] e, a partir de 1866, recebe a protecção de D. Fernando.

O processo da constituição da Associação dos Arquitectos Civis remonta aos finais de 1863 enquanto iniciativa do arquiteto da Casa Real Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806‑1896), juntamente com professores da Academia Nacional de Belas Artes de Lisboa e arquitetos da Repartição de Obras Públicas[2]. A criação da Associação resultou da necessidade sentida por parte dos arquitectos portugueses "de tomar, em conjunto, a defesa dos seus interesses"[3], tendo acompanhado assim o processo de modernização da arquitectura portuguesa, nas últimas décadas do século XIX, perceptível em propostas equacionadas de formas "mais articuladas e consentâneas com o panorama internacional"[4], impulsionado quer pelo contexto de transformação político, social, económico e artístico, quer pelo envio de pensionistas portugueses para estudar na Escola de Belas Artes de Paris[5]. Em 14 de Novembro de 1872, a Associação passou a incluir a representação dos arqueólogos portugueses e em consequência adoptou a designação de Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses e novos Estatutos em 30 de Setembro de 1879. Estas alterações representaram a "herança da cultura neoclássica e a vigência tardia do romantismo, que encarnavam a arqueologia como o instrumento de conhecimento substancial da história e do passado materializado no património arquitectónico.[6]"

Os primeiros Estatutos definiram a gestão de assuntos com interesse profissional e a intervenção jurídica e administrativa relativa à arquitetura civil, pública ou privada, como propósitos da Associação. A orgânica da Associação era dividida em três secções de estudo, a saber, a primeira relativa ao estudo sobre a teoria e história da arquitetura, a segunda para estudo da estética e obras de arte e a terceira relativa à construção e condições de higiene aplicáveis[7]. Os primeiros anos da Associação evidenciam a grande abrangência de temáticas cujo estudo importava realizar, nomeadamente quanto à construção de habitações operárias e as suas condições de higiene, à recolha de amostras de materiais de construção a nível nacional, à teoria da arquitectura, às necessidades de formação técnica dos arquitectos e leigos, propondo o currículo de um curso de arquitectura civil, o monumento a D. Pedro IV, e, com particular ênfase, quanto à conservação e defesa do património nacional[8]. Esta última dimensão evidenciava a importância que a arqueologia detinha na Associação, previamente à sua integração, e que recebeu largo desenvolvimento nas últimas décadas do século XIX definindo-se como o seu "espaço de intervenção possível no seio da cultura e sociedade portuguesa"[9] [10].

Nos primeiros anos a Associação desenvolveu um périplo de atividades relativas aos pontos supracitados, mais precisamente "conferências efectuadas pelos sócios sobre história da arte monumental dos povos da antiguidade (1865 e 1871), história de arte medieval (1866), a realização de um curso elementar de arqueologia (1885), bem como de um curso de arqueologia religiosa nos seminários nacionais (1888); a constituição de uma biblioteca, exposições, a elaboração de um vocabulário de arte e arquitectura, os convites aos sócios para que efectuassem monografias e inventários sobre os monumentos nacionais (1866, 1871 e 1874), a difusão de obras nacionais e estrangeiras sobre estes temas e as sessões públicas de leitura artística e científica (1880)"[11]. Os trabalhos da Associação adquiriram também uma dimensão internacional com a participação na comissão de organização da Exposição Internacional do Porto, em 1865, e com a exposição a convite do governo português na Exposição Universal de Paris, em 1867. Registam também as participações na Exposição Universal de Viena em 1873, na qual Possidónio da Silva apresenta proposta de projecto de arquitectura[12], e, em função da projeção internacional alcançada em 1867, novamente no certame parisiense, em 1878[13], em que Portugal se apresenta com um pavilhão de composição e decoração neomanuelina[14]. Face ao relativo isolamento periférico de um Portugal em vias de industrialização, na segunda metade do século XIX, a participação nas mostras internacionais permitiu aos arquitectos portugueses contactarem com outras realidades artísticas inovadoras e estrangeiras[15]. Destaca-se o percurso profissional de Possidónio da Silva que, a par da participação em várias mostras internacionais, manteve contactos permanentes com arquitectos e arqueólogos estrangeiros, nomeadamente franceses, tendo realizado diversas deslocações ao estrangeiro para participar em reuniões científicas, como o primeiro Congresso Internacional dos Arquitectos (1867) ou o segundo Congresso (1878), convocado por iniciativa francesa, e acompanhar intervenções de restauro em monumentos[16].

Em 1864, a Associação solicita ao governo português a cedência das ruínas do Convento do Carmo onde funda o Museu Arqueológico do Carmo e instala a sua sede. O espaço museológico do Carmo não seria perspectivado segundo uma lógica centralizadora do património nacional. Pelo contrário, a Associação assumiu a necessidade de promover uma musealização regional e local que, não se limitando ao espaço nacional continental, abrangeu também as dimensões culturais ultramarinas de que foram representativas a constituição da Comissão Arqueológica da Índia Portuguesa e a criação do Museu Real da Índia Portuguesa em Goa, em 1896[17].

A adesão na qualidade de sócio fundador era permitida aos arquitetos pertencentes à Academia Real de Belas Artes de Lisboa e à Academia Portuense de Belas Artes, empregues no Ministério das Obras Públicas, na Casa Real, com nomeação régia de arquitecto civil ou àqueles que tivessem mais de 25 anos e experiência na direcção de obras consideradas importantes. Acresciam as categorias de membros efetivos e correspondentes, e de sócios amadores e honorários. Entre 1864 e 1866 verificou-se a existência de apenas 23 arquitectos num total de 107 sócios. Em consequência, a relação associativa de proximidade entre os profissionais de arquitectura e de arqueologia determinou a possível "indefinição do estatuto e profissão de arquitecto [implicando] a inexistência de uma consciência de grupo profissional autónomo". Uma indefinição no processo de profissionalização dos arquitectos que seria alterada com a fundação da Sociedade dos Arquitectos Portugueses já na primeira década do século XX (1901)[18], impulsionada pela alteração oitocentista do conceito de arquitecto enquanto "homem universal", de origem renascentista, para uma concepção "mais adaptada ao novo contexto de mercado" caracterizado pelos processos de urbanização e desenvolvimento da burguesia urbana[19]. A constituição da Sociedade dos Arquitectos Portugueses, em 1901, ofereceu um espaço à discussão de problemas de valorização profissional e de educação dos arquitectos que, alguns sócios, consideraram não serem suficientemente tratados pela Associação dos Arquitectos Civis Portugueses ou na sua sucedânea, a Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.

Outras informações

A Associação dos Arquitectos Civis Portugueses difundiu as suas atividades e estudos através de órgão periódico próprio publicado a partir de 1865 sob o título Archivo de Architectura Civil, o qual, em 1874, passou a designar-se Boletim da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes[20].


Sócios estrangeiros:

Baltard (sócio honorário) - Presidente da Associação dos Arquitectos Franceses.

C. Dolson (sócio honorário) - Membro do Instituto Real Britânico.

Richardson (sócio correspondente) - Secretário do Instituto dos Arquitectos dos Estados Unidos.

C. Nelson (sócio correspondente) - Mmembro do Instituto Real Britânico.

Streiker - Presidente da Associação dos Arquitectos em Viena.

Viollet-le-Duc.[21]

Notas

  1. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 7.
  2. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 6-7.
  3. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:215.
  4. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:22-23.
  5. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:171-187.
  6. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:215.
  7. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 10.
  8. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 10; 13-14.
  9. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 20.
  10. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:216.
  11. Chalante, "«Demolimania», a Real Associação de Arquitectos ", 172.
  12. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:259.
  13. Martins, "A Real Associação", 111; 120.
  14. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:259.
  15. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:256.
  16. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:270.
  17. Martins, "A Real Associação", 104; 108.
  18. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 21-22; 43.
  19. Gomes, "A construção da profissionalização", 84.
  20. Ribeiro, "Arquitectos Portugueses", 10.
  21. Gomes, "A cultura arquitectónica", 1:216-217.

Bibliografia

Ana Cristina Martins, "A Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses e o Museu Arqueológico do Carmo: alguns percursos internacionais (abordagem preliminar)". Academia Internacional da Cultura Portuguesa, (2017): 101-131.

Ana Isabel de Melo Ribeiro. "Arquitectos Portugueses: 90 anos de vida associativa. 1863-1953.” Dissertação de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa, 1993.(Publicado FAUP, 1ª ed., 2002).

Gomes, Maria Marques Calado de Albuquerque. "A cultura arquitectónica em Portugal 1880-1920. Tradição e Inovação." Vol. 1, Diss. de Doutoramento, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 2003.

Gomes, Sandra Cristina Vilaverde Pinto. "A construção da profissionalização dos arquitectos em Portugal: um estudo sociológico." Diss. de Mestrado, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, 2000.

Susana Chalante, "«Demolimania», a Real Associação de Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses e a «cruzada de honra e brio» (1866-1880)". Ler História, no. 55 (2008): 171-187.

Ligações Internas

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Categoria:Associação dos Arquitectos Civis Portugueses

Ligações Externas

Associação dos Arquitectos Civis Portugueses: Museu Arqueológico do Carmo.

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

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