Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra: diferenças entre revisões

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==História==<!--História geral da instituição. Este é o local para colocar toda a informação que justifica o que está na infobox e outra complementar, subdividida em períodos, se necessário-->
==História==<!--História geral da instituição. Este é o local para colocar toda a informação que justifica o que está na infobox e outra complementar, subdividida em períodos, se necessário-->


A Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra, também designada apenas por Aula de Desenho, foi criada, anexa ao curso de matemática, pelas reformas dos Estatutos e planos de estudo universitário datadas de 1772, aplicadas durante o governo de Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, no reinado de D. José I. Segundo os Estatutos, a Aula de Desenho e Arquitectura reunia as dimensões civil e militar e era recomendada aos cursos de matemática e de medicina, sem obrigação de aprovação em exame. Podiam também ser assistidas por aqueles "''que tiverem gosto, e propensão para a Arquitectura, e Desenho''" com a condição de terem assistido previamente às lições de aritmética e geometria elementar. Os alunos que frequentassem livremente a Aula poderiam requer exame público e "''conforme os seus merecimentos, se lhes passarão Cartas de Desenhadores, e Arquitectos, com as Formalidades Academicas''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade,'' 168.</ref>.
A Aula de Desenho e Arquitetura da Universidade de Coimbra foi criada em 1772, pelas reformas dos Estatutos e planos de estudo universitário aplicadas durante o governo do Marquês de Pombal, no reinado de D. José I.  


Não obstante, a Aula não seria instituída de imediato e foi refundada em 1836, no contexto das reformas educativas prosseguidas por Manuel da Silva Passos, após a Revolução Setembrista, pelo que José Silvestre Ribeiro não hesitou em indicar essa data como o ano da sua criação<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 17:94.</ref>.  A  Aula manteve-se anexa à Faculdade de Matemática e determinou-se a sua frequência obrigatória para os alunos das Faculdades de Filosofia, Matemática e Medicina, na qual deveriam realizar "''um rigoroso exame nesta Disciplina, sem o qual não poderão obter a Carta de Formatura''"<ref>Justino, ''Reformas e bases da educação,'' 68.</ref>. Apenas foi inaugurada no ano lectivo de 1840-1841<ref>?????? Artigo pedido</ref>.  
Estabelecida anexa à recém-criada Faculdade de Matemática, reunia as dimensões civil e militar e era recomendada aos cursos de matemática e de medicina, sem obrigação de aprovação em exame, o que releva a pouca importância, ou "''papel secundário''", que era reconhecida à disciplina no âmbito universitário. As exposições podiam também ser assistidas por aqueles "''que tiverem gosto, e propensão para a Arquitetura, e Desenho''" com a condição de terem assistido previamente às lições de aritmética e geometria elementar. Os alunos que frequentassem livremente a Aula poderiam requer exame público e "''conforme os seus merecimentos, se lhes passarão Cartas de Desenhadores, e Arquitetos, com as Formalidades Académicas''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade,'' 168, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>.


Em 20 de Setembro de 1844 era legislada a reforma da instrução pública da autoria de António Costa Cabral, ministro do Reino, que no que concerne à Aula manteve as disposições de 1836 e criou um lugar de professor substituto<ref name=":0">Justino, ''Reformas e bases da educação,'' 93. </ref>.  
Não obstante, a Aula não foi efetivamente estabelecida aquando da sua instituição pela lei, sendo refundada em 1836, no contexto das reformas educativas prosseguidas por Manuel da Silva Passos, após a Revolução Setembrista, pelo que José Silvestre Ribeiro não hesitou em indicar essa data como o ano da sua criação<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 17:94.</ref>.  A  Aula manteve-se anexa à Faculdade de Matemática e determinou-se a sua frequência obrigatória para os alunos das Faculdades de Filosofia, Matemática e Medicina, na qual deveriam realizar "''um rigoroso exame nesta Disciplina, sem o qual não poderão obter a Carta de Formatura''"<ref>Justino, ''Reformas e bases da educação,'' 68.</ref>. Inaugurou a sua primeira aula no ano letivo de 1840-1841<ref name=":2" />.


Entre 1840 e 1849, a Aula de Desenho e Arquitectura funcionou sem regulamento próprio, sendo dele dotada a partir do ano letivo de 1850-1851. O novo regulamento determinava a frequência obrigatória para os alunos do primeiro e segundo ano do curso de matemática, e os alunos do primeiro ano do curso de filosofia. Em 1872, o regulamento era revisto e alargava a obrigatoriedade da frequência para os três primeiros anos do curso de matemática e dos dois primeiros anos do curso de filosofia<ref name=":1">Universidade de Coimbra, "Regulamento para a Aula de Desenho", 209-210.</ref>.
Em 20 de Setembro de 1844, era legislada a reforma da instrução pública da autoria de António Costa Cabral, ministro do Reino, que, no que concerne à Aula, manteve as disposições de 1836 e criou um lugar de professor substituto<ref name=":0">Justino'','' 93. </ref>.  


Pela última reforma do plano de estudos da Aula, em vigência entre 1901 e 1911, data da reforma universitária republicana, as suas duas vertentes, matemática e filosófica, foram separadas, ficando cada uma adstrita a um professor efetivo e à respectiva Faculdade<ref>Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 54-56.</ref>.  
Entre 1840 e 1849, a Aula de Desenho e Arquitetura funcionou sem regulamento próprio, sendo dele dotada a partir do ano letivo de 1850-1851. O novo regulamento determinava a frequência obrigatória para os alunos do primeiro e segundo ano do curso de matemática, e os alunos do primeiro ano do curso de filosofia. Em 1872, o regulamento era revisto e alargava a obrigatoriedade da frequência para os três primeiros anos do curso de matemática e dos dois primeiros anos do curso de filosofia<ref name=":1">Universidade de Coimbra, "Regulamento para a Aula de Desenho", 1872-1873:209-210.</ref>. 
 
Segundo a última reforma do plano de estudos da Aula, em vigência entre 1901 e 1911, data da reforma universitária republicana, as suas duas vertentes, matemática e filosófica, foram separadas, ficando cada uma adstrita a um professor efetivo e à respectiva Faculdade<ref>Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:54-56.</ref>. A partir de 1911, a Aula de Desenho e Arquitetura foi extinta, sendo criada a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra em resultado da união das extintas Faculdades de Matemática e Filosofia. 


===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
Inicialmente localizada no edifício do Colégio das Artes, a Aula transita para o edifício do Museu da Universidade em 1856, onde permaneceu até à reforma universitária de 1911<ref>Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 de Agosto, 2022.</ref>.
Inicialmente localizada no edifício do Colégio das Artes, a Aula transitou para o edifício do Museu da Universidade em 1856, onde permaneceu até à reforma universitária de 1911<ref name=":2">Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>.
 
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
Por ser considerado que a Aula não tinha "''exatidão Matemática'' (...) ''governando-se mais pelo gosto, do que por demonstração''", não era exigido o grau de Doutor ao seu professor, nem este poderia ter "''lugar de Examinador em Ato algum de Matemática''", ainda que se encontrasse subordinado à Congregação de Matemática<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 167, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>. A aula era assegurada por apenas um professor. 


Entre 1867 e 1877, o número de matrículas registadas na Aula de Desenho e Arquitectura foi constante, verificando-se sempre um mínimo de 100 alunos por ano letivo<ref>Para consultar o número de alunos matriculados na Aula de Desenho e Arquitectura, por ano, vide, Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 16: 457.</ref>.
Em 1901, a situação dos docentes não havia sido normalizada e o preâmbulo ao decreto de reforma dos estudos da Universidade acusava serem os dois cursos assegurados por professores provisórios e não efetivos, situação que não era aconselhada<ref>Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:28-29.</ref>. A reforma de 1901 especificava ser "''indispensável''" que o ensino na Aula fosse "''essencialmente prático e simultaneamente educativo''", à semelhança das experiências estrangeiras. Então, apesar do rigor exigido pela aplicação da geometria ao desenho, este era "''acima de tudo um ramo de belas-artes''". Uma condição que alertava para a necessidade do seu professor não ser "''exclusivamente um artista''", pois não era fim do curso "''preparar artistas''", mas sim "''instruir os alunos que se destinam a outras carreiras''", pelo que se admitiam ao concurso de professor aqueles oriundos das escolas industriais<ref>Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:29.</ref>.              


==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
Professores da Aula de Desenho e Arquitetura, entre 1840 e 1911<ref name=":2" />
Por ser considerado que a Aula não tinha "''exactidão Matemática'' (...) ''governando-se mais pelo gosto, do que por demonstração''", não era exigido o grau de Doutor ao seu professor, nem este poderia ter "l''ugar de Examinador em Acto algum de Matemática''", ainda que se encontrasse subordinado à Congregação de Matemática<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 167.</ref>.
 
Professor interino entre 1840 e 1842: Manuel da Fonseca Pinto.


Em 1851, a Aula encontrava-se sem professor e o Conselho da Faculdade de Matemática solicitou autorização ao Conselho Superior de Instrução Pública para contratar um "''professor particular de desenho''", a qual foi concedida, entrando ao serviço um professor nesse mesmo ano<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 15:379.</ref>.  
Professor proprietário em 1853: António Tomás da Fonseca.


Em 1901, a situação dos docentes não havia sido normalizada e o preâmbulo ao decreto de reforma dos estudos da Universidade acusava serem os dois cursos assegurados por professores provisórios e não efectivos, situação que não era aconselhada<ref>Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro", 28-29.</ref>. A reforma de 1901 especificava ser "''indispensável''" que o ensino na Aula fosse "''essencialmente prático e simultaneamente educativo''", à semelhança das experiências estrangeiras. Então, apesar do rigor exigido pela aplicação da geometria ao desenho, este era "''acima de tudo um ramo de belas-artes''". Uma condição que alertava para a necessidade do seu professor não ser "''exclusivamente um artista''", pois não era fim do curso "''preparar artistas''", mas sim "''instruir os alunos que se destinam a outras carreiras''", pelo que se admitiam ao concurso de professor aqueles oriundos das escolas industriais<ref>Idem, 29.</ref>.      
Professor proprietário em 1856: António Victor de Figueiredo Bastos.


Professores da Aula de Desenho e Arquitectura, entre 1840 e 1911<ref>Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 de Agosto, 2022.</ref>: 
Professor interino entre 1857 e 1871: Luís Augusto Pereira Bastos.


Manuel da Fonseca Pinto (1802-1882) - professor interino (1840-1842).
Professor proprietário interino entre 1871-1873: José Miguel Abreu.


Francisco Pedro Bernardes de Carvalho Simões Vaz Velho (?-?) - professor substituto interino (1842-1853).
Professor proprietário entre 1873 e 1887: José Miguel Abreu.


António Tomás da Fonseca (1822-1894) - professor proprietário (1853).
Professor proprietário entre 1888 e 1898: João Vieira Rodrigues.


António Victor de Figueiredo Bastos (1829-1894) - professor substituto (1856); professor proprietário (1856).
Professor interino em 1897; e entre 1900 e 1901: António Domingues Cortês da Silva Curado


Luís Augusto Pereira Bastos (?-?) - professor interino (1857-1871).
Professor interino entre 1898 e 1902: António Augusto Gonçalves.


José Miguel de Abreu (1850-1921) - proprietário interino (1871-1873); professor proprietário (1873-1887).
Professor proprietário na Aula anexa à Faculdade de Filosofia entre 1902 e 1911: António Augusto Gonçalves


João Vieira Rodrigues (1856-1898) - professor substituto interino (1887); professor proprietário (1888-1898).
Professor interino em 1898: José Luís de Andrade Mendes Pinheiro.


António Domingues Cortês da Silva Curado (1849-1904) - professor interino (1897, 1900-1901).
Professor proprietário entre 1898 e 1910: José Luís de Andrade Mendes Pinheiro.


António Augusto Gonçalves (1848-1932) - professor interino (1898-1902); professor proprietário na Aula anexa à Faculdade de Filosofia (1902-1911).
Professor substituto interino entre 1842 e 1853:Francisco Pedro Bernardes de Carvalho Simões Vaz Velho.


José Luís de Andrade Mendes Pinheiro (1872-1951) - professor interino (1898); professor proprietário (1898-1910).
Professor substituto em 1856: António Victor de Figueiredo Bastos.


Professor substituto interino em 1887: João Vieira Rodrigues. 
==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->Na sua maioria, os diversos documentos que organizaram a Aula de Desenho e Arquitectura mencionavam as matérias a reger pelo professor. Os Estatutos de 1772 especificavam, na parte de desenho, as matérias de "''Regras fundamentais da Arte''", devendo os alunos ser instruídos numa "''espécie particular de Metafísica'' (...) ''para que adquiram não somente o hábito de executarem com primor; mas também possam com inteligência julgar do estilo, expressão, e exatidão das obras de arte''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 196.</ref>; no que concerne às matérias de arquitectura civil deveria ensinar-se "''os diferentes modos de edificar dos Antigos, e Modernos; os meios, que se devem aplicar para a segurança, comodidade, e decoração dos edifícios; as diferentes ordens de Arquitectura; e as obras, em que cada uma delas deve ter lugar'' (...) ''fazendo-lhos copiar, e desenhar, para se formarem ao mesmo tempo no Desenho, e no gosto da mesma Arquitectura''"<ref>Idem, Ibidem.</ref>; no que refere à matéria de Arquitectura Militar abordavam-se "''os Princípios fundamentais dela: Mostrando os diferentes métodos de Fortificação'' (...) ''Sendo tudo acompanhado com o Desenho dos modelos mais perfeitos, que até o presente se tem executado''"; acresciam ainda exercícios em "''Cartas Geograficas, e Topograficas; no Desenho dos animais, plantas, aves, e outros productos da natureza, sem iluminação, e com iluminação''"<ref>Idem, 197.</ref>. Menos profuso, o texto legislativo de 1844 indicava as matérias de "''princípios de Desenho linear, de figura, de paisagem, de plantas, de animais, de arquitectura, de máquinas e aparelhos, e de quaisquer outros ramos desta Disciplina''"<ref>Justino, ''Reformas e bases da educação'', 93.</ref>.
<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->
Na sua maioria, os diversos documentos que organizaram a Aula de Desenho e Arquitetura mencionavam as matérias a reger pelo professor. Os Estatutos de 1772 especificavam, na parte de desenho, as matérias de "''Regras fundamentais da Arte''", devendo os alunos ser instruídos numa "''espécie particular de Metafísica'' (...) ''para que adquiram não somente o hábito de executarem com primor; mas também possam com inteligência julgar do estilo, expressão, e exatidão das obras de arte''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 196, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>; no que concerne às matérias de arquitetura civil deveria ensinar-se "''os diferentes modos de edificar dos Antigos, e Modernos; os meios, que se devem aplicar para a segurança, comodidade, e decoração dos edifícios; as diferentes ordens de Arquitetura; e as obras, em que cada uma delas deve ter lugar'' (...) ''fazendo-lhes copiar, e desenhar, para se formarem ao mesmo tempo no Desenho, e no gosto da mesma Arquitetura''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 196, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>; no que refere à matéria de Arquitetura Militar abordavam-se "''os Princípios fundamentais dela: Mostrando os diferentes métodos de Fortificação'' (...) ''Sendo tudo acompanhado com o Desenho dos modelos mais perfeitos, que até o presente se tem executado''"; acresciam ainda exercícios em "''Cartas Geograficas, e Topograficas; no Desenho dos animais, plantas, aves, e outros produtos da natureza, sem iluminação, e com iluminação''"<ref>Universidade de Coimbra, ''Estatutos da Universidade'', 197, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>. Menos profuso, o texto legislativo de 1844 indicava as matérias de "''princípios de Desenho linear, de figura, de paisagem, de plantas, de animais, de arquitetura, de máquinas e aparelhos, e de quaisquer outros ramos desta Disciplina''"<ref>Justino, ''Reformas e bases da educação'', 93.</ref>.


No seguimento da portaria de 27 de Dezembro de 1861, o conselho da Faculdade de Matemática determinava a organização do programa da Aula de Desenho segundo as seguintes bases: "''Artigo 2.º No 1.º ano estudar-se-á o seguinte: Desenho linear, tanto à mão como por meio de instrumentos matemáticos; e tanto por imitação de modelos, como por designação dos objectos susceptíveis de definição rigorosa. Desenho geométrico, com as reduções, e conhecimento das escalas e petipé. Aplicação às máquinas e aparelhos, ou instrumentos, e ornatos. Copia de originais em relevo. Art. 3.º No 2.º ano estudar-se-á o desenho aplicado à arquitectura, e paisagem: regras de perspectiva, e sombras. Copias de modelos, e do natural''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 16: 76.</ref>.  
No seguimento da portaria de 27 de Dezembro de 1861, o conselho da Faculdade de Matemática determinava a organização do programa da Aula de Desenho segundo esta ordenação disciplinar: "''Artigo 2.º No 1.º ano estudar-se-á o seguinte: Desenho linear, tanto à mão como por meio de instrumentos matemáticos; e tanto por imitação de modelos, como por designação dos objetos susceptíveis de definição rigorosa. Desenho geométrico, com as reduções, e conhecimento das escalas e petipé. Aplicação às máquinas e aparelhos, ou instrumentos, e ornatos. Copia de originais em relevo. Art. 3.º No 2.º ano estudar-se-á o desenho aplicado à arquitetura, e paisagem: regras de perspectiva, e sombras. Copias de modelos, e do natural''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 16: 76.</ref>.  


Conhece-se o programa da Cadeira de Desenho para o ano letivo de 1872-1873 da autoria do professor José Miguel de Abreu, que especificava as matérias próprias de cada curso, de desenho para matemática ou filosofia. No curso de matemática, realizado em três anos, leccionavam-se as seguintes matérias: primeiro ano, traçados geométricos; estudo das projecções: suas aplicações, especialmente à arquitectura e máquinas (em que se incluía o estudo das cores e materiais do desenhador); princípios elementares das sombras, suas aplicações; continuação do estudo das sombras; estudo das aguarelas; intersecção das superfícies, aplicações; e princípios elementares de arquitectura; no segundo ano, desenho de máquinas, desenho de arquitectura; e, no terceiro ano, a continuação do desenho de máquinas; desenho topográfico e aplicações. No primeiro ano do curso filosófico abordavam-se o desenho de paisagem e elementos de figura, e, no segundo ano, desenho de figura<ref>Arquivo da Universidade de Coimbra. Processos individuais dos professores, "Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73", citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>.
O programa da cadeira de Desenho da autoria do professor José Miguel de Abreu especifica as matérias próprias de cada curso, de desenho para matemática ou filosofia, no ano letivo de 1872-1873. No curso de matemática, realizado em três anos, leccionavam-se as seguintes matérias: primeiro ano, traçados geométricos; estudo das projeções: suas aplicações, especialmente à arquitetura e máquinas (em que se incluía o estudo das cores e materiais do desenhador); princípios elementares das sombras, suas aplicações; continuação do estudo das sombras; estudo das aguarelas; intersecção das superfícies, aplicações; e princípios elementares de arquitetura; no segundo ano, desenho de máquinas, desenho de arquitetura; e, no terceiro ano, a continuação do desenho de máquinas; desenho topográfico e aplicações. No primeiro ano do curso filosófico abordavam-se o desenho de paisagem e elementos de figura, e, no segundo ano, desenho de figura<ref>Arquivo da Universidade de Coimbra. Processos individuais dos professores, "Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73", citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.</ref>.


No seguimento da reforma de 1901, foi aprovado novo programa da Aula na sua vertente matemática, conservando a frequência em três anos<ref>Universidade de Coimbra, "Programa de Desenho para o curso", 78-79.</ref>.  
No seguimento da reforma de 1901, foi aprovado novo programa da Aula, apenas na sua vertente matemática, conservando-se a frequência em três anos<ref>Universidade de Coimbra, "Programa de Desenho para o curso", 1902-1903:78-79.</ref>.


==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->
==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->
<references />
<references />
==Fontes==<!-- Ou seja, as fontes, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Fontes==<!-- Ou seja, as fontes, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
Arquivo da Universidade de Coimbra. Processos individuais dos professores, "Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73", citado em Carlos Tenreiro. "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022[http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento .]
Universidade de Coimbra. "Decreto de 24 de Dezembro de 1901". Em ''Anuário da Universidade de Coimbra.'' Vol. 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]
 
Universidade de Coimbra. "Decreto de 24 de Dezembro de 1901," in ''Anuário da Universidade de Coimbra,'' 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]
 
Universidade de Coimbra. "Decreto de 24 de Dezembro de 1901," in ''Anuário da Universidade de Coimbra'', Vol. 1902–1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866.
 
Universidade de Coimbra. ''Estatutos da Universidade de Coimbra'' ''(1772)''. Coimbra : Por Ordem da Universidade, 1972.


Universidade de Coimbra. "Programa de Desenho para o curso matemático aprovado em 7 de Julho de 1902," in ''Anuário da Universidade de Coimbra''. 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]
Universidade de Coimbra. "Programa de Desenho para o curso matemático aprovado em 7 de Julho de 1902". Em ''Anuário da Universidade de Coimbra''. Vol. 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]


Universidade de Coimbra. "Regulamento para a Aula de Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73," in ''Anuário da Universidade de Coimbra''. 1872-1873. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]
Universidade de Coimbra. "Regulamento para a Aula de Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73". Em ''Anuário da Universidade de Coimbra''. Vol. 1872-1873. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911[https://digitalis-dsp.uc.pt/republica/UCBG-8-118-1-3/rosto.html .]
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
Carlos Tenreiro. "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022[http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento .]
Carlos Tenreiro. "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022[http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento .]


Justino, David dir. ''Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009).'' Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017[https://www.cnedu.pt/content/noticias/geral/225-17_livro_reformasebasesdaeducacao_cne_net.pdf .]
Justino, David (dir.). ''Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009).'' Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017[https://www.cnedu.pt/content/noticias/geral/225-17_livro_reformasebasesdaeducacao_cne_net.pdf .]


Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia''. Vol. 15. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1887[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia''. Vol. 15. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1887[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
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==Ligações Internas==
==Ligações Internas==
Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição siga o link:
Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição, nomeadamente professores e alunos, siga o link
<!-- [[:Categoria:nome da página/categoria. ex: Academia Militar de Goa]] -->
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[[:Categoria:Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra]]
[[:Categoria: Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra]]


==Ligações Externas== <!--Ligações externas a sítios de internet, etc. que não foram utilizadas concretamente na construção da biografia -->
==Ligações Externas== <!--Ligações externas a sítios de internet, etc. que não foram utilizadas concretamente na construção da biografia -->
<!-- Comentários vossos e bibliografia citada pelas fontes -->Modelos didáticos adquiridos para a Aula de Desenho e Arquitectura[http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento .]
<!-- Comentários vossos e bibliografia citada pelas fontes -->Abreu, José Miguel. ''Aula de desenho, annexa à Faculdade de Mathematica : catalogo dos modelos para o ensino, comprados nos annos lectivos de 1881 a 1883''. [Coimbra]: [s.ed.], [s.d.][https://digitalis-dsp.uc.pt/html/10316.2/26433/UCSIB-9-11-24-2-32m_PDF/UCSIB-9-11-24-2-32m_PDF_24-C-R0120/UCSIB-9-11-24-2-32m_0000_Obra_Completa_t24-C-R0120.pdf .]


Catálogo dos modelos para o ensino, comprados nos anos letivos de 1881 a 1883, para a Aula de Desenho[https://digitalis-dsp.uc.pt/html/10316.2/26433/UCSIB-9-11-24-2-32m_PDF/UCSIB-9-11-24-2-32m_PDF_24-C-R0120/UCSIB-9-11-24-2-32m_0000_Obra_Completa_t24-C-R0120.pdf .]
Almamater. Biblioteca de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra. Augusto Bobone, Fotografia da sala de desenho,1902[https://am.uc.pt/item/46332 .]


Fotografia da sala de desenho em 1902, por Augusto Bobone[https://am.uc.pt/item/46332 .]
Tenreiro, Carlos. "Modelos didáticos adquiridos para a Aula de Desenho e Arquitectura"[http://www.mat.uc.pt/~tenreiro/GDDesenho/Desenho.html#regulamento .]


==Autor(es) do artigo==
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==Financiamento==
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Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
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Edição atual desde as 16h10min de 25 de agosto de 2023


Aula de Desenho e Arquitetura da Universidade de Coimbra
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula de Desenho da Universidade de Coimbra
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 1772
Data de extinção 1911
Paralisação
Início: 1772
Fim: 1840
Localização
Localização Coimbra, Coimbra, Portugal
Início: 1840
Fim: 1911
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

A Aula de Desenho e Arquitetura da Universidade de Coimbra foi criada em 1772, pelas reformas dos Estatutos e planos de estudo universitário aplicadas durante o governo do Marquês de Pombal, no reinado de D. José I.

Estabelecida anexa à recém-criada Faculdade de Matemática, reunia as dimensões civil e militar e era recomendada aos cursos de matemática e de medicina, sem obrigação de aprovação em exame, o que releva a pouca importância, ou "papel secundário", que era reconhecida à disciplina no âmbito universitário. As exposições podiam também ser assistidas por aqueles "que tiverem gosto, e propensão para a Arquitetura, e Desenho" com a condição de terem assistido previamente às lições de aritmética e geometria elementar. Os alunos que frequentassem livremente a Aula poderiam requer exame público e "conforme os seus merecimentos, se lhes passarão Cartas de Desenhadores, e Arquitetos, com as Formalidades Académicas"[1].

Não obstante, a Aula não foi efetivamente estabelecida aquando da sua instituição pela lei, sendo refundada em 1836, no contexto das reformas educativas prosseguidas por Manuel da Silva Passos, após a Revolução Setembrista, pelo que José Silvestre Ribeiro não hesitou em indicar essa data como o ano da sua criação[2]. A Aula manteve-se anexa à Faculdade de Matemática e determinou-se a sua frequência obrigatória para os alunos das Faculdades de Filosofia, Matemática e Medicina, na qual deveriam realizar "um rigoroso exame nesta Disciplina, sem o qual não poderão obter a Carta de Formatura"[3]. Inaugurou a sua primeira aula no ano letivo de 1840-1841[4].

Em 20 de Setembro de 1844, era legislada a reforma da instrução pública da autoria de António Costa Cabral, ministro do Reino, que, no que concerne à Aula, manteve as disposições de 1836 e criou um lugar de professor substituto[5].

Entre 1840 e 1849, a Aula de Desenho e Arquitetura funcionou sem regulamento próprio, sendo dele dotada a partir do ano letivo de 1850-1851. O novo regulamento determinava a frequência obrigatória para os alunos do primeiro e segundo ano do curso de matemática, e os alunos do primeiro ano do curso de filosofia. Em 1872, o regulamento era revisto e alargava a obrigatoriedade da frequência para os três primeiros anos do curso de matemática e dos dois primeiros anos do curso de filosofia[6].

Segundo a última reforma do plano de estudos da Aula, em vigência entre 1901 e 1911, data da reforma universitária republicana, as suas duas vertentes, matemática e filosófica, foram separadas, ficando cada uma adstrita a um professor efetivo e à respectiva Faculdade[7]. A partir de 1911, a Aula de Desenho e Arquitetura foi extinta, sendo criada a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra em resultado da união das extintas Faculdades de Matemática e Filosofia.

Outras informações

Inicialmente localizada no edifício do Colégio das Artes, a Aula transitou para o edifício do Museu da Universidade em 1856, onde permaneceu até à reforma universitária de 1911[4].

Professores

Por ser considerado que a Aula não tinha "exatidão Matemática (...) governando-se mais pelo gosto, do que por demonstração", não era exigido o grau de Doutor ao seu professor, nem este poderia ter "lugar de Examinador em Ato algum de Matemática", ainda que se encontrasse subordinado à Congregação de Matemática[8]. A aula era assegurada por apenas um professor.

Em 1901, a situação dos docentes não havia sido normalizada e o preâmbulo ao decreto de reforma dos estudos da Universidade acusava serem os dois cursos assegurados por professores provisórios e não efetivos, situação que não era aconselhada[9]. A reforma de 1901 especificava ser "indispensável" que o ensino na Aula fosse "essencialmente prático e simultaneamente educativo", à semelhança das experiências estrangeiras. Então, apesar do rigor exigido pela aplicação da geometria ao desenho, este era "acima de tudo um ramo de belas-artes". Uma condição que alertava para a necessidade do seu professor não ser "exclusivamente um artista", pois não era fim do curso "preparar artistas", mas sim "instruir os alunos que se destinam a outras carreiras", pelo que se admitiam ao concurso de professor aqueles oriundos das escolas industriais[10].

Professores da Aula de Desenho e Arquitetura, entre 1840 e 1911[4]:

Professor interino entre 1840 e 1842: Manuel da Fonseca Pinto.

Professor proprietário em 1853: António Tomás da Fonseca.

Professor proprietário em 1856: António Victor de Figueiredo Bastos.

Professor interino entre 1857 e 1871: Luís Augusto Pereira Bastos.

Professor proprietário interino entre 1871-1873: José Miguel Abreu.

Professor proprietário entre 1873 e 1887: José Miguel Abreu.

Professor proprietário entre 1888 e 1898: João Vieira Rodrigues.

Professor interino em 1897; e entre 1900 e 1901: António Domingues Cortês da Silva Curado

Professor interino entre 1898 e 1902: António Augusto Gonçalves.

Professor proprietário na Aula anexa à Faculdade de Filosofia entre 1902 e 1911: António Augusto Gonçalves

Professor interino em 1898: José Luís de Andrade Mendes Pinheiro.

Professor proprietário entre 1898 e 1910: José Luís de Andrade Mendes Pinheiro.

Professor substituto interino entre 1842 e 1853:Francisco Pedro Bernardes de Carvalho Simões Vaz Velho.

Professor substituto em 1856: António Victor de Figueiredo Bastos.

Professor substituto interino em 1887: João Vieira Rodrigues.

Curricula

Na sua maioria, os diversos documentos que organizaram a Aula de Desenho e Arquitetura mencionavam as matérias a reger pelo professor. Os Estatutos de 1772 especificavam, na parte de desenho, as matérias de "Regras fundamentais da Arte", devendo os alunos ser instruídos numa "espécie particular de Metafísica (...) para que adquiram não somente o hábito de executarem com primor; mas também possam com inteligência julgar do estilo, expressão, e exatidão das obras de arte"[11]; no que concerne às matérias de arquitetura civil deveria ensinar-se "os diferentes modos de edificar dos Antigos, e Modernos; os meios, que se devem aplicar para a segurança, comodidade, e decoração dos edifícios; as diferentes ordens de Arquitetura; e as obras, em que cada uma delas deve ter lugar (...) fazendo-lhes copiar, e desenhar, para se formarem ao mesmo tempo no Desenho, e no gosto da mesma Arquitetura"[12]; no que refere à matéria de Arquitetura Militar abordavam-se "os Princípios fundamentais dela: Mostrando os diferentes métodos de Fortificação (...) Sendo tudo acompanhado com o Desenho dos modelos mais perfeitos, que até o presente se tem executado"; acresciam ainda exercícios em "Cartas Geograficas, e Topograficas; no Desenho dos animais, plantas, aves, e outros produtos da natureza, sem iluminação, e com iluminação"[13]. Menos profuso, o texto legislativo de 1844 indicava as matérias de "princípios de Desenho linear, de figura, de paisagem, de plantas, de animais, de arquitetura, de máquinas e aparelhos, e de quaisquer outros ramos desta Disciplina"[14].

No seguimento da portaria de 27 de Dezembro de 1861, o conselho da Faculdade de Matemática determinava a organização do programa da Aula de Desenho segundo esta ordenação disciplinar: "Artigo 2.º No 1.º ano estudar-se-á o seguinte: Desenho linear, tanto à mão como por meio de instrumentos matemáticos; e tanto por imitação de modelos, como por designação dos objetos susceptíveis de definição rigorosa. Desenho geométrico, com as reduções, e conhecimento das escalas e petipé. Aplicação às máquinas e aparelhos, ou instrumentos, e ornatos. Copia de originais em relevo. Art. 3.º No 2.º ano estudar-se-á o desenho aplicado à arquitetura, e paisagem: regras de perspectiva, e sombras. Copias de modelos, e do natural"[15].

O programa da cadeira de Desenho da autoria do professor José Miguel de Abreu especifica as matérias próprias de cada curso, de desenho para matemática ou filosofia, no ano letivo de 1872-1873. No curso de matemática, realizado em três anos, leccionavam-se as seguintes matérias: primeiro ano, traçados geométricos; estudo das projeções: suas aplicações, especialmente à arquitetura e máquinas (em que se incluía o estudo das cores e materiais do desenhador); princípios elementares das sombras, suas aplicações; continuação do estudo das sombras; estudo das aguarelas; intersecção das superfícies, aplicações; e princípios elementares de arquitetura; no segundo ano, desenho de máquinas, desenho de arquitetura; e, no terceiro ano, a continuação do desenho de máquinas; desenho topográfico e aplicações. No primeiro ano do curso filosófico abordavam-se o desenho de paisagem e elementos de figura, e, no segundo ano, desenho de figura[16].

No seguimento da reforma de 1901, foi aprovado novo programa da Aula, apenas na sua vertente matemática, conservando-se a frequência em três anos[17].

Notas

  1. Universidade de Coimbra, Estatutos da Universidade, 168, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  2. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:94.
  3. Justino, Reformas e bases da educação, 68.
  4. 4,0 4,1 4,2 Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  5. Justino, 93.
  6. Universidade de Coimbra, "Regulamento para a Aula de Desenho", 1872-1873:209-210.
  7. Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:54-56.
  8. Universidade de Coimbra, Estatutos da Universidade, 167, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  9. Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:28-29.
  10. Universidade de Coimbra, "Decreto de 24 de Dezembro de 1901", 1902-1903:29.
  11. Universidade de Coimbra, Estatutos da Universidade, 196, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  12. Universidade de Coimbra, Estatutos da Universidade, 196, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  13. Universidade de Coimbra, Estatutos da Universidade, 197, citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  14. Justino, Reformas e bases da educação, 93.
  15. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16: 76.
  16. Arquivo da Universidade de Coimbra. Processos individuais dos professores, "Programa da cadeira Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73", citado em Carlos Tenreiro, "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.
  17. Universidade de Coimbra, "Programa de Desenho para o curso", 1902-1903:78-79.

Fontes

Universidade de Coimbra. "Decreto de 24 de Dezembro de 1901". Em Anuário da Universidade de Coimbra. Vol. 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911.

Universidade de Coimbra. "Programa de Desenho para o curso matemático aprovado em 7 de Julho de 1902". Em Anuário da Universidade de Coimbra. Vol. 1902-1903. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911.

Universidade de Coimbra. "Regulamento para a Aula de Desenho anexa à Faculdade de Matemática para o ano letivo de 1872-73". Em Anuário da Universidade de Coimbra. Vol. 1872-1873. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1866-1911.

Bibliografia

Carlos Tenreiro. "A Aula de Desenho da Universidade de Coimbra e a sua coleção de modelos para o ensino (1840-1911)". Visualizado em 8 Agosto, 2022.

Justino, David (dir.). Reformas e bases da educação – legado e renovação (1835-2009). Lisboa: Comissão Nacional de Educação, 2017.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 15. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1887.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 16. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1889.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 17. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1892.

Ligações Internas

Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição, nomeadamente professores e alunos, siga o link

Categoria: Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra

Ligações Externas

Abreu, José Miguel. Aula de desenho, annexa à Faculdade de Mathematica : catalogo dos modelos para o ensino, comprados nos annos lectivos de 1881 a 1883. [Coimbra]: [s.ed.], [s.d.].

Almamater. Biblioteca de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra. Augusto Bobone, Fotografia da sala de desenho,1902.

Tenreiro, Carlos. "Modelos didáticos adquiridos para a Aula de Desenho e Arquitectura".

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

Apoio especial “Verão com Ciência 2022” da UID 4666 – CHAM — Centro de Humanidades, financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC)

DOI

https://doi.org/10.34619/wanu-4069

Citar este artigo

Almeida Barata, João de. "Aula de Desenho e Arquitectura da Universidade de Coimbra", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 25/08/2023). Consultado a 18 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_de_Desenho_e_Arquitectura_da_Universidade_de_Coimbra. DOI: https://doi.org/10.34619/wanu-4069