Domingos Capacci

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Domingos Capacci
Nome completo Domingos Capacci
Outras Grafias Domenico Capassi, Domenico Capasso, Domingos Capace
Pai Silvestro Capacci
Mãe Caterina Spena
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento 1694
Itália
Morte 14 fevereiro 1736
São Paulo, Brasil
Sexo Masculino
Religião Cristã
Residência
Residência Itália
Data Início: 1694
Fim: 1722

Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Data Início: 19 de setembro de 1722
Fim: 1729

Residência Brasil
Data Início: 1730
Fim: 1736
Formação
Formação Matemática
Data Início: 1710
Fim: 1712
Local de Formação Itália

Formação Matemática
Data Início: 1722
Fim: 1722
Local de Formação Itália
Cargos
Cargo Professor
Data Início: 1712
Fim: 1715

Cargo Professor
Data Início: 1715
Fim: 1718

Cargo Professor
Data Início: 1718
Fim: 1719

Cargo Professor
Data Início: 1719
Fim: 1722

Cargo Cosmógrafo
Data Início: 1722

Cargo Cosmógrafo
Data Início: 1722

Cargo Professor
Data Início: 1726

Cargo Cosmógrafo
Data Início: 1730
Actividade
Actividade Demarcação de fronteira
Data Início: 1729
Fim: 1729
Local de Actividade Maranhão, Brasil

Actividade Autoria de texto
Data Início: 1724
Fim: 1726

Actividade Desenho cartográfico
Data Início: 1730
Fim: 1737
Local de Actividade Brasil


Biografia

Dados biográficos

Natural de Nápoles, entra para a Companhia de Jesus a 6 de março de 1710, efetuando os seus estudos no Colégio Máximo de Nápoles.

Carreira

Domingos Capacci inicia a sua carreira através do ensino de Humanidades em Amantea (1712-1715), Filosofia em Nápoles (1715-1718), Humanidades em Castellammare di Stabia (1718-1719), e Teologia, novamente em Nápoles (1719-1722).

Em 1717, Domingos redige carta a Michelangelo Tamburini, General da Companhia de Jesus, manifestando o interesse de partir em missão para oriente.

Posteriormente, em 1722, Michelangelo Tamburini, recomenda o seu nome, junto com o de Giovanni Battista Carbone, a D. João V face a pedido do monarca para o envio para Portugal de dois missionários competentes em matemática e cartografia. Um pedido inserido nos esforços de modernização científica nacional, visando suprir a insuficiência de pessoal especializado nas áreas da matemática, astronomia e cartografia.

Antes da viagem para Lisboa, Capacci e Carbone são recebidos em Roma (maio de 1722), pelo matemático português Manuel de Campos e pelo 4º Conde de Galveias, embaixador de Portugal (Tirapicos 2022). Durante a estadia romana, os matemáticos aprofundam a sua formação em observação astronómica no Colégio Romano junto de Orazio Borgondio, o qual dirige as aulas de matemática da instituição entre os anos de 1712 e 1740.

Chegado a Lisboa a 19 de setembro de 1722, Domingos Capacci foi recebido na corte e em audiência com o Rei. Consigo trás equipamentos, instrumentos e livros, adquiridos em Itália, para suporte à sua atividade, nomeadamente à observação de eclipses e determinação de longitudes. Deste manancial instrumental e bibliográfico, Tirapicos (2017, 96) destaca: um telescópio de 30 palmos de Campani; partes de uma meridiana; um relógio de sol armilar universal; um quadrado geométrico; efemérides de La Hire (Tabulae astronomicae) e Kepler (Tabulae Rudolphinae); obras matemáticas jesuítas como o Cursus Seu Mundus mathematicus de Dechales, o Almagestum Novum de Riccioli, o volume 5 da Opera Mathematica de Tacquet, e o tratado Geometriae Practica de Clavius.

Em Lisboa, funda, juntamente com Giovanni Battista Carbone, o observatório astronómico do Paço da Ribeira e o Observatório do Colégio de Santo Antão, sendo promovidos em 1726 a matemáticos e geógrafos do Reino de Portugal. Neste período, Domingos ensina matemática no Colégio de Santo Antão, bem como na Academia Real de História (Reccia 2015)

Contudo, sendo objetivo principal da vinda de Capacci para Portugal a elaboração de um novo atlas da América Portuguesa, o jesuíta é integrado nas expedições de demarcação dos territórios ultramarinos reivindicados por Portugal. Na preparação da sua missão à América do Sul, Capacci viaja pelo norte e centro de Portugal, entre os anos de 1726 e 1727, estabelecendo as coordenadas geográficas de várias cidades. Um passo essencial, para o ensaio e aplicação dos conhecimentos e instrumentos que trouxe de Itália, mas também para a fixação de dados que informam a cartografia do território metropolitano. Uma missão descrita no manuscrito Lusitania Astronomice Illustrata Jussu, ac Munificencia Potentissimi Regis IOANNIS V (1726-1727), em depósito no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Na sequência de alvará régio de 18 de novembro de 1729, Domingos Capacci, juntamente com o matemático jesuíta português Diogo Soares, partem a 21 de novembro para o Brasil, com a missão de presumivelmente mapear os territórios do Maranhão. De facto, e apesar da referência da documentação oficial da coroa a missão no Maranhão, Bahia e Minas (conforme Decreto do Rei D. João V a ordenar a medição dos limites da Capitania da Bahia e Minas Gerais, e do Estado do Brasil do Maranhão pelos matemáticos Italianos Domingos Capassi e Diogo Soares - AHU_CU_BAHIA, Cx. 34, D. 3142 – Arquivo Histórico Ultramarino), o efetivo objetivo dos trabalhos destes dois jesuítas parece ter sido o reconhecimento e demarcação do limite sul do Brasil, até ao Rio da Prata, respondendo à pretensões portuguesas na fixando de fronteira entre os impérios Ibéricos. Mapas que deveriam exibir a correta localização de povoações, minas de ouro e diamantes, portos, rios e enseadas.

Eu El Rey faço Saber aos que este meu Alvara virem em expeçial ao V. Rey, e Capitão General de mar e Terra do estado do Brazil Governadores do Rio de Janeyro São Paullo e Minas Geraes Pernambuco Maranhão Capitão mor da Parahiba e mais Capitaens Mores de outras Capitanias destritos Villas e freguezias dos Certoens (...) e muito Comviniente ao Governo, e defença do mesmo Estado boa administração da justiça areccadação de minha Fazenda, e para se evitarem as duvidas, e Comtraverçias que se tem originado dos novos descobrimentos que se tem feito nos Certoens daquelle estado de poucos annos a esta parte fazeremçe Mapas das Terras do dito Estado não sô pella marinha mas pelos Certoens com toda a distincção para qual milhor Se signallem e se conheção os destritos de cada Bispado Governo Capitania Comarcã, e doaçam, e para esta diligençia nomehey dous Religiozos da Companhia de Jezus peritos nas Mathematicas que São Diogo Soares e Domingos Capace, que mando na prezente ocazião para o Rio de Janeyro. (In: Cortesão 1953, 265).

Desembarcando no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1730, fundam aí observatório astronómico no colégio dos jesuítas da cidade no Morro do Castelo, um recurso essencial à determinação do meridiano do Rio de Janeiro, em relação ao de Paris, e, consequentemente à referenciação na delineação de um novo atlas da américa portuguesa.

Da sua extensa atividade, Capacci e Soares destacam-se na aplicação de metodologias de medição geodésica, providenciadas pela ciência astronómica, que se refletiram na qualidade dos dados e mapas produzidos na sequência de expedições cartográficas empreendidas ao longo da costa e interior brasileiro e que contribuem grandemente para as negociações ibéricas preparatórias do Tratado de Madrid (Cortesão 1952-1963; Almeida 1990).

Domingos Capacci falece em São Paulo a 14 de fevereiro de 1736, sendo os trabalhos da missão continuados por Diogo Soares até à sua morte em 1748, em Goiás.

Outras informações

Obras

  • 1724 – Publica, em coautoria com Giovanni Battista Carbone: “Observatio Lunaris Eclipsis Habita Ulyssipone in Palatio Regio Die I. Novembris 1724. A’ PP. Joanne Baptista Carbone, et Dominico Capasso Soc. Jesu.”
  • 1724-1725 – Publica, em coautoria com Giovanni Battista Carbone: “Observatio Lunaris Eclipsis Habita Ulyssipone in Palatio Regio Die 1. Novembris 1724. A PP. Joanne Baptista Carbone, & Dominico Capasso, Soc. Jesu. Communicante Excellentissimo Domino, Dno de Galvaon, Commendatore Villae Meam & Francae, Equ. Ord. Christ. Legato Sereniss. Reg. Portugall. ad Sereniss.. Regem Magn. Britan. S. R. S.”, Philosophical Transactions, 33, 180- 185.
  • 1725 – Publica, em coautoria com Giovanni Battista Carbone: “Observatio Lunaris Eclipsis Habita Ulyssipone in Palatio Regio die I Novembris 1724. a PP. Joanne Baptista Carbone, & Dominico Capasso Soc. Jesu.”, Acta Eruditorum, 74-78.
  • 1726-1727 - Redige o manuscrito: Lusitania Astronomice Illustrata Jussu, ac Munificencia Potentissimi Regis IOANNIS V, ANTT, CJ, mç. 78, doc. 57 Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
  • 1726 – Publica: Observationes Habitae Ulyssipone, circa Primum Jovis Satellitem, Acta Eruditorum, 365.
  • 1726 - Publica: Observationes Astronomicae ad Elevationem Poli Ulyssipone inquirendam. Acta Eruditorum, 365- 369
  • c.1730 – Desenha o mapa: Mappa corographico da capitania do Rio de Janeiro. ARC.023,01,001 – Cartografia, Biblioteca Nacional (Brasil). Disponível em
  • 1732 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: S. Sebastião nas Geraez e Matto Dentro. AHU_CARTm_011, D. 1154. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • 1732 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: Sumidouro nas Geraez e Matto Detro [Dentro]. AHU_CARTm_011, D. 1155. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1732 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: S. Caetano nas Geraez e Matto Dentro. AHU_CARTm_011, D. 1156. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1736 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: [Carta da Capitania de Minas Gerais entre os rios das Velhas e o Araçuaí]. AHU_CARTm_011, D. 1172. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1736 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: [Carta da Capitania de Minas Gerais entre os rios São Pitangui e Santo Antônio]. AHU_CARTm_011, D. 1173. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1736 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: [Carta da Capitania de Minas Gerais entre a Serra Tucambira, Rio Jequitinhonha e o seu afluente Araçuaí]. AHU_CARTm_011, D. 1174. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1736 – mapa atribuído a Domingos Capacci e Diogo Soares: [Carta da Capitania de Minas Gerais entre o rio Paraopeba e Ribeirão do Carmo]. AHU_CARTm_011, D. 1175. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – atribuição de autoria, juntamente a Diogo Soares: Carta 4 [da] Costa [do Brasil]: a Ponta de Araçatuba, Ilha de S. Catarina, Rio de S. Franco. Parnaguá athe a Barra de Ararapira: compde . do Cam°. AHU_CARTm_025, D. 1138. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – atribuição de autoria, juntamente a Diogo Soares: Carta 5 da Costa do Brasil: ao meridino do Rio de Janeyro desde a B. dlbepetuba athe aponta de Guaríipaba na E. de Syri / pelo Padre Diogo Soares S. J. G[eógraf]o R[égio] no E. do Brazil. AHU_CARTm_025, D. 1139. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – atribuição de autoria, juntamente a Diogo Soares: Carta 6 da Costa do Brasil: ao meridiano do Rio d' Janro. desde a ponta de Araçatuba athe a barra do Guaratuba /pelo P. M. Diogo Soarez S. J. G. R. no Estado do Brasil. AHU_CARTm_025, D. 1140. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – atribuição de autoria, juntamente a Diogo Soares: Carta 9 [8a ] da Costa do Brazil: ao meridiano do Rio d' Janeiro dezde a barra de Bertioga athe aponta da Guaratuba /pelo padre M. Diogo Soarez S. J. AHU_CARTm_025, D. 1141. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – desenho do mapa: Carta 9 da Costa do Brazil: ao meridiano do Rio d' Janeiro dezde a barra de Santos athe a da Marambaya / pelos PP Diogo Soares e Domingos Capaci S. J.G.R. no Estado do Brasil. AHU_CARTm_025, D. 1142. Arquivo Histórico Ultramarino.
  • c. 1737 – desenho do mapa: Carta 10ª da Costa do Brasil: ao meridiano do Rio de Janeyro dezde a barra da Marambaya athê Cabbo Frio / pelos PP Diogo Soares e Dos. Capaci S. J.G.R. no Estado do Brasil. AHU_CARTm_025, D. 1143. Arquivo Histórico Ultramarino.

Notas


Fontes

Bibliografia

Albuquerque, Luís de. A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972.

Almeida, André. A formação do espaço brasileiro e o projecto do novo Atlas da América Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, 2001.

Baldini, Ugo. “The teaching of mathematics in the Jesuit colleges of Portugal from 1640 to Pombal”, in Saraiva, Luís; Leitão, Henrique (org.) The Practice of Mathematics in Portugal , Coimbra: Acta Universitatis Conimbrigensis, 2004.

Bicalho, Maria Fernanda. “Sertão de estrelas: A delimitação das latitudes e das fronteiras na América portuguesa” In Varia História, 21 (1999), 73-75.

Cortesão, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, 9 vols. Rio de Janeiro: Instituto Rio Branco, 1950–1963.

Cortesão, Jaime. História do Brasil nos Velhos Mapas. Obras Completas de Jaime Cortesão, Vol 11. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009.

Gesteira, Heloísa Meireles. “Instrumentos matemáticos e a construção do território: a missão de Diogo Soares e Domingos Capassi ao Brasil (1720-1750)” In Kury, Lorelai & Gesteira, Heloísa Meireles (Org.) Ensaios de História das Ciências no Brasil: das luzes à nação independente, Rio de Janeiro: EDUERJ, 2012, 207-224.

Leitão, Henrique. Sphaera Mundi: A Ciência na Aula da Esfera , Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2008.

Ralha, Maria Elfrida. “João Ângelo Brunelli (1722-1804). Episódios históricos marcados por um matemático bolonhês contratado por D. João V” In RiMe, Rivista dell’Istituto di Storia dell’Europa Mediterranea, numero 8/III (2021), 199-238.

Reccia, Giovanni. “Vita del gesuita Domenico Capasso. Geografo ed astronomo alla Corte del Re del Portogallo”, In Raccolta Rassegna Storica dei Comuni, 29 (2015), 31-49.

Tirapicos, Luís. “Ciência e diplomacia na corte de D. João V: a acção de João Baptista Carbone, 1722–1750”. Ph.D. dissertation, University of Lisbon, 2017.

Tirapicos, Luís. “Capacci, Domenico”. In Nicholson P.D., Bartlett J.L. (eds) Biographical Encyclopedia of Astronomers, New York: Springer, 2022.

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

João Cabeleira

Lab2PT - Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-6800-8557

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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