Francisco Custódio de Azevedo: diferenças entre revisões
(→DOI) |
Sem resumo de edição |
||
Linha 218: | Linha 218: | ||
===Dados biográficos=== | ===Dados biográficos=== | ||
Francisco Custódio de Azevedo<ref>Não há qualquer referência sobre Francisco Custódio de Azevedo no ''Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses'' (Viterbo,1998), ou no ''Expedições Científicos-Militares enviadas ao Brasil'' (Viterbo, 1962). Tampouco encontramos menção ao profissional em Sepúlveda (1913; 1919). </ref>nasceu em Portugal, no ano de 1700, e faleceu em 1784 na capitania do Ceará | Francisco Custódio de Azevedo<ref>Não há qualquer referência sobre Francisco Custódio de Azevedo no ''Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses'' (Viterbo,1998), ou no ''Expedições Científicos-Militares enviadas ao Brasil'' (Viterbo, 1962). Tampouco encontramos menção ao profissional em Sepúlveda (1913; 1919). </ref>nasceu em Portugal, no ano de 1700, e faleceu em 1784 na capitania do Ceará, no Brasil<ref>Castro, 1999.</ref>. | ||
===Carreira=== | ===Carreira=== | ||
Segundo o arquiteto José Liberal de Castro, Francisco Custódio de Azevedo pertenceu a | Segundo o arquiteto José Liberal de Castro, Francisco Custódio de Azevedo pertenceu a “''uma equipe de mineradores encarregados de pesquisar ouro no sopé da Serra da Ibiapaba<ref>Sistema orográfico que serve de divisa entre os estados do Ceará e Piauí, no nordeste do Brasil.</ref>, por volta de 1743''”<ref>Castro (1982).</ref> na Capitania do Ceará; mais especificamente nas “''minas do Araticum em Ubajara''”<ref>Castro (1980).</ref>. Ainda segundo Castro, diante do pouco resultado das catas, o “''grupo se dispersou após penosa demanda com o empreiteiro da mineração''”<ref>Castro (1999).</ref>. | ||
O profissional fixou residência em território cearense, “''radicando-se na Serra dos Cocos, um dos contrafortes da Ibiapaba''”. Não se conhece a formação técnica do minerador português<ref>Castro supõe tratar-se de “técnico em mineração com prováveis conhecimentos de agrimensura”. (1980, p. 60).</ref>; embora Barão de Studart o trate como “''engenheiro capitão''”.<ref>Studart (2001, p. 364). Jucá Neto (2012) o inclui como engenheiro (embora sua formação não esteja comprovada) diante de sua habilidade técnica ao cartografar a região das minas dos Cariris Novos na Capitania do Ceará - Brasil.</ref> Francisco Custódio de Azevedo fora responsável, na capitania do Ceará, pela demarcação de vilas e elaboração, berm como dos riscos de várias casas de câmara e cadeia. Também de acordo com Castro tratava-se de um “''profissional portador de bons conhecimentos de topografia, pois inúmeras vezes foi convocado para prestar serviços de medições em vários locais da Capitania''”.<ref>Castro (1997, p. 22).</ref> | |||
Em 1764, o engenheiro orquestrou a instalação da Vila de Montemor-o-Novo D’América, atual cidade de Baturité<ref>A Vila foi elevada à condição de cidade de Baturité em 1858. (GIRÃO, R; MARTINS FILHO, A.; 1939)</ref>, no Ceará. A documentação referente à instalação do núcleo compõe um importante roteiro do método português de fazer vilas. Os documentos encontram-se publicados na ''Revista do Instituto do Ceará'', em publicação datada de 1891<ref>''Registro dos Autos ...'' (1891)</ref>. O conjunto documental é composto por mais de 40 registros de medições e definições do traçado e do patrimônio da vila, possivelmente escritos na casa que servia de sede provisória da futura câmara. Os registros foram devidamente assinados pelo ouvidor-mor da capitania do Ceará Victorino Soares Barbosa, por Francisco Custódio de Azevedo e seu ajudante de corda, o meirinho Antonio Gomes de Freitas<ref>Jucá Neto (2013).</ref>. | |||
Após a escolha do sítio, em “''o lugar que era mais conveniente para assentar e erigir''” a vila, o ouvidor-mor Victorino Soares Barbosa<ref>O ouvidor Victorino Soares Barbosa exerceu suas atividades no Cear de 27 de setembro de 1756 a 1 de janeiro de 1770. Studart (1892).</ref> “''mandou vir à sua presença Francisco Custódio de Azevedo, engenheiro de profissão e morador na serra dos Coquos''”, com o “''instrumento chamado prancheta ou círculo dimensório''” e a “''corda''” para medição de “''qualquer terra com dez braças de comprido, como manda o novo método de fazer cartas geográficas''”.<ref>''Termo de Demarcação e Assignação do Terreno''. In: Registro dos Autos ...</ref> | |||
Antes de dar início às medições, o profissional apresentou os instrumentos de trabalho. O círculo dimensório era “''graduado com os 360 graus'' ''da periferia em que se compreendem todos os oito rumos principais, quartas e meias partidas, que mostravam também estar cevado nos dois polos do norte e sul, com qual se costumam fazer as cartas geográficas e topográficas''”. Já a corda era de “''linho, da grossura de uma linha geométrica e encerada''”.<ref>Termo de apresentação do círculo Dimensorio ou Bussola e exame n’ella e na corda com que se há de medir a terra. In: ''Registro dos Autos ...''</ref> | |||
Entre março e maio de 1764, o núcleo fora desenhado no terreno escolhido. Após a demarcação da área da vila propriamente dita, fora demarcada a praça, os lotes, as ruas, o lugar do pelourinho, o distrito e o rocio. Por fim, balizaram os marcos que delimitavam o seu patrimônio e as “''datas das plantas de seus moradores''”. Após a instalação da Vila de Montemor-o-Novo, o profissional fora convocado para implantar da vila de Sobral em 1773. | |||
Em 1 de setembro de 1775, Francisco Custódio de Azevedo recebeu da câmara da vila de Fortaleza, sede da capitania do Ceará, a quantia de 12$000 pela planta da Casa de Câmara e Cadeia da Vila.<ref>Studart (2001, p. 341).</ref> A documentação local sugere que a edificação não fora construída, pois os “''vereadores''” do núcleo requereram ao “''Engenheiro capitão Francisco Custódio de Azevedo o risco da nova casa de Câmara da vila''”.<ref>Studart (2001, p. 364).</ref> O profissional fora, ainda, responsável pelo risco da casa de câmara e cadeia da antiga vila do Soure, atual Caucaia situada na região metropolitana de Fortaleza.<ref>Castro (1980, p.59).</ref> | |||
==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography--> | ==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography--> |
Revisão das 13h07min de 3 de julho de 2023
Francisco Custódio de Azevedo | |
---|---|
Nome completo | Francisco Custódio de Azevedo |
Outras Grafias | Custódio Francisco de Azevedo |
Pai | valor desconhecido |
Mãe | valor desconhecido |
Cônjuge | valor desconhecido |
Filho(s) | valor desconhecido |
Irmão(s) | valor desconhecido |
Nascimento | 1700 Portugal |
Morte | 1784 Ceará, Brasil |
Sexo | Masculino |
Religião | valor desconhecido |
Actividade | |
Actividade | Expedição |
Data | Início: 1743 |
Local de Actividade | Ceará, Brasil |
Actividade | Desenho urbano |
Local de Actividade | Ceará, Brasil |
Actividade | Desenho de arquitectura |
Local de Actividade | Ceará, Brasil |
Actividade | Desenho urbano |
Data | Início: 1764 Fim: 1773 |
Local de Actividade | Ceará, Brasil |
Actividade | Desenho de arquitectura |
Local de Actividade | Fortaleza, Ceará, Brasil |
Biografia
Dados biográficos
Francisco Custódio de Azevedo[1]nasceu em Portugal, no ano de 1700, e faleceu em 1784 na capitania do Ceará, no Brasil[2].
Carreira
Segundo o arquiteto José Liberal de Castro, Francisco Custódio de Azevedo pertenceu a “uma equipe de mineradores encarregados de pesquisar ouro no sopé da Serra da Ibiapaba[3], por volta de 1743”[4] na Capitania do Ceará; mais especificamente nas “minas do Araticum em Ubajara”[5]. Ainda segundo Castro, diante do pouco resultado das catas, o “grupo se dispersou após penosa demanda com o empreiteiro da mineração”[6].
O profissional fixou residência em território cearense, “radicando-se na Serra dos Cocos, um dos contrafortes da Ibiapaba”. Não se conhece a formação técnica do minerador português[7]; embora Barão de Studart o trate como “engenheiro capitão”.[8] Francisco Custódio de Azevedo fora responsável, na capitania do Ceará, pela demarcação de vilas e elaboração, berm como dos riscos de várias casas de câmara e cadeia. Também de acordo com Castro tratava-se de um “profissional portador de bons conhecimentos de topografia, pois inúmeras vezes foi convocado para prestar serviços de medições em vários locais da Capitania”.[9]
Em 1764, o engenheiro orquestrou a instalação da Vila de Montemor-o-Novo D’América, atual cidade de Baturité[10], no Ceará. A documentação referente à instalação do núcleo compõe um importante roteiro do método português de fazer vilas. Os documentos encontram-se publicados na Revista do Instituto do Ceará, em publicação datada de 1891[11]. O conjunto documental é composto por mais de 40 registros de medições e definições do traçado e do patrimônio da vila, possivelmente escritos na casa que servia de sede provisória da futura câmara. Os registros foram devidamente assinados pelo ouvidor-mor da capitania do Ceará Victorino Soares Barbosa, por Francisco Custódio de Azevedo e seu ajudante de corda, o meirinho Antonio Gomes de Freitas[12].
Após a escolha do sítio, em “o lugar que era mais conveniente para assentar e erigir” a vila, o ouvidor-mor Victorino Soares Barbosa[13] “mandou vir à sua presença Francisco Custódio de Azevedo, engenheiro de profissão e morador na serra dos Coquos”, com o “instrumento chamado prancheta ou círculo dimensório” e a “corda” para medição de “qualquer terra com dez braças de comprido, como manda o novo método de fazer cartas geográficas”.[14]
Antes de dar início às medições, o profissional apresentou os instrumentos de trabalho. O círculo dimensório era “graduado com os 360 graus da periferia em que se compreendem todos os oito rumos principais, quartas e meias partidas, que mostravam também estar cevado nos dois polos do norte e sul, com qual se costumam fazer as cartas geográficas e topográficas”. Já a corda era de “linho, da grossura de uma linha geométrica e encerada”.[15]
Entre março e maio de 1764, o núcleo fora desenhado no terreno escolhido. Após a demarcação da área da vila propriamente dita, fora demarcada a praça, os lotes, as ruas, o lugar do pelourinho, o distrito e o rocio. Por fim, balizaram os marcos que delimitavam o seu patrimônio e as “datas das plantas de seus moradores”. Após a instalação da Vila de Montemor-o-Novo, o profissional fora convocado para implantar da vila de Sobral em 1773.
Em 1 de setembro de 1775, Francisco Custódio de Azevedo recebeu da câmara da vila de Fortaleza, sede da capitania do Ceará, a quantia de 12$000 pela planta da Casa de Câmara e Cadeia da Vila.[16] A documentação local sugere que a edificação não fora construída, pois os “vereadores” do núcleo requereram ao “Engenheiro capitão Francisco Custódio de Azevedo o risco da nova casa de Câmara da vila”.[17] O profissional fora, ainda, responsável pelo risco da casa de câmara e cadeia da antiga vila do Soure, atual Caucaia situada na região metropolitana de Fortaleza.[18]
Notas
- ↑ Não há qualquer referência sobre Francisco Custódio de Azevedo no Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses (Viterbo,1998), ou no Expedições Científicos-Militares enviadas ao Brasil (Viterbo, 1962). Tampouco encontramos menção ao profissional em Sepúlveda (1913; 1919).
- ↑ Castro, 1999.
- ↑ Sistema orográfico que serve de divisa entre os estados do Ceará e Piauí, no nordeste do Brasil.
- ↑ Castro (1982).
- ↑ Castro (1980).
- ↑ Castro (1999).
- ↑ Castro supõe tratar-se de “técnico em mineração com prováveis conhecimentos de agrimensura”. (1980, p. 60).
- ↑ Studart (2001, p. 364). Jucá Neto (2012) o inclui como engenheiro (embora sua formação não esteja comprovada) diante de sua habilidade técnica ao cartografar a região das minas dos Cariris Novos na Capitania do Ceará - Brasil.
- ↑ Castro (1997, p. 22).
- ↑ A Vila foi elevada à condição de cidade de Baturité em 1858. (GIRÃO, R; MARTINS FILHO, A.; 1939)
- ↑ Registro dos Autos ... (1891)
- ↑ Jucá Neto (2013).
- ↑ O ouvidor Victorino Soares Barbosa exerceu suas atividades no Cear de 27 de setembro de 1756 a 1 de janeiro de 1770. Studart (1892).
- ↑ Termo de Demarcação e Assignação do Terreno. In: Registro dos Autos ...
- ↑ Termo de apresentação do círculo Dimensorio ou Bussola e exame n’ella e na corda com que se há de medir a terra. In: Registro dos Autos ...
- ↑ Studart (2001, p. 341).
- ↑ Studart (2001, p. 364).
- ↑ Castro (1980, p.59).
http://ieeta-eviterbo.web.ua.pt/index.php/Item:Q2639
Fontes
Bibliografia
CASTRO, José Liberal de. Notas relativas à arquitetura antiga no Ceará. Tese apresentada para concurso de Livre-docência. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Centro de Tecnologia. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza. 1980.
CASTRO, José Liberal de. Ceará, sua arquitetura e seus arquitetos. In: Cadernos Brasileiros de Arquitetura. Panorama da Arquitetura Cearense. Volume I. Projeto Editores Associados. São Paulo. 1982.
CASTRO, José Liberal de. Cartografia Cearense no Arquivo Histórico do Exército. In: Revista do Instituto do Ceará. Anno CXI. Fortaleza – Ceará. 1997. CASTRO, José Liberal de. Urbanização Pombalina no Ceará: a paisagem da vila de Montemor-o-Novo da América. IN: Revista do Instituto do Ceará. Anno CXIII. Fortaleza – Ceará. 1999.
JUCÁ NETO, C. R. Ritual, Rigor e Pragmatismo: os procedimentos de instalação da Vila de Monte-Mór o Novo da América. In: Anais XIV Encontro Nacional da ANPUR - Quem planeja o território? Atores, arenas e estratégias. ANPUR. Rio de Janeiro. 2011.
JUCÁ NETO, C. R. Salve o Rei!!! A Vila de Montemor-o-Novo d’ América fora instalada na Capitania do Ceará. A formalidade de que manda o novo método. IN: Ana Amelia M.C. de Melo e Irenísia Torres de Oliveira. Aproximações: cultura e política. 2013. Fortaleza. Expressão Gráfica Editora. 2013.
JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. Primórdios da Urbanização no Ceará. Edições UFC: Editora Banco do Nordeste do Brasil. Fortaleza - Ceará. 2012.
GIRÃO, Raimundo; MARTINS FILHO, Antônio. O Ceará. Editora Fortaleza. Fortaleza – Ceará. 1939.
REGISTRO dos Autos da Erecção da Real Villa de Monte-mor o Novo da América, na capitania do Ceará Grande – Parte I e II. In: Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza. ANNO V. 1891.
SEPULVEDA, Chistovam Ayres de Magalhães. Historia Organica e Politica do Exercito Português. Provas. Volume VII / VIII. Coimbra. Imprensa da Universidade. 1913. 1919.
STUDART, Guilherme (Dr.). Notas para a História do Ceará (Segunda metade do século XVIII). Typographia do Recreio. Lisboa. 1892. PP. 9 – 60.
STUDART, Barão. Geografia do Ceará. In: Revista do Instituto do Ceará. ANNO XXXVII. 1923. PP. 296 – 297.
STUDART, Barão de. Datas e factos para a história do Ceará. Edição fac-sim. - Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001.
VITERBO, Sousa. Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Constructores Portuguezes ou a serviço de Portugal. Reprodução em fac-símile do exemplar com data de 1922 da Biblioteca da INCM. Volume I/II/III – S / Z. Imprensa. 1988.
VITERBO, Souza. Expedições Científico-Militares enviadas ao Brasil. Coordenação, aditamentos e introdução de Jorge Faro. 1 Vol. Edições Panorama. Lisboa. Portugal. 1962
Autor(es) do artigo
Clovis Ramiro Jucá Neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Design (DAUD). Universidade Federal do Ceará (UFC).
https://orcid.org/0000-0002-8424-1527
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
https://doi.org/10.34619/emec-ohac
Citar este artigo
Jucá Neto, Clovis Ramiro. "Francisco Custódio de Azevedo", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 03/07/2023). Consultado a 05 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Francisco_Cust%C3%B3dio_de_Azevedo. DOI: https://doi.org/10.34619/emec-ohac