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Aula de Artilharia de São Julião da Barra | |
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(valor desconhecido) | |
Outras denominações | Aula do Regimento de Artilheria de São Julião da Barra, Aula Regimental de Artilharia de São Julião da Barra, Aula do Regimento de Artilharia da Corte e da Província da Estremadura |
Tipo de Instituição | Ensino Militar |
Data de fundação | 9 abril 1762 |
Data de extinção | 18 julho 1834 |
Paralisação | Início: valor desconhecido Fim: valor desconhecido |
Localização | |
Localização | Forte de São Julião da Barra, Oeiras,- Início: 09 de abril de 1762 |
Antecessora | valor desconhecido |
Sucessora | valor desconhecido |
História
A Aula de Artilharia, ou Aula do Regimento de Artilharia, de São Julião da Barra foi criada anexa ao Regimento de Artilharia da Corte, em 2 de Abril de 1762[1]. O seu estabelecimento, cronologicamente próximo do início da Guerra Fantástica, sustentava-se não só enquanto preparação para o conflito que se esperava desenrolar[2], mas também por se considerar "que a despesa feita com este regimento será menos proveitosa e o seu serviço menos perfeito se os oficiais não tiverem a devida instrução da sua importante profissão [razão pela qual] foi determinado que na mesma praça de S. Julião se estabelecesse uma aula"[3].
A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas, datadas da segunda metade do século XVIII e da autoria do conde de Schaumbourg Lippe, aplicadas ao ensino de artilharia com fim à sua modernização e uniformização, anteriormente sustentado pelas Aulas de Fortificação[4]. Identificando a "decadência a que n'estes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia", arma considerada a "principal força das monarquias", bem como a necessidade de conservar os seus corpos "com ciência e exercício", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade[5]. No caso do Regimento de Artilharia da Corte, o alvará de 1762 havia já determinado que os postos acima da patente de sargento não poderia ser ocupados "sem certidão de exame feito publicamente por professores da mesma artilharia e na presença do general da Corte"[6].
Consentâneo com as peças legislativas referidas, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "quatro regimentos de doze companhias cada um"[7], a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Ainda em 1763, por decreto de 15 de Julho, era estabelecida uma nova organização do plano de estudo a observar nas Aulas de Artilharia, provendo o documento sobre "a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores"[8]. A instituição das Aulas Regimentais de Artilharia não se restringiu ao ensino militar. Considerando que "pela sua natureza transversal [se] exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química [as Aulas foram, por isso,] percursoras de um ensino moderno, científico e prático"[9]. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o plano constituído pelo conde de Lippe, preconizava-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"[10]. A partir de 1779, os exames para os postos de artilharia teriam de ser realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula[11].
No que concerne, em específico, à Aula de Artilharia de São Julião da Barra determinava-se que os instruendos fossem instruídos nos mesmos exercícios e manobras "necessários para o serviço da mesma Artilharia a bordo dos Navios de Guerra"[12]. Uma incumbência que partilhou com a Aula de Artilharia de Lagos e que se estendia à instrução e provimento das guarnições instaladas em fortalezas da Marinha, no Castelo de São Jorge e no presídio de Beirolas[13].
Em 1767, foi enviada uma brigada do Regimento de Artilharia de São Julião, composta por oficiais e soldados, para o Brasil com fim de instruir os artilheiros do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro[14].
Em 1776, após deslocação para Lisboa e subsequente extinção, o Regimento da Corte integrou, em parte, o Regimento de Artilharia de Lagos, com respectivo aumento dos seus efectivos, passando a ocupar também o quartel da Feitoria[15].
Em 1769, o comandante do Regimento, Luís d' Alincourt requeria 60 exemplares do Tratado de Matemática de Belidor ao inspector da arma, comprovando a vitalidade da Aula Regimental. Porém, o contexto favorável rapidamente se alterou, verificando-se apenas um oficial com instrução teórica em artilharia, num total de 19 oficiais, em 1774[16].
Nos anos subsequentes a Aula Regimental manteve-se a despeito da deserção que acossou o Regimento e, em 1786, face ao progresso das ciências da matemática e engenharia, o comandante do Regimento, Cristiano de Weinholtz, pedia escusa do seguimento da obra de Belidor, por "antiquada", propondo instruir os seus alunos pelo Tratado de Bezout, à altura adoptado na Universidade de Coimbra e na Academia da Marinha[17].
No início da centúria de novecentos, o coronel António Teixeira Rebelo, comandante do Regimento, acusava a decadência da Aula em razão de lhe faltar professor, "mas também porque a Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho, criada em Lisboa havia alguns anos, lhe roubara muitos alunos, que preferiam os estudos deste estabelecimento por não poder a aula regimental conceder diplomas"[18].
Ao iniciar-se a Guerra Peninsular, o Regimento de Artilharia da Corte encontrava-se "atrasado e muito falho de instrução em geral", ainda que durante o conflito o Regimento se tenha mostrado "verdadeiramente à altura da sua missão"[19]. No fim do conflito, "parece que a aula regimental ficou em Lisboa, regressando o regimento ao seu quartel de S. Julião", facto que influiu negativamente na disciplina dos alunos e, em resposta ao qual e "para que o ensino voltasse a florescer", se restabeleceu o ensino de matemática, em 1825. Contudo, a decadência da Aula manteve-se, sendo "raro" verificar-se algum oficial nela matriculado[20].
Por decreto de 18 de Julho de 1834 o Regimento de Artilharia da Corte era extinto, sendo refundado, ainda que, avise José Botelho, "erra, pois, quem supuser que o velho regimento extinto, objecto do nosso estudo, serviu de casco ao novo regimento n.º 1"[21]. Não sendo certa a data de extinção das Aulas de Artilharia, alguns autores indicam a date de 1834 para o seu término[22].
Outras informações
Professores
O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"[23].
- Luís d' Alincourt (Francês. Tenente-coronel. Comandante.)[24].
- Diogo José Cony (Francês. Capitão e tenente-coronel. Comandante interino do Regimento.)[25].
- João Vieira da Silva (Coronel. Comandante.)[26].
Curricula
O plano de estudos decretado em 1763 determinava que se observassem, sob pena de expulsão das Aulas e Regimentos, "precisa, e inalteravelmente os seguintes" tratados dos quais "se farão traduções Portuguesas para os que não possuem a língua Francesa"[27]:
- Curso de Matemática, por Monsieur Bellidoro.
- "Para a Arte de lançar as Bombas se deve seguir Monsieur du Lacq naquela parte do seu livro intitulado, Mecanismo de Artilharia, que trata desta matéria", e, em alternativa, "farão o uso do Bombardeiro Francês Monsieur Bellidoro".
- "Os seis Artífices pertencentes à Companhia dos mesmos Bombardeiros devem estudar, entender, e praticar todas as diferentes composições de fogos de Artificio, que servem para a Guerra, pelas explicações do Monsieur de Saint Remy".
- "Para a Ciência das Minas se devem seguir as obras de Monsieur de La-Valiere o Pai, de Monsieur de Lorme, e de Monsieur Bellidoro", inclusos nas "Memórias de Saint Remy".
- "Para a Engenharia, e Fortificações (...) se deve seguir o livro intitulado: O Ataque, e defensa das Praças, por Monsieur de Vauban".
- "Para o Estudo dos Mineiros, e Bombeiros, se deve seguir a Ciência dos Engenheiros do mesmo Monsieur Bellidoro nas partes em que tem uma conexão imediata com a profissão dos sobreditos".
- "Para o Exercício das Peças de Campanha [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém"[28].
Segundo o plano de estudos de 1763, as Aulas Regimentais deveriam observar três dias de prática[29], disposição constante no alvará de 9 de Abril de 1762, que especificava o horário em que deveriam decorrer, "sendo hora e meia de manhã e uma hora de tarde"[30].
Notas
- ↑ Governo Português, "Alvará de 9 de Abril de 1762", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typografia Maigrense, 1830, 862.
- ↑ Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 9.
- ↑ Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 262.
- ↑ Barata, "O Exército e o ensino superior militar", 2:1051.
- ↑ Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.
- ↑ Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 263.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 1:303.
- ↑ Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46.
- ↑ Coelho, "Os arsenais reais", 49.
- ↑ Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.
- ↑ Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilheria, 265.
- ↑ Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 50.
- ↑ Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 16.
- ↑ Cardoso, "Wilhelm Von Schaumburg-Lippe", 13.
- ↑ Botelho, Novos Subsídios para a História, 32.
- ↑ Botelho, 57.
- ↑ Botelho, 58.
- ↑ Botelho, 62.
- ↑ Botelho, 62.
- ↑ Botelho, 62.
- ↑ Botelho, 45.
- ↑ Borges, "O conde de Lippe e o ensino militar em Portugal", 534.
- ↑ Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.
- ↑ Botelho, Novos Subsídios para a História, 56.
- ↑ Botelho, 55.
- ↑ Botelho, 70.
- ↑ Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
- ↑ Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
- ↑ Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 49.
- ↑ Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 263.
Fontes
Governo Português, "Alvará de 9 de Abril de 1762", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typografia Maigrense, 1830.
Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830.
Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.
Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.
Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.
Bibliografia
Barata, Manuel Themudo, "O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII)". Em Fraternidade e Abnegação. Vol. 2. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1999.
Borges, João Vieira, "O conde de Lippe e o ensino militar em Portugal". Em 250 anos da chegada do conde de Lippe a Portugal: necessidades, reformas e consequências da presença de militares estrangeiros no exército português. Actas do XXI Colóquio de História Militar. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2013.
Botelho, José Justino Teixeira, Novos subsídios para a História da Artilharia Portuguesa. Vol. I. Lisboa: Comissão de História Militar, 1944.
Cardoso, Maria Luiza. "Wilhelm Von Schaumburg-Lippe: um Notável Pedagogo Militar". Em VII Congresso Brasileiro de História da Educação: Circuitos e Fronteiras da História da Educação no Brasil. Cuiabá, 2013.
Coelho, Sérgio Veludo. "Os arsenais reais de Lisboa e Porto. 1800-1814." Tese de Dout., Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 2009. (Publicado em Porto: Fronteira do Caos, 2013).
Cordeiro, João Manuel, Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.
Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 1. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.
Vieira, Belchior, “O ensino científico-militar em Portugal no século XVIII – Anastácio da Cunha, discípulo da Aula de Artilharia da Praça de Valença do Minho”. Em Anastácio da Cunha. 1744/1787. O matemático e o poeta. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.
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João de Almeida Barata
https://orcid.org/0000-0001-9048-0447
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
Citar este artigo
- Aula de Artilharia de São Julião da Barra (última modificação: 19/08/2022). eViterbo. Visitado em 28 de setembro de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_de_Artilharia_de_S%C3%A3o_Juli%C3%A3o_da_Barra