Aula de Artilharia, Geometria, Fortificação e Desenho de Tavira: diferenças entre revisões

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A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas, datadas da segunda metade do século XVIII e da autoria do conde de Schaumbourg Lippe, aplicadas ao ensino de artilharia com fim à sua modernização e uniformização. Identificando a "''decadência a que n'estes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia''", arma considerada a "principal força das monarquias", bem como a necessidade de conservar os seus corpos "''com ciência e exercício''", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade<ref>Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", ''Collecção da Legislação Portugueza'', ''Legislação de 1750 a 1762''. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.</ref>.   
A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas, datadas da segunda metade do século XVIII e da autoria do conde de Schaumbourg Lippe, aplicadas ao ensino de artilharia com fim à sua modernização e uniformização. Identificando a "''decadência a que n'estes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia''", arma considerada a "principal força das monarquias", bem como a necessidade de conservar os seus corpos "''com ciência e exercício''", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade<ref>Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", ''Collecção da Legislação Portugueza'', ''Legislação de 1750 a 1762''. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.</ref>.   


Consentâneo com aquele decreto, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "''quatro regimentos de doze companhias cada um''"<ref>Ribeiro, 1:303.</ref>, a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Ainda em 1763, por decreto de 15 de Julho, era estabelecida uma nova organização do plano de estudo a observar nas Aulas de Artilharia, provendo o documento sobre "''a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores''"<ref>Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46''.''</ref>. A instituição das Aulas Regimentais de Artilharia não se restringiu ao ensino militar. Considerando que "''pela sua natureza transversal'' [se] ''exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química'' [as Aulas foram, por isso,] ''percursoras de um ensino moderno, científico e prático''"<ref>Coelho, Sérgio Veludo, ''Os Arsenais Reais de Lisboa e do Porto. 1800-1814.'', 49. Visualizado em 18 Agosto, 2022. http://repositorio.uportu.pt:8080/bitstream/11328/598/3/TDH%2034%20-%20Corpo%20do%20texto.pdf</ref>. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o plano constituído pelo conde de Lippe, preconizava-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"<ref>Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.</ref>. A partir de 1779, os exames para os postos de artilharia teriam de ser realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula<ref>Cordeiro, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria'', 265.</ref>.
Consentâneo com aquele decreto, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "''quatro regimentos de doze companhias cada um''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 1:303.</ref>, a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Ainda em 1763, por decreto de 15 de Julho, era estabelecida uma nova organização do plano de estudo a observar nas Aulas de Artilharia, provendo o documento sobre "''a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores''"<ref>Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46''.''</ref>. A instituição das Aulas Regimentais de Artilharia não se restringiu ao ensino militar. Considerando que "''pela sua natureza transversal'' [se] ''exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química'' [as Aulas foram, por isso,] ''percursoras de um ensino moderno, científico e prático''"<ref>Coelho, "Os Arsenais Reais", 49.</ref>. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o plano constituído pelo conde de Lippe, preconizava-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"<ref>Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.</ref>. A partir de 1779, os exames para os postos de artilharia teriam de ser realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula<ref>Cordeiro, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria'', 265.</ref>.
 
===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
 
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
 
O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"<ref>Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.</ref>.
Geral para as Aulas:
 
Introduzindo os príncipios de uma necessária formação militar especializada, Lippe promoveu uma profunda reforma curricular da Aula de Forticação e Arquitectura Militar. No ''Plano que Sua Magestade Manda Seguir e Observar no Estabelecimento, Estudos e Execícios das Aulas dos Regimentos de Artilharia, aprovado e publicado em 15 de Julho de 1763''
 
instituindo um novo tipo de aulas periféricas, no fundo tentanto modernizar e uniformizar o funcionamento da rede de Aulas de Fortificação, que passaram a ser designadas por Aulas Regimentais de Artilharia, portanto geralmente anexas ao regimento dessa arma organizado em cada uma das praças.
 
A partir de 1763 encontra-se documentada a instituição de numerosas Aulas Regimentais de Artilharia: São Julião da Barra, Valença (provável docência de José Anastácio da Cunha desde 1764 e mais tarde, em 1783, do suiço Jean Victoire Miron de Sabionne), Almeida (onde por volta de 1762 Miguel Luís Jacob escrevia ''Tratado de Fortificação Regular e Irregular'', quase uma tradução do tratado ''Architecture Militaire ou l'Art de Fortifier'', publicado em 1741 por Louis de Cormontaingne, discípulo directo de Vauban), Estremoz (com a presença de Valleré), Olivença (onde António Lobo Infante de Lacerda traduziu ''Elemens de Fortification'' de Guillaume Le Bond, a partir da 7ª edição de 1775), Faro (1774), Tavira (de 1788 a 1811 destaca-se a docência do Lente de Geometria José Sande de Vasconcelos, engenheiro militar que acompanhou o processo de construção de Vila Real de Santo António), ilha da Madeira (1767), ilha Terceira (1799) e Goa (1773). No Rio de Janeiro a aula foi também convertida em Aula do Regimento de Artuilharia, surgindo documentado a adopção dos manuais de Bélidor em 1774, enquanto na Baía se criava em 1761 a Aula Militar de Fortificação e Geometria, ainda em funcionamento em 1784 e na qual se destacou a actividade de José António Caldas, conservando-se um significativo conjuntos de desenhos, datado de 1778 e 1779, que constitui boa parte dos exercícios práticos dos formandos e um inestimável documento sobre o método e contéudo dessa aprendizagem (Bueno, 2000: 53).
 


Margarida:


====== Tavira ======
====== Margarida: ======
1788 – 1797, 1811 – José Sande de Vasconcelos, lente de geometria, lente do Regimento de Infantaria de Tavira
1788 – 1797, 1811 – José Sande de Vasconcelos, lente de geometria, lente do Regimento de Infantaria de Tavira


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1811 – António Vaz Velho, capitão, lente substituto de matemática no Regimento de Tavira
1811 – António Vaz Velho, capitão, lente substituto de matemática no Regimento de Tavira
===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"<ref>Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.</ref>.


==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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- "''Para o Exercício das Peças de Campanha'' [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] ''se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém''"<ref>Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.</ref>.
- "''Para o Exercício das Peças de Campanha'' [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] ''se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém''"<ref>Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.</ref>.




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<references />
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==Fontes==<!-- Ou seja, as fontes, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Fontes==<!-- Ou seja, as fontes, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", ''Collecção da Legislação Portugueza'', ''Legislação de 1750 a 1762''. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=105&accao=ver&pagina=1 .]
Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", ''Collecção da Legislação Portugueza'', ''Legislação de 1750 a 1762''. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=105&accao=ver&pagina=1 .]


Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46''[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&id_normas=32587&accao=ver&pagina=1 .]''
Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829''[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&id_normas=32587&accao=ver&pagina=1 .]''


Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-50[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&accao=ver&pagina=49 .]
Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", ''Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&accao=ver&pagina=49 .]


Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&accao=ver&pagina=253 .]
Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, ''Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774''. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829[http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=107&accao=ver&pagina=253 .]


==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
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Cordeiro, João Manuel, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza''. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.
Cordeiro, João Manuel, ''Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza''. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia''. Vol. 1. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]


==Ligações Internas==
==Ligações Internas==
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<!-- Comentários vossos e bibliografia citada pelas fontes -->
<!-- Comentários vossos e bibliografia citada pelas fontes -->
==Autor(es) do artigo==
==Autor(es) do artigo==
João de Almeida Barata
https://orcid.org/0000-0001-9048-0447
==Financiamento==
==Financiamento==
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

Revisão das 16h48min de 19 de agosto de 2022


Aula de Artilharia, Geometria, Fortificação e Desenho de Tavira
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula de Artilharia de Tavira, Aula Regimental de Artilharia de Tavira
Tipo de Instituição Ensino Militar
Data de fundação 1789
Data de extinção 1834
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Tavira, Tavira, Faro,-
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

A Aula de Artilharia, Aula Regimental de Artilharia, ou Aula de Artilharia, Geometria, Fortificação e Desenho de Tavira foi criada/refundada? em .... de .... de ...., anexa ao mesmo regimento.

A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas, datadas da segunda metade do século XVIII e da autoria do conde de Schaumbourg Lippe, aplicadas ao ensino de artilharia com fim à sua modernização e uniformização. Identificando a "decadência a que n'estes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia", arma considerada a "principal força das monarquias", bem como a necessidade de conservar os seus corpos "com ciência e exercício", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade[1].

Consentâneo com aquele decreto, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "quatro regimentos de doze companhias cada um"[2], a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Ainda em 1763, por decreto de 15 de Julho, era estabelecida uma nova organização do plano de estudo a observar nas Aulas de Artilharia, provendo o documento sobre "a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores"[3]. A instituição das Aulas Regimentais de Artilharia não se restringiu ao ensino militar. Considerando que "pela sua natureza transversal [se] exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química [as Aulas foram, por isso,] percursoras de um ensino moderno, científico e prático"[4]. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o plano constituído pelo conde de Lippe, preconizava-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"[5]. A partir de 1779, os exames para os postos de artilharia teriam de ser realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula[6].

Outras informações

Professores

O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"[7].


Margarida:

1788 – 1797, 1811 – José Sande de Vasconcelos, lente de geometria, lente do Regimento de Infantaria de Tavira

1811 – Baltazar de Azevedo Coutinho, capitão, lente substituto de matemática na Escola do Regimento de Tavira (estudou Matemática na Universidade; não foi aluno das academias)

1811 – António Vaz Velho, capitão, lente substituto de matemática no Regimento de Tavira

Curricula

O plano de estudos decretado em 1763 determinava que se observassem, sob pena de expulsão das Aulas e Regimentos, "precisa, e inalteravelmente os seguintes" tratados dos quais "se farão traduções Portuguesas para os que não possuem a língua Francesa"[8]:

- Curso de Matemática, por Monsieur Bellidoro.

- "Para a Arte de lançar as Bombas se deve seguir Monsieur du Lacq naquela parte do seu livro intitulado, Mecanismo de Artilharia, que trata desta matéria", e, em alternativa, "farão o uso do Bombardeiro Francês Monsieur Bellidoro."

- "Os seis Artífices pertencentes à Companhia dos mesmos Bombardeiros devem estudar, entender, e praticar todas as diferentes composições de fogos de Artificio, que servem para a Guerra, pelas explicações do Monsieur de Saint Remy".

- "Para a Ciência das Minas se devem seguir as obras de Monsieur de La-Valiere o Pai, de Monsieur de Lorme, e de Monsieur Bellidoro", inclusos nas "Memórias de Saint Remy".

- "Para a Engenharia, e Fortificações (...) se deve seguir o livro intitulado: O Ataque, e defensa das Praças, por Monsieur de Vauban."

- "Para o Estudo dos Mineiros, e Bombeiros, se deve seguir a Ciência dos Engenheiros do mesmo Monsieur Bellidoro nas partes em que tem uma conexão imediata com a profissão dos sobreditos."

- "Para o Exercício das Peças de Campanha [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém"[9].


Segundo o plano de estudos de 1763, as Aulas Regimentais deveriam observar três dias de prática[10].

Notas

  1. Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.
  2. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 1:303.
  3. Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46.
  4. Coelho, "Os Arsenais Reais", 49.
  5. Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.
  6. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilheria, 265.
  7. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.
  8. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
  9. Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
  10. Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 49.

Fontes

Governo Português, "Decreto de 30 de Julho de 1762", Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830.

Governo Português "Alvará de 15 de Julho de 1763", Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Governo Português, "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria", Colecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Governo Português, "Decreto de 4 de Junho de 1766, Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Bibliografia

Coelho, Sérgio Veludo. "Os arsenais reais de Lisboa e Porto. 1800-1814." Tese de Dout., Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 2009. (Publicado em Porto: Fronteira do Caos, 2013).

Cordeiro, João Manuel, Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 1. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.

Ligações Internas

Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição, nomeadamente professores e alunos, siga o link: Categoria: Aula de Artilharia, Geometria, Fortificação e Desenho de Tavira

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

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