Aula de Artilharia de São Julião da Barra

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Aula de Artilharia de São Julião da Barra
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula do Regimento de Artilheria de São Julião da Barra, Aula Regimental de Artilharia de São Julião da Barra, Aula do Regimento de Artilharia da Corte e da Província da Estremadura
Tipo de Instituição Ensino Militar
Data de fundação 9 abril 1762
Data de extinção 18 julho 1834
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Forte de São Julião da Barra, Oeiras,-
Início: 09 de abril de 1762
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

A Aula de Artilharia, ou Aula do Regimento de Artilharia, de São Julião da Barra foi criada anexa ao Regimento de Artilharia da Corte, em 2 de Abril de 1762[1]. O seu estabelecimento, cronologicamente próximo do início da Guerra Fantástica (1756-1763), sustentava-se não só enquanto preparação para o conflito que se esperava desenrolar[2], mas também por se considerar "que a despesa feita com este regimento será menos proveitosa e o seu serviço menos perfeito se os oficiais não tiverem a devida instrução da sua importante profissão [razão pela qual] foi determinado que na mesma praça de S. Julião se estabelecesse uma aula"[3].

A sua criação enquadra-se num conjunto de reformas esboçadas por Francisco Eschaumburgo-Lipas (1724-1777), conde de Lippe e Marechal do Exército português. A sua implementação decorreu ao longo da segunda metade do século XVIII com fim de modernizar e uniformizar o ensino de artilharia, anteriormente sustentado pelas Aulas de Fortificação[4]. Identificando a "decadência a que nestes reinos se reduziu a teoria e a prática da artilharia", arma considerada a "principal força das monarquias", bem como a necessidade de conservar os seus corpos "com ciência e exercício", o decreto de 30 de Julho de 1762, primeira peça legislativa do conjunto de reformas, determinava o exame e aprovação nas aulas de artilharia como condição indispensável no acesso aos regimentos e corpos da arma por parte de oficiais e soldados, ao invés da promoção por antiguidade[5]. No caso do Regimento de Artilharia da Corte, o alvará de 1762 havia já determinado que os postos acima da patente de sargento não poderia ser ocupados "sem certidão de exame feito publicamente por professores da mesma artilharia e na presença do general da Corte"[6].

Consentâneo com aquele decreto, o conde de Lippe procedeu à reorganização dos corpos de artilharia, reduzindo-os a "quatro regimentos de doze companhias cada um"[7], a saber: Regimento de Artilharia de São Julião, de Estremoz e de Lagos, a que acresceu o Regimento de Artilharia do Porto. Por decreto de 15 de Julho as Aulas Regimentais eram dotadas de novo plano pelo conde de Lippe em que se providenciou sobre "a ordem dos estudos; e a eleição dos Livros que devem dirigir os Professores"[8]. A instituição das Aulas Regimentais de Artilharia não se restringiu ao ensino militar. Considerando que "pela sua natureza transversal [se] exigiam domínios nas matérias de cálculo, balística, materiais e a química [as Aulas foram, por isso,] precursoras de um ensino moderno, científico e prático"[9]. Com o objectivo de "aumentar esta útil e nobre profissão e animar os meus vassalos, que a ela se aplicam", por decreto de 4 de Junho de 1766, que reformou e desenvolveu o plano constituído pelo conde de Lippe, preconizava-se um aumento progressivo do soldo, até ao dobro, aos oficiais que estivessem na condição de realizar um "rigoroso exame da sua ciência"[10]. A partir de 1779, os exames para os postos de artilharia teriam de ser realizados perante o comandante do Regimento, o tenente-coronel, o sargento-mor e o lente da Aula[11].

No que concerne, em específico, à Aula de Artilharia de São Julião da Barra determinava-se que os oficiais inferiores fossem instruídos nos mesmos exercícios e manobras "necessários para o serviço da mesma Artilharia a bordo dos Navios de Guerra"[12]. Uma incumbência que partilhou com a Aula de Artilharia de Lagos e que se estendia à instrução e provimento das guarnições instaladas em fortalezas da Marinha, no Castelo de São Jorge e no presídio de Beirolas[13].

Em 1767, foi enviada uma brigada do Regimento de Artilharia de São Julião, composta por oficiais e soldados, para o Brasil com fim de instruir os artilheiros do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro[14].

Em 1776, após deslocação para Lisboa e extinção do Regimento de Artilharia de Lagos, o Regimento da Corte integrou parte daqueles efectivos, passando a ocupar também o quartel da Feitoria[15].

Em 1769, o comandante do Regimento, Luís d' Alincourt requeria 60 exemplares do Tratado de Matemática de Belidor ao inspector da arma, comprovando a vitalidade da Aula Regimental. Porém, o contexto favorável rapidamente se alterou, verificando-se apenas um oficial com instrução teórica em artilharia, num total de 19 oficiais, em 1774[16].

Nos anos subsequentes a Aula Regimental manteve-se a despeito da deserção que acossou o Regimento e, em 1786, face ao progresso das ciências da matemática e engenharia, o comandante do Regimento, Cristiano de Weinholtz, pedia escusa do seguimento da obra de Belidor, por "antiquada", propondo instruir os seus alunos pelo Tratado de Bezout, à altura adoptado na Universidade de Coimbra e na Academia da Marinha[17].

No início da centúria de novecentos, o coronel António Teixeira Rebelo, comandante do Regimento, acusava a decadência da Aula em razão de lhe faltar professor, "mas também porque a Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho, criada em Lisboa havia alguns anos, lhe roubara muitos alunos, que preferiam os estudos deste estabelecimento por não poder a aula regimental conceder diplomas"[18].

Ao iniciar-se a Guerra Peninsular, o Regimento de Artilharia da Corte encontrava-se "atrasado e muito falho de instrução em geral", ainda que durante o conflito o Regimento se tenha mostrado "verdadeiramente à altura da sua missão"[19]. No fim do conflito, "parece que a aula regimental ficou em Lisboa, regressando o regimento ao seu quartel de S. Julião", facto que influiu negativamente na disciplina dos alunos e, em resposta ao qual e "para que o ensino voltasse a florescer", se restabeleceu o ensino de matemática, em 1825. Contudo, a decadência da Aula manteve-se, sendo "raro" verificar-se algum oficial nela matriculado[20].

Por decreto de 18 de Julho de 1834 o Regimento de Artilharia da Corte era extinto e refundado, ainda que, avise José Botelho, "erra, pois, quem supuser que o velho regimento extinto, objecto do nosso estudo, serviu de casco ao novo regimento n.º 1"[21].

Outras informações

Professores

O Lente (professor) da Aula do Regimento de Artilharia era nomeado pelo poder régio de entre os oficiais do regimento, ouvida a Junta dos Três Estados. O professor, que recaía, normalmente, no comandante ou no sargento-mor do regimento, estava encarregue da "explicação, e tradução dos Autores"[22].

- Luís d' Alincourt (Francês. Tenente-coronel. Comandante.)[23].

- Diogo José Cony (Francês. Capitão e tenente-coronel. Comandante interino do Regimento.)[24].

- João Vieira da Silva !!!! Agente 1 ou Agente 2 - Alterar quando as entradas estiverem escritas. !!!! (Coronel. Comandante.)[25].

Curricula

O plano de estudos decretado em 1763 determinava que se observassem, sob pena de expulsão das Aulas e Regimentos, "precisa, e inalteravelmente" os tratados escolhidos dos quais "se farão traduções Portuguesas para os que não possuem a língua Francesa"[26].

Nas Aulas Regimentais deveriam observar-se três dias de prática[27], disposição constante no alvará de 9 de Abril de 1762, que especificava o horário em que deveriam decorrer, "sendo hora e meia de manhã e uma hora de tarde"[28]. Consta que a Aula Regimental de São Julião da Barra, e a Aula de Artilharia de Lagos, tenha recebido "uma barreira artilhada com morteiros, obuzes e peças, onde se «faziam exercícios de alvo e demonstrações matemáticas». No mesmo lugar se construiriam minas para exercícios do respectivo pessoal"[29].

1762 - 1834
Ano Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Aula de Artilharia de São Julião da Barra - Curso de Matemática, por Monsieur Bellidoro.

- "Para a Arte de lançar as Bombas se deve seguir Monsieur du Lacq naquela parte do seu livro intitulado, Mecanismo de Artilharia, que trata desta matéria", e, em alternativa, "farão o uso do Bombardeiro Francês Monsieur Bellidoro".

- "Os seis Artífices pertencentes à Companhia dos mesmos Bombardeiros devem estudar, entender, e praticar todas as diferentes composições de fogos de Artificio, que servem para a Guerra, pelas explicações do Monsieur de Saint Remy".

- "Para a Ciência das Minas se devem seguir as obras de Monsieur de La-Valiere o Pai, de Monsieur de Lorme, e de Monsieur Bellidoro", inclusos nas "Memórias de Saint Remy".

- "Para a Engenharia, e Fortificações (...) se deve seguir o livro intitulado: O Ataque, e defensa das Praças, por Monsieur de Vauban".

- "Para o Estudo dos Mineiros, e Bombeiros, se deve seguir a Ciência dos Engenheiros do mesmo Monsieur Bellidoro nas partes em que tem uma conexão imediata com a profissão dos sobreditos".

- "Para o Exercício das Peças de Campanha [em peças de calibre inferior à peça de bateria, de 6 libras ou menos] se há de seguir o Método, que se estabeleceu nos dois o Método, que se estabeleceu nos dous Campamentos que no presente ano se fizeram junta à Cidade de Évora, e na vizinhança de Belém"[30].

- Luís d' Alincourt (Francês. Tenente-coronel. Comandante.)[23].


- Diogo José Cony (Francês. Capitão e tenente-coronel. Comandante interino do Regimento.)[24].


- João Vieira da Silva !!!! Agente 1 ou Agente 2 - Alterar quando as entradas estiverem escritas. !!!! (Coronel. Comandante.)[25].

Notas

  1. Governo Português. "Alvará de 9 de Abril de 1762." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typografia Maigrense, 1830, 862.
  2. Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 9.
  3. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 262.
  4. Barata, "O Exército e o ensino superior militar", 2:1051.
  5. Governo Português. "Decreto de 30 de Julho de 1762." Em Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830, 901.
  6. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 263.
  7. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 1:303.
  8. Governo Português. "Alvará de 15 de Julho de 1763." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 46.
  9. Coelho, "Os Arsenais Reais", 49.
  10. Governo Português. "Decreto de 4 de Junho de 1766." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 250.
  11. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilheria, 265.
  12. Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 50.
  13. Vieira, "O ensino científico-militar em Portugal", 16.
  14. Cardoso, "Wilhelm Von Schaumburg-Lippe", 13.
  15. Botelho, Novos Subsídios para a História, 32.
  16. Botelho, 57.
  17. Botelho, 58.
  18. Botelho, 62.
  19. Botelho, 62.
  20. Botelho, 62.
  21. Botelho, 45.
  22. Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47.
  23. 23,0 23,1 Botelho, Novos Subsídios para a História, 56.
  24. 24,0 24,1 Botelho, 55.
  25. 25,0 25,1 Botelho, 70.
  26. Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.
  27. Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 49.
  28. Cordeiro, Apontamentos para a Historia da Artilharia, 263.
  29. Botelho, Novos subsídios para a História, 116.
  30. Para uma descrição dos exercícios, a forma como deveriam ser realizados e indicações práticas para os oficiais vide, Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829, 47-49.

Fontes

Governo Português. "Alvará de 9 de Abril de 1762." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typografia Maigrense, 1830.

Governo Português. "Decreto de 30 de Julho de 1762." Em Collecção da Legislação Portugueza, Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typograpfia Maigrense, 1830.

Governo Português. "Alvará de 15 de Julho de 1763." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Governo Português. "Plano, que Sua Magestade manda seguir, e observar no Estabelecimento, Estudos, e Exercicios das Aulas dos Regimentos de Artilheria." Em Collecção de Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Governo Português. "Decreto de 4 de Junho de 1766." Em Collecção da Legislação Portugueza. Legislação de 1763 a 1774. Lisboa: Typografia Maigrense, 1829.

Bibliografia

Barata, Manuel Themudo. "O Exército e o ensino superior militar em Portugal (séculos XVII e XVIII)." Em Fraternidade e Abnegação. Vol. 2. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1999.

Borges, João Vieira. "O conde de Lippe e o ensino militar em Portugal." Em 250 anos da chegada do conde de Lippe a Portugal: necessidades, reformas e consequências da presença de militares estrangeiros no exército português. Actas do XXI Colóquio de História Militar. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2013.

Botelho, José Justino Teixeira. Novos subsídios para a História da Artilharia Portuguesa. Vol. I. Lisboa: Comissão de História Militar, 1944.

Cardoso, Maria Luiza. "Wilhelm Von Schaumburg-Lippe: um Notável Pedagogo Militar." Em VII Congresso Brasileiro de História da Educação: Circuitos e Fronteiras da História da Educação no Brasil. Cuiabá, 2013.

Coelho, Sérgio Veludo, "Os arsenais reais de Lisboa e Porto. 1800-1814." Tese de Dout., Universidade Portucalense Infante D. Henrique, 2009. (Publicado em Porto: Fronteira do Caos, 2013).

Cordeiro, João Manuel. Apontamentos para a Historia da Artilheria Portugueza. Lisboa: Typographia do Commando Geral da Artilheria, 1895.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da monarquia. Vol. 1. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1872.

Vieira, Belchior. “O ensino científico-militar em Portugal no século XVIII – Anastácio da Cunha, discípulo da Aula de Artilharia da Praça de Valença do Minho.” Em Anastácio da Cunha. 1744/1787. O matemático e o poeta. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990.

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Ligações Externas

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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