Aula de Marinha de Goa: diferenças entre revisões

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Soares aponta 1780 como data para esta reorganização, indicando que seria "''regida por Lente proprietário, e substituto, que ensinaram o Curso de Bezout dividido em duas partes, constando a primeira de princípios de Aritmética, Geometria, Trigonometria retilínea e esférica, e Álgebra; e a segunda, de Geografia, Astronomia e Pilotagem''."<ref>Soares, ''Bosquejo Das Possessões Portuguezas No Oriente'', I:201.</ref> Embora o autor não mencione qual a fonte desta informação, a existência de um documento no Arquivo Histórico Ultramarino leva a considerar a hipótese que, a reorganização que deu origem à Aula da Marinha, tenha sido efetivamente pensada cerca de 1780 ou no ano que se seguinte. Esse documento, intitulado ''Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem'', está incompleto, não datado e não assinado, mas catalogado numa capilha cuja data de referência é 1781, e descreve com grande detalhe a estrutura da Aula e os métodos de ensino, desde as obrigações do Mestre, às matérias que são lecionadas<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU 058. CX87. India. 1741-1791.''Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem.'' Cap. 53. India, 1781. </ref>. Não é referido especificamente o nome do “''Lente, ou Mestre de Pilotagem''” que seria responsável pelas aulas nem de nenhum manual específico a ser seguido nas aulas mas são descritas com pormenor as matérias. Era ainda considerada uma Aula de Artilharia complementar e inumerados os conhecimentos que diversos mestres - de construção, aparelho, manobra – deveriam ter.   
Soares aponta 1780 como data para esta reorganização, indicando que seria "''regida por Lente proprietário, e substituto, que ensinaram o Curso de Bezout dividido em duas partes, constando a primeira de princípios de Aritmética, Geometria, Trigonometria retilínea e esférica, e Álgebra; e a segunda, de Geografia, Astronomia e Pilotagem''."<ref>Soares, ''Bosquejo Das Possessões Portuguezas No Oriente'', I:201.</ref> Embora o autor não mencione qual a fonte desta informação, a existência de um documento no Arquivo Histórico Ultramarino leva a considerar a hipótese que, a reorganização que deu origem à Aula da Marinha, tenha sido efetivamente pensada cerca de 1780 ou no ano que se seguinte. Esse documento, intitulado ''Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem'', está incompleto, não datado e não assinado, mas catalogado numa capilha cuja data de referência é 1781, e descreve com grande detalhe a estrutura da Aula e os métodos de ensino, desde as obrigações do Mestre, às matérias que são lecionadas<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU 058. CX87. India. 1741-1791.''Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem.'' Cap. 53. India, 1781. </ref>. Não é referido especificamente o nome do “''Lente, ou Mestre de Pilotagem''” que seria responsável pelas aulas nem de nenhum manual específico a ser seguido nas aulas mas são descritas com pormenor as matérias. Era ainda considerada uma Aula de Artilharia complementar e inumerados os conhecimentos que diversos mestres - de construção, aparelho, manobra – deveriam ter.   


O início efetivo das aulas terá acontecido somente no início de 1784 com a chegada à Índia de José Joaquim de Vasconcelos<ref>Ferreira, “A Institucionalização do Ensino da Náutica Em Portugal (1779‐1807),” 103.</ref>, que foi o responsável pela aula desde a sua criação, e se não, em todo o período do seu funcionamento, pelo menos em grande parte. Sampaio e Miranda referem 17 de Maio de 1784 como a data da reorganização para a levada cabo por Frederico Guilherme de Sousa Holstein. Porém, a 25 de março de 1784, pouco depois da chegada a Goa de Vasconcelos, o Governador dava conta ao Conselho Ultramarino que este tinha sido promovido ao posto de Tenente do mar e a lente da Aula da Marinha. Por esse motivo, foi esta a data que se considerou aqui como início da Aula da Marinha.     
O início efetivo das aulas terá acontecido somente no início de 1784 com a chegada à Índia de José Joaquim de Vasconcelos<ref>Ferreira, “A Institucionalização do Ensino da Náutica Em Portugal (1779‐1807),” 103.</ref>, que foi o responsável pela aula desde a sua criação, e se não, em todo o período do seu funcionamento, pelo menos em grande parte. Sampaio e Miranda<ref name=":1">Sampaio, “Breve Notícia da Origem e Divulgação dos Estudos Superiores em Goa, por Methodos Europeus e em Língua Portugueza,” 111–12.</ref><ref name=":2">Sampaio, “Breve Noticia dos Individuos, que ficaram approvados desde 1784 até 1815 na Aula de Marinha”, Op. 116. </ref><ref>Miranda, ''Quadros Históricos de Goa. Tentativa Histórica'', II:88.</ref>referem 17 de Maio de 1784 como a data da reorganização para a levada cabo por Frederico Guilherme de Sousa Holstein. Porém, a 25 de março de 1784, pouco depois da chegada a Goa de Vasconcelos, o Governador dava conta ao Conselho Ultramarino que este tinha sido promovido ao posto de Tenente do mar e a Lente da Aula da Marinha<ref>Carta dirigida a Martinho de Melo e Castro, AHU_CU, caixa 364, doc. 59, 25/3/1784 ''apud'' Ferreira, “A Institucionalização Do Ensino Da Náutica Em Portugal (1779‐1807),” 103.</ref>. Isso mesmo dá a entender José Joaquim de Vasconcelos, na nota de abertura da obra, dedicada a Frederico Guilherme de Sousa, ''Lições de Navegação para uso dos educandos do Corpo Marinha Real de Goa'', cuja cópia em dois volumes que existe no Arquivo Histórico Ultramarino em Lisboa, com data de 1786. Refere "''É unicamente a V. exª a quem devo dedicar a presente obra; e a quem legitamente pretence a censura dela'' (...) ''daqui são testemunhasos gigantescos passos, que durante o feliz governo de V. Exª tem dado a Marinha deste Estado. E ultimamente a V. Exª, a quem o seu mais firme estabelecimento a Academia, que serve a instruir os novos oficiais daquele corpo que Zelosos das honras, com que V. Exª os atende. Beneméritos procurão com efectivos estudos suprimir a falta das suficientes explicações de um Mestre, que se empenha com zelo apreencher as justas intenções de V. Exª a quem consagra o mais profundo respeito e sincera obediência"''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. José Joaquim de Vasconcelos, “Lições de Navegação para uso dos Educandos do Corpo da Marinha Real de Goa,” VI.</ref> não deixando margens para dúvidas ter sido o Capitão-Geral da Índia o responsável pela sua criação e ele próprio, José Joaquim de Vasconcelos, o mestre desde o primeiro momento.     


Para Sampaio, e como se pode perceber da sua ''Breve Noticia'' foi uma aula mais estável e regular que as que anteriormente tinham funcionado no território de Goa –  Aula da Navegação, Aula de Artilharia e Aula de Fortificação - tendo funcionado por mais de 30 anos, formando diversos pilotos e oficiais da Marinha. Na listagem de alunos anexa à notícia publicada, constam 118 alunos. O primeiro aluno fez o exame da primeira parte em Setembro de 1784 e recebeu a carta de habilitação passado no ano seguinte, a 24 de Abril de 1785; e o último em Outubro de 1815<ref name=":1" /><ref name=":2" />.


Desconhece-se se a aula terá continuado para além do final do ano de 1815, data em que o ultimo aluno foi examinado, mais concretamente até 1817 data em que foi criada a Academia Militar de Goa e que reuniu numa só escola todas as aulas então existentes.  


===Outras informações===
===Outras informações===

Revisão das 15h09min de 14 de dezembro de 2022


Aula de Marinha de Goa
(valor desconhecido)
Outras denominações valor desconhecido
Tipo de Instituição Ensino Militar
Data de fundação 25 março 1784
Data de extinção outubro 1815
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Goa, Índia
Antecessora Aula de Navegação de Goa

Sucessora Academia Militar de Goa


História

A Aula da Marinha de Goa surgiu na sequência de uma reorganização da Aula de Navegação de Goa  por Frederico Guilherme de Sousa Holstein, Governador e Capitão-Geral da Índia entre 1779 e 1786, tendo iniciado as suas actividades lectivas no início de 1784.

Soares aponta 1780 como data para esta reorganização, indicando que seria "regida por Lente proprietário, e substituto, que ensinaram o Curso de Bezout dividido em duas partes, constando a primeira de princípios de Aritmética, Geometria, Trigonometria retilínea e esférica, e Álgebra; e a segunda, de Geografia, Astronomia e Pilotagem."[1] Embora o autor não mencione qual a fonte desta informação, a existência de um documento no Arquivo Histórico Ultramarino leva a considerar a hipótese que, a reorganização que deu origem à Aula da Marinha, tenha sido efetivamente pensada cerca de 1780 ou no ano que se seguinte. Esse documento, intitulado Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem, está incompleto, não datado e não assinado, mas catalogado numa capilha cuja data de referência é 1781, e descreve com grande detalhe a estrutura da Aula e os métodos de ensino, desde as obrigações do Mestre, às matérias que são lecionadas[2]. Não é referido especificamente o nome do “Lente, ou Mestre de Pilotagem” que seria responsável pelas aulas nem de nenhum manual específico a ser seguido nas aulas mas são descritas com pormenor as matérias. Era ainda considerada uma Aula de Artilharia complementar e inumerados os conhecimentos que diversos mestres - de construção, aparelho, manobra – deveriam ter.

O início efetivo das aulas terá acontecido somente no início de 1784 com a chegada à Índia de José Joaquim de Vasconcelos[3], que foi o responsável pela aula desde a sua criação, e se não, em todo o período do seu funcionamento, pelo menos em grande parte. Sampaio e Miranda[4][5][6]referem 17 de Maio de 1784 como a data da reorganização para a levada cabo por Frederico Guilherme de Sousa Holstein. Porém, a 25 de março de 1784, pouco depois da chegada a Goa de Vasconcelos, o Governador dava conta ao Conselho Ultramarino que este tinha sido promovido ao posto de Tenente do mar e a Lente da Aula da Marinha[7]. Isso mesmo dá a entender José Joaquim de Vasconcelos, na nota de abertura da obra, dedicada a Frederico Guilherme de Sousa, Lições de Navegação para uso dos educandos do Corpo Marinha Real de Goa, cuja cópia em dois volumes que existe no Arquivo Histórico Ultramarino em Lisboa, com data de 1786. Refere "É unicamente a V. exª a quem devo dedicar a presente obra; e a quem legitamente pretence a censura dela (...) daqui são testemunhasos gigantescos passos, que durante o feliz governo de V. Exª tem dado a Marinha deste Estado. E ultimamente a V. Exª, a quem o seu mais firme estabelecimento a Academia, que serve a instruir os novos oficiais daquele corpo que Zelosos das honras, com que V. Exª os atende. Beneméritos procurão com efectivos estudos suprimir a falta das suficientes explicações de um Mestre, que só se empenha com zelo apreencher as justas intenções de V. Exª a quem consagra o mais profundo respeito e sincera obediência"[8] não deixando margens para dúvidas ter sido o Capitão-Geral da Índia o responsável pela sua criação e ele próprio, José Joaquim de Vasconcelos, o mestre desde o primeiro momento.

Para Sampaio, e como se pode perceber da sua Breve Noticia foi uma aula mais estável e regular que as que anteriormente tinham funcionado no território de Goa –  Aula da Navegação, Aula de Artilharia e Aula de Fortificação - tendo funcionado por mais de 30 anos, formando diversos pilotos e oficiais da Marinha. Na listagem de alunos anexa à notícia publicada, constam 118 alunos. O primeiro aluno fez o exame da primeira parte em Setembro de 1784 e recebeu a carta de habilitação passado no ano seguinte, a 24 de Abril de 1785; e o último em Outubro de 1815[4][5].

Desconhece-se se a aula terá continuado para além do final do ano de 1815, data em que o ultimo aluno foi examinado, mais concretamente até 1817 data em que foi criada a Academia Militar de Goa e que reuniu numa só escola todas as aulas então existentes.  

Outras informações

Professores

José Joaquim de Vasconcelos terá sido o responsável pela aula, se não em todo o período do seu funcionamento pelo menos em grande parte, embora só apareça como fazendo parte do corpo de examinadores até 1789. No entanto, muitos outros nomes surgem como examinadores: José Alves de Sousa (1785-86), Raimundo António Rodrigues Ferreira (1785), João Batista Verquain (1785-1795), Diogo da Costa de Athaide Teive (1785-1792), José Joaquim de Sousa (1785-1795), José da Costa Athaide Teive (1790-1812), Joaquim Bernardino Biancardy (1791-1800), Maurício da Costa Campos (1798-1812), D. Lourenço de Noronha (1808-1815), João Vicente Rancoza (1814), Manuel da Costa Athaide Teive (1808-1812), Maurício da Costa Athaide Teive (1808), Joaquim Mourão Garcez Palha (1815), João Batista Alves Porto (1815)

Curricula

Segundo os quadros elaborados por Sampaio anexos à "Breve Noticias da Origem e Divulgação dos Estudos superiores em Goa...", a Aula da Marinha era dividida em três partes: a primeira era composta por aritmética, álgebra, geometria e trigonometria rectilínea, a segunda por trigonometria esférica e astronomia naútica e a ultima e terceira parte por pilotagem[9].

Os alunos faziam exames das partes em separado, sendo que, com a excepção de três alunos - José Maria Lemos, José da Costa de Athayde Teive e Mauricio da Costa Campos -, todos faziam exame da primeira parte, mas nem todos faziam da segunda ou da terceira tendo-lhes sido atribuída a carta de habilitação da respectiva parte examinada. Somente Manoel Ignácio Rancoza, José Maria Gusmão, Francisco de Paula da Costa Campos, Manuel do Rosário, João Francisco de Souza e Diogo da Costa Athayde Teive, fizeram as três partes. Todos eles foram habilitados entre 1785 e 1786 [9].

Notas

  1. Soares, Bosquejo Das Possessões Portuguezas No Oriente, I:201.
  2. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU 058. CX87. India. 1741-1791.Ordens que se hão-de observar na Aula da Marinha de Goa e que methedo que se deve seguir no ensino da Pilotagem. Cap. 53. India, 1781.
  3. Ferreira, “A Institucionalização do Ensino da Náutica Em Portugal (1779‐1807),” 103.
  4. 4,0 4,1 Sampaio, “Breve Notícia da Origem e Divulgação dos Estudos Superiores em Goa, por Methodos Europeus e em Língua Portugueza,” 111–12.
  5. 5,0 5,1 Sampaio, “Breve Noticia dos Individuos, que ficaram approvados desde 1784 até 1815 na Aula de Marinha”, Op. 116.
  6. Miranda, Quadros Históricos de Goa. Tentativa Histórica, II:88.
  7. Carta dirigida a Martinho de Melo e Castro, AHU_CU, caixa 364, doc. 59, 25/3/1784 apud Ferreira, “A Institucionalização Do Ensino Da Náutica Em Portugal (1779‐1807),” 103.
  8. Arquivo Histórico Ultramarino. José Joaquim de Vasconcelos, “Lições de Navegação para uso dos Educandos do Corpo da Marinha Real de Goa,” VI.
  9. 9,0 9,1 Sampaio, João Mello de. “Breve Noticia dos Individuos, que ficaram approvados desde 1784 até 1815 na Aula de Marinha, organisada em 17 de Maio de 1784 pelo Capitão General D. Frederico Guilherme de Souza.” O Oriente Português II, no. 3 (1905): Op. 116

Fontes

Bibliografia

Ferreira, Nuno Martins. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO DA NÁUTICA EM PORTUGAL (1779‑1807). Academia da Marinha, 2017. É a pessoas ideal para escrever esta entrada e a da aula da marinha de goa.

Ligações Internas

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Ligações Externas

Autor(es) do artigo

Alice Santiago Faria

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

Citar este artigo

Índia