Ernesto Soares de Andrade

Ernesto Soares de Andrade
Nome completo	Ernesto Soares de Andrade
Outras Grafias	Ernesto Soares d'Andrade
Pai	José Soares de Andrade
Mãe	Isidora Augusta Soares de Andrade
Cônjuge	Maria Semedo, Clotilde da Silva Pereira, Júlia Soares de Andrade
Filho(s)	Maria Alice Soares de Andrade, Jorge Soares de Andrade, Ernestina Soares de Andrade
Irmão(s)	valor desconhecido
Nascimento	3 setembro 1866 Lisboa, Portugal
Morte	26 junho 1933 Lisboa, Portugal
Sexo	Masculino
Religião	Cristã
Residência
Residência	Lisboa, Lisboa, Portugal
Data	Início: 03 de setembro de 1866 Fim: 26 de junho de 1933
Residência	Cabo Verde
Data	Início: 1890 Fim: 1906
Residência	Angola
Data	Início: 1907
Cargos
Cargo	Condutor auxiliar
Data	Início: fevereiro de 1886 Fim: outubro de 1889
Cargo	Condutor de 2ª classe
Data	Início: outubro de 1889 Fim: abril de 1890
Cargo	Condutor de 1ª classe
Data	Início: abril de 1890 Fim: 1907
Cargo	Chefe de secção
Data	Início: 1890
Cargo	Condutor de 1ª classe
Data	Início: dezembro de 1906
Actividade
Actividade	Fiscalização
Data	Início: 1900 Fim: 1906
Local de Actividade	Ilha do Fogo, Cabo Verde
Data	Início: 1907
Local de Actividade	Angola

Biografia

Dados biográficos

Ernesto Soares de Andrade nasceu a 3 de Setembro de 1866 na freguesia de Coração de Jesus, em Lisboa. Era natural de Torres Vedras, filho de José Soares d'Andrade e D. Izidora Augusta Soares d'Andrade.

Cursou no Real Colégio Militar.

Teve duas esposas, Maria Semedo e Clotilde da Silva Pereira. O seu primeiro casamento foi entre Julho de 1894, em que surge a referência a Ernesto enquanto solteiro, e Dezembro de 1895, quando surge como casado na Tabela das Obras Públicas de Cabo Verde.

Teve pelo menos três filhos. Maria Alice, "uma das figuras mais distintas da sociedade lisbonense" , nasceu em Dezembro de 1895. Jorge nasceu em Dezembro de 1898 e era oficial da marinha mercante da data da morte do seu pai. Ernestina, mãe de Amílcar Cabral, nasceu em 1890.

Faleceu na sua residência, em Lisboa, no dia 26 de Junho de 1933. Já se encontrava aposentado. Deixava viúva Júlia Soares de Andrade.

Carreira

Foi nomeado condutor auxiliar das Obras Públicas de Cabo Verde em Fevereiro de 1886, onde se apresentou em Março. A sua primeira comissão é desempenhada enquanto chefe de um partido de trabalhos no interior de ilha de Santiago até Fevereiro de 1887, quando se recolheu à Capital para servir como encarregado do depósito geral. Em Julho de 1887, foi trabalhar para a ilha da Boa Vista, até Novembro, quando regressa à capital do arquipélago.

Requereu promoção em Julho de 1888. Foi promovido condutor de 2ª classe em Outubro de 1889 e de 1ª classe em Abril de 1890. Nesse ano, serviu como chefe da 1ª secção, chefe da secretaria da direção e encarregado do depósito geral. Ademais, levantou a planta da principal povoação da Ilha Brava e da Vila de Sal-Rei, principal povoação da Ilha da Boa Vista. Essa última planta contém informações históricas e geográficas do local, como os edifícios de estado. Esse documento pode ser consultado no link abaixo. Em 1892, foi louvado "pelo zelo que empregou na conceção de uma amarra da boia do porta da Furna da Ilha Brava". Seguiu para a Ilha do Sal em Abril de 1892 e regressou no mesmo mês.

Em 1892, começaram a agravar-se os seus problemas de saúde, que estiveram presentes durante toda a sua carreira e obrigaram-lhe a inúmeras licenças e idas ao reino. Neste primeiro momento, tratou-se de um problema no aparelho gastro-intestinal e urinário, causado pelos condicionalismos naturais da ilha. A Junta de Saúde de Cabo Verde deu a Ernesto uma licença de quatro meses a gozar no reino, já que a vida do doente corria perigo. Parte para Lisboa em Agosto. Já na capital, a Junta de Saúde Naval diagnosticou a Ernesto uma gastro-entrite e cistite. Possuía também tumores hemorroidais, pelos quais se estendeu a sua licença. Ficou um total de 171 dias de licença no reino, até meados do ano de 1893. Entretanto, foi confirmado no posto de condutor de 1ª classe em Fevereiro de 1893.

Em Fevereiro de 1894, dirigiu-se à Ilha de S. Antão, onde o seu trabalho foi altamente louvado. No mês seguinte, foi destacado para a secção de Picos, no interior da ilha de Santiago. Em Junho de 1894, seguiu viagem para Lisboa, com o objetivo de se dirigir novamente à Junta de Saúde Naval. Além das doenças antes mencionadas, Ernesto padecia de febres palustres, faringite granulosa e reumatismo articular agudo. Esteve a tratar-se no reino, mas propriamente em Sintra, de Julho de 1894 até Abril de 1895.

Seguiu para o Tarrafal em Maio de 1895, mas regressou à capital do arquipélago no mesmo mês. Em Junho, foi destacado para a Ilha do Fogo, com a missão de levar água potável aos seus povoados. Ademais, ficou encarregado de levar água da nascente da Ilha do Fogo até à Ilha de S. Filipe. Em Setembro de 1896, dirigiu as obras de canalização das águas da Fonte da Água Limba, na ilha do Fogo. Foi vogal de uma comissão de regulamento das oficinas do Estado na cidade de Mindelo, Ilha de S. Vicente. Esteve em Lisboa a gozar de licença de Agosto a Dezembro de 1897.

Em 1898, foi nomeado chefe da secção de trabalhos de socorros no interior da Ilha de Santiago. Em Agosto, partiu para o Tarrafal e foi nomeado chefe de secção de Sotavento. Em Setembro, foi às ilhas do Fogo e Brava, regressando à capital do arquipélago em Outubro. Seguiu no mesmo mês para Santiago, onde ficou por 10 dias e para a Ilha do Fogo, por 7 dias. Em Novembro, esteve na Ilha Brava e foi louvado pelo seu comportamento durante a crise alimentícia. Em Dezembro, fiscalizou os trabalhos de viação da Ilha do Fogo.

No primeiro mês de 1899, foi para o interior da ilha de Santiago. Em Maio, viajou para Lisboa à sua custa, acompanhado da sua filha de 4 anos, Alice e de uma criada, Delphina Pereira. Foi diagnosticado pela Junta de Saúde do Ultramar com impaludismo, uma doença semelhante à malária. Permaneceu de licença no reino de Junho até Novembro de 1899.

Em Janeiro de 1900, esteve quatro dias em Santiago. A Diretor das Obras Públicas de Angola louva os conhecimentos de Ernesto sobre os "indígenas" do arquipélago, que já o consideram um aliado pela sua longa permanência neste território. Em Junho de 1900, pediu 6 meses de licença registada, para curar a anemia palustre que o impedia de trabalhar. Viajou para o reino em Julho, com 30 dias de licença da Junta de Saúde de Cabo Verde. No mês seguinte, o seu requerimento para ser inspecionado pela Junta de Saúde do Ultramar foi indeferido. Embora tenha reclamado esta decisão, acaba por receber 30 dias de licença registada sem vencimento. Tal era a gravidade da situação, Ernesto ficou internado no Hospital de S. José, adicionando febres altas às suas maleitas.

Embora enfraquecido, regressou a Cabo Verde em Setembro de 1900. Desempenhou o cargo de chefe de secção de estudos no interior da Ilha de Santiago. Recolheu-se a Praia em Março, seguindo no mesmo mês para o Reino, com 90 dias de licença registada. Em Junho, regressou à província, mas no mês seguinte voltou para o reino com 30 dias de licença registada. Em Setembro, apresentou-se ao serviço. Durante o final do ano de 1900, esteve em Picos e estudou a construção da estrada da Praia ao Tarrafal.

Em Outubro de 1901, seguia de S. Vicente para Lisboa, para gozar de licença. Em 1902, esteve 340 dias de licença. Apresentou-se em Cabo Verde em Janeiro. Seguiu para S. Vicente em Fevereiro como chefe de secção de Barlavento, onde dirigiu os seguintes trabalhos na ilha de S. Vicente: reparações no edifício da secção de Obras Públicas; acabamento do edifício destinado ao depósito de materiais da mesma direção; construção da ponte-cais da Praia da Galé, junto ao ponto de desinfeção; construção da nova ponte-cais da alfandega; reparações no Hospital; Na ilha de Santo Antão, dirigia a construção do armazém de materiais inflamáveis. Por fim, na Ilha D. Maria Pia, dirigiu a substituição da linha férrea do cais a alfândega. Pela sua excelência na execução destas tarefas, o diretor sublinha que Ernesto "é o empregado technico mais intelligente e habilitado da direcção."

Em Junho de 1903, Ernesto requereu que o seu vencimento seja equiparado ao que foi oferecido nesse ano aos condutores de 1ª classe que viessem a servir na província de Cabo Verde. Alegou que recebe o mesmo que um condutor de 2ª classe e que existem inclusive condutores de classe inferior a receber vencimento superior ao seu. Queixou-se dos elevados custos de vida em S. Vicente. Assim, pediu que lhe fosse atribuído um abono de ajuda de custo. Este requerimento não recebeu a resposta desejada. Aliás, na tabela de 1904, consta a informação de que Ernesto foi advertido por ter sido desagradável para com o governador. É possível que seja referente a esta situação.

De Janeiro até Fevereiro de 1904, esteve a realizar estudos na Ilha de Santo Antão. Regressou a este local mais duas vezes, em Março e em Junho, intercalado com idas à capital do arquipélago. Em Abril de 1905, dirigia-se a Lisboa, para ser inspecionado de urgência pela Junta de Saúde de Ultramar. Deixou a chefia da secção de Barvalento a cargo de Viriato Gomes da Fonseca. As febres renitentes e cistite crónica obrigaram-no a estar doze meses de licença no Reino, até Maio de 1906.

Enquanto gozava da sua licença no Reino, em Maio de 1905, Ernesto foi requerido de urgência pelo Governador de Moçambique para a Direção dos Caminhos de Ferro Ultramarinos. Pretendiam-no na direção de obras do porto de Lourenço Marques, no posto de condutor de 1ª classe, onde ia auxiliar o engenheiro Ramos Coelho. A repartição das Obras Públicas de Cabo Verde lamentou o sucedido e esforçou-se para manter o agente nos seus quadros. "O conductor Soares d'Andrade é um dos melhores do Ultramar, e a sua saída de Cabo Verde seria muito sentida porque é o único habilitado que existe n'esta província" A licença prolongou-se no tempo, pelo que o requerimento não se efetivou.

Regressa a Cabo Verde em Maio de 1906. Em Julho, foi requerido pelo Governador de Angola para servir no Caminho de Ferro de Moçamedes, no âmbito da Direção dos Caminhos de Ferro Ultramarinos. Embora tenha recebido, tal como o requerimento de Moçambique, semelhante resposta de lamento por parte das Obras Públicas de Cabo Verde, a transferência efetivou-se pelas ordens do Rei de Portugal, em Dezembro de 1906. No entanto, Ernesto continuava em Cabo Verde no ano de 1907. Serviu na secção de Estudos de Santo Antão e regressou ao Reino para gozar de licença, em mês desconhecido. Em Outubro, esteve em S. Vicente para trabalhos de gabinete, relativos à captagem de águas das nascentes da localidade. Conduziu ainda as obras do porto dos Carvoeiros.

Outras informações

Em 1905, tornou-se sócio do Monte Pio.

Em Agosto de 1905, Ernesto mudou de morada para a Rua do Marquês Ponte de Lima, Lisboa, nº14 - 1º esq.

Foi um devoto republicano e exerceu vários cargos públicos. Fez parte do gabinete do Ministro do Comércio Ernesto Navarro (1919-1920).

Obras

Na Ilha de São Vicente, Cabo Verde: construção da ponte-cais da Praia da Galé, construção da ponte-cais da Alfândega, do Hospital e do porto dos Carvoeiros.

Na Ilha de Santo Antão, Cabo Verde: construção do armazém de materiais inflamáveis da Direção das Obras Públicas.

Na Ilha do Fogo, Cabo Verde: canalização das águas da Fonte da Água Limba.

Fontes

Arquivo Histórico Ultramarino, Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar-Direção-Geral do Ultramar (SEMU-DGU), 905 1N. 1880-1892. "Registo de Pessoal das Obras Públicas do Ultramar", p. 1v, 2.

Arquivo Histórico Ultramarino, Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar-Direção-Geral do Ultramar (SEMU-DGU), 428 1N. 1893-1919. "Obras Públicas - Pessoal do Ultramar", p. 1, 36v.

Arquivo Histórico Ultramarino, Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar-Direção-Geral do Ultramar (SEMU-DGU), 771/1 1D MU. 1879-1929. "Obras Públicas - Processos Individuais - letras: E-F. Caixa 1". Angola.

Bibliografia

"Diário de Lisboa", nº3814 de 26 de junho de 1933. (Lisboa, 1933). https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiknKigl8P1AhURmRQKHbuOAEcQFnoECAMQAQ&url=http%3A%2F%2Fhemerotecadigital.cm-lisboa.pt%2FPeriodicos%2FDiariodeLisboa%2F1933%2FJunho%2FN3814%2FN3814_master%2FDiariodeLisboaN3814.pdf&usg=AOvVaw0L1i2a11B6QUjwusnjUAp8

"Ilustração portugueza", nº 505 de 25 de Outubro de 1915. (Lisboa, 1915). https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fhemerotecadigital.cm-lisboa.pt%2FOBRAS%2FIlustracaoPort%2F1915%2FN505%2FN505_master%2FN505.pdf&psig=AOvVaw0N-pjFQjpqeYGP4M9Q14sH&ust=1640978570765000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCKDo5dmfjPUCFQAAAAAdAAAAABAP

Ligações Externas

https://ancestors.familysearch.org/en/LTPF-LTV/ernestina-soares-de-andrade-1890-1964

https://www.barrosbrito.com/12825.html

https://www.barrosbrito.com/14108.html

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b8439923s/f1.item.zoom

Autor(es) do artigo

Mariana Nicolau

https://orcid.org/0000-0002-1454-1794

Fernando Pires

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

Citar este artigo

• Ernesto Soares de Andrade (última modificação: 12/08/2022). eViterbo. Visitado em 12 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Ernesto_Soares_de_Andrade