Inácio Piedade Vasconcelos: diferenças entre revisões

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=== Dados biográficos ===
=== Dados biográficos ===
Natural de Santarém, filho de André Duarte de Vasconcellos, Cavaleiro da Ordem militar de S. Tiago e Mestre de Campo do Reyno de Angola, e de D. Antónia de Andrade Gouvea e Miranda.  
Inácio da Piedade Vasconcellos era natural de Santarém, e nasceu em 28 de março de 1676. Foi filho de André Duarte de Vasconcellos - cavaleiro da Ordem Militar de São Tiago e mestre de campo do reino de Angola - e de D. Antónia de Andrade Gouvea e Miranda. Aos 19 anos recebeu o hábito de cónego secular da Congregação de S. João Evangelista, encontrando-se a estudar ciências escolásticas no Colégio de Évora. Faleceu em local desconhecido em 1747. 


Inácio da Piedade Vasconcellos recebe o hábito de Cónego secular da Congregação de S. João Evangelista aos 19 anos, estudando ciências escolásticas no Colégio de Évora. Paralelamente dedica-se à estatuaria, escrevendo e publicando sobre a Arquitectura Civil e a Pintura, ''Artefactos Simmetriacos, e Geometricos'' (1733), obra na qual recolhe e cataloga temas da tratadística normativa coeva, a par da História edificada da sua cidade natal, ''Historia de Santarem edificada'' (1740) em que inventaria o acervo artístico da Vila.  
=== Carreira ===
Movendo-se em círculos eruditos, de que é exemplo a sua participação junto da Academia dos Laureados (fundada em Santarém em 1721), este dedicou-se à estatuaria, escrevendo e publicando ainda sobre arquitetura e pintura. Da sua autoria destaca-se a obra ''Artefactos Simmetriacos, e Geometricos'' (1733), na qual recolheu e catalogou temas da tratadística normativa coeva, bem como a obra ''Historia de Santarem edificada'' (1740), onde inventariou o acervo artístico da vila.  


===Carreira===
===Outras informações===
===Outras informações===
A obra dos ''Artefactos symetriacos e geométricos'' (1733) incide na definição de uma regulação absoluta e matemática das formas, do elemento construtivo à figura humana. Antecedida por uma antologia poética (22 poemas) em louvor da Arte, atestando a pretensa relação coeva entre a pintura e a poesia, a obra organiza-se em quatro livros que apresentam sequencialmente assuntos relativos à figura humana, normalização iconográfica, regulação geométrica da construção e teoria das ordens. identificam-se referências a Diego de Sagredo; Sebastião Serlio; Daniele Barbaro; Vignola; Palladio; Pietro Cataneo; Juan de Arphe y Villafañe; Giovanantonio Rusconi; Vicenzo Scamozzi; Giuseppe Viola Zanine; e Frei Lourenço de S. Nicolau.
A obra ''Artefactos symetriacos e geométricos'' (1733) incide na definição de uma regulação absoluta e matemática das formas, do elemento construtivo à figura humana. Antecedida por uma antologia poética - 22 poemas em louvor da Arte, atestando a pretensa relação coeva entre a pintura e a poesia -, a obra organiza-se em quatro livros que apresentam sequencialmente assuntos relativos à figura humana, normalização iconográfica, regulação geométrica da construção e teoria das ordens. Nelas, identificam-se referências a Diego de Sagredo; Sebastião Serlio; Daniele Barbaro; Vignola; Palladio; Pietro Cataneo; Juan de Arphe y Villafañe; Giovanantonio Rusconi; Vicenzo Scamozzi; Giuseppe Viola Zanine; e Frei Lourenço de S. Nicolau. Contudo, a obra foi severamente criticada por Machado de Castro, que a classificou como não mais do que “''uma compilação de desvarios, posto que contenha algumas cousas toleráveis''”.


A este autor Cabeleira (2015) atribui ainda uma das traduções para português da ''Perspectia pictorum et architectorum'' (1693/1700) de Andrea Pozzo. A tradução, manuscrita, datada de cerca de 1730/45<ref>Serrão, Vítor. ''História da Arte em Portugal, o Barroco''. (Lisboa: Presença, 2003)</ref>, descoberta pelo Prof. Flávio Gonçalves, é denominada de ''Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura''. Executada em Santarém, Raggi considerou a sua atribuição a Luís Gonçalves Sena (1713-1790)<ref>Raggi, Giuseppina. “Arquitecturas do engano: a longa construção da ilusão.” (PhD thesis,. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004.), 593</ref>, pela proximidade entre os esquemas de Pozzo e o aplicado pelo pintor na quadratura da abóbada da capela-mor da igreja do Colégio da Companhia em Santarém, a par da escolha da paleta de cores da obra, ou ao Padre Manuel Pereira segundo Serrão (2003), membro de academia literária da cidade. A atribuição a Inácio da Piedade Vasconcellos advém da coincidência espacial e temporal deste autor com a de produção do manuscrito, a par da sua actividade enquanto escultor, ''“Esculpio em barro muitas estátuas, e tambem as sabia fundir em metaes”''<ref>Volkmar Machado, Cirilo. ''Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores, e Escultores, Architetos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros, Que Estiverão em Portugal.'' (Lisboa: Victorino Rodrigues da Silva, 1823), 202</ref>, uma vez que o manuscrito interrompe a tradução da obra de Pozzo para introduzir apontamentos sobre a escultura de barro.  
A Inácio Piedade Vasconcelos foi ainda atribuída uma das traduções para português da ''Perspectia pictorum et architectorum'' (1693/1700) de Andrea Pozzo<ref>Cabeleira, "Arquitecturas Imaginárias". </ref>. Descoberta pelo professor Flávio Gonçalves, a tradução manuscrita data de cerca de 1730/45<ref name=":0">Serrão, ''História da Arte em Portugal, o Barroco''.</ref> com o título ''Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura''. Executada em Santarém, Raggi considerou a sua atribuição a [[Luís Gonçalves Sena]] (1713-1790)<ref>Raggi, "Arquitecturas do engano", 593.</ref>, pela proximidade entre os esquemas de Pozzo e o aplicado pelo pintor na quadratura da abóbada da capela-mor da igreja do Colégio da Companhia em Santarém, a par da escolha da paleta de cores da obra; sendo, segundo Serrão<ref name=":0" />, atribuída ao Padre Manuel Pereira, membro de academia literária da cidade. A atribuição a Inácio da Piedade Vasconcellos advém da coincidência espacial e temporal deste autor com a de produção do manuscrito, a par da sua actividade enquanto escultor, ''“Esculpio em barro muitas estátuas, e tambem as sabia fundir em metaes”''<ref>Machado, <i>Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores</i>, 202.</ref>, uma vez que o manuscrito interrompe a tradução da obra de Pozzo para introduzir apontamentos sobre a escultura de barro.


O manuscrito identifica na portada a edição a partir da qual se executou a tradução: a edição bilingue de Jeremias Wolf (latim/alemão), impressa por Johann Boxbarth de Augsburg em 1719 e que condensa num só volume ambos os tomos da obra, a mesma usada pelo Padre João Saraiva na sua tradução em depósito na Biblioteca de Coimbra.
O manuscrito identifica na portada a edição a partir da qual se executou a tradução: a edição bilingue de Jeremias Wolf (latim/alemão), impressa por Johann Boxbarth de Augsburg em 1719 e que condensa num só volume ambos os tomos da obra, a mesma usada pelo padre João Saraiva na sua tradução em depósito na Biblioteca de Coimbra.


==Obras==
==Obras==
Vasconcellos, Ignacio da Piedade. ''Artefactos symetriacos e geometricos advertidos e descobertos pela industriosa perfeição das artes escultuaria, architectonica, e da pintura. Com certos fundamentos, e regras infalliveis para a symmetria dos corpos humanos, escultura e pintura dos deoses fabulosos, e noticia de suas propriedades, para as cinco ordens de architectura, e suas figuras geométricas, e para alguns novos, e curiosíssimos artefactos de grandes utilidades.'' Lisboa: Joseph Antonio da Sylva, 1733. <nowiki>https://archive.org/details/artefactossymmet00vasc/page/n4</nowiki>
Em 1719, é-lhe atribuída a autoria do manuscrito, ''Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura. Mostrase o methodo mais fasil e espedito de deliniar com estilo prospetico, tudo aquilo que pertence a Arquitetura, inventado e [?], e primeiramente publicado em Roma, por Fr. Andre Poço, da Companhia de Jesus. Porem agora pª favor, e uzo dos estudiozos não muytos sientes desta Arte, se fes de velume mais piqueno, por João Boxbartlo, empresor. Anno 1719.'' Biblioteca Municipal Rosa Peixoto, Fundo Flávio Gonçalves (BMRP), Cota: BMRP - BFG 5203/Reservados.


Vasconcellos, Ignacio da Piedade. ''<nowiki>História de Santarém edificada: que dá noticia da sua fundação, e das couzas mais notaveis nella succedidas : a saber das fundaçoens de todas as suas Igrejas, assim das paroquias, como dos conventos, e ermidas, dos prodigiosos milagres ali succedidos... Primeira [-segunda parte] / composta pelo padre Ignacio da Piedade e Vasconcellos... ; dada à luz por hum curioso amante da ditta Villa.</nowiki>'' Lisboa: Jozè Francisco Mendes & Antonio Costa, 1740. <nowiki>https://archive.org/details/historiadesantar00pied/page/n4</nowiki>
Em 1733, publica, ''Artefactos symetriacos e geometricos advertidos e descobertos pela industriosa perfeição das artes escultuaria, architectonica, e da pintura. Com certos fundamentos, e regras infalliveis para a symmetria dos corpos humanos, escultura e pintura dos deoses fabulosos, e noticia de suas propriedades, para as cinco ordens de architectura, e suas figuras geométricas, e para alguns novos, e curiosíssimos artefactos de grandes utilidades.'' Lisboa: Joseph Antonio da Sylva[https://archive.org/details/artefactossymmet00vasc .]


Vasconcellos, Ignacio da Piedade (atrb). “Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura. Mostrase o methodo mais fasil e espedito de deliniar com estilo prospetico, tudo aquilo que pertence a Arquitetura, inventado e [?], e primeiramente publicado em Roma, por Fr. Andre Poço, da Companhia de Jesus. Porem agora pª favor, e uzo dos estudiozos não muytos sientes desta Arte, se fes de velume mais piqueno, por João Boxbartlo, empresor. Anno 1719”''.'' Manuscrito, 1719 (BMRP - BFG 5203/Reservados).
Em 1740, publica, ''História de Santarém edificada: que dá noticia da sua fundação, e das couzas mais notaveis nella succedidas: a saber das fundaçoens de todas as suas Igrejas, assim das paroquias, como dos conventos, e ermidas, dos prodigiosos milagres ali succedidos... Primeira (-segunda parte) / composta pelo padre Ignacio da Piedade e Vasconcellos...; dada à luz por hum curioso amante da ditta Villa.'' Lisboa: Jozè Francisco Mendes & Antonio Costa[https://archive.org/details/historiadesantar00pied/page/n4/mode/2up .]
 
BMRP – Biblioteca Municipal Rosa Peixoto / BFG – Biblioteca Flávio Gonçalves


==Notas==
==Notas==
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==Fontes==
==Fontes==
Volkmar Machado, Cirilo. Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores, e Escultores, Architetos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros, Que Estiverão em Portugal. Lisboa: Victorino Rodrigues da Silva, 1823.
Barbosa Machado, Diogo. ''Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e ChronoIogica, Na qual se Comprehende a noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compozeraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo presente''. T. 2. Lisboa: Ignacio Rodrigues, 1747[https://am.uc.pt/bibletras/item/58568 .]


Barbosa Machado, Diogo. ''Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e ChronoIogica, Na qual se Comprehende a noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compozeraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo presente''.Tomo II. Lisboa: Ignacio Rodrigues, 1747.
Francisco da Silva, Inocêncio. ''Diccionário bibliographico portuguez: estudos de Innocêncio Francisco da Silva aplicáveis a Portugal e ao Brazil.'' T. 3''.'' Lisboa: Imprensa Nacional, 1859.


Biblioteca Municipal Rosa Peixoto (BMRP)
Machado Castro, Joaquim. ''Descripção analytica da Estatua Equestre do senhor Rei fidelíssimo D. José I''. Lisboa: Imprensa Régia, 1810[https://purl.pt/960/1/index.html#/2/html .]


Biblioteca Flávio Gonçalves (BFG)
Machado, Cirilo Volkmar. <i>Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores, e Escultores, Architetos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros, Que Estiverão em Portugal</i>. Lisboa: Victorino Rodrigues da Silva, 1823.


==Bibliografia ==
==Bibliografia ==
[http://hdl.handle.net/10451/12195 Batata, Maria. “A escultura barroca em terracota de Santarém.” Master thesis., Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2014.]
Batata, Maria. “A escultura barroca em terracota de Santarém”. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2014[http://hdl.handle.net/10451/12195 .]
 
Cabeleira, João. “Arquitecturas Imaginárias. Espaço real e ilusório no Barroco português”. Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, 2015[http://hdl.handle.net/1822/38969 .]
 
Pires, Cândida. “«Artefactos symmetriacos e geometricos ...» - um tratado de artes visuais do século XVIII". Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2001.


[http://hdl.handle.net/1822/38969 Cabeleira, João. “Arquitecturas Imaginárias. Espaço real e ilusório no Barroco português.” PhD thesis., Universidade do Minho, 2015.]
Raggi, Giuseppina. "Arquitecturas do engano: a longa construção da ilusão". Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, 2004.


Pires, Cândida. “«Artefactos symmetriacos e geometricos ...» - um tratado de artes visuais do século XVIII.” Master thesis., Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2001.
Serrão, Vítor. ''História da Arte em Portugal, o Barroco''. Lisboa: Presença, 2003.


==Ligações Externas==
Varela Gomes, Paulo. “O regresso à Ordem (e às Ordens). Aspectos da Cultura Arquitetónica em Portugal na época do Padre Inácio da Piedade Vasconcelos. (1674 -1747)”. ''Revista Barroco'', no. 15 (1992): 147-157.
==Autor(es) do artigo==
==Autor(es) do artigo==
João Cabeleira
João Cabeleira
Lab2PT - Universidade do Minho
http://orcid.org/0000-0002-6800-8557


==Financiamento==
==Financiamento==
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
==DOI==
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https://doi.org/10.34619/qrjb-cfoi  
==Citar este artigo==
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Edição atual desde as 13h34min de 12 de julho de 2023


Inácio Piedade Vasconcelos
Nome completo Inácio da Piedade Vasconcelos
Outras Grafias Ignacio da Piedade Vasconcellos
Pai André Duarte de Vasconcellos
Mãe D. Antónia de Andrade Gouvea e Miranda
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento 28 março 1676
Santarém, Santarém, Portugal
Morte 1747
Sexo Masculino
Religião Cristã
Formação
Data Início: 1695
Local de Formação Évora, Portugal
Actividade
Actividade Autoria de texto
Data Início: 1733
Fim: 1733

Actividade Autoria de texto
Data Início: 1740
Fim: 1740
Local de Actividade Santarém, Portugal


Biografia

Dados biográficos

Inácio da Piedade Vasconcellos era natural de Santarém, e nasceu em 28 de março de 1676. Foi filho de André Duarte de Vasconcellos - cavaleiro da Ordem Militar de São Tiago e mestre de campo do reino de Angola - e de D. Antónia de Andrade Gouvea e Miranda. Aos 19 anos recebeu o hábito de cónego secular da Congregação de S. João Evangelista, encontrando-se a estudar ciências escolásticas no Colégio de Évora. Faleceu em local desconhecido em 1747.

Carreira

Movendo-se em círculos eruditos, de que é exemplo a sua participação junto da Academia dos Laureados (fundada em Santarém em 1721), este dedicou-se à estatuaria, escrevendo e publicando ainda sobre arquitetura e pintura. Da sua autoria destaca-se a obra Artefactos Simmetriacos, e Geometricos (1733), na qual recolheu e catalogou temas da tratadística normativa coeva, bem como a obra Historia de Santarem edificada (1740), onde inventariou o acervo artístico da vila.

Outras informações

A obra Artefactos symetriacos e geométricos (1733) incide na definição de uma regulação absoluta e matemática das formas, do elemento construtivo à figura humana. Antecedida por uma antologia poética - 22 poemas em louvor da Arte, atestando a pretensa relação coeva entre a pintura e a poesia -, a obra organiza-se em quatro livros que apresentam sequencialmente assuntos relativos à figura humana, normalização iconográfica, regulação geométrica da construção e teoria das ordens. Nelas, identificam-se referências a Diego de Sagredo; Sebastião Serlio; Daniele Barbaro; Vignola; Palladio; Pietro Cataneo; Juan de Arphe y Villafañe; Giovanantonio Rusconi; Vicenzo Scamozzi; Giuseppe Viola Zanine; e Frei Lourenço de S. Nicolau. Contudo, a obra foi severamente criticada por Machado de Castro, que a classificou como não mais do que “uma compilação de desvarios, posto que contenha algumas cousas toleráveis”.

A Inácio Piedade Vasconcelos foi ainda atribuída uma das traduções para português da Perspectia pictorum et architectorum (1693/1700) de Andrea Pozzo[1]. Descoberta pelo professor Flávio Gonçalves, a tradução manuscrita data de cerca de 1730/45[2] com o título Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura. Executada em Santarém, Raggi considerou a sua atribuição a Luís Gonçalves Sena (1713-1790)[3], pela proximidade entre os esquemas de Pozzo e o aplicado pelo pintor na quadratura da abóbada da capela-mor da igreja do Colégio da Companhia em Santarém, a par da escolha da paleta de cores da obra; sendo, segundo Serrão[2], atribuída ao Padre Manuel Pereira, membro de academia literária da cidade. A atribuição a Inácio da Piedade Vasconcellos advém da coincidência espacial e temporal deste autor com a de produção do manuscrito, a par da sua actividade enquanto escultor, “Esculpio em barro muitas estátuas, e tambem as sabia fundir em metaes”[4], uma vez que o manuscrito interrompe a tradução da obra de Pozzo para introduzir apontamentos sobre a escultura de barro.

O manuscrito identifica na portada a edição a partir da qual se executou a tradução: a edição bilingue de Jeremias Wolf (latim/alemão), impressa por Johann Boxbarth de Augsburg em 1719 e que condensa num só volume ambos os tomos da obra, a mesma usada pelo padre João Saraiva na sua tradução em depósito na Biblioteca de Coimbra.

Obras

Em 1719, é-lhe atribuída a autoria do manuscrito, Primeira parte de prospectiva de Pintores e Arquitectura. Mostrase o methodo mais fasil e espedito de deliniar com estilo prospetico, tudo aquilo que pertence a Arquitetura, inventado e [?], e primeiramente publicado em Roma, por Fr. Andre Poço, da Companhia de Jesus. Porem agora pª favor, e uzo dos estudiozos não muytos sientes desta Arte, se fes de velume mais piqueno, por João Boxbartlo, empresor. Anno 1719. Biblioteca Municipal Rosa Peixoto, Fundo Flávio Gonçalves (BMRP), Cota: BMRP - BFG 5203/Reservados.

Em 1733, publica, Artefactos symetriacos e geometricos advertidos e descobertos pela industriosa perfeição das artes escultuaria, architectonica, e da pintura. Com certos fundamentos, e regras infalliveis para a symmetria dos corpos humanos, escultura e pintura dos deoses fabulosos, e noticia de suas propriedades, para as cinco ordens de architectura, e suas figuras geométricas, e para alguns novos, e curiosíssimos artefactos de grandes utilidades. Lisboa: Joseph Antonio da Sylva.

Em 1740, publica, História de Santarém edificada: que dá noticia da sua fundação, e das couzas mais notaveis nella succedidas: a saber das fundaçoens de todas as suas Igrejas, assim das paroquias, como dos conventos, e ermidas, dos prodigiosos milagres ali succedidos... Primeira (-segunda parte) / composta pelo padre Ignacio da Piedade e Vasconcellos...; dada à luz por hum curioso amante da ditta Villa. Lisboa: Jozè Francisco Mendes & Antonio Costa.

Notas

  1. Cabeleira, "Arquitecturas Imaginárias".
  2. 2,0 2,1 Serrão, História da Arte em Portugal, o Barroco.
  3. Raggi, "Arquitecturas do engano", 593.
  4. Machado, Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores, 202.

Fontes

Barbosa Machado, Diogo. Bibliotheca Lusitana Historica, Critica, e ChronoIogica, Na qual se Comprehende a noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compozeraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo presente. T. 2. Lisboa: Ignacio Rodrigues, 1747.

Francisco da Silva, Inocêncio. Diccionário bibliographico portuguez: estudos de Innocêncio Francisco da Silva aplicáveis a Portugal e ao Brazil. T. 3. Lisboa: Imprensa Nacional, 1859.

Machado Castro, Joaquim. Descripção analytica da Estatua Equestre do senhor Rei fidelíssimo D. José I. Lisboa: Imprensa Régia, 1810.

Machado, Cirilo Volkmar. Collecção de Memorias Relativas às Vidas dos Pintores, e Escultores, Architetos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros, Que Estiverão em Portugal. Lisboa: Victorino Rodrigues da Silva, 1823.

Bibliografia

Batata, Maria. “A escultura barroca em terracota de Santarém”. Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2014.

Cabeleira, João. “Arquitecturas Imaginárias. Espaço real e ilusório no Barroco português”. Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, 2015.

Pires, Cândida. “«Artefactos symmetriacos e geometricos ...» - um tratado de artes visuais do século XVIII". Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2001.

Raggi, Giuseppina. "Arquitecturas do engano: a longa construção da ilusão". Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, 2004.

Serrão, Vítor. História da Arte em Portugal, o Barroco. Lisboa: Presença, 2003.

Varela Gomes, Paulo. “O regresso à Ordem (e às Ordens). Aspectos da Cultura Arquitetónica em Portugal na época do Padre Inácio da Piedade Vasconcelos. (1674 -1747)”. Revista Barroco, no. 15 (1992): 147-157.

Autor(es) do artigo

João Cabeleira

Lab2PT - Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-6800-8557

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/qrjb-cfoi  

Citar este artigo

Cabeleira, João. "Inácio Piedade Vasconcelos", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 12/07/2023). Consultado a 15 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/In%C3%A1cio_Piedade_Vasconcelos. DOI: https://doi.org/10.34619/qrjb-cfoi