José Anastácio da Cunha

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José Anastácio da Cunha
Nome completo José Anastácio da Cunha
Outras Grafias valor desconhecido
Pai Lourenço da Cunha
Mãe Jacinta Inês
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento valor desconhecido
Morte valor desconhecido
Sexo Masculino
Religião valor desconhecido


Biografia

Dados biográficos

José Anastácio da Cunha nasceu em 11 de abril de 1744. Obteve uma relevante educação científica e literária na Casa de Nossa Senhora das Necessidades, Lisboa, pertencente à Congregação do Oratório. Discutível foi a sua escolha pela carreira militar já que, nas palavras de um dos seus discípulos diletos, sabemos que "a vista [de Anastácio da Cunha] era, de nascença, curta". Todavia, depois de uma breve passagem pela Universidade de Coimbra, ingressou no Regimento de Artilharia do Porto, aquartelado em Valença do Minho, onde pode privar com militares estrangeiros, muitos deles protestantes, de quem recebeu uma ímpar fluência linguística e literária e uma importante formação científica, nomeadamente pelo acesso a autores ingleses (particularmente Newton) que o marcariam para o resto da vida. Também aí iniciou uma prolífica produção matemática e literária. Datam desta fase, por exemplo, um Ensaio sobre as Minas e uma Carta Físico-Mathematica sobre a Theorica da Pólvora em Geral, estudos feitos a pedido dos seus superiores militares. Datará, igualmente, deste período uma carta publicada em Londres (possivelmente da autoria do Major Simão Fraser) onde Anastácio da Cunha é descrito nos seguintes termos: "uns dos génios mais extraordinários que jamais se ouviu, (…) um prodígio, versado em todo o género de ciência e literatura".

A passagem pela recém criada Faculdade de Matemática, na Universidade de Coimbra, embora breve foi, igualmente marcante: enquanto Lente de Geometria, foi professor de todos os alunos do 1.º ano da reformada Universidade e assumiu-se como um verdadeiro Mestre, fomentador de um método sistemático de combate à ignorância, de instruir discípulos e de cultivar as Ciências (particularmente as Matemáticas), mas também a Filosofia, as Literaturas, a Geografia, a História e ainda a Ética e a Crítica, em geral. Palavras elogiosas proferidas pelo Conde de Schaumbourg-Lippe e/ou pelo Tenente General Francisco MacLean, reportavam Anastácio da Cunha como "sabendo mais do que a maioria dos Marechais de França, de Inglaterra e da Alemanha" e que "é um daqueles homens raros que aparecem nas nações cultas". Em Coimbra, terá composto muitos dos seus principais trabalhos de Matemática e, desde logo, uma parte substancial da sua obra mais notável, a qual o próprio Gauss elogiaria: os Principios Mathematicos, que, tal como todas as outras que se lhe conhecem, só viria a ser publicada após a sua morte.

Foi preso, em 1 de julho de 1778, pela Inquisição, acusado de diversos crimes que remontavam, quase exclusivamente, aos tempos passados em Valença do Minho: Deísmo, Tolerantismo, Indiferentismo, não ir à missa, ler livros proibidos, viver amancebado (com uma rapariga chamada Margarida) ou participar nas exéquias de um cão, para além de comer, em dias de jejum, torradas ao pequeno almoço. Saiu em auto de fé a 11 de outubro de 1778 e foi condenado à confiscação de todos os seus bens, proibido de voltar a Coimbra e a Valença, bem como à reclusão durante três anos e a um degredo com a duração de quatro anos. A reclusão seria passada, a seu pedido, na Casa de Nossa Senhora das Necessidades, com os Padres Oratorianos, e o degredo em Évora nunca seria cumprido, já que lhe foi concebido um perdão a 23 de janeiro de 1781.

Surpreendente foi o cargo de destaque que Pina Manique lhe atribuiria na fundação da Casa Pia de Lisboa. Anastácio da Cunha era, para todos os efeitos, um condenado pela Inquisição e encontrava-se a cumprir pena, quando foi escolhido, pelo Intendente Geral da Polícia, para delinear um plano educativo, destinado a crianças e jovens desprotegidos. Este plano, que incluía parcerias com algumas das mais prestigiadas universidades europeias, viria a transformar ‘Rapazes’ desfavorecidos, em alguns dos mais prestigiados militares e/ou académicos portugueses.

Anastácio da Cunha morreu em 1 de janeiro de 1787, quando, nas palavras do amigo D. José Maria (5.º Morgado de Mateus), "a Rainha atual [D. Maria I] lhe destinava uma cadeira de Matemática, em Lisboa", mas os seus discípulos de Coimbra - muitos deles nobres e fidalgos com importantes cargos governamentais -, os da Casa Pia e os de Valença do Minho, pretenderam imortalizá-lo, através da publicação das suas poesias e das suas obras matemáticas.

Carreira

Outras informações

Obras

Cunha, José Anastácio da. Princípios Mathematicos para instrução dos alunos do Colégio de São Lucas, da Real Casa Pia do Castelo de São Jorge. Lisboa: oficina de António Rodrigues Galhardo, 1790.

Cunha, José Anastácio da. Principes Mathematiques de feu Joseph-Anastase da Cunha(Traduits literalmente par J. M. d’ Abreu). Bordeaux: Imprimerie d’André Racle, 1811.

Cunha, José Anastácio da. Notícias Literárias de Portugal, 1780. (Transcrição, Prefácio e Notas de Joel Serrão). Seara Nova, Lisboa, 1971.

Cunha, José Anastácio da. Carta Fisico-Mathematica sobre a Theoria da Polvora em geral e a determinação do melhor comprimento das peças em particular. Porto: ??, 1838 (1769).

Cunha, José Anastácio da. Ensaio sobre os Principios de Mechanica. (Obra Posthuma de Joze Anastácio da Cunha, dada à luz por D. D. A. de S. C. possuidor do Ms. Autographo). Londres: 1807.

Cunha, José Anastácio da. Ensaio sobre as Minas. (Leitura Introdução e Notas de Maria Fernanda Estrada). Braga: Arquivo Distrital de Braga, Universidade do Minho, 1994

Notas


Fontes

Bibliografia

Abreu, João Manuel d’. Escriptos Posthumos de José Anastácio da Cunha, ordenados aos sistams dos seus Principios Mathematicos e oferecidos a S. A. R. o S. D. João VI, Principe Regente de Portugal. (Ms. Arquivo Histórico-Militar).

Braga, Teófilo. História da Universidade de Coimbra. Lisboa: Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1898.

Cidade, Hernâni. A Obra Poética do Dr. José Anastácio da Cunha. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1930.

Cunha, Norberto. Elites e Académicos na Cultura Portuguesa Setecentista. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2000.

Domingues, João Caramalho. “Uma recensão italiana dos Principios Mathematicos de José Anastácio da Cunha” In Boletim da SPM, Vol 65 (2011): 89–98.

Ferro, João Pedro. O Processo de José Anastácio da Cunha na Inquisição. Lisboa: Palas Editores, 1987.

Gauss, Johann Carl Friedrich. Briefwechsel zwischen Gauss und Bessel. Leipzig, Verlag von Wilhelm Engelmann, 1880.

Gonçalves, José Vicente. “Análise do Livro VIIII dos Principios Mathematicos de José Anastácio da Cunha”, in Actas do Congresso do Mundo Português, XII, 1940, 123-140.

Lopes, Ângela; Ralha, Maria Elfrida; Rodrigues, Abel. “Os primeiros anos do Curso Matemático na Universidade de Coimbra:  história pessoa de como o Morgado de Mateus, se formou em Matemáticas”. In Atas/Anais do 7.º Encontro Luso-Brasileiro de História da Matemática, SPM, Vol 2, 2018, 387-404.

Oliveira, Augusto Franco de. “Anastácio da Cunha and the Concept of Convergent Series” In Archive for History of Exact Sciences, Vol. 39 – 1 (1988): 1–12.

Queiró, João Filipe. “José Anastácio da Cunha: a Forgotten Forerunner” In The Mathematical Intelligencer, Vol. 10 – 1 (1988): 38–43

Ralha, Maria Elfrida et al.. Anecdotas de J. A. d. C. (Reminiscências de D. José Maria de Souza, Morgado de Mateus, sobre o Mestre e Amigo José Anastácio da Cunha). Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2013.

Ralha, Maria Elfrida et al.. José Anastácio da Cunha : O tempo, as Ideias, a Obra… Os Inéditos. Braga : Universidade do Minho, Arquivo Distrital de Braga, 2006.

Ralha, Maria Elfrida. “José Anastácio da Cunha e o projeto MAT2: no trilho de uma história extraordinária”, In González Redondo, Francisco A. (Org.). Ciencia y Técnica entre la Paz y la Guerra, 1714, 1814, 1914, Vol.  I, Sociedad Española de Historia de las Ciencias y de las Técnicas, 2015, 49-62.

Ralha, Maria Elfrida & Estrada, Maria Fernanda. “Os ‘Principios Mathematicos’ de Anastácio da Cunha : Notícias Russas no Século XIX », In Atas/Anais do 7.º Encontro Luso-Brasileiro de História da Matemática,SPM, Vol 2, 2018, 373-386.

Ribeiro, Aquilino. Anastácio da Cunha -- O Lente Penitenciado. Lisboa: Bertrand, 1935.

Santos, António Ribeiro dos. “Memórias Históricas sobre Matemáticos Portugueses e estrangeiros domiciliários em Portugal ou nas conquistas”. In Memórias da Literatura Portuguesa. Lisboa: Academia Real das Ciências, tomo VIII, 1812, 148-229.

Stockler, Francisco de Borja Gastão. Ensaio Histórico sobre a Origem e Progresso das Matemáticas em Portugal. Paris, 1819.

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

Maria Elfrida Ralha

Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-1524-3975

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

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