Escola Industrial do Porto: diferenças entre revisões

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A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 3:379.</ref>, figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do [[Instituto Industrial de Lisboa]], estabelecido pelo mesmo decreto<ref>Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, 7:106.</ref>. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.
A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 3:379.</ref>, figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do [[Instituto Industrial de Lisboa]], estabelecido pelo mesmo decreto<ref>Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, 7:106.</ref>. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.


Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar a duas condições, a saber, a instrução, ou "''educação profissional''", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"<ref>Ribeiro, 7:346.</ref>. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "''Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu''"<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:352.</ref>.
Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar duas condições essenciais, a saber, a instrução, ou "''educação profissional''", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"<ref>Ribeiro, 7:346.</ref>. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "''Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu''"<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:352.</ref>.


A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "''aula de física da Academia Politécnica''" já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.  
A instrução industrial era organizada em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente<ref>Ribeiro, 7:347-348.</ref>. Não obstante, nos primeiros anos de funcionamento do Instituto os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente em Lisboa<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>.


Simultaneamente, faltava ainda proceder ao acondicionamento das aulas para o qual se tornava necessário intervir no edifício da Academia Politécnica do Porto. Enquanto isso não se verificou, contratou-se uma instalação alternativa com a Associação Industrial do Porto "''a fim de que nas suas aulas'' [no seu edifício] ''se pudessem professar os cursos livres da escola''"<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>. Inaugurados naquelas instalações em 1 de Março de 1854, os cursos livres surgiam como alternativa à normal realização dos cursos previstos, à semelhança, aponta José Silvestre Ribeiro, do que "''se praticara em Lisboa no Instituto Industrial''"<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>. As novas instalações seriam inauguradas no ano lectivo seguinte, conhecendo os cursos uma duração de três meses<ref>Ribeiro, 12:169.</ref>.  
A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "''aula de física da Academia Politécnica''", já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.  


Uma vez instalada no edifício da Academia Politécnica do Porto, onde igualmente se encontrava o Colégio dos Meninos Órfãos, o diretor da Escola Industrial representou ao poder municipal no sentido de ser estabelecida a condição de internato para que aqueles jovens, frequentando as aulas da Escola, se habilitassem "''para exercer profissões adequadas às suas peculiares circunstâncias''". Em 1861, o Governador Civil do Porto era ordenado a reunir as condições para a concretização daquela proposta<ref>Ribeiro, 12:171.</ref>.
Simultaneamente, faltava ainda proceder ao acondicionamento das aulas para o qual se tornava necessário intervir no edifício da Academia Politécnica do Porto. Enquanto isso não se verificou, contratou-se uma instalação alternativa com a Associação Industrial do Porto "''a fim de que nas suas aulas'' [no seu edifício] ''se pudessem professar os cursos livres da escola''"<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>. Inaugurados naquelas instalações em 1 de Março de 1854, os cursos livres surgiam como alternativa à normal realização dos cursos previstos<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>. Os cursos regulares foram inauguradas no ano lectivo seguinte, conhecendo os cursos livres uma duração de três meses<ref>Ribeiro, 12:169.</ref>.  


A organização da instrução industrial estabelecia três graus, elementar, secundário e complementar baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente<ref>Ribeiro, 7:347-348.</ref>.  
Uma vez instalada no edifício da [[Academia Politécnica do Porto]], em data não especificada por Silvestre Ribeiro, onde, igualmente, se encontrava o Colégio dos Meninos Órfãos, o diretor da Escola Industrial representou ao poder municipal no sentido de ser estabelecida a condição de internato para que aqueles jovens, frequentando as aulas da Escola, se habilitassem "''para exercer profissões adequadas às suas peculiares circunstâncias''". Em 1861, o Governador Civil do Porto era ordenado a reunir as condições para a concretização daquela proposta<ref>Ribeiro, 12:171.</ref>. Adotamos esta data como certa para o estabelecimento da Escola Industrial no edifício da Academia Politécnica, apesar de José Silvestre Ribeiro mencionar a criação, em 1864, de uma comissão para um plano definitivo nas obras daquele edifício, e uma vez que não menciona uma data exata para esta transferência.


Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de reorganização como forma de por fim ao "''estado de organização incompleta''" em que a instituição havia, até então, funcionado. Em particular, o quadro de cadeiras demonstrava-se insuficiente e incompatibilizado com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "''criação de aulas (...) nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos''"<ref>Ribeiro, 12:170.</ref>.
Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de se  reorganizar o seu ensino colocando fim ao "''estado de organização incompleta''" em que a instituição havia, até então, existido. Em particular, mencionava-se um quadro de cadeiras incompleto e, por isso, incompatível com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "''criação de aulas'' (...) ''nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos''"<ref>Ribeiro, 12:170.</ref>.


Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática<ref>Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, 13:241-242.</ref>. Em 1864, procedia-se à reforma do Instituto Industrial de Lisboa e à reorganização da Escola Industrial do Porto que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto. 
Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática<ref>Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, 13:241-242.</ref>.  


O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "''ao ensino técnico geral''" e à instrução para as "''diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros''"<ref>Ribeiro, 13:244.</ref>.  
Em 1864, procedia-se à reforma do [[Instituto Industrial de Lisboa]] e à reorganização da Escola Industrial do Porto, que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto, por decreto de 20 de Dezembro<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>. O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "''ao ensino técnico geral''" e à instrução para as "''diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros''"<ref>Ribeiro, 13:244.</ref>.
 
A reforma de 1869, equiparava os planos de estudo de ambos os institutos, ainda que, no caso do portuense, na sétima cadeira, dedicada a "''assuntos comerciais''", fossem ministradas as disciplinas de "''arte de minas, docimasia e metalurgia''"<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>. 


A partir de 1872 era adoptado o Regulamento do mesmo ano relativo à organização e demais preceitos regulamentares do Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 13:246.</ref>.   
A partir de 1872 era adoptado o Regulamento do mesmo ano relativo à organização e demais preceitos regulamentares do Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 13:246.</ref>.   
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Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.


No ano lectivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência<ref>Ribeiro, 12:169.</ref>.
No ano lectivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência dos alunos<ref>Ribeiro, 12:169.</ref>. Entre a inauguração das suas aulas e o ano lectivo de 1861-1862, verificou-se um aumento progressivo e estável quer do número de matrículas, quer a frequência das aulas, alcançando naquela última data 1151 matrículas e 718 alunos a frequentarem as aulas<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>.


O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direcção composta de um director-lente e do Conselho escolar<ref>Ribeiro, 7:105.</ref>. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal<ref>Ribeiro, 7:354.</ref>. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direcção composta de um director-lente e do Conselho escolar<ref>Ribeiro, 7:105.</ref>. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal<ref>Ribeiro, 7:354.</ref>. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
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A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: 1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador;  1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico<ref>Ribeiro, 7:348.</ref>.
A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: 1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador;  1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico<ref>Ribeiro, 7:348.</ref>.
Pela reforma de 1869 os cursos ministrados no Instituto Industrial do Porto eram os mesmos que no de Lisboa, à excepção do curso especial de comércio, e aos cursos de condutor de minas e mestre mineiro que faziam parte da oferta de ensino industrial portuense<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>.


==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->
==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->

Revisão das 20h38min de 13 de outubro de 2022


Escola Industrial do Porto
(EIP, IIP, IICP)
Outras denominações Escola Industrial Portuense, Instituto Industrial do Porto, Instituto Industrial e Comercial do Porto
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 30 dezembro 1852
Data de extinção 5 dezembro 1918
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Palácio da Bolsa, Porto,-
Início: 1852
Fim: 1861

Localização Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, Porto,-
Início: 1861
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Instituto Superior de Comércio do Porto


História

Escola Industrial do Porto


12:167-177

A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia[1], figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do Instituto Industrial de Lisboa, estabelecido pelo mesmo decreto[2]. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.

Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar duas condições essenciais, a saber, a instrução, ou "educação profissional", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"[3]. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas[4]. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu"[5]. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa[6].

A instrução industrial era organizada em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente[7]. Não obstante, nos primeiros anos de funcionamento do Instituto os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente em Lisboa[8].

A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "aula de física da Academia Politécnica", já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853[9].

Simultaneamente, faltava ainda proceder ao acondicionamento das aulas para o qual se tornava necessário intervir no edifício da Academia Politécnica do Porto. Enquanto isso não se verificou, contratou-se uma instalação alternativa com a Associação Industrial do Porto "a fim de que nas suas aulas [no seu edifício] se pudessem professar os cursos livres da escola"[10]. Inaugurados naquelas instalações em 1 de Março de 1854, os cursos livres surgiam como alternativa à normal realização dos cursos previstos[11]. Os cursos regulares foram inauguradas no ano lectivo seguinte, conhecendo os cursos livres uma duração de três meses[12].

Uma vez instalada no edifício da Academia Politécnica do Porto, em data não especificada por Silvestre Ribeiro, onde, igualmente, se encontrava o Colégio dos Meninos Órfãos, o diretor da Escola Industrial representou ao poder municipal no sentido de ser estabelecida a condição de internato para que aqueles jovens, frequentando as aulas da Escola, se habilitassem "para exercer profissões adequadas às suas peculiares circunstâncias". Em 1861, o Governador Civil do Porto era ordenado a reunir as condições para a concretização daquela proposta[13]. Adotamos esta data como certa para o estabelecimento da Escola Industrial no edifício da Academia Politécnica, apesar de José Silvestre Ribeiro mencionar a criação, em 1864, de uma comissão para um plano definitivo nas obras daquele edifício, e uma vez que não menciona uma data exata para esta transferência.

Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de se reorganizar o seu ensino colocando fim ao "estado de organização incompleta" em que a instituição havia, até então, existido. Em particular, mencionava-se um quadro de cadeiras incompleto e, por isso, incompatível com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "criação de aulas (...) nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos"[14].

Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática[15].

Em 1864, procedia-se à reforma do Instituto Industrial de Lisboa e à reorganização da Escola Industrial do Porto, que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto, por decreto de 20 de Dezembro[16]. O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "ao ensino técnico geral" e à instrução para as "diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros"[17].

A reforma de 1869, equiparava os planos de estudo de ambos os institutos, ainda que, no caso do portuense, na sétima cadeira, dedicada a "assuntos comerciais", fossem ministradas as disciplinas de "arte de minas, docimasia e metalurgia"[18].

A partir de 1872 era adoptado o Regulamento do mesmo ano relativo à organização e demais preceitos regulamentares do Instituto Industrial de Lisboa[19].

Outras informações

Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras[20].

No ano lectivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência dos alunos[21]. Entre a inauguração das suas aulas e o ano lectivo de 1861-1862, verificou-se um aumento progressivo e estável quer do número de matrículas, quer a frequência das aulas, alcançando naquela última data 1151 matrículas e 718 alunos a frequentarem as aulas[22].

O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direcção composta de um director-lente e do Conselho escolar[23]. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal[24]. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas[25].

A vertente prática do ensino ministrado no Instituto Industrial era assegurada por oficinas anexas, nomeadamente, de forjar; de fundir e moldar; de serrilharia e ajustamento; de tornear e modelar; e de manipulações químicas.[26] Refere José Silvestre Ribeiro que estava proposto estabelecerem-se estas oficinas nos arsenais do estado[27]. Não sendo certo o seu estabelecimento prático, em 1854, já haviam sido efetivamente organizadas "algumas oficinas". Ainda assim, a sua concretização prática seria objeto de reclamação em 1855, arguindo-se pela existência à altura de "alunos habilitados, segundo a lei, para nelas se empregarem e terem exercício"[28]. Independentemente das oficinas criadas, em 1860 o governo dava ordem de encerramento para todos esses estabelecimentos com excepção da oficina de instrumentos de precisão dado não haver estabelecimento semelhante no país[29].

O ensino prático podia ser complementado com o trabalho dos alunos em oficinas de fábricas portuenses com as quais o governo poderia estabelecer contrato[30].

Aquando da criação da Escola Industrial foi estabelecido

para o museu: "Assim como o culto do belo não existe senão nos países, onde em museus e galerias especiais se podem observar as preciosas produções dos mais altos engenhos em belas artes; também sem bons exemplares para o trabalho industrial, nenhum povo pode atingir a grande perfeição nesta importantíssima e utilíssima província do trabalho humano".

Rel. do D. de 20 de dez. de 1865.


Professores

Curricula

O plano de estudos inicial da Escola Industrial do Porto contemplava os dois primeiros níveis de instrução técnica industrial, acrescendo uma cadeira do "ensino complementar", a sétima, dedicada à disciplina de "química aplicada às artes"[31]. O ensino era ministrado em regime nocturno[32]. Comparativamente ao Instituto Industrial de Lisboa este plano apresenta-se mais exímio encontrando-se omissas duas cadeiras, a oitava, relativa à "Economia e legislação industrial" e a nona cadeira de "Desenho de modelos e máquinas". Estas cadeiras eram conducentes aos cursos de diretor mecânico e diretor químico, cujas cartas de curso, em consequência, a Escola não podia passar, ao contrário do Instituto Industrial de Lisboa[33].

Os alunos eram incumbidos de trabalhos físicos nas oficinas quando tivessem concluído as duas primeiras cadeiras respeitantes ao grau elementar da instrução industrial[34].

1852-
Graus de ensino Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Ensino

Elementar

Primeira cadeira "Aritmética elementar; primeiras noções de álgebra; geometria elementar"[35].
Segunda

cadeira

"Desenho linear e de ornatos industriais"[36].
Ensino

Secundário

Terceira cadeira "Elementos de geometria descritiva aplicada às artes"[37].
Quarta

cadeira

"Noções elementares de física e química"[38]. Professor proprietário, em 4 de Agosto de 1853: José de Parada e Silva Leitão[39].
Quinta

cadeira

"Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte"[40].
Ensino Complementar Sexta

cadeira

"Mecânica industrial"[41].
Sétima

cadeira

"Química aplicada ás artes"[42]. Professor proprietário, em 10 de Maio de 1853: Sebastião Betâmio de Almeida[43].

A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: 1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador; 1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico[44].

Pela reforma de 1869 os cursos ministrados no Instituto Industrial do Porto eram os mesmos que no de Lisboa, à excepção do curso especial de comércio, e aos cursos de condutor de minas e mestre mineiro que faziam parte da oferta de ensino industrial portuense[45].

Notas

  1. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:379.
  2. Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, 7:106.
  3. Ribeiro, 7:346.
  4. Ribeiro, 7:381.
  5. Ribeiro, 7:381.
  6. Ribeiro, 7:352.
  7. Ribeiro, 7:347-348.
  8. Ribeiro, 12:168.
  9. Ribeiro, 12:167.
  10. Ribeiro, 12:168.
  11. Ribeiro, 12:168.
  12. Ribeiro, 12:169.
  13. Ribeiro, 12:171.
  14. Ribeiro, 12:170.
  15. Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, 13:241-242.
  16. Ribeiro, 12:172.
  17. Ribeiro, 13:244.
  18. Ribeiro, 12:172.
  19. Ribeiro, 13:246.
  20. Ribeiro, 7:350.
  21. Ribeiro, 12:169.
  22. Ribeiro, 12:172.
  23. Ribeiro, 7:105.
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  26. Ribeiro, 7:347.
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Fontes

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878, pp. 105-107.

Almeida, Raquel Maria Rodrigues de. «A escola industrial do Porto (1852-1864): Estudo Orgânico-Funcional e Tratamento Arquivístico da Informação». Porto: Faculdade de Letras Universidade do Porto, 29 de Julho de 2014. https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/74087.

Bibliografia

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Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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