Escola Industrial do Porto: diferenças entre revisões

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A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 3:379.</ref>, figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do [[Instituto Industrial de Lisboa]], estabelecido pelo mesmo decreto<ref>Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, 7:106.</ref>. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.
A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 3:379.</ref>, figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do [[Instituto Industrial de Lisboa]], estabelecido pelo mesmo decreto<ref>Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 7:106.</ref>. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.


Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar duas condições essenciais, a saber, a instrução, ou "''educação profissional''", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"<ref>Ribeiro, 7:346.</ref>. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "''Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu''"<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:352.</ref>.
Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar duas condições essenciais, a saber, a instrução, ou "''educação profissional''", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"<ref>Ribeiro, 7:346.</ref>. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "''Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu''"<ref>Ribeiro, 7:381.</ref>. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:352.</ref>.


A instrução industrial era organizada em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente<ref>Ribeiro, 7:347-348.</ref>. Não obstante, nos primeiros anos de funcionamento do Instituto os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente em Lisboa<ref>Ribeiro, 12:168.</ref>.
A instrução industrial era organizada em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente<ref>Ribeiro, 7:347-348.</ref>. Não obstante, nos primeiros anos de funcionamento do Instituto os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente em Lisboa<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 12:168.</ref>.


A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "''aula de física da Academia Politécnica''", já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.  
A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "''aula de física da Academia Politécnica''", já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.  
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Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de se  reorganizar o seu ensino colocando fim ao "''estado de organização incompleta''" em que a instituição havia, até então, existido. Em particular, mencionava-se um quadro de cadeiras incompleto e, por isso, incompatível com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "''criação de aulas'' (...) ''nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos''"<ref>Ribeiro, 12:170.</ref>.
Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de se  reorganizar o seu ensino colocando fim ao "''estado de organização incompleta''" em que a instituição havia, até então, existido. Em particular, mencionava-se um quadro de cadeiras incompleto e, por isso, incompatível com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "''criação de aulas'' (...) ''nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos''"<ref>Ribeiro, 12:170.</ref>.


Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática<ref>Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, 13:241-242.</ref>.   
Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática<ref>Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 13:241-242.</ref>.   


Em 1864, procedia-se à reforma do [[Instituto Industrial de Lisboa]] e à reorganização da Escola Industrial do Porto, que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto, por decreto de 20 de Dezembro<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>. O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "''ao ensino técnico geral''" e à instrução para as "''diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros''"<ref>Ribeiro, 13:244.</ref>.   
Em 1864, procedia-se à reforma do [[Instituto Industrial de Lisboa]] e à reorganização da Escola Industrial do Porto, que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto, por decreto de 20 de Dezembro<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 12:172.</ref>. O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "''ao ensino técnico geral''" e à instrução para as "''diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 13:244.</ref>.   


A reforma de 1869, datada de 30 de Dezembro, equiparava os planos de estudo de ambos os institutos, ainda que, no caso do portuense, na sétima cadeira, dedicada a "''assuntos comerciais''", fossem ministradas as disciplinas de "''arte de minas, docimasia e metalurgia''"<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>.     
A reforma de 1869, datada de 30 de Dezembro, equiparava os planos de estudo de ambos os institutos, ainda que, no caso do portuense, na sétima cadeira, dedicada a "''assuntos comerciais''", fossem ministradas as disciplinas de "''arte de minas, docimasia e metalurgia''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:172.</ref>.     


A reforma de 30 de Dezembro de 1886 reorganizou o sistema de instrução industrial e comercial e dotou o Instituto de nova designação, Instituto Industrial e Comercial do Porto, à semelhança da adotada pela instituição lisbonense<ref>Ribeiro, 17:332.</ref>. A organização do ensino industrial, aplicável ao ensino comercial, manteve-se dividida em três graus, a saber, elementar, preparatório e especial (ou superior no caso do curso comercial), sendo todos ministrados pelos Institutos Industriais e Comerciais<ref>Ribeiro, 17:333.</ref>. Em 3 de Fevereiro de 1888 era publicado o respectivo Regulamento<ref>Ribeiro, 17:514.</ref>.     
A reforma de 30 de Dezembro de 1886 reorganizou o sistema de instrução industrial e comercial e dotou o Instituto de nova designação, Instituto Industrial e Comercial do Porto, à semelhança da adotada pela instituição lisbonense<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 17:332.</ref>. A organização do ensino industrial, aplicável ao ensino comercial, manteve-se dividida em três graus, a saber, elementar, preparatório e especial (ou superior no caso do curso comercial), sendo todos ministrados pelos Institutos Industriais e Comerciais<ref>Ribeiro, 17:333.</ref>. Em 3 de Fevereiro de 1888 era publicado o respectivo Regulamento<ref>Ribeiro, 17:514.</ref>.     


===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 7:350.</ref>.


No ano lectivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência dos alunos<ref>Ribeiro, 12:169.</ref>. Entre a inauguração das suas aulas e o ano lectivo de 1861-1862, verificou-se um aumento progressivo e estável quer do número de matrículas, quer a frequência das aulas, alcançando naquela última data 1151 matrículas e 718 alunos a frequentarem as aulas<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>.
No ano letivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência dos alunos<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:169.</ref>. Entre a inauguração das suas aulas e o ano letivo de 1861-1862, verificou-se um aumento progressivo e estável quer do número de matrículas, quer a frequência das aulas, alcançando naquela última data 1151 matrículas e 718 alunos a frequentarem as aulas<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>.


O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direcção composta de um director-lente e do Conselho escolar<ref>Ribeiro, 7:105.</ref>. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal<ref>Ribeiro, 7:354.</ref>. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direção composta de um diretor-lente e do Conselho escolar<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 7:105.</ref>. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal<ref>Ribeiro, 7:354.</ref>. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.


A vertente prática do ensino ministrado no Instituto Industrial era assegurada por oficinas anexas, nomeadamente, de forjar; de fundir e moldar; de serrilharia e ajustamento; de tornear e modelar; e de manipulações químicas.<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>  Refere José Silvestre Ribeiro que estava proposto estabelecerem-se estas oficinas nos arsenais do estado<ref>Ribeiro, 7:348-349.</ref>. Não sendo certo o seu estabelecimento prático, em 1854, já haviam sido efetivamente organizadas "algumas oficinas". Ainda assim, a sua concretização prática seria objeto de reclamação em 1855, arguindo-se pela existência à altura de "alunos habilitados, segundo a lei, para nelas se empregarem e terem exercício"<ref>Ribeiro, 12:170.</ref>. Independentemente das oficinas criadas, em 1860 o governo dava ordem de encerramento para todos esses estabelecimentos com excepção da oficina de instrumentos de precisão dado não haver estabelecimento semelhante no país<ref>Ribeiro, 7:357.</ref>. O ensino prático podia ainda ser complementado com o trabalho dos alunos em oficinas de fábricas portuenses com as quais o governo poderia estabelecer contrato<ref>Ribeiro, 7:105.</ref>.
A vertente prática do ensino ministrado no Instituto Industrial era assegurada por oficinas anexas, nomeadamente, de forjar; de fundir e moldar; de serrilharia e ajustamento; de tornear e modelar; e de manipulações químicas.<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>  Refere José Silvestre Ribeiro que estava proposto estabelecerem-se estas oficinas nos arsenais do estado<ref>Ribeiro, 7:348-349.</ref>. Não sendo certo o seu estabelecimento prático, em 1854, já haviam sido efetivamente organizadas "algumas oficinas". Ainda assim, a sua concretização prática seria objeto de reclamação em 1855, arguindo-se pela existência à altura de "alunos habilitados, segundo a lei, para nelas se empregarem e terem exercício"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:170.</ref>. Independentemente das oficinas criadas, em 1860 o governo dava ordem de encerramento para todos esses estabelecimentos com excepção da oficina de instrumentos de precisão dado não haver estabelecimento semelhante no país<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 7:357.</ref>. O ensino prático podia ainda ser complementado com o trabalho dos alunos em oficinas de fábricas portuenses com as quais o governo poderia estabelecer contrato<ref>Ribeiro, 7:105.</ref>.


Segundo a reforma de 1886, junto dos Institutos Industriais e Comerciais deveriam achar-se estabelecidos uma biblioteca, um laboratório químico, um gabinete de física, um laboratório mecânico, um museu, e "''uma escola prática de telegrafia e laboratório eletrotécnico''"<ref>Ribeiro, 17:338.</ref>. O plano de organização deixava também aberta a possibilidade de se constituírem "''pequenas oficinas que a experiência demonstrar serem necessárias para o ensino prático dos alunos''"<ref>Ribeiro, 17:339.</ref>.
Segundo a reforma de 1886, junto dos Institutos Industriais e Comerciais deveriam achar-se estabelecidos uma biblioteca, um laboratório químico, um gabinete de física, um laboratório mecânico, um museu, e "''uma escola prática de telegrafia e laboratório eletrotécnico''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 17:338.</ref>. O plano de organização deixava também aberta a possibilidade de se constituírem "''pequenas oficinas que a experiência demonstrar serem necessárias para o ensino prático dos alunos''"<ref>Ribeiro, 17:339.</ref>.


==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: "''1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador;  1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico''"<ref>Ribeiro, 7:348.</ref>.
A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: "''1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador;  1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico''"<ref>Ribeiro, 7:348.</ref>.


Pela reforma de 1869 os cursos ministrados no Instituto Industrial do Porto eram os mesmos que no de Lisboa, à excepção do curso especial de comércio, e aos cursos de condutor de minas e mestre mineiro que faziam parte da oferta de ensino industrial portuense<ref>Ribeiro, 12:172.</ref>. Os cursos afetos à área do comércio seriam integrados no plano de estudos do Instituto Industrial do Porto a partir de 1886, a saber, curso elementar ou preparatório, curso superior e cursos especiais de comércio<ref>Ribeiro, 17:333.</ref>. A partir de então, equiparando-se a oferta curricular do Porto com a do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, o quadro de cadeiras passou a ser comum às duas instituições, com algumas excepções no caso da segunda, totalizando, no caso portuense, as 25 cadeiras.
Pela reforma de 1869 os cursos ministrados no Instituto Industrial do Porto eram os mesmos que no de Lisboa, à excepção do curso especial de comércio, e aos cursos de condutor de minas e mestre mineiro que faziam parte da oferta de ensino industrial portuense<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:172.</ref>. Os cursos afetos à área do comércio seriam integrados no plano de estudos do Instituto Industrial do Porto a partir de 1886, a saber, curso elementar ou preparatório, curso superior e cursos especiais de comércio<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 17:333.</ref>. A partir de então, equiparando-se a oferta curricular do Porto com a do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, o quadro de cadeiras passou a ser comum às duas instituições, com algumas excepções no caso da segunda, totalizando, no caso portuense, as 25 cadeiras.


Desta feita igualmente a oferta de cursos era idêntica a ambas as instituições, compondo-se de cursos industriais elementares, para operários de diferentes ofícios e artes; cursos preparatórios para acesso aos cursos industriais especiais ou ao curso superior de comércio; os cursos especiais de "''condutores de obras públicas; condutores de minas; desenhadores; diretores de fábricas; construtores de máquinas e de instrumentos de precisão; correios e telégrafos; e quaisquer outros que o governo julgue conveniente criar''"<ref>Ribeiro, 17:335.</ref> <ref>A distribuição das cadeiras pelos respectivos cursos a que estavam afetas pode ser consultada em Ribeiro, 17:402-411.</ref>. A estes acresciam ainda o curso superior de comércio, curso especial de verificadores de alfandega e o curso especial de cônsules<ref>Ribeiro, 17:336.</ref>.  
Desta feita igualmente a oferta de cursos era idêntica a ambas as instituições, compondo-se de cursos industriais elementares, para operários de diferentes ofícios e artes; cursos preparatórios para acesso aos cursos industriais especiais ou ao curso superior de comércio; os cursos especiais de "''condutores de obras públicas; condutores de minas; desenhadores; diretores de fábricas; construtores de máquinas e de instrumentos de precisão; correios e telégrafos; e quaisquer outros que o governo julgue conveniente criar''"<ref>Ribeiro, 17:335.</ref> <ref>A distribuição das cadeiras pelos respectivos cursos a que estavam afetas pode ser consultada em Ribeiro, 17:402-411.</ref>. A estes acresciam ainda o curso superior de comércio, curso especial de verificadores de alfandega e o curso especial de cônsules<ref>Ribeiro, 17:336.</ref>.  


Os alunos eram incumbidos de trabalhos físicos nas oficinas quando tivessem concluído as duas primeiras cadeiras respeitantes ao grau elementar da instrução industrial<ref>Ribeiro, 7:350.</ref>.
Os alunos eram incumbidos de trabalhos físicos nas oficinas quando tivessem concluído as duas primeiras cadeiras respeitantes ao grau elementar da instrução industrial<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 7:350.</ref>.


{| class="wikitable"
{| class="wikitable"
Linha 126: Linha 126:
|"''Noções elementares de física e química''"<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>.
|"''Noções elementares de física e química''"<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>.
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|
|Professor proprietário, em 4 de Agosto de 1853: José de Parada e Silva Leitão<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.
|Professor proprietário, em 4 de Agosto de 1853: José de Parada e Silva Leitão<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:167.</ref>.
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|Quinta
|Quinta
cadeira
cadeira
|"''Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte''"<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>''.''
|"''Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 7:347.</ref>''.''
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Linha 145: Linha 145:
|"''Química aplicada ás artes''"<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>.
|"''Química aplicada ás artes''"<ref>Ribeiro, 7:347.</ref>.
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|
|Professor proprietário, em 10 de Maio de 1853: Sebastião Betâmio de Almeida<ref>Ribeiro, 12:167.</ref>.
|Professor proprietário, em 10 de Maio de 1853: Sebastião Betâmio de Almeida<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 12:167.</ref>.
|}
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Linha 160: Linha 160:
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|Primeira cadeira
|Primeira cadeira
|"''Rudimentos de matemática''"<ref name=":0">Ribeiro, 17:334.</ref>.
|"''Rudimentos de matemática''"<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 17:334.</ref>
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Linha 166: Linha 166:
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|Segunda cadeira
|Segunda cadeira
|"''Rudimentos de física, de química, e de eletrotecnia''"<ref name=":0" />.
|"''Rudimentos de física, de química, e de eletrotecnia''"<ref name=":0">Ribeiro, 17:334.</ref>.
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Linha 318: Linha 318:
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia''. Vol. 12. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1884[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia''. Vol. 12. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1884[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]


Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia''. Vol. 13. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1885[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia''. Vol. 17. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1892[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia''. Vol. 17. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1892[https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/records/item/70034-redirection .]



Revisão das 16h12min de 14 de outubro de 2022


Escola Industrial do Porto
(EIP, IIP, IICP)
Outras denominações Escola Industrial Portuense, Instituto Industrial do Porto, Instituto Industrial e Comercial do Porto
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 30 dezembro 1852
Data de extinção 5 dezembro 1918
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Palácio da Bolsa, Porto,-
Início: 1852
Fim: 1861

Localização Colégio de Nossa Senhora da Graça dos Meninos Órfãos, Porto,-
Início: 1861
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Instituto Superior de Comércio do Porto


História

Palácio da Bolsa, Endereço: R. de Ferreira Borges, 4050-253 Porto


A Escola Industrial do Porto foi criada por decreto de 30 de Setembro de 1852, no contexto da ditadura do Duque de Saldanha, uma vez encerrado o parlamento. A autoria de António Fontes Pereira de Melo, Rodrigo da Fonseca Magalhães e Jervis de Atouguia[1], figuras distintas que marcaram a segunda metade do século XIX português, enquadram a fundação desta Escola no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período inicial de vigência do movimento da Regeneração e, mais particularmente, do designado período do Fontismo. O mesmo sucederia em Lisboa com a criação do Instituto Industrial de Lisboa, estabelecido pelo mesmo decreto[2]. A mais, no final do ano de 1852, na vertente agrícola observou-se também a fundação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, incumbidos da instrução agrícola e agronómica, técnica e científica, de grau médio e superior.

Na perspectiva dos regeneradores, enquadrados no modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português teria obrigatoriamente que respeitar duas condições essenciais, a saber, a instrução, ou "educação profissional", e o desenvolvimento de uma "viação rápida e barata"[3]. Este entendimento explica que, por iniciativa do Estado e no âmbito das suas obras, findo o período de três anos desde a fundação do ensino industrial, se exigisse aos operários a apresentação da carta de curso correspondente à sua profissionalização, não podendo ser admitidos sem a mesmas[4]. Ainda assim, observe-se a nota de Silvestre Ribeiro: "Esta disposição era excelente, e fundada em boa razão; mas é certo que nunca se cumpriu"[5]. O incumprimento poderá ser explicado considerando as dificuldades práticas que se deram nas primeiras contratação dos quadros docentes e auxiliares no Instituto Industrial de Lisboa[6].

A instrução industrial era organizada em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente[7]. Não obstante, nos primeiros anos de funcionamento do Instituto os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente em Lisboa[8].

A inauguração das aulas da Escola Industrial apenas foi possível realizar-se na "aula de física da Academia Politécnica", já no ano letivo de 1854-1855, possivelmente, devido a dificuldades no preenchimento do corpo docente uma vez que os primeiros professores apenas começaram a ser colocados nos lugares a partir de 1853[9].

Simultaneamente, faltava ainda proceder ao acondicionamento das aulas para o qual se tornava necessário intervir no edifício da Academia Politécnica do Porto. Enquanto a intervenção não foi terminada contratou-se uma instalação alternativa com a Associação Industrial do Porto, com sede no Palácio da Bolsa, "a fim de que nas suas aulas se pudessem professar os cursos livres da escola"[10]. Inaugurados naquelas instalações em 1 de Março de 1854, os cursos livres surgiam como alternativa à normal realização dos cursos regulares[11]. Estes foram inauguradas no ano lectivo seguinte, conhecendo os cursos livres uma duração de três meses[12].

Uma vez instalada no edifício da Academia Politécnica do Porto, em data não especificada por Silvestre Ribeiro, onde, igualmente, se encontrava o Colégio dos Meninos Órfãos, o diretor da Escola Industrial representou ao poder municipal no sentido de ser estabelecida a condição de internato para que aqueles jovens, frequentando as aulas da Escola, se habilitassem "para exercer profissões adequadas às suas peculiares circunstâncias". Em 1861, o Governador Civil do Porto era ordenado a reunir as condições para a concretização daquela proposta[13]. Adotamos esta data como certa para o estabelecimento da Escola Industrial no edifício da Academia Politécnica, apesar de José Silvestre Ribeiro mencionar a criação, em 1864, de uma comissão para um plano definitivo nas obras daquele edifício, e uma vez que não menciona uma data exata para esta transferência.

Conquanto, em 1855, a conclusão sobre o aproveitamento e utilidade da Escola fosse positiva tendo "produzido já mais vantagens do que poderia esperar-se em tão pouco tempo de existência", o diretor interino não deixava de instar junto dos poderes públicos sobre a necessidade de se reorganizar o seu ensino colocando fim ao "estado de organização incompleta" em que a instituição havia, até então, existido. Em particular, mencionava-se um quadro de cadeiras incompleto e, por isso, incompatível com os cursos que legalmente a Escola podia ministrar, faltando a "criação de aulas (...) nomeadamente, a de mecânica industrial, sem a qual um grande número de cursos industriais dos mais importantes ficavam incompletos"[14].

Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática[15].

Em 1864, procedia-se à reforma do Instituto Industrial de Lisboa e à reorganização da Escola Industrial do Porto, que passava a designar-se Instituto Industrial do Porto, por decreto de 20 de Dezembro[16]. O ensino ministrado em ambos os Institutos era situado pela reforma nos graus elementar e secundário, limitando-o "ao ensino técnico geral" e à instrução para as "diversas profissões industriais, e habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros"[17].

A reforma de 1869, datada de 30 de Dezembro, equiparava os planos de estudo de ambos os institutos, ainda que, no caso do portuense, na sétima cadeira, dedicada a "assuntos comerciais", fossem ministradas as disciplinas de "arte de minas, docimasia e metalurgia"[18].

A reforma de 30 de Dezembro de 1886 reorganizou o sistema de instrução industrial e comercial e dotou o Instituto de nova designação, Instituto Industrial e Comercial do Porto, à semelhança da adotada pela instituição lisbonense[19]. A organização do ensino industrial, aplicável ao ensino comercial, manteve-se dividida em três graus, a saber, elementar, preparatório e especial (ou superior no caso do curso comercial), sendo todos ministrados pelos Institutos Industriais e Comerciais[20]. Em 3 de Fevereiro de 1888 era publicado o respectivo Regulamento[21].

Outras informações

Podiam admitir-se às matrículas nos cursos providos pelo Instituto os alunos com uma idade mínima de 12 anos, as faculdades de ler, escrever e contar e boa saúde. A frequência das aulas podia ser realizada segundo três regimes, a saber, ordinários, que seguiam o curso pela ordem estabelecida; os voluntários, que não seguiam o curso pela ordem estabelecida; e os alunos ouvintes registados, que frequentassem determinadas cadeiras[22].

No ano letivo de 1854-1855 registaram-se 488 matrículas nos diferentes regimes de frequência dos alunos[23]. Entre a inauguração das suas aulas e o ano letivo de 1861-1862, verificou-se um aumento progressivo e estável quer do número de matrículas, quer a frequência das aulas, alcançando naquela última data 1151 matrículas e 718 alunos a frequentarem as aulas[24].

O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direção composta de um diretor-lente e do Conselho escolar[25]. O Conselho escolar subdividia-se no Conselho da escola, no Conselho tecnológico e no Conselho fiscal[26]. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas[27].

A vertente prática do ensino ministrado no Instituto Industrial era assegurada por oficinas anexas, nomeadamente, de forjar; de fundir e moldar; de serrilharia e ajustamento; de tornear e modelar; e de manipulações químicas.[28] Refere José Silvestre Ribeiro que estava proposto estabelecerem-se estas oficinas nos arsenais do estado[29]. Não sendo certo o seu estabelecimento prático, em 1854, já haviam sido efetivamente organizadas "algumas oficinas". Ainda assim, a sua concretização prática seria objeto de reclamação em 1855, arguindo-se pela existência à altura de "alunos habilitados, segundo a lei, para nelas se empregarem e terem exercício"[30]. Independentemente das oficinas criadas, em 1860 o governo dava ordem de encerramento para todos esses estabelecimentos com excepção da oficina de instrumentos de precisão dado não haver estabelecimento semelhante no país[31]. O ensino prático podia ainda ser complementado com o trabalho dos alunos em oficinas de fábricas portuenses com as quais o governo poderia estabelecer contrato[32].

Segundo a reforma de 1886, junto dos Institutos Industriais e Comerciais deveriam achar-se estabelecidos uma biblioteca, um laboratório químico, um gabinete de física, um laboratório mecânico, um museu, e "uma escola prática de telegrafia e laboratório eletrotécnico"[33]. O plano de organização deixava também aberta a possibilidade de se constituírem "pequenas oficinas que a experiência demonstrar serem necessárias para o ensino prático dos alunos"[34].

Professores

Curricula

O plano de estudos inicial da Escola Industrial do Porto contemplava os dois primeiros níveis de instrução técnica industrial, acrescendo uma cadeira do "ensino complementar", a sétima, dedicada à disciplina de "química aplicada às artes"[35]. O ensino era ministrado em regime nocturno[36]. Comparativamente ao Instituto Industrial de Lisboa este plano apresenta-se mais exímio encontrando-se omissas duas cadeiras, a oitava, relativa à "Economia e legislação industrial" e a nona cadeira de "Desenho de modelos e máquinas". Estas cadeiras eram conducentes aos cursos de diretor mecânico e diretor químico, cujas cartas de curso, em consequência, a Escola não podia passar, ao contrário do Instituto Industrial de Lisboa[37].

A Escola Industrial do Porto passava as cartas de curso, consoante a frequência nas seguintes cadeiras: "1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador; 1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; e 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico"[38].

Pela reforma de 1869 os cursos ministrados no Instituto Industrial do Porto eram os mesmos que no de Lisboa, à excepção do curso especial de comércio, e aos cursos de condutor de minas e mestre mineiro que faziam parte da oferta de ensino industrial portuense[39]. Os cursos afetos à área do comércio seriam integrados no plano de estudos do Instituto Industrial do Porto a partir de 1886, a saber, curso elementar ou preparatório, curso superior e cursos especiais de comércio[40]. A partir de então, equiparando-se a oferta curricular do Porto com a do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, o quadro de cadeiras passou a ser comum às duas instituições, com algumas excepções no caso da segunda, totalizando, no caso portuense, as 25 cadeiras.

Desta feita igualmente a oferta de cursos era idêntica a ambas as instituições, compondo-se de cursos industriais elementares, para operários de diferentes ofícios e artes; cursos preparatórios para acesso aos cursos industriais especiais ou ao curso superior de comércio; os cursos especiais de "condutores de obras públicas; condutores de minas; desenhadores; diretores de fábricas; construtores de máquinas e de instrumentos de precisão; correios e telégrafos; e quaisquer outros que o governo julgue conveniente criar"[41] [42]. A estes acresciam ainda o curso superior de comércio, curso especial de verificadores de alfandega e o curso especial de cônsules[43].

Os alunos eram incumbidos de trabalhos físicos nas oficinas quando tivessem concluído as duas primeiras cadeiras respeitantes ao grau elementar da instrução industrial[44].

1852-
Graus de ensino Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Ensino

Elementar

Primeira cadeira "Aritmética elementar; primeiras noções de álgebra; geometria elementar"[45].
Segunda

cadeira

"Desenho linear e de ornatos industriais"[46].
Ensino

Secundário

Terceira cadeira "Elementos de geometria descritiva aplicada às artes"[47].
Quarta

cadeira

"Noções elementares de física e química"[48]. Professor proprietário, em 4 de Agosto de 1853: José de Parada e Silva Leitão[49].
Quinta

cadeira

"Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte"[50].
Ensino Complementar Sexta

cadeira

"Mecânica industrial"[51].
Sétima

cadeira

"Química aplicada ás artes"[52]. Professor proprietário, em 10 de Maio de 1853: Sebastião Betâmio de Almeida[53].


1886
Anos Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Primeira cadeira "Rudimentos de matemática"[54]
Segunda cadeira "Rudimentos de física, de química, e de eletrotecnia"[55].
Terceira cadeira "Rudimentos de mecânica"[55].
Quarta cadeira "Aritmética, álgebra e geometria sintética"[55].
Quinta cadeira "Geometria descritiva, estereotomia, e topografia"[55].
Sexta cadeira "Trigonometria plana, princípios de geometria analítica, de álgebra superior e de calculo infinitesimal"[55].
Sétima cadeira "Física geral e suas aplicações à indústria"[55].
Oitava cadeira "Eletrotecnia. Telegrafia e outras applicações da eletricidade"[55].
Nona cadeira "Química mineral e orgânica"[55].
Décima cadeira "Tecnologia química (cerâmica, tinturaria, estamparia e outras aplicações da química); matérias primas de origem mineral e suas transformações; caracteres físicos e químicos dessas mercadorias, seu valor comercial, suas falsificações e meios práticos de as reconhecer"[55].
Décima primeira cadeira "Zoologia e botânica elementares e higiene das industrias"[55].
Décima segunda cadeira "Mecânica geral e sua aplicação às máquinas"[55].
Décima terceira cadeira "Materiais de construção. Processos geraes de construção. Resistência de materiais e estabilidade de construções"[55].
Décima quarta cadeira "Estradas. Caminhos de ferro. Rios e canais. Portos"[55].
Décima quinta cadeira "Mineralogia e geologia"[55].
Décima sexta cadeira "Arte de minas e metalurgia"[55].
Décima sétima cadeira "Desenho linear, de figura, ornato, paisagem do natural e modelação"[55].
Décima oitava cadeira "Desenho de máquinas, construção de peças elementares e respectiva tecnologia"[55].
Décima nona cadeira "Desenho arquitetónico e topográfico. Cortes e plantas de minas"[56].
Vigésima cadeira "Geografia geral, historia elementar e geografia comercial"[56].
Vigésima primeira cadeira "Economia politica, princípios de direito administrativo e legislação industrial"[56].
Vigésima segunda cadeira "Contabilidade geral e operações comerciais"[56].
Vigésima terceira cadeira Língua francesa[56].
Vigésima quarta cadeira Língua inglesa[56].
Vigésima quinta cadeira Língua alemã[56].

Notas

  1. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:379.
  2. Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório para ambos as instituições, datado de 1853, Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:106.
  3. Ribeiro, 7:346.
  4. Ribeiro, 7:381.
  5. Ribeiro, 7:381.
  6. Ribeiro, 7:352.
  7. Ribeiro, 7:347-348.
  8. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:168.
  9. Ribeiro, 12:167.
  10. Ribeiro, 12:168.
  11. Ribeiro, 12:168.
  12. Ribeiro, 12:169.
  13. Ribeiro, 12:171.
  14. Ribeiro, 12:170.
  15. Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:241-242.
  16. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:172.
  17. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:244.
  18. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:172.
  19. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:332.
  20. Ribeiro, 17:333.
  21. Ribeiro, 17:514.
  22. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:350.
  23. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:169.
  24. Ribeiro, 12:172.
  25. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:105.
  26. Ribeiro, 7:354.
  27. Ribeiro, 7:350.
  28. Ribeiro, 7:347.
  29. Ribeiro, 7:348-349.
  30. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:170.
  31. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:357.
  32. Ribeiro, 7:105.
  33. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:338.
  34. Ribeiro, 17:339.
  35. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:105.
  36. Ribeiro, 7:351.
  37. Ribeiro, 7:348.
  38. Ribeiro, 7:348.
  39. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:172.
  40. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:333.
  41. Ribeiro, 17:335.
  42. A distribuição das cadeiras pelos respectivos cursos a que estavam afetas pode ser consultada em Ribeiro, 17:402-411.
  43. Ribeiro, 17:336.
  44. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:350.
  45. Ribeiro, 7:347.
  46. Ribeiro, 7:347.
  47. Ribeiro, 7:347.
  48. Ribeiro, 7:347.
  49. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:167.
  50. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:347.
  51. Ribeiro, 7:347.
  52. Ribeiro, 7:347.
  53. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:167.
  54. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:334.
  55. 55,00 55,01 55,02 55,03 55,04 55,05 55,06 55,07 55,08 55,09 55,10 55,11 55,12 55,13 55,14 55,15 55,16 Ribeiro, 17:334.
  56. 56,0 56,1 56,2 56,3 56,4 56,5 56,6 Ribeiro, 17:335.

Fontes

Bibliografia

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 3. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1873.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878. Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 12. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1884.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 13. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1885. Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 17. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1892.

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