Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão: diferenças entre revisões

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De Stafford é de referir as suas incursões à ''Optica'' euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de D. Francisco de Melo (1490-1536)<ref>''Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis'' (1514 e 1517), [https://purl.pt/23706 BN COD. 2262], é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva. </ref>, detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em ''Varias obras mathematicas'' (1638)<ref>''Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre'' (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: ''Arithmetica practica geometrica logarithmica'' (p. 1-277); ''Dimension de figuras planas, y solidas'' (p. 279-319); ''La Optica'' (p. 321-348); ''Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes'' (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); ''Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos'' (p. 405-432); ''Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos'' (p. 435-452); ''La Architectura militar'' (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de ''Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês'' ([https://purl.pt/29382 BN COD. 4323]).</ref>, da qual se destaca a exposição da ''Dimension de Figuras Planas, y Solidas'' e os capítulos referentes à ''Optica'' ao ''Tratado da Milicia'' e à ''La Architectura Militar'', evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão<ref>Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O ''Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640'' (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110. </ref> que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.
De Stafford é de referir as suas incursões à ''Optica'' euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de D. Francisco de Melo (1490-1536)<ref>''Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis'' (1514 e 1517), [https://purl.pt/23706 BN COD. 2262], é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva. </ref>, detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em ''Varias obras mathematicas'' (1638)<ref>''Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre'' (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: ''Arithmetica practica geometrica logarithmica'' (p. 1-277); ''Dimension de figuras planas, y solidas'' (p. 279-319); ''La Optica'' (p. 321-348); ''Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes'' (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); ''Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos'' (p. 405-432); ''Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos'' (p. 435-452); ''La Architectura militar'' (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de ''Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês'' ([https://purl.pt/29382 BN COD. 4323]).</ref>, da qual se destaca a exposição da ''Dimension de Figuras Planas, y Solidas'' e os capítulos referentes à ''Optica'' ao ''Tratado da Milicia'' e à ''La Architectura Militar'', evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão<ref>Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O ''Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640'' (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110. </ref> que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.
A restauração da independência portuguesa em 1640 implica uma adaptação dos programas da ''Aula''<ref>Até então os cursos eram essencialmente de cosmografia, navegação e geografia, incluindo todos os aspectos práticos na construção e operação de instrumentos náuticos e astronómicos. Henrique Leitão, “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759”, 229-247.</ref>, em função das necessidades militares da guerra com Espanha, pelo que os matemáticos jesuítas acumulavam funções com a superintendência de fortificações, dada a carência de um quadro técnico qualificado para responder às necessidades da guerra. Assim, em meados do século XVII a Aula da Esfera compreendia disciplinas que iam da cosmografia, astronomia à geometria baseada no estudo de Euclides (''Elementos'') à Aritmética, Álgebra, Trigonometria plana e esférica, Náutica e temas vários aplicados à navegação, Hidrografia e Cartografia, Ótica, Perspetiva e Cenografia, Gnomónica, construção de instrumentos científicos e máquinas, Estática e Hidrostática, Arquitetura e Engenharia Militar e assuntos afins (pirotecnia, balística, etc.). Porém, assiste-se a um assinalável declínio do ensino das matemáticas na segunda metade do século XVII o que “(…) comprometeu a implantação da disciplina e a manutenção do seu estatuto epistemológico.”<ref>Bernardo Mota, ''O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII'', 271. De acordo com o autor “Os catálogos não assinalam qualquer professor nos anos 46/8, 49/51, 52/54, 63/64, 65/68. Desse ano em diante, o ensino da disciplina foi assegurado por Jorge Gelarte até 1700, mas este docente possuía, ao que parece, competência matemática insuficiente.” </ref> Nesta linha Baldini (2004) refere que a educação jesuítica, anterior a 1700, peca por alguns atalhos excluindo níveis avançados de reflexão e especulação científica<ref>Dos textos produzidos entre 1640/92, Ugo Baldini evidencia as seguintes matérias: a esfera (astronomia elementar) 4; ciência náutica 3; geografia 1; estatística 1; gnomónica 1; trigonometria 1; uso do pantómetro 1; astrologia 1 (apesar da proibição interna na Companhia relativa ao seu ensino). Do elenco anterior verifica-se uma total ausência de geometria avançada (que de facto parece confinada à Aula de Fortificação), álgebra e geometria analítica (que encontramos igualmente, no seu âmbito mais prático, na Aula de Fortificação).</ref>.


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Revisão das 17h44min de 10 de outubro de 2022


Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão
(valor desconhecido)
Outras denominações valor desconhecido
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 18 outubro 1590
Data de extinção 1759
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Mosteiro de Santo Antão-o-Velho, Lisboa,-
Início: 1590
Fim: 1593

Localização Colégio de Santo Antão-o-Novo, Lisboa,-
Início: 1593
Fim: 1759
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

Dos finais do século XVI a meados do século XVIII a Aula da Esfera do Colégio Santo Antão evidencia-se como a mais importante instituição de ensino e prática científica em Portugal, assegurando de modo contínuo o ensino de disciplinas físico-matemáticas em resposta às necessidades de formação de um corpo tecnocientífico de suporte às exigências do império ultramarino. O nome da “Aula”, terá origem nos tratados de cosmografia medievais, denominados de tratados da esfera, como a obra de Sacrobosco, evidenciando de imediato a sua missão e principais conteúdos formativos[1]. Ainda que haja notícia de que a Esfera foi lecionada desde o início nos colégios de Coimbra (1542), Évora (1550 e convertido em universidade em 1559) e Lisboa (1553), é difícil avaliar a sua efetiva continuidade na segunda metade do século XVI, em muito devido ao impasse acerca do valor epistemológico da matemática e geometria[2]. Contudo, e uma vez que o ensino destas ciências passa a integrar o Ratio Studiorum (1599), pela influência de Cristovão Clávio e do Collegium Romano, a Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão emerge como exceção no panorama português.

Se fundação do colégio de Santo Antão remonta ao ano de 1553, e embora em 1555 o padre Francisco Rodrigues ministre já conteúdos introdutórios da cosmografia e astronomia, o ensino regular e estruturado das matérias matemáticas só se estabelece em 1590. Uma data próxima à da transferência da instituição do Colégio de Santo Antão-o-Velho (Mouraria, Lisboa), para uma nova e ambiciosa sede o Colégio de Santo Antão-o-Novo (Santana, Lisboa).

A Companhia de Jesus estabelece-se em Portugal no ano de 1540, o mesmo ano da sua fundação em Roma, com a chegada dos Padres Simão Rodrigues e Francisco Xavier. Instalando-se na casa de Santo Antão, o edifício, denominado de “Coleginho”, fora erguido no local da antiga mesquita maior da Mouraria entretanto extinta e transformada no reinado de D. Manuel I em convento. Uma casa que passa pela mão de diferentes comunidades religiosas, como as freiras terceiras franciscanas, freiras dominicanas e cónegos regulares, sendo no ano de 1542, entregue por D. João III à Companhia de Jesus, que aí se instala[3]. Porém, aquando da transferência dos jesuítas para a sua nova casa, o edifício passa para a mãos dos Ermitas de Santo Agostinho que aí permanecem até à extinção das ordens religiosas.

A nova casa inaciana, o Colégio de Santo Antão-o-Novo, associa-se à figura do Cardeal D. Henrique[4] que, em 1573, assegurou da parte de D. Sebastião uma generosa renda perpétua, permitindo suportar a empresa da nova construção cuja primeira pedra é lançada a 11 de maio de 1579.

Porém, ao apoio real, o Cardeal D. Henrique impunha contrapartidas ao nível da abertura do ensino e formação técnica que estão na origem da Aula da Esfera. Conforme identificou Leitão, através de carta do Pe. Serrão ao Geral da Companhia em Roma, Everardo Mercuriano, datada de 6 de Dezembro de 1573, é explicita a condição de  “…que se acrecentassen las classes de latim que fuessen necessarias, que serian hasta una o dos, y que se leyesse una leccion de mathematica, y un curso de artes de tres en tres anos”[5].

Os planos estratégicos para o ensino jesuítico foram aqui ajustados às circunstâncias nacionais, de acordo com o pedido régio do Cardeal D. Henrique, conduzindo à integração na instituição dos cursos de formação dos pilotos da marinha, de teóricos e especialistas em náutica e cartografia em paralelo à preparação de missionários com destino às colónias. Uma abertura continuada por Filipe I, assistindo à Aula um público mais vasto do que apenas os escolásticos-estudantes da ordem[6]

Este ajuste da regra pedagógica conduz a uma abordagem das ciências tendencialmente aplicada, afastando-se de conteúdos mais afeitos à especulação filosófica, e à ministração das aulas em vulgar, em vez do Latim, colmatando-se a ausência das ciências matemáticas ao nível da universidade[7]. Segundo Baldini o programa de Santo Antão estabelece-se como uma mistura do programa matemático do Ratio Studiorum e elementos do conhecimento geográfico e técnicos náuticos Lusitanos[8].

No panorama dos colégios da Companhia a “Aula da Esfera” é também única pela filiação institucional com a Academia de Clávio no Collegium Romano, sendo que até 1620 as matemáticas foram asseguradas por professores aí formados permitindo a atualização dos curricula ministrados[9] e um elevado nível de formação[10]. A instituição assumia-se como centro cosmopolita, no ensino científico português, dado o número de docentes estrangeiros que aqui desempenhavam funções. Deste período poderemos mencionar a presença de mestres como Christoph Grienberg (1564-1604)[11], que desenvolve o cálculo de massas aplicado à escala dos planetas, Cristoforo Borri (1583-1632), que atualiza as ideias cosmológicas no Portugal de seiscentos, Giovanni Paolo Lembo (1570-1618), que introduz o conhecimento sobre os telescópios sendo um dos subscritores que confirmou às autoridades eclesiásticas a justeza das observações de Galileu, ou Chrysostomus Gall (1586-1643) a par dos mais destacados mestres portugueses como João Delgado (1553-1662)[12], do qual nos chega o manuscrito Astrologia Pratica, ou iudiciaria (1607), e Francisco da Costa (1567-1604), o qual substitui Delgado na cátedra de matemática e elabora um Tratado de Geografia (1595).

De 1630 a 1636 ensina na Aula de Santo Antão o inglês Inácio Stafford (1599-1642) que elabora o Tratado da naturesa e uso das paralaxes (1633), os Elementos matemáticos (1634) em castelhano, que se supõem serem textos da sua lição, a par de Los usos del Pantometra (c.1638) e Varias obras Mathematicas (1638)[13]. Também do curso do Padre Simon Fallon (c.1604-1642)[14] conhecem-se duas sebentas, sendo que a primeira, Matérias matemáticas nas quais se contem astronometria, astrologia e outrometria (c. 1638)[15], relativa às lições de astronomia e agrimensura, se inicia com uma breve digressão pelos princípios gerais da geometria euclidiana.

De Stafford é de referir as suas incursões à Optica euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de D. Francisco de Melo (1490-1536)[16], detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em Varias obras mathematicas (1638)[17], da qual se destaca a exposição da Dimension de Figuras Planas, y Solidas e os capítulos referentes à Optica ao Tratado da Milicia e à La Architectura Militar, evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão[18] que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.

A restauração da independência portuguesa em 1640 implica uma adaptação dos programas da Aula[19], em função das necessidades militares da guerra com Espanha, pelo que os matemáticos jesuítas acumulavam funções com a superintendência de fortificações, dada a carência de um quadro técnico qualificado para responder às necessidades da guerra. Assim, em meados do século XVII a Aula da Esfera compreendia disciplinas que iam da cosmografia, astronomia à geometria baseada no estudo de Euclides (Elementos) à Aritmética, Álgebra, Trigonometria plana e esférica, Náutica e temas vários aplicados à navegação, Hidrografia e Cartografia, Ótica, Perspetiva e Cenografia, Gnomónica, construção de instrumentos científicos e máquinas, Estática e Hidrostática, Arquitetura e Engenharia Militar e assuntos afins (pirotecnia, balística, etc.). Porém, assiste-se a um assinalável declínio do ensino das matemáticas na segunda metade do século XVII o que “(…) comprometeu a implantação da disciplina e a manutenção do seu estatuto epistemológico.”[20] Nesta linha Baldini (2004) refere que a educação jesuítica, anterior a 1700, peca por alguns atalhos excluindo níveis avançados de reflexão e especulação científica[21].



Outras informações

Professores

A presente listagem de professores da “Aula da Esfera” corresponde à relação publicada por Ugo Baldini, L’insegnamento della matematica nel Collegio di S. Antão a Lisbona, 1590-1640 (1997), e The teaching of mathematics in the Jesuit colleges of Portugal from 1640 to Pombal (2000), também aplicada como orientação na investigação e publicações organizadas por Henrique Leitão (2007).

1590-93 João Delgado 1595-97 João Delgado

1597-98 António Leitão

1598-99 João Delgado

1599-1602 Cristoph Grienberger

1602-04 Francisco da Costa

1604-05 Francisco Machado

1605-08 João Delgado

1610-14 Sebastião Dias

1615-17 G. Paolo Lembo

1617-19 Dionísio Lopes

1620-25 J. Chrysostomus Gall

1627-28 Cristoforo Borri

1630-36 Ignace Stafford

1638-41 Simon Fallon

1641-42 Jan Cierman

1642-46 Hendrick Uwens

1648-49 Thomas Barton

1651-52 John Riston

1654-55 João da Costa

1655-58 Bartolomeu Duarte

1658-63 Valentin Stansel

1664-65 John Marques

1668-85 George Gelarte

1686-87 F. X. Schildenhofen

1689-90 F. X. Schildenhofen

1692-93 George Gelarte

1695-1700 George Gelarte

1700-06 Luís Gonzaga

1706-07 João Garção

1707-08 Jerónimo de Carvalhal

1708-11 Inácio Vieira

1709-19 Inácio Vieira

1719-21 Manuel de Campos

1721-22 Diogo Soares

1724-25 Domingos Pinheiro

1725-31 Jacinto da Costa

1733-42 Manuel de Campos

1742-43 Francisco Gião

1743-48 João de Borja

1748-51 Tomás de Campos

1753-59 Eusébio da Veiga

Curricula

Notas

  1. Luís de Albuquerque. A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972), 8.
  2. Henrique Leitão, A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759. (Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007), 30.
  3. Esta relação com a coroa, surge no encalce da reforma cultural promovida por D. João III, a qual se estende da Aula do Paço à Universidade (transferida definitivamente para Coimbra em 1537), e à criação de estudos introdutórios como o Colégio das Artes (1547), e abertura do Colégio de Jesus de Coimbra (1542) e posterior tutela do Colégio das Artes pelos Jesuítas (1555).
  4. Para Leitão (A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759, 94-95), é determinante resgatar o papel do cardeal D. Henrique na fundação da Aula da Esfera já que a historiografia tendeu, até muito recentemente, a vincular a origem da “Aula da Esfera” apenas ao Rei D. Sebastião.
  5. Leitão, A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759, 32.
  6. “A importância desta «Aula» está patente no facto de ter sido frequentada por um enorme número de alunos não jesuítas, o que lhe permite maior interferência no tecido social português. (…) A ‘Aula de Esfera’ marca, portanto, o momento em que a Província portuguesa da Companhia de Jesus se adaptou institucionalmente para o ensino da matemática, que legitimou e colocou ao dispor da sociedade laica.” Mota, Bernardo. O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII (PhD thesis, 2008), 205. A regra sobre a qual os colégios deveriam funcionar exclusivamente como lares de escolásticos-estudantes foi sancionada por bula fundacional regimini militantis ecclesiae de 27 de setembro de 1540. Porém, a conduta dos alunos externos à ordem é também regulada pelo Ratio, no qual se refere que a companhia os deveria sempre orientar no amor de Deus e todas as virtudes aperfeiçoando-os nas ars liberalis como aponta Allan Farrell. The Jesuit Ratio Studiorum of 1599 (Conference of major superiors of Jesuits, 1970), 101. Estes encontravam-se obrigados a uma confissão semanal, à frequência de instrução na doutrina cristã e, no ponto 14 do documento, era recomendada a não frequência de espetáculos públicos, comédias e execuções públicas de criminosos não devendo participar em representações teatrais fora da escola sem autorização dos seus professores ou perfeito de estudos. As representações teatrais desenvolvidas pelos jesuítas constituem uma área complementar da pedagogia Inaciana, pretendendo incutir os conhecimentos e valores requeridos aos seus alunos. Segundo Margarida Tavares Conceição (Da cidade e fortificação em textos portugueses. 1540-1640. (PhD thesis, 2008), 324), conservam-se relatos que atestam o recurso a este tipo de eventos já aquando da educação de D. Sebastião.
  7. “A ausência geral de uma tradição teórica nas ciências matemáticas a nível universitário é um traço essencial do fundo cultural prevalecente encontrado pelos jesuítas, levando um notável estudioso português a alegar que a universidade não desempenhou nenhum exemplo (...)” com isto o autor não rejeita o carácter pioneiro das obras de Pedro Nunes, mas a sua importância não chegou para criar uma tradição e manutenção desse nível de qualidade e exigência. Henrique Leitão “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759” (New York: Springer, 2002), 229-247.
  8. Ugo Baldini, “The teaching of Mathematics in the Jesuit Colleges of Portugal from 1640 to Pombal” (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2004), 343.
  9. Da atualização dos curricula ministrados o caso mais conhecido é o da introdução das observações por telescópio de Galileu (1610/11). Já em 1615/16 estas observações eram ensinadas por Giovan Paolo Lembo na Aula da Sphera, que discute as descobertas nas suas aulas foram sendo levadas a cabo observações deste género em Lisboa. Por outro lado, Cristoforo Borri publica em 1631, em Lisboa o seu Collecta Astronomica com informação detalhada sobre as descobertas de Galileu. Da actualidade dos curricula podemos referir o reconhecimento da obra de Simon Stevin por via do ensino matemático na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão. Margarida Tavares Conceição, Da cidade e fortificação em textos portugueses (1540-1640) (PhD thesis, 2008), 215.
  10. “A ligação entre a Academia de Matemática e Santo Antão não se restringe a uma cooperação a nível de recursos humanos mas assenta também numa especial ligação institucional. Uma vez que os missionários jesuítas só podiam alcançar a Ásia viajando em barcos portugueses, era permitido a estudantes vindo de Roma, enquanto esperavam pelo embarque, terminar o seu curso de teologia em Coimbra ou o seu curso de Matemática em Lisboa.” Mota, Bernardo. O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII (PhD thesis, 2008), 204.
  11. Um dos mais reputados matemáticos da Europa que haveria de suceder a Cristóvão Clávio na chefia da Academia de Matemática do Collegio Romano.
  12. João Delgado deu início formal ao curso de matemática da “Aula da Esfera” e, enquanto arquiteto, dirige as obras do Colégio das Artes em Coimbra a par das de Santo-Antão-o-Novo e do Noviciado da Cotovia em Lisboa.
  13. Deste texto, cujos conteúdos tratariam da geometria euclidiana, Francisco Rodrigues (1950) dá notícia de uma tradução manuscrita realizada por Brás de Almeida.
  14. O jesuíta Simon Fallon, ou Simão Falónio, deu aulas de matemática em Coimbra (1630-1633) e de matemática e astronomia na Aula da Sphera (1638-1640), tendo ainda desempenhado funções técnicas no âmbito da fortificação da península de Setúbal (Setúbal, Arrábida e Sesimbra).
  15. BN COD 2127
  16. Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis (1514 e 1517), BN COD. 2262, é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva.
  17. Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: Arithmetica practica geometrica logarithmica (p. 1-277); Dimension de figuras planas, y solidas (p. 279-319); La Optica (p. 321-348); Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos (p. 405-432); Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos (p. 435-452); La Architectura militar (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês (BN COD. 4323).
  18. Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640 (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110.
  19. Até então os cursos eram essencialmente de cosmografia, navegação e geografia, incluindo todos os aspectos práticos na construção e operação de instrumentos náuticos e astronómicos. Henrique Leitão, “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759”, 229-247.
  20. Bernardo Mota, O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII, 271. De acordo com o autor “Os catálogos não assinalam qualquer professor nos anos 46/8, 49/51, 52/54, 63/64, 65/68. Desse ano em diante, o ensino da disciplina foi assegurado por Jorge Gelarte até 1700, mas este docente possuía, ao que parece, competência matemática insuficiente.”
  21. Dos textos produzidos entre 1640/92, Ugo Baldini evidencia as seguintes matérias: a esfera (astronomia elementar) 4; ciência náutica 3; geografia 1; estatística 1; gnomónica 1; trigonometria 1; uso do pantómetro 1; astrologia 1 (apesar da proibição interna na Companhia relativa ao seu ensino). Do elenco anterior verifica-se uma total ausência de geometria avançada (que de facto parece confinada à Aula de Fortificação), álgebra e geometria analítica (que encontramos igualmente, no seu âmbito mais prático, na Aula de Fortificação).

Fontes

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Ligações Internas

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Categoria:Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão

Ligações Externas

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http://www.bnportugal.gov.pt/agenda/evento-sphaera-mundi.html

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https://www.publico.pt/2008/02/23/jornal/visita-guiada-ao-mundo-fan--tastico-da-aula-da-esfera-250432

https://www.rtp.pt/programa/tv/p31026/e9

Autor(es) do artigo

João Cabeleira

Lab2PT - Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-6800-8557

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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