Instituto Industrial de Lisboa

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Instituto Industrial de Lisboa
(IIL, IICL)
Outras denominações Instituto Industrial e Comercial de Lisboa
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 30 dezembro 1852
Data de extinção 23 maio 1911
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Instituto Industrial de Lisboa, Lisboa,-
Início: 30 de dezembro de 1852
Fim: 1911
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Instituto Superior Técnico, Instituto Superior de Comércio


História

O Instituto Industrial de Lisboa foi uma instituição de ensino industrial criada por decreto de 30 de Dezembro de 1852. A criação do ensino industrial público em Portugal enquadrou-se no impulso dado à instrução técnica, nos domínios agrícola e industrial, durante o período da Regeneração (1851-1868). Na perspectiva de regeneradores e liberais, como António Fontes Pereira de Melo ou Rodrigo da Fonseca Magalhães, e de acordo com o modelo de desenvolvimento liberal, o processo de industrialização português seria concretizado com base em duas condições essenciais, o desenvolvimento das vias de comunicação e a implementação do ensino técnico, ou seja, a difusão do conhecimento técnico de base científica. Sendo este último "verdadeiramente experimental e adequado às necessidades fabris" configuraria "o pré-requisito da criação de riqueza"[1] uma vez que permitiria aperfeiçoar a produção e reduzir o seu custo, contribuindo para a capacidade concorrencial dos produtos industriais portugueses no mercado europeu.

Apesar da importância dada à implementação do ensino industrial, a sua constituição esteve condicionada "às dificuldades financeiras" nacionais, as quais configuraram um "mecanismo desculpabilizador da estrutura pouco ambiciosa" implementada nas décadas seguintes. Nomeadamente a concentração inicial em Lisboa e no Porto e a incapacidade de generalizar a rede de ensino pelo restante território nacional até à década de 80 do século XIX[2]. Apenas nessa década se verificou um primeiro desenvolvimento efectivo dessa rede com a fundação de escolas industriais e de desenho industrial, sendo exemplo das últimas as escolas criadas em Coimbra e em Braga.

Em 1852, o ensino industrial era organizado em três graus - elementar, secundário e complementar - e baseado num único plano de estudos com nove cadeiras[3] ministrado em Lisboa e no Porto, onde era criada uma Escola Industrial[4]. À criação do ensino industrial correspondeu uma tentativa de profissionalização do mercado de trabalho industrial. Após três anos da criação ensino seria exigido aos operários, em funções nas obras públicas, a apresentação de carta de curso, não podendo ser admitidos sem as mesmas[5][6]. Segundo Silvestre Ribeiro, esta disposição não terá sido totalmente cumprida nas primeiras décadas[7], o que se explica pela lenta implementação do ensino industrial resultante quer do limitado financiamento disponível, quer da dificuldade na contratação dos primeiros quadros docentes e auxiliares, por exemplo, no Instituto Industrial de Lisboa[8].

Em 1858, a constituição de uma comissão de inquérito ao funcionamento do Instituto permite obter uma primeira avaliação dos primeiros seis anos de ensino. Esta não foi positiva concluindo sobre a incapacidade da instituição para formar quadros qualificados para as indústrias ao não ter verificado ter-se "fornecido à indústria particular operário algum com todas as habilitações científicas". Ainda assim, reconhecia-se que "muitos operários tinham podido receber ali instrução, que nunca lhes fora facilitada antes de existir esta escola"[9]. No ano seguinte, foi constituída nova comissão de inquérito com o objectivo de, entre outros, estudar a organização de novos cursos "de habilitação para vários serviços públicos a cargo do ministério das obras públicas, comércio e indústria" a partir do ensino ministrado naquele Instituto e em outras escolas da capital -- verificou-se a constituição de novos cursos nas reformas seguintes? -- [10]. No mesmo ano, era aplicado ao Instituto Industrial novo Regulamento provisório[11].

Uma primeira proposta para a reorganização do Instituto Industrial de Lisboa e da Escola Industrial do Porto foi apresentada em 1861, sem que tenha conhecido aplicação prática[12]. O Instituto Industrial de Lisboa seria reformado em 1864, por decreto de 20 de Dezembro, da autoria de João Crisóstomo de Abreu e Sousa, Ministro do M.O.P.C.I. A reforma reorganizou a rede de ensino industrial reformulando as atribuições dos Institutos. Com a criação, apenas teórica, de escolas industriais fora de Lisboa e do Porto e em relação a estas, os Institutos passariam também a garantir a "formação complementar" para os alunos saídos daquelas escolas e a formação de professores para as mesmas[13]. O currículo apresentado, semelhante ao agora Instituto Industrial do Porto, compreendia o "ensino técnico geral" no 1.º e 2.º graus e instruía para as "diversas profissões industriais, (...) habilitando também para diferentes empregos subalternos dos serviços públicos, de obras públicas, minas, telégrafos, faróis e outros"[14]. Ou seja, instituía-se um currículo disciplinar focado nas "profissões que exigiam uma atenção especial e os sectores de actividade que se encontravam em expansão"[15]

No contexto da crise financeira de 1869, o ensino industrial foi novamente reorganizado sendo abandonada a designação de graus e instituídas duas tipologias de ensino: a "instrução industrial comum a todas as artes, ofícios e profissões industriais" e o "ensino especial para determinadas artes e ofícios"[16]. Esta reforma não alterou significativamente a oferta disciplinar do Instituto Industrial do Porto face à apresentada em 1864.

Instituto foi reformado por decreto de 30 de Dezembro, da autoria do Duque de Loulé, Ministro do M.O.P.C.I., e passou a incorporar no plano de estudos do Instituto o ensino comercial, até então ministrado na escola, ou secção comercial, anexa ao Liceu Nacional de Lisboa. Em consequência, a designação da instituição foi alterada para Instituto para Instituto Industrial e Comercial de Lisboa[17]. Em função da última reforma, foi aprovado o Regulamento do Instituto por decreto de 20 de Novembro de 1872[18].

Em 1879 e 1880, o ensino no Instituto não foi objecto de uma reformulação profunda, mas verificou-se a alteração no quadro de cadeiras com a criação de novas unidades que correspondiam aos novos cursos de curso de correios e telégrafos, e de condutores de minas[19].

A reforma de 30 de Dezembro de 1886, de Emídio Júlio Navarro, reorganizou o sistema de instrução industrial e comercial, sendo perceptível "a adequação da diversidade de conteúdos às diferentes instituições educativas, criando mesmo uma relação hierárquica de especialização entre elas"[20], ou seja, entre as escolas industriais, as escolas de desenho industrial e os institutos industriais e comerciais. A organização do ensino industrial, aplicável ao ensino comercial, dividia-se em três graus, a saber, elementar, preparatório e especial (ou superior no caso do curso comercial), sendo todos ministrados pelos Institutos Industriais e Comerciais[21]. Em 3 de Fevereiro de 1888 era publicado o respectivo Regulamento do Instituto[22].

Entre esta última reforma e a primeira década do século XX, o ensino industrial português foi objecto de várias reformas, que traduziram nas instituições o impacto do difícil contexto financeiro vivido à época que reduziu o investimento realizado com o ensino. No geral, as reformas enfatizaram a necessidade de se rentabilizarem os investimentos concretizando o "sentido prático, útil e oficinal" que a instrução industrial devia adoptar e reorganizaram as escolas e institutos procurando implementar uma articulação mais aperfeiçoada entre as diversas instituições que compunham o sistema, assegurando a "complementariedade e especialização desejável nas funções a desempenhar por escolas e institutos, sem subalternidades desnecessárias"[23]. Essa duplicação curricular seria objecto de reforma em 1891 por João Franco, Ministro do M.O.P.C.I.. Uma vez instituídas de facto as escolas industriais em 1884[24], os cursos elementares industriais e comerciais foram suprimidos dos planos de estudo dos institutos industriais e comerciais, juntamente com os respectivos lugares de professores. Foram igualmente suprimidos os cursos superiores industriais e comerciais, que se consideravam insuficientes[25], cabendo aos Institutos Industriais e Comerciais ministrar apenas o ensino médio industrial e comercial[26]. Em 1892, o Conselho Escolar apresentava um plano de reorganização do Instituto de acordo com as supressões financeiras aplicadas pela reforma de 1891, que considerava não representar a organização devida da instituição. Em particular, regista-se a oposição do professor Alfredo Bensaúde àquela nova organização e a apresentação de proposta própria para a reformulação do ensino do Instituto[27].

Após a implantação da República, o ensino industrial e comercial em Lisboa foi reformulado conquanto as elites republicanas estivessem cientes de que o ensino até então professado no Instituto não correspondia às necessidades efectivas da indústria portuguesa[28]. Por decreto de 1911, e sob a responsabilidade do rpofessor Alfredo Bensaúde, as secções industrial e comercial do Instituto foram autonomizadas, passando a constituir o Instituto Superior Técnico, de que aquele professor foi o primeiro director, e o Instituto Superior do Comércio, respectivamente[29]. Com a reorganização do Instituto Industrial e Comercial do Porto e a criação da Universidade do Porto, em 1911, e da Faculdade Técnica do Porto em 1915, o Instituto Superior Técnico permaneceu como única instituição de ensino superior industrial[30].

Outras informações

O órgão de gestão da Escola recaía sobre a direção composta de um diretor-lente e do Conselho escolar[31]. O conselho escolar subdividia-se no Conselho da Escola e no Conselho Tecnológico. Acrescia ainda o Conselho Fiscal[32]. A direção geral do ensino, a determinação dos compêndios, os concursos e a polícia das escolas era cometida ao Conselho Diretor do ensino industrial, presidido pelo ministro das Obras Públicas, estando o diretor geral da Direção do Comércio e Indústria colocado no lugar de vice-presidente, e tendo por vogais os diretores das escolas[33]. O lugar de primeiro diretor do Instituto Industrial de Lisboa recaiu no professor e engenheiro José Victorino Damásio cuja nomeação em 4 de Agosto de 1853[34] se deverá à sua participação na constituição da Escola Industrial Portuense. Victorino Damásio permaneceu neste lugar até 6 de Outubro de 1859[35].

A vertente prática do ensino ministrado no Instituto Industrial era assegurada por oficinas anexas[36], nomeadamente, de forjar; de fundir e moldar; de serrilharia e ajustamento; de tornear e modelar; e de manipulações químicas, as quais deveriam estabelecer-se nos arsenais do estado[37]. Não sendo certo o seu estabelecimento prático, José Silvestre Ribeiro refere que, em 1853, já haviam sido efetivamente organizadas "algumas oficinas"[38]. A constituição destas oficinas seria objeto de oposição de "vários proprietários e diretores de estabelecimentos de ferro" que contra elas representaram aos poderes públicos[39]. Em consequência foi criada uma comissão de inquérito, em 1858, para avaliar a concorrência que as oficinas do Instituto possivelmente representariam para os produtos das indústrias privadas, apesar de ser definido que as oficinas auxiliariam as próprias indústrias[40]. A conclusão da comissão seria negativa quanto ao impacto das oficinas do Instituto na indústria uma vez que "seria necessário dar à fabricação nas oficinas um desenvolvimento muito mais vasto, e esquecer inteiramente os preceitos dos regulamentos, no cálculo dos preços, para que com alguma razão se pudessem entoar altas queixas contra a ditadura fabril deste estabelecimento"[41]. A concretização da instrução prática no Instituto era criticada pela mesma comissão, que a considerava "irregular, anormal e desviada do caminho que a lei quis traçar"[42]. No ano seguinte, era constituída nova comissão com o objectivo de estudar a necessidade de "estabelecer definitivamente oficinas próprias" no Instituto, entre as quais a oficina de instrumentos de precisão[10]. Esta oficina seria criada em 1864 com um duplo propósito, o da formação dos alunos do Instituto e o de "fornecer este tipo de instrumentos a muitas instituições e repartições científicas, que de outro modo teriam que recorrer ao estrangeiro para adquirir os instrumentos (...) ou reparar aqueles com que trabalhavam". O desenvolvimento da oficina no seio do IIL resultou da acção do professor Francisco da Fonseca Benevides responsável pela cadeira de Física[43].

Os estabelecimentos anexos estabelecidos em 1852 compreendiam ainda um museu industrial[44], uma biblioteca industrial[45] e um laboratório afeto à disciplina de química[46]. O museu industrial era organizado em duas secções, a saber, um depósito de máquinas, e, uma secção de colecções tecnológicas e comerciais[47]. Encontrava-se localizado na Real Casa Pia, próxima do Mosteiro dos Jerónimos[48]. O guarnecimento científico do museu foi transferido do Conservatório de Artes e Ofícios de Lisboa, criado em 1836[49]. Não obstante, em 1858, a descrição crítica deixada pela comissão de inquérito, referida anteriormente, sobre a situação do museu não era abonatória acusando a falta de espaço e a ausência de colecções, para as quais os instrumentos existentes no Conservatório de Artes e Ofícios não haviam contribuído dado o seu "diminuto valor, e de tão duvidosa utilidade"[50]. Pela reforma de 1864, a designação do museu alterou-se para museu tecnológico[51], sendo que, segundo José Silvestre Ribeiro e atendendo às diminutas condições de que dispôs, apenas terá sido inaugurado em 1867[52]. Em 1872, segundo a descritiva de Fradesso da Silveira, a situação material do museu não teria conhecido melhorias, obstando à sua utilização por aqueles a quem se dirigiam as suas colecções: "faltam às galarias as condições necessárias para a exposição permanente e eficaz (...) Modestamente dotado no princípio, e agora quase em penúria, desde que a dotação destinada a novas aquisições para gabinetes de física e geologia, colecções tecnológicas, e laboratório de química, desceu a 1:7005000 reis, o museu da indústria, anexo ao instituto industrial e comercial de Lisboa, tem tido desenvolvimento muito superior ao que se poderia esperar dos seus pequenos recursos. Deve-se, em grande parte, o estado atual do museu aos cuidados, ao zelo, à incessante vigilância, à discreta direção, com que tem contribuído para a organização, arranjo e conservação das colecções os diretores do instituto, os seus professores e os seus empregados"[53]. Tendo sido objecto de diversas organizações e regulamentações, os Museus Industriais e Comerciais, designação adoptada a partir de 1884, foram extintos por decreto de 23 de Dezembro de 1899 e substituídos por uma comissão superior de exposições[54].

Segundo Silvestre Ribeiro, as oficinas do Instituto foram encerradas em 1860, à semelhança do que ocorrera com as da Escola Industrial do Porto, exceptuando-se a oficina de instrumentos de precisão dado não haver estabelecimento semelhante no país[55]. Pela reforma de 1864 determinava-se que existissem no Instituto uma biblioteca, um laboratório, um gabinete de física e o referido museu tecnológico. Esta reforma determinava que a vertente prática do ensino fosse concretizada em oficinas e fábricas particulares e em estabelecimentos do estado, procurando dessa forma "incentivar a ligação entre o ensino e a indústria"[43]. Em 1879, foi determinada a criação de "coleções de exemplares, modelos e desenhos necessários para o ensino, junto das cadeiras 7.ª, 8.ª e 9.ª", sendo também afeto orçamento próprio para a sua constituição[56].

Segundo a reforma de 1886, junto dos Institutos Industriais e Comerciais deveriam achar-se estabelecidos uma biblioteca, um laboratório químico, um gabinete de física, um laboratório mecânico, um museu, e "uma escola prática de telegrafia e laboratório eletrotécnico"[57]. No caso do Instituto lisbonense os estabelecimentos anexos eram completados com a oficina de instrumentos de precisão, já existente[58]. O plano de organização deixava também aberta a possibilidade de se constituírem "pequenas oficinas que a experiência demonstrar serem necessárias para o ensino prático dos alunos"[59].

O Instituto Industrial de Lisboa conheceu uma primeira localização na "zona da Boavista", onde, desde 1840, se havia constituído uma área industrial considerável[60]. A localização próxima entre a instituição e uma das principais zonas industriais da cidade era demonstrativa da sinergia que se pretendia entre a instrução e o sector.

Curricula

O ensino industrial português era organizado em três graus, elementar, secundário e complementar, baseados num plano de estudos com nove cadeiras, respectivamente distribuídas pelos graus e cursos como assinalado à frente.

O plano de estudos do Instituto Industrial compreendia nove cadeiras respeitantes aos três graus de instrução industrial, a saber, elementar, secundário e complementar[61], cujos cursos eram ministrados em regime noturno[62]. Em comparação com a Escola Industrial do Porto o curso complementar do Instituto era mais completo acrescendo as oitava e nona cadeiras. Em consequência, o Instituto Industrial de Lisboa estava capacitado a passar cartas dos cursos de diretor mecânico e diretor químico, que não existiam na Escola do Porto[63]. Nos primeiros anos de funcionamento do Instituto Industrial de Lisboa os alunos terão frequentado cursos livres em alternativa aos regulares, sendo esta medida adotada igualmente no Porto[64].

O Instituto Industrial de Lisboa passava as cartas de curso segundo a frequência das cadeiras respectivas: "1.ª e 2.ª cadeiras, operário habilitado; 1.ª, 2ª e 5.ª cadeiras, oficial mecânico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, oficial químico; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de forjar, oficial forjador; 1.ª, 2.ª e 4.ª cadeiras com oficina de fundir e moldar, oficial fundidor; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de serrilharia e ajustamento, oficial serralheiro ajustador; 1.ª, 2.ª e 5.ª cadeiras com oficina de tornear e moldar, oficial torneiro ajustador; 1.ª, 2.ª, 3.ª e 5.ª cadeiras, oficinas; 1.ª, 2.ª e 3.ª cadeiras, mestre mecânico; 1.ª, 2.ª, 4.ª e 7.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, mestre químico; 1.ª, 2.ª, 3.ª, 4.ª, 5.ª, 6.ª e 8.ª cadeiras com as oficinas de forjar, fundir e moldar, serrilharia e ajustamento, e, tornear e moldar, diretor mecânico; 1.ª, 2.ª, 4.ª, 5.ª, 6.ª e 8.ª cadeiras com oficina de manipulações químicas, diretor químico"[65]. Dois anos após a fundação ainda não se verificavam concluídas a maioria das oficinas e, em consequência, por proposta do seu diretor, o Instituto Industrial ministrou cursos livres de algumas disciplinas, cujo ensino não dependia materialmente daqueles estabelecimentos[66].

Em 1856, era estabelecido um Curso Especial de Telegrafistas, cujo objectivo era o de "dar resposta ao desenvolvimento progressivo das ligações telegráficas". Não obstante, e apesar de lhe ter correspondido a criação de uma cadeira, "Física e suas aplicações às artes, à telegrafia elétrica e aos faróis", à falta de um maior desenvolvimento das matérias específicas do curso no plano de estudos e da existência de um tirocínio organizado, o curso demonstrar-se-ia insuficiente para concretizar essa formação específica. Consequentemente, em 1880 seria criado um novo curso, "Curso Prático de Correios e Telégrafos", composto por disciplinas do Instituto e de disciplinas leccionadas na Direcção Geral dos Telégrafos, a qual ficava responsável pelo curso. Ainda assim, mantinham-se "grandes deficiências na formação de funcionários telegrafistas"[67]. Pela reforma de 1886, este curso receberia maior desenvolvimento com a criação da Escola Prática de Telegrafia e do laboratório de eletrotécnico, como referido acima.

Em consequência da transferência da secção de comércio do Liceu Nacional de Lisboa para o Instituto Industrial em 1869, passou a constar no plano de estudos uma cadeira dedicada ao ensino comercial e correspondente ao curso de comércio. A cadeira viria a ser desdobrada em duas unidades, as disciplinas "privativamente comerciais", e "da geografia e história comercial, elementos de direito comercial e marítimo, estatística comercial, etc."[68]. Em 1880, o curso de comércio era reorganizado e a sua oferta desdobrada no curso elementar e o curso superior de comércio, com a duração de um e quatro anos, respectivamente[69]. Eram afetas a este plano as disciplinas de "física geral e as suas aplicações; química aplicada às artes; princípios de economia política e industrial, e estatística comercial", e definidos os preparatórios de acesso ao curso[70].

Em 1879, o plano de estudos do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa totalizava as 14 cadeiras[71], tendo sido alargado com a criação de três cadeiras respeitantes à instituição do curso de condutores de minas. A criação deste último procurava suprir as necessidades de quadros por parte das empresas mineiras, sendo os alunos aprovados considerados como directores técnicos de minas[67].

Em 1886, o plano de estudos do Instituto, idêntico ao Instituto Industrial e Comercial do Porto com excepção das últimas três cadeiras que lhe eram específicas, totalizava as 28 cadeiras. A oferta de ambos os Institutos Industriais e Comerciais compunha-se de cursos industriais elementares, para operários de diferentes ofícios e artes; cursos preparatórios para acesso aos cursos industriais especiais ou ao curso superior de comércio; os cursos especiais de "condutores de obras públicas; condutores de minas; desenhadores; diretores de fábricas; construtores de máquinas e de instrumentos de precisão; correios e telégrafos; e quaisquer outros que o governo julgue conveniente criar"[72][73]. A estes acresciam ainda o curso superior de comércio, curso especial de verificadores de alfandega e o curso especial de cônsules[74].

Plano de estudos de 1852
Graus de ensino Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Ensino

Elementar

Primeira cadeira "Aritmética elementar; primeiras noções de álgebra; geometria elementar"[75].
Segunda

cadeira

"Desenho linear e de ornatos industriais"[76].
Ensino

Secundário

Terceira cadeira "Elementos de geometria descritiva aplicada às artes"[77].
Quarta

cadeira

"Noções elementares de física e química"[78].
Quinta

cadeira

"Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte"[79].
Ensino Complementar Sexta

cadeira

"Mecânica industrial"[80]. Professor proprietário em 4 de Agosto de 1853: José Victorino Damásio[81].
Sétima

cadeira

"Química aplicada ás artes"[82].
Oitava cadeira "Economia e legislação industrial"[83].
Nona cadeira "Desenho de modelos e máquinas"[84].
Física e suas aplicações às artes, à telegrafia elétrica e aos faróis (1856)
Plano de estudos de 1879
Graus de ensino Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Primeira cadeira "Aritmética elementar; primeiras noções de álgebra; geometria elementar"[85].
Segunda

cadeira

"Desenho linear e de ornatos industriais"[86].
Terceira cadeira "Elementos de geometria descritiva aplicada às artes"[87].
Quarta

cadeira

"Noções elementares de física e química"[88].
Quinta

cadeira

"Desenho de modelos e máquinas. Primeira parte"[89].
Sexta

cadeira

"Mecânica industrial"[90].
Sétima

cadeira

"Química aplicada ás artes"[91].
Oitava cadeira "Economia e legislação industrial"[92].
Nona cadeira "Desenho de modelos e máquinas"[93].
"Mineralogia e geologia aplicadas, e elementos de geografia física"[94].
"Artes de minas, metalurgia e princípios de legislação mineira portuguesa"[95].
"Princípios de química e física, e introdução à história natural dos três reinos"[96].
Plano de estudos de 1886
Anos Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Primeira cadeira "Rudimentos de matemática"[97].
Segunda cadeira "Rudimentos de física, de química, e de eletrotecnia"[98].
Terceira cadeira "Rudimentos de mecânica"[98].
Quarta cadeira "Aritmética, álgebra e geometria sintética"[98].
Quinta cadeira "Geometria descritiva, estereotomia, e topografia"[98].
Sexta cadeira "Trigonometria plana, princípios de geometria analítica, de álgebra superior e de calculo infinitesimal"[98].
Sétima cadeira "Física geral e suas aplicações à indústria"[98].
Oitava cadeira "Eletrotecnia. Telegrafia e outras applicações da eletricidade"[98].
Nona cadeira "Química mineral e orgânica"[98].
Décima cadeira "Tecnologia química (cerâmica, tinturaria, estamparia e outras aplicações da química); matérias primas de origem mineral e suas transformações; caracteres físicos e químicos dessas mercadorias, seu valor comercial, suas falsificações e meios práticos de as reconhecer"[98].
Décima primeira cadeira "Zoologia e botânica elementares e higiene das industrias"[98].
Décima segunda cadeira "Mecânica geral e sua aplicação às máquinas"[98].
Décima terceira cadeira "Materiais de construção. Processos geraes de construção. Resistência de materiais e estabilidade de construções"[98].
Décima quarta cadeira "Estradas. Caminhos de ferro. Rios e canais. Portos"[98].
Décima quinta cadeira "Mineralogia e geologia"[98].
Décima sexta cadeira "Arte de minas e metalurgia"[98].
Décima sétima cadeira "Desenho linear, de figura, ornato, paisagem do natural e modelação"[98].
Décima oitava cadeira "Desenho de máquinas, construção de peças elementares e respectiva tecnologia"[98].
Décima nona cadeira "Desenho arquitetónico e topográfico. Cortes e plantas de minas"[99].
Vigésima cadeira "Geografia geral, historia elementar e geografia comercial"[100].
Vigésima primeira cadeira "Economia politica, princípios de direito administrativo e legislação industrial"[100].
Vigésima segunda cadeira "Contabilidade geral e operações comerciais"[100].
Vigésima terceira cadeira Língua francesa[100].
Vigésima quarta cadeira Língua inglesa[100].
Vigésima quinta cadeira Língua alemã[100].
Vigésima sexta cadeira "Matérias primas de origem orgânica, suas transformações e respectiva tecnologia; caracteres físicos e químicos dessas mercadorias e seu valor comercial; falsificações e meios práticos de as reconhecer; classificação geral das mercadorias; legislação aduaneira"[100].
Vigésima sétima cadeira "Direito comercial e marítimo, princípios de direito internacional e legislação consular"[100].
Vigésima oitava cadeira "Operações financeiras"[100].

Notas

  1. Alves, "Contributos para o estudo do ensino industrial", 91.
  2. Alves, 92-93.
  3. Decreto de 30 de Dezembro de 1852, Diário do Governo, no. 1, 1 de Janeiro de 1853, 5.
  4. Veja-se para a relação entre a Escola Industrial do Porto e o Instituto Industrial de Lisboa preconizada no Regulamento provisório de ambas as instituições, datado de 1853, Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:106.
  5. Ribeiro, 7:381.
  6. Alves, "Contributos para o estudo do ensino industrial", 116.
  7. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:381.
  8. Ribeiro, 7:352.
  9. Ribeiro, 13:236.
  10. 10,0 10,1 Ribeiro, 13:238.
  11. Ribeiro, 13:239-241.
  12. Uma descrição sumária de algumas alterações pensadas na proposta de reforma de 1861 pode ser consultada em Ribeiro, 13:241-242.
  13. Alves, "ISEP: Identidade de uma Escola", 60.
  14. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:244.
  15. Alves, "Contributos para o estudo do ensino industrial", 101.
  16. Decreto de 30 de Dezembro de 1869, Diário do Governo, no. 1, 3 de Janeiro de 1870, 9.
  17. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:358; 13:244.
  18. Ribeiro, 13:245.
  19. Ribeiro, 13:245.
  20. Alves, "Contributos para o estudo do ensino industrial", 137.
  21. Decreto de 30 de Dezembro de 1886, Diário do Governo, no. 34, 14 de Fevereiro de 1887, 361.
  22. Ribeiro, 17:514.
  23. Alves, "Contributos para o estudo do ensino industrial", 163-166.
  24. Alves, 107.
  25. Matos, "Dos institutos industriais", 58.
  26. Decreto de 8 de Outubro de 1891, Diário do Governo, no. 227, 9 de Outubro de 1891, 2407.
  27. Matos, "Dos institutos industriais", 59-61.
  28. Matos, "Dos institutos industriais", 66.
  29. Matos, "Dos institutos industriais", 67.
  30. Alves, "ISEP: Identidade de uma Escola", 64-65.
  31. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:105.
  32. Ribeiro, 7:354.
  33. Ribeiro, 7:350.
  34. Matos, "Dos institutos industriais", 54.
  35. Ribeiro, 7:351.
  36. Uma descrição mais aprofundada sobre as operações realizáveis pelos alunos em cada uma das oficinas pode ser consultada em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:227.
  37. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:347-349.
  38. Ribeiro, 7:357.
  39. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:234.
  40. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:228.
  41. Ribeiro, 13:235.
  42. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:236.
  43. 43,0 43,1 Matos, "Dos institutos industriais", 56.
  44. Relativamente ao museu do Instituto Industrial de Lisboa e o surgimento das primeiras propostas na década de 30 do século XIX, para o desenvolvimento de uma instituição desse tipo, designada Conservatório das Artes e Ofícios de Lisboa, vide Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:376-382.
  45. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:348.
  46. Ribeiro, 7:356.
  47. Sobre a constituição e evolução deste Museu vide Matos, "Dos institutos industriais", 61-66.
  48. Matos, "Dos institutos industriais", 63.
  49. Sobre esta instituição José Silvestre Ribeiro deu alargada notícia, tendo igualmente desenvolvido as propostas existentes para a fundação de uma instituição do género, publicadas durante a primeira década do século XIX. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:376-379.
  50. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:235.
  51. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:380.
  52. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:357.
  53. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 3:380.
  54. Matos, "Dos institutos industriais", 66.
  55. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:357.
  56. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16:483.
  57. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:338.
  58. Ribeiro, 17:339.
  59. Ribeiro, 17:339.
  60. Matos, "Dos institutos industriais", 53.
  61. Ribeiro, 7:347-348.
  62. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:351.
  63. Ribeiro, 7:348.
  64. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:168.
  65. Ribeiro, 7:348.
  66. Ribeiro, 7:356.
  67. 67,0 67,1 Matos, "Dos institutos industriais", 57.
  68. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:358.
  69. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:211;213.
  70. Ribeiro, 17:16.
  71. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 16:483.
  72. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:335.
  73. A distribuição das cadeiras pelos respectivos cursos a que estavam afetas pode ser consultada em Ribeiro, 17:402-411.
  74. Ribeiro, 17:336.
  75. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:347.
  76. Ribeiro, 7:347.
  77. Ribeiro, 7:347.
  78. Ribeiro, 7:347.
  79. Ribeiro, 7:347.
  80. Ribeiro, 7:347.
  81. Ribeiro, 7:351.
  82. Ribeiro, 7:347.
  83. Ribeiro, 7:347.
  84. Ribeiro, 7:347.
  85. Ribeiro, 7:347.
  86. Ribeiro, 7:347.
  87. Ribeiro, 7:347.
  88. Ribeiro, 7:347.
  89. Ribeiro, 7:347.
  90. Ribeiro, 7:347.
  91. Ribeiro, 7:347.
  92. Ribeiro, 7:347.
  93. Ribeiro, 7:347.
  94. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 13:245.
  95. Ribeiro, 13:245.
  96. Ribeiro, 13:245.
  97. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:334.
  98. 98,00 98,01 98,02 98,03 98,04 98,05 98,06 98,07 98,08 98,09 98,10 98,11 98,12 98,13 98,14 98,15 98,16 Ribeiro, 17:334.
  99. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 17:335.
  100. 100,0 100,1 100,2 100,3 100,4 100,5 100,6 100,7 100,8 Ribeiro, 17:335.

Fontes

Decreto de 30 de Dezembro de 1852, Diário do Governo, no. 1, 1 de Janeiro de 1853, 5.

Bibliografia

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Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 16. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1889.

Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos scientificos litterarios e artisticos de Portugal nos sucessivos reinados da Monarquia. Vol. 17. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1892.

Ligações Internas

Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição, nomeadamente professores e alunos, siga o link:Categoria:Instituto Industrial de Lisboa

Ligações Externas

Matos, Ana Cardoso de. «From the Instituto Industrial de Lisboa to the Instituto Superior Técnico: places for the teaching of electricity in Portugal». Em 24th International Congress of History of Science, Technology and Medicine. Manhester, 2013.

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

Apoio especial “Verão com Ciência 2022” da UID 4666 – CHAM — Centro de Humanidades, financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC)

DOI

https://doi.org/10.34619/8xux-p8nz

Citar este artigo

Almeida Barata, João de. "Instituto Industrial de Lisboa", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 20/02/2024). Consultado a 14 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Instituto_Industrial_de_Lisboa. DOI: https://doi.org/10.34619/8xux-p8nz