Estrada-exemplo

Fonte: eViterbo
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Definições em descritores e dicionários antigos

Segundo Isidoro de Sevilha (séc. VII)

Strata dicta, quasi vulgi pedibus trita. Lucretius: Stataque iam vulgi pedibus detrita viarum. Ipsa est et delapidata, id est, lapidibus strata. Primi autem Poeni dicuntur lapidibus strauisse, postea Romani eas per omnem pene orbem disposuerunt, propter rectitudinem itinerum, et ne plebs esset otiosa. [1]

Estrada diz-se que é marcada com os pés das pessoas comuns (de acordo com Lucrécio, Da Natureza das Coisas, I,315); ou pavimentada de pedras.

Diz-se que os cartagineses foram os primeiros a propagar as estradas com pedra, depois os romanos puseram-nas em todo o mundo, de modo a ter rotas diretas, e que a plebe não ficasse ociosa.[2] [3]

Segundo Rafael Bluteau (séc. XVIII)

Caminho público por onde todos passam, a pé, a cavalo, em coche, etc. Via publica, ae. Fem. Via militaris. Cic.

Ladrão de estradas. (…)

Estrada encoberta (Termo da fortificação). Vid. Corredor. No método lusitânico, diz Luís Serrão Pimentel, pág. 18, num. 23 que muitos lhe chamam estrada coberta, mas que melhor epíteto é encoberta.

Estrada de Santiago. (…)

Estradas ou vias nos contornos de Roma, mais célebres, eram estradas Ápia, Salária, Lavicana, Tiburtina, ec. Vid. Via.

Tomar a estrada a alguém. (…)

Tomar a alguém a estrada. (…)

A estrada Real, para se conseguir alguma coisa. O meio mais próprio, mais comum, o caminho mais frequentado. Tritum iter ou Trita via Cic. diz Via trita laudis.

Deitar-se na estrada com alguém. (...)

Tirar alguém à estrada. (...)[4].

Etimologia

Do latim strata. [5]

Estrada na História

Estrada era o termo utilizado para designar os principais espaços-canais de circulação de pessoas e bens de âmbito territorial. Para os espaços secundários de circulação eram usados os termos carreira ou caminho. Só no século XIV é que passou a ser vulgar a utilização do termo já que nos séculos XII e XIII estes espaços eram sobretudo denominados por via ou via pública.[6] A designação deste espaço alterava-se quando cruzava ou cortava os espaços urbanos, passando a designar-se por rua.[7]

Com as Ordenações Afonsinas (1446), as Estradas, e ruas pruvicas antiguamente usadas, e os Rios navegantes, e aquelles, de que se fazem os navegantes, se som cabedaaes, que correm continuadamente em todo tempo pertenciam ao património régio, não obstante o uso assy das estradas, e ruas pruvicas, como dos Rios seja igualmente comuu[n] a toda gente, e a qualquer outra cousa animada.[8] Esta disposição manteve-se nas Ordenações Manuelinas (1521)[9] e Filipinas (1603)[10].

Pelo decreto de 5 de maio de 1821 o património régio passou para o Estado com a designação de Bens Nacionaes.[11] No decreto de 13 de agosto de 1832, esclarece-se que Os Bens da Nação, tomada collectivamente, são os Bens do uso geral, e commum dos habitantes, como Pórtos, Canaes, Rios navegaveis, Estradas geraes, e Pontes nellas construídas, Caes, e Edificios destinados para a residência do Rei, ou para as Sessões das Camaras, Secretarias, Tribunais, Aquartelamentos, Estaleiros, Arsenaes, e outros semelhantes[12]

Utilização do termo na documentação antiga

Ano: 906

… et de illa parte ripo usque in estrata de uereda …[13]

Ano: 907

… et inde per ille ualle ad illa strada que diuidet inter sancto martino et cipidis …[14]

Exemplos

Sinonímia

Via [15]

Notas

  1. Hispalensis, Etymologiarvm, XV, 16, 6
  2. Sevilla, Etimologías, II, 129
  3. The Etymologies, 316.
  4. Bluteau, Vocabulario Portuguez e latino (Tomo III: E), 329-330.
  5. Machado, Dicionário (Segundo Volume: C-E), 491; Dicionário (Tomo II D-MER), 1633.
  6. Coelho, O Baixo Mondego, 408.
  7. Vilar, Abrantes medieval, 24-25.
  8. Ordenações Afonsinas (Livro II, Título XXIV, § 5), II, 210-211.
  9. Ordenações Manuelinas (Livro II, Título XV, § 7), II, 43
  10. Ordenações e Leis (Livro II, Título XXVI, § 8), I, 47-48
  11. Collecção de legislação das Cortes de 1821 a 1823, 27-28.
  12. Collecção de Decretos, 216-218.
  13. Portugaliae Monumenta Historica – Diplomata et Chartae, documento n.º 13, p. 9, cit. Machado, Dicionário (Segundo Volume: C-E), 491
  14. Portugaliae Monumenta Historica – Diplomata et Chartae, documento n.º 15, p. 10, cit. Machado, Dicionário (Segundo Volume: C-E), 491
  15. Dicionário (Tomo II D-MER), 1633.


Fontes

  • Bluteau, Rafael. Vocabulario portuguez e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico, brasilico, comico, critico, chimico, dogmatico, dialectico, dendrologico, ecclesiastico, etymologico, economico, florifero, forense, fructifero... autorizado com exemplos dos melhores escritores portugueses, e latinos... Tomo III: Letra D-EYC. Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1713.
  • Collecção de Decretos e Regulamentos mandados publicar por sua Magestade Imperial desde a sua entrada em Lisboa até à instalação das Câmaras Legislativas, Terceira série, Lisboa: Imprensa Nacional, 1840.
  • Collecção de legislação das Cortes de 1821 a 1823, Lisboa: Imprensa Nacional, 1843.
  • Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 3 Volumes, Lisboa: Temas e Debates, 2003.
  • Hispalensis episcopi, Isidori. Etymologiarvm Sive Originvm… Oxonii: E. Typographeo Clarendoniano, 1911.
  • Machado, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, com a mais antiga documentação escrita e conhecida de muitos dos vocábulos estudados, 5 Volumes, Lisboa: Livros Horizonte, 1977 (3ª ed.).
  • Ordenações Afonsinas (fac-símile da ed. de Coimbra: Real Imprensa da Universidade, 1792, apres. Mário Júlio de Almeida Costa), 5 Volumes, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
  • Ordenações e Leis do Reino de Portugal, publicadas em 1603 (Collecçaõ da Legislaçaõ Antiga e Moderna do Reino de Portugal, Parte II – da Legislação Moderna), 3 Volumes, Coimbra: Na Real Imprensa da Universidade, 1790.
  • Ordenações Manuelinas (fac-símile da ed. de Coimbra: Real Imprensa da Universidade, 1792, apres. Mário Júlio de Almeida Costa), 5 Volumes, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
  • Portugaliae Monumenta Historica, a saeculo octavo post christum ad quintumdecimum – Diplomata et Chartae, Olisipone: Typis Academicis, 1868.
  • Sevilla, (San) Isidoro de. Etimologías (texto latino, versión española y notas por Jose Oroz Reta y Manuel A. Marcos Casqueros, int. Manuel C. Diaz y Diaz). 2 Volumes, Madrid: Editorial Católica, Biblioteca de Autores Cristianos, 1982-1983.
  • The Etymologies of Isidore of Seville (Translated, with introduction and notes by Stephen A. Barney, W.J. Lewis, J.A. Beach, Oliveir Berghof). Cambridge: University Press, 2006.

Bibliografia

  • Coelho, Maria Helena da Cruz. O Baixo Mondego nos finais da Idade Média, 2 volumes, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1989.
  • Vilar, Hermínia Vasconcelos. Abrantes medieval, Séculos XIV-XV, Abrantes: Câmara Municipal de Abrantes, 1988.

Autor(es) do verbete

SubGrupo da Escala Urbana

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