Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho

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Real Academia de Artilharia Fortificação e Desenho do Rio de Janeiro


História

A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho do Rio de Janeiro reforma e dá contiuidade à anterior Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro, mantendo-se quer o local das aulas (a Casa do Trem de Artilharia), quer o lente principal, António Joaquim de Oliveira. A criação desta academia no Rio de Janeiro vem na sequência da criação da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho instituida em Lisboa por D. Maria I, em 1790. Os estatutos da Real Academia do Rio de Janeiro datam de 17 de dezembro de 1792 e foram estabelecidos pelo vice rei, o 2º Conde de Resende, D. José Luís de Castro (1790-1801).

Foram várias as modificações introduzidas pela reforma. O curso ampliou-se de cinco para seis anos, sendo o sexto dedicado aos ensinamentos de um lente que seria especialmente contratado e que deveria ensinar "Aquitetura civil e corte das pedras e madeiras, o orçamento dos edificios, e tudo o mais o que for relativo ao conhecimento dos materiais que entram na sua composição; como também explicará os melhores métodos que hoje se praticam na construção dos caminhos e calçadas. No mesmo ano se ensinará igualmente a hidraulica e as mais partes que lhe são análogas, como a arquitetura das pontes, canais, diques e comportas"[1].

Roberta Delson nota que "A este respeito, os estudantes no Brasil estudavam uma combinação de arquitetura naval militar e civil, de um modo muito semelhante ao exigido aos seus colegas franceses colocados no Corps des Ponts e Chaussés"[2]. Embora se deva lembrar, como faz Beatriz Bueno, que a base da formação nas escolas portuguesas mesclava as atribuições típicas do engenheiro civil com as do tradicional engenheiro militar, ao contrário da escola francesa, onde se observa a progressiva separação das formações civil e militar. No Brasil tal especialização ocorreria apenas com a fundação da Escola Central (1858) e da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1874)[3].

Os estatutos definiam ainda que "nos primeiros dois anos se ensinará o curso de Belidor. No terceiro ano se ensinará a teórica de artilharia, das praças; o que se fará pela doutrina de Sam Remy na conformidade do plano do regimento de artilharia ou (o que é o mesmo) pela Artilharia de le Blond. No quarto ano se ensinará a fortificação regular, o ataque e defensa das praças e os principios fundamentais de qualquer fortificação. No quinto ano se ensinará a fortificação irregular, a fortificação efetiva do curso de Antoni"[1].

O curso implicava um conjunto de formações diferenciadas. Os militares de infantaria e cavalaria terminavam o seu curso ao fim do terceiro ano. Os de artilharia deveriam ir até ao quinto. Os que quisessem seguir a profissão de engenheiros e estivessem providos em algum dos seis partidos da aula, deveriam seguir os seis anos de formação. Para serem admitidos como discípulos todos os candidatos deveriam dar prova, por exame, que sabiam as "quatro espécies de aritmética ordinária" e eram obrigados a mostrar, ao longo dos três primeiros anos (perante o primeiro lente) que entendiam suficientemente a língua francesa. Ao fim do segundo ano todos os discípulos deveriam fazer exames pelos quais se qualificariam para poder entrar no terceiro ano, igual procedimento se repetia no quarto e no quinto com aqueles que continuassem os estudos. No exame do segundo ano, os que se destinavam ao serviço de infantaria e cavalaria, para poderem passar ao seu terceiro e último ano, deveriam ser aprovados até o décimo Livro do Curso de Bélidor. Os que quisessem seguir a profissão de engenheiros, além de comprovar, por exame, que sabiam (ao menos) a doutrina correspondente ao primeiro ano deveriam, desde logo, ter uma constituição robusta e sem defeito algum na vista ou tremura na mão[1].

As matérias até ao quinto ano seriam da responsbilidade do lente do regimento de artilharia, inicialmente e até 1795, António Joaquim de Oliveira. Estava prevista, como vimos, a contratação de um lente para o sexto ano, mas não sabemos se tal foi efetivado. Previa-se também que os dois lentes principais tivessem primeiro e segundo substitutos "também para os ajudar os exercícios práticos e ainda nas lições especulativas e de desenho". A valorização do saber prático era afirmada nos estatutos, obrigando-se os lentes a sair ao campo com os seus discípulos para os exercitar na prática. No exame prático do segundo ano se testaria a capacidade de "medir distâncias inacessíveis, nivelar terrenos e tirar diversas plantas". No terceiro ano se deveria ensinar o manejo das bocas de fogo e aconstrução de baterias. No quarto ensinaria a "desenhar sobre o terreno qualuer fortificação regular e se delineará também sobre o mesmo terreno as principais obras de ataque e defesa das praças". No quinto se deveria formar sobre o terreno alguma obra de fortificação de campanha, assim como se ensinaria a castrametração. No sexto ano sugeria-se que se o lente estivesse encarregado de alguma obra poderia exercitar os seus discípulos fazendo-os acompanhar as matérias que fosem aprendendo com o exemplo prático das obras em curso.

Outras informações

Professores

António Joaquim de Oliveira

Curriculums

Referências bibliográficas

  1. 1,0 1,1 1,2 Estatutos da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro (Biblioteca nacional do Rio de Janeiro I-32-13-27), publicados in Cavalcanti, Nireu Oliveira. Arquitetos & Engenheiros: Sonho de Entidade Desde 1798. Rio de Janeiro: Crea-RJ, 2007, p. 47-48.
  2. Delson, Roberta Marx. “Para o Entendimento Da Educação Colonial: O Papel Das Academias Militares No Brasl Colónia.” In Colectânea de Estudos Universo Urbanístico Português 1415-1822, 225–44. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998, p. 237-238.
  3. Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil Dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade : Fapesp, 2011, p. 218.


Bibliografia e Fontes

Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil Dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade : Fapesp, 2011.

Cavalcanti, Nireu Oliveira. Arquitetos & Engenheiros: Sonho de Entidade Desde 1798. Rio de Janeiro: Crea-RJ, 2007.

Delson, Roberta Marx. “Para o Entendimento Da Educação Colonial: O Papel Das Academias Militares No Brasl Colónia.” In Colectânea de Estudos Universo Urbanístico Português 1415-1822, 225–44. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998.

Ligações Externas

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Real Academia de Artilharia Fortificação e Desenho do Rio de Janeiro

 Ativos no Século XVIII, Ativos no século XIX

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