Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro
Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro | |
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(valor desconhecido) | |
Outras denominações | Aula do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro |
Tipo de Instituição | Ensino Militar |
Data de fundação | 13 agosto 1738 |
Data de extinção | 1792 |
Paralisação | Início: valor desconhecido Fim: valor desconhecido |
Localização | |
Localização | Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil Início: 13 de agosto de 1738 Fim: 1792 |
Antecessora | Aula de Fortificação do Rio de Janeiro |
Sucessora | Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho |
História
Em 13 de agosto de 1738, foi criada, por carta régia, a Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro e, em 19 de agosto de 1738, José Fernandes Pinto Alpoim foi nomeado lente da mesma, tendo servido praticamente até a sua morte, em 1765, nessas funções. O documento em que se comunica ao governador a decisão régia esclarece os objetivos e o modo de funcionamento da Aula do Terço:
"Faço saber a vos, governador e capitão general da capitania do Rio de Janeiro que por ser conveniente a meu serviço que neste praça onde mandei formar de novo um terço de artilheiros haja Aula onde os oficiais e soldados do dito terço e as mais pessoas que quiserem aplicar-se possam aprender a teoria da artilharia e uso dos fogos artificiais, criando-se por este modo oficiais que depois de instruídos na dita Aula possam ser empregados nos postos da repartição da artilharia dessa e das mais capitanias, fui servido haver por bem por decreto de treze deste presente mês como se estabeleça a dita Aula e para mestre dela nomeei a José Fernandes Pinto Alpoim que proximamente provi no posto de sargento-mor do referido terço, o qual, além dos exercícios a que é obrigado pelo mesmo posto terá o de ditar postila, e ensinar a teoria da artilharia a todos os que quiserem aplicar-se a ela e especialmente aos oficiais do dito terço que nesta primeira criação forem providos , os quais serão igualmente obrigados a assistir às lições da aula ao menos por tempo de cinco anos e faltando a elas serão castigados a vosso critério. E para o futuro não podereis informar para os postos de artilharia do terço, nem aprovar para os denombramentos, oficial algum que não tenha frequentado a dita Aula e seja examinado e aprovado nas matérias que nela se ditarem"[1].
Esta aula, "formada de novo", surge na sequência da anterior Aula de Fortificação do Rio de Janeiro que vinha funcionando, talvez com algumas interrupções, desde o final do século XVII. O papel de Alpoim é, como vimos, central na constituição da Aula do Terço, reforçando o interesse nas matérias específicas de artilharia. Mas, tal como na aula precedente, também se ditavam, seguramente, matérias relativas à fortificação. Assim o garantia a formação de Alpoim feita no reino, inicialmente, na Academia de Fortificação de Viana, junto do seu tio, Manuel Pinto de Vilalobos, e continuada na Aula de Fortificação de Lisboa com Manuel de Azevedo Fortes. De igual forma o garantia a sua própria experiência como mestre, pois terá sido lente substituto, ainda, na Aula de Fortificação de Viana e, depois, na Aula de Fortificação de Almeida, instituída, juntamente com a Aula de Fortificação de Elvas, pelo decreto régio de D. João V datado de 24 de Dezembro de 1732.
Com efeito, a própria criação da Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro não pode ser desvinculada deste mesmo contexto em que é patente um investimento acrescido na formação militar, e que ocorre, quase em simultâneo, com o desdobramento dos locais de formação quer no reino, quer nos territórios do Império. Para tal, foi de fundamental importância o papel desempenhado por Manuel de Azevedo Fortes[2].
Em 1744, Alpoim publicou Exame de Artilheiros (Lisboa: Oficina de José Antonio Plates) e, em 1748, Exame de Bombeiros (Madrid: Oficina de Francisco Martinez Abad), tratados que sintetizam as matérias ensinadas na Aula. Mesmo durante o período em que esteve em campanha com Gomes Freire de Andrade, nas demarcações de limites (1752-1759) e na guerra guaranítica (1753-1756), há relatos de que Alpoim continuava a ensinar nos próprios acampamentos. No poema o Uraguai, de Basílio da Gama, que foi um dos seus discípulos, há uma estrofe em que se louva o seu papel pedagógico. Este aspecto é significativo, na medida em que reafirma quer a estrutura metodológica das aulas, fundada sobre aplicação prática dos conhecimentos, quer a sua função pragmática e eminentemente multiplicadora.
Em 1748, André Ribeiro Coutinho, autor do tratado Capitão de Infantaria, era mestre de campo do batalhão de artilharia e, junto a Alpoim, lente da Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro[3]. Depois da morte de Alpoim em 1765, o sargento-mor Eusébio António de Ribeiros foi lente da Aula entre 1768 e 1774[4]. Foi substituído, nesse ano, pelo tenente coronel António Joaquim de Oliveira, que vinha com a função de "lente da Aula do Regimento de Artilharia desta capital e com a obrigação de ensinar igualmente a Arquitetura Militar a seis aulistas praticantes", escolhidos pelo vice-rei[4]. António Joaquim de Oliveira foi lente entre 1774 e 1795, e teve como ajudantes o cadete Caetano Pimentel e o sargento-mor José Pereira Pinto[5]. Trouxe do reino vários instrumentos para serem usados no curso, como bússolas, pranchetas, quadrantes e livros, entre os quais quatorze jogos do Noveau Curs Mathematique e um volume do La Science des Ingénieurs, de Bernard Forest de Bélidor[6]. Ainda em 1774, acrescentou-se à Aula do Terço de Artilharia a disciplina de arquitetura militar[5]. Em 1790, José Lane, autor de um tratado sobre Arquitetura Militar, tradução da obra de Antoni, lecionava na aula[3]. Entre os alunos que passaram pela Aula do Terço pode citar-se Alexandre Eloy Portelli.
Em 1792, a Aula do Terço de Artilharia, também conhecida por Aula do Regimento de Artilharia, foi reformada passando a chamar-se Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, continuando a ser dirigida por António Joaquim de Oliveira.
Outras informações
Professores
Professores da Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro: entre 1738-1765, José Fernandes Pinto Alpoim; em 1748, André Ribeiro Coutinho; em 1768, Eusébio António de Ribeiros; e entre 1774-1795, António Joaquim de Oliveira.
Notas
- ↑ Pardal, “Nota Biográfica e Análise Crítica”, 59.
- ↑ Araujo, “Manoel de Azevedo Fortes e o estatuto dos engenheiros portugueses”, 15-34.
- ↑ 3,0 3,1 Bueno, Desenho e Desígnio, 211.
- ↑ 4,0 4,1 Cavalcanti, Arquitetos & Engenheiros, 45.
- ↑ 5,0 5,1 Piva, “A Evolução Da Engenharia Militar No Rio de Janeiro”, 145–56.
- ↑ Pardal, Brasil 1792: Início do Ensino da Engenharia Civil e da Escola de Engenharia da UFRJ.
Bibliografia
Araujo, Renata Malcher. “Manoel de Azevedo Fortes e o estatuto dos engenheiros portugueses”. Em Manoel de Azevedo Fortes (1660-1749). Cartografia, Cultura e Urbanismo, 15-34. Porto: GEDES, 2006.
Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil Dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade : Fapesp, 2011.
Cavalcanti, Nireu Oliveira. Arquitetos & Engenheiros: Sonho de Entidade Desde 1798. Rio de Janeiro: Crea-RJ, 2007.
Pardal, Paulo. Brasil 1792: Início do Ensino da Engenharia Civil e da Escola de Engenharia da UFRJ. [Salvador]: Odebrecht, 1985.
Pardal, Paulo. “Nota Biografica e Análise Crítica.” Em Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim 1744 (Reprodução Fac-Similar), 13–72. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987.
Piva, Teresa. “A Evolução Da Engenharia Militar No Rio de Janeiro de 1765 a 1810”. Em História Da Ciência Luso-Brasileira. Coimbra Entre Portugal e o Brasil, 145–56. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
Ligações Internas
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Autor(es) do artigo
Renata Araújo
CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Algarve
https://orcid.org/0000-0002-7249-1078
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
https://doi.org/10.34619/sodz-fnbr
Citar este artigo
Araújo, Renata. "Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 10/07/2023). Consultado a 18 de abril de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_do_Ter%C3%A7o_de_Artilharia_do_Rio_de_Janeiro. DOI: https://doi.org/10.34619/sodz-fnbr