Aula de Fortificação de Almeida

Fonte: eViterbo
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Aula de Fortificação de Almeida
(valor desconhecido)
Outras denominações Academia Militar de Almeida
Tipo de Instituição Ensino militar
Data de fundação 6 setembro 1686
Data de extinção valor desconhecido
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Almeida, Guarda, Portugal
Início: 06 de setembro de 1686
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

A designação Aula de Fortificação de Almeida corresponde a uma classificação convencionada comum a outras estruturas lectivas que começaram a funcionar nas últimas décadas do século XVII e que confirmam o empenho de D. Pedro II na criação de uma rede alargada de núcleos de formação, que se juntaram à aula de Lisboa (Aula de Fortificação e Arquitetura Militar) e que são identificáveis em Viana (Aula de Fortificação de Viana), no Alentejo (Aula de Fortificação de Elvas, Aula de Fortificação do Alentejo, ou Estremoz), mas sobretudo no Brasil, África e Índia (Aula de Fortificação do Rio de Janeiro, Aula Militar da Bahia, Aula Militar do Recife, Aula de Fortificação de São Luís, Aula de Fortificação de Goa, Aula de Fortificação de Luanda).

Relativamente a Almeida, ao certo, sabemos apenas que um alvará, datado de 6 de Setembro de 1686, autorizava o sargento-mor engenheiro Jerónimo Velho de Azevedo a dar lição em Almeida e Penamacor sobre matérias relacionadas com fortificação e arte militar, considerando-se assim esta autorização como o início do funcionamento deste núcleo lectivo[1][2]. Neste caso, estando em causa a pouca aplicação dos ajudantes dos terços, a coroa consentia que: "(...) pela muita ciência que tem em todas as formas dos terços e exercícios de ler [Jerónimo Velho] poderia pôr escola para ensinar em seis meses do ano, três na praça de Almeida e outros três na de Penamacor (...) e em cada um dos meses que nelas der Lição se lhe dê cinco mil réis de ajuda de custo [... lição] que não será somente dos esquadros, formaturas dos terços, Reduções e manejos mas também com obrigação de dar apostilha da ofensa e defesa das Praças e forma em que se devem cobrir os exércitos na campanha, dando um dia Lição de uma matéria, e outro da outra alternativamente.[3]".

Desconhece-se se, de facto, ocorreram lições na praça de Penamacor, mas presume-se que em Almeida se terão formado os filhos de Jerónimo Velho, José Velho de Azevedo e António Velho de Azevedo, havendo referência que "aprenderam com o seu pai"; não é, no entanto, possível esclarecer se essa aprendizagem terá acontecido apenas no ambiente familiar, ou se em ambiente militar.

Com efeito, a carta régia de 21 de Julho de 1701, que decretou a criação de aulas de fortificação em várias províncias do reino, indicava Jerónimo Velho de Azevedo como engenheiro responsável pela aula de fortificação da província da Beira, enquanto nomeava também Manuel Mexia e Manuel Pinto de Vilalobos para outras províncias, por serem considerados muito capazes de dar doutrina proveitosa a soldados ou outros que tivessem capacidade para o estudo de fortificações[4][5]. A continuidade da aula é indicada pela referência, em 1703, a António Velho de Azevedo, ocupado "com o trabalho de estar lendo fortificação na praça de Almeida"[2][6].

Mas, quando, em 1720, Manuel de Azevedo Fortes apresentou ao rei a sua proposta para a reforma da formação dos engenheiros, ao referir-se aos efeitos do anterior decreto de 1701, afirmou que a criação de novas academias só teve efeito em Viana, o que tem levado a considerar que a Aula de Almeida não teve sequência[7]. Contudo, torna-se necessário ter em atenção que essa continuidade poderá ter-se verificado apenas através das lições, sem haver partidos ou lugares remunerados pela coroa e, como tal, sem peso institucional ou enquadramento administrativo. O mesmo problema pode ser identificado relativamente ao posterior decreto de 1732, que deu continuidade à Aula de Fortificação de Viana e que determinou o estabelecimento de mais duas academias militares, uma em Almeida e outra em Elvas[8][9], pois sobre o seu funcionamento na Beira não existem dados explícitos.

Sabemos que, em 1736, Manuel de Azevedo Fortes, com o seu ajudante José Pinto Alpoim, delineava a renovação e conclusão das obras de fortificação de Almeida[10], tendo o engenheiro-mor dirigido pessoalmente as obras durante oito meses, entre 1737 e 1738[11]. Considerando o seu interesse pelo ensino e o próprio currículo de Pinto de Alpoim, que era lente substituto da Aula de Fortificação de Viana, será de supor que um ou outro, ou ambos, possam ter tido papel activo nas lições da aula de Almeida, na tentativa de a transformar em academia. O mesmo Pinto de Alpoim, depois lente na Aula de Fortificação do Rio de Janeiro, referia mais tarde na sua folha de serviços que "Na praça de Almeida ensinou os Artilheiros a carregar e apontar a Artilharia, e morteiros de bombas de que muitos saíram capazes, e lhes ensinou tão bem amiudar os tiros das peças pequenas, que por ser invento moderno o ignoravam, preparando carreiras por seu modelo (...)"[12][13].

Mais verosímil, todavia, parece ser a continuidade da aula a partir da actividade de Miguel Luís Jacob. Este engenheiro das fortificações de Almeida - onde permaneceu durante muitos anos, não sendo nomeado ou documentado como lente -, era um discípulo de Manuel de Azevedo Fortes que se destacou no desenho. Deixou manuscrita a tradução ilustrada do tratado de Louis de Cormontaigne, Architecture Militaire ou l'Art de Fortifier (La Haye: Chez Jean Neaulme et Adrien Moetjens, 1741), sob o título Tratado de Fortificação Regular e Irregular. Livro I da Fortificação Regular, Livro II da Fortificação Irregular, Livro III da Fortificação Effetiva, composto pelo Capitão de Infantaria com Exercício de Engenheiro Miguel Luís Jacob, códice não datado, mas anterior a 1762, considerando a patente anunciada por Jacob[14].

Não obstante, já nos fins do século XVIII, António Bernardo da Costa aparece referido como lente da Aula de Almeida em 1791, integrando na altura o Real Corpo de Engenheiros no posto de capitão[15][16]. Assim, se não é possível depreender a organização de uma academia com um funcionamento contínuo e estruturado, torna-se evidente uma sequência importante de referências a lições ocorridas na praça de Almeida, desde 1686, ainda que não saiba exactamente quando terminou essa actividade.

Outras informações

Professores

Professores da Aula de Fortificação de Almeida: entre 1686 - 1703(?), Jerónimo Velho de Azevedo; entre 1703 -????, António Velho de Azevedo; entre (?)1737 - 1738, Manuel de Azevedo Fortes; em (?)1736, José Fernandes Pinto de Alpoim; (?)depois de 1762, Miguel Luís Jacob; e em 1791, António Bernardo da Costa.

Curricula

Formaturas militares, Ataque e Defesa das Praças (1686);

Artilharia(?) (1736);

Fortificação (depois de 1762).

Notas

  1. Soromenho, Manuel Pinto de Vilalobos, 22-23.
  2. 2,0 2,1 Conceição, Da Vila Cercada à Praça de Guerra, 77; 85-86; 285.
  3. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, lv. 40, fl. 232-232 v..
  4. Arquivo Histórico Militar, fundo 3, série 5.3, cx. 6, peça 12. Cópia do Decreto de 20 de Julho de 1701.
  5. Sepúlveda, Historia organica e politica do Exercito Português, 5:105-106.
  6. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, lv. 53, fl. 140 v..
  7. Fortes, Representação a Sua Magestade sobre a forma e direcção que devem ter os Engenheiros.
  8. Arquivo Arquivo Histórico Militar, fundo 3, s. 5.3, cx. 6, peça 1, cópia do Decreto de 24 de Dezembro de 1732.
  9. Chaby, Synopse dos Decretos, 4:286.
  10. Direcção de Infraestruturas do Exército, Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar, 4027/I-3-33-45. Planta da Praça de Almeida, com as obras interiores e exteriores addicionadas e determinadas pelo Engenheiro-mor do Reino Manuel de Azevedo Fortes. Riscadas pelo Cappitam Jozé Fernandes Pinto Alpoym. Anno de 1736.
  11. Conceição, Da Vila Cercada à Praça de Guerra, 85-87; 289-290.
  12. Arquivo Histórico Ultramarino, ACL_CU_017-01, cx. 53, d. 12479. Consulta de 12 de Agosto de 1745.
  13. Ribeiro, A formação dos engenheiros militares, 121-122.
  14. Biblioteca Pública Municipal do Porto, Manuscrito 1199.
  15. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Decretos, mç. 149, nº. 82.
  16. Conceição, Da Vila cercada à Praça de Guerra, 86; 287.

Fontes

Arquivo Histórico Militar, fundo 3, s. 5.3, cx. 6, peça 1, cópia do Decreto de 24 de Dezembro de 1732.

Arquivo Histórico Militar, fundo 3, s. 5.3, cx. 6, peça 12. Cópia do Decreto de 20 de Julho de 1701.

Arquivo Histórico Ultramarino, ACL_CU_017-01, cx. 53, d. 12479. Consulta de 12 de Agosto de 1745.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, lv. 40, fl. 232-232 v..

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, lv. 53, fl. 140 v..

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Decretos, mç. 149, nº. 82.

Biblioteca Pública Municipal do Porto, Manuscrito 1199.

Direcção de Infraestruturas do Exército, Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar, 4027/I-3-33-45. Planta da Praça de Almeida, com as obras interiores e exteriores addicionadas e determinadas pelo Engenheiro-mor do Reino Manuel de Azevedo Fortes. Riscadas pelo Cappitam Jozé Fernandes Pinto Alpoym. Anno de 1736.

Fortes, Manuel de Azevedo. Representação a Sua Magestade sobre a forma e direcção que devem ter os Engenheiros para melhor servirem ao dito Senhor neste Reyno, e nas suas conquistas. Lisboa: Officina de Matias Pereira da Silva, 1720.

Bibliografia

Chaby, Cláudio de. Synopse dos Decretos Remettidos ao Extincto Conselho da Guerra. Vol. 4. Lisboa: Imprensa Nacional, 1869.

Conceição, Margarida Tavares. Da Vila Cercada à Praça de Guerra, Formação do Espaço Urbano em Almeida (séculos XVI - XVIII). Lisboa: Livros Horizonte, 2002.

Ribeiro, Dulcyene Maria. "A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da engenharia militar no século XVIII em Portugal e no Brasil". Tese Doutoramento, Universidade de São Paulo, 2009.

Sepúlveda, Cristóvão Aires de Magalhães. Historia organica e politica do Exercito Português. Vol. 5. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1910.

Soromenho, Miguel. "Descrever, registar, instruir. Práticas e usos do desenho". Em Ciência do Desenho. A Ilustração na Colecção de Códices da Biblioteca Nacional, 19-24. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2001.

Soromenho, Miguel. "Manuel Pinto de Vilalobos, da Engenharia Militar à Arquitectura". Dissertação de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa, 1991.

Ligações Internas

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Autor(es) do artigo

Margarida Tavares da Conceição

IHA - Instituto de História da Arte, FCSH, Universidade NOVA de Lisboa / IN2PAST — Laboratório Associado para a Investigação e Inovação em Património, Artes, Sustentabilidade e Território

https://orcid.org/0000-0003-3041-9235

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa, através do projeto estratégico financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., ref. UID/PAM/00417/2019.

DOI

https://doi.org/10.34619/co5k-rhgv

Citar este artigo

Conceição, Margarida Tavares da. "Aula de Fortificação de Almeida", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 13/07/2023). Consultado a 29 de março de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_de_Fortifica%C3%A7%C3%A3o_de_Almeida. DOI: https://doi.org/10.34619/co5k-rhgv