Domingos Vieira (2)
Domingos Vieira (2) | |
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Nome completo | Domingos Vieira |
Outras Grafias | Domingos Vieyra |
Pai | valor desconhecido |
Mãe | valor desconhecido |
Cônjuge | valor desconhecido |
Filho(s) | valor desconhecido |
Irmão(s) | valor desconhecido |
Nascimento | valor desconhecido |
Morte | valor desconhecido |
Sexo | Masculino |
Religião | valor desconhecido |
Residência | |
Residência | Lisboa, Lisboa, Portugal |
Cargos | |
Cargo | Professor |
Data | Início: 1705 Fim: 1713 |
Actividade | |
Actividade | Autoria de texto |
Data | Início: 1709 |
Local de Actividade | Lisboa, Lisboa, Portugal |
Biografia
Dados biográficos
Havendo pouca informação sobre Domingos Vieira, este terá tido formação na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão (finais do século XVII e inícios do século XVIII), conforme informação presente no parecer de Consulta por si emitido em 1705[1]. Neste parecer afirma ter sido colega de estudo do suplicante, o Capitão engenheiro do Alentejo Joseph Pinheiro da Silva, em colégio da cidade de Lisboa.
Carreira
A sua atividade didática, no âmbito da matemática junto da Aula de Fortificação de Lisboa, pode ser balizada pela dos seus antecessores (Francisco Pimentel e Manuel de Azevedo Fortes) e predecessores (José Sanches), estabelecendo-se algures entre 1705 e 1713.
A partir de 1706, os pareceres por si emitidos são assinados como lente da Aula de Fortificação de Lisboa. Sabe-se, no entanto, que em 1709 Domingos Vieira ocupava a posição de lente substituto, sendo o lente proprietário Manuel de Azevedo Fortes[2].
Relativamente à sua produção conhece-se o manuscrito do Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva, de 1709 (3875 v. – Biblioteca da Academia Militar), produzido no âmbito da sua ação pedagógica na Aula da fortificação, bem como compêndios realizados pela mão de alunos que permitem reconhecer conteúdos ministrados nas aulas. É o caso dos manuscritos de Manuel António Matos (engenheiro militar), como o Tractatdo Matemático da arte de municiar as Praças (BN - COD 5176), que na introdução aponta a correspondência do manuscrito com compêndio das noções de arte e ciência de fortificar de Domingos Vieira, ou ainda o Compêndio de tática militar (BNP - PBA 105/26 ou F. 5675) que corresponderá igualmente a notas das aulas de Domingos Vieira[3].
Outras informações
No processo de sistematização das matérias da matemática, geometria e perspectiva o Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva (1709), de Domingos Vieira, revela a organização do conhecimento da matéria a partir da tratadística disponível. Neste caso, a perspectiva, principal alvo da obra, é exposta a partir da sua enunciação teórica, citando autoridades clássicas (Ptolomeu, Euclides, Alhazen e Vitellio), e modernas (Guidobaldo, Meroloycio, Vignola, Acrignio, Kepler, Aquilonio, Dantes, Christovão Seheyner, Francisco Schinardo, Honorato Fabri, Taquet, Gaspar Schotto, etc.), sendo acompanhada pela respetiva tradução gráfica dos procedimentos expostos. O leque de autoridades identificadas na introdução revela os conteúdos da ótica, geometria e perspectiva em circulação em Portugal.
No texto são identificados três tipos de visão, caracterizados segundo a natureza do raio visual (direto, reflexo - catóptrica, quebrado – dióptrica). Contudo, uma vez que o objetivo da obra incide na matéria da ótica util à Arte Militar[4], o autor restringe-se ao estudo da visão direta organizada em dois artigos: ótica especulativa, “He a óptica especulativa, ou theorica, a que trata do modo de ver por rayo directo, demonstrando as propriedades da vizão”[5]; ótica prática, ou perspetiva, “He a óptica pratica ou perspectiva hua arte, q[ue] trata das projeções. He a projeção e trasfiração de couza sólida p[ar]a o plano, q[ue] he o mesmo que delinear em algum plano o objecto aparente como quando em algum papel se representa hua fortificação, ou outra qualquer couza”[6]. O texto gere-se assim a partir da tradicional ordenação dos tratados congéneres entre ótica (perspectiva naturalis) e perspetiva (perspectiva artificialis).
Em Da óptica prática, que commum[emt]e chamão perspectiva, expõe-se o dispositivo vitruviano tomado a partir dos modelos projetivos de François d’Aguilon (1613): ortrografico (que supõe centro de projeção no infinito); stereografico (cujo centro de projeção é coincidente com o objeto); eschenografico (com centro de projeção a distância finita face ao objeto). Assim, Domingues Vieira clarifica a diferença entre cada um dos tipos de projeção aplicando demonstração fundada na sombra de esfera armilar a partir de diferentes focos luminosos. No caso da projeção eschenografico, a projeção cónica, expõe a transformação operada entre as entidades no espaço, os círculos paralelos da esfera, e a sua projeção, a sombra em forma Iliptica, sendo precisamente esta projeção que interessa à prática do Architeto militar. Nessa procura de legitimar a pertinência da teoria de acordo com a sua aplicação, o autor aponta ainda a importância deste ramo da ótica à pintura e escultura cujas potencialidades de simulação e engano visual serve à representação dos objetos aparentes. Já na aplicação da perspectiva à arquitetura sobrevém do texto as suas aptidões enquanto suporte conceptual, relativamente à materialização, pré-visualização e crítica do facto projetado, enquanto na pintura esta sustenta o artifício que, através de mecanismos ilusórios, são capazes de reproduzir ou interferir sobre a aparência do mundo.
Balizando a aplicabilidade da perspectiva segundo a ação de diferentes campos disciplinares, inicia-se a sua enunciação através da identificação de definições e fundamentos: tabua, vidro ou secção (colocando-se na linha albertiana da secção do cone visual); linha da terra; ponto principal da vista ou centro da perspetiva; linha horizontal; linha da distância; pontos secundários ou de distância (que sobre a linha horizontal distam do ponto principal o correspondente à distância da vista ao plano da secção perspética, filiando-se no enunciado de Vignola); linha principal; a par de breve alfabeto de planos e retas. A partir destas definições, aborda a convergência de entidades paralelas lançando-se numa sequência de operações para a delineação da perspectiva. Tendo presente que “o que se ve detraz da tabua se pode imaginar”, o autor reforça o desígnio da perspectiva no ato de projeto: dar a ver a ideia do arquiteto.
Ainda que se dirigindo ao que de útil interessa à Arte Militar, é curioso que às instruções na projecção de edifícios (ponto 4º da 2ª parte) o texto divague, ainda que de modo abreviado e sem desenhos de apoio, na projecção das scenas atalhando por práticas externas às do seu âmbito. Tal desvio permite julgar que o recurso a tal projecção seja consequente à sua formação em Santo Antão, onde a representação teatral faz parte da aplicação dos curricula de retórica, mecânica e ótica (conforme se verifica nos manuscritos de Inácio Vieira) ou resulte da transposição acrítica e direta dos conteúdos e sequências plasmadas nas suas fontes. Contudo, dada a objetividade na exposição de Domingos Vieira parece mais credível a primeira hipótese, encarando-se a cenografia como ensaio/exercício prático da perspectiva.
Obras
1709 – Redige o manuscrito: Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva. 3875 v. Biblioteca da Academia Militar
Notas
- ↑ Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Consulta do Conselho de Guerra, Maço 64.
- ↑ Dulcyene Maria Ribeiro, A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil. (PhD thesis, 2009), 80.
- ↑ Ribeiro, A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil, 207.
- ↑ Domingos Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva. (n.p., 1744): f. 3.
- ↑ Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva.
- ↑ Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva.
Fontes
Vieira, Domingos, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva, 3875 v. Biblioteca da Academia Militar.
Bibliografia
Ribeiro, Dulcyene Maria. “A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil.” PhD thesis. Faculdade de educação da Universidade de São Paulo, 2009.
Cabeleira, João. “Arquitecturas Imaginárias. Espaço real e ilusório no Barroco português.” PhD thesis. Universidade do Minho, 2015.
Ligações Externas
Autor(es) do artigo
João Cabeleira
Lab2PT - Universidade do Minho
http://orcid.org/0000-0002-6800-8557
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
https://doi.org/10.34619/7ypj-np3t
Citar este artigo
Cabeleira, João. "Domingos Vieira (2)", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 21/06/2023). Consultado a 21 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Domingos_Vieira_(2). DOI: https://doi.org/10.34619/7ypj-np3t