Domingos Vieira (2)

Fonte: eViterbo
Revisão em 17h06min de 17 de janeiro de 2023 por Operador (discussão | contribs)
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa


Domingos Vieira (2)
Nome completo Domingos Vieira
Outras Grafias Domingos Vieyra
Pai valor desconhecido
Mãe valor desconhecido
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento valor desconhecido
Morte valor desconhecido
Sexo Masculino
Religião valor desconhecido
Residência
Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Cargos
Cargo Professor
Data Início: 1705
Fim: 1713
Actividade
Actividade Autoria de texto
Data Início: 1709
Local de Actividade Lisboa, Lisboa, Portugal


Biografia

Dados biográficos

Havendo pouca informação sobre Domingos Vieira, este terá tido formação na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão (finais do século XVII e inícios do século XVIII), conforme informação presente no parecer de Consulta por si emitido em 1705[1]. Neste parecer afirma ter sido colega de estudo do suplicante, o Capitão engenheiro do Alentejo Joseph Pinheiro da Silva, em colégio da cidade de Lisboa.

Carreira

A sua atividade didática, no âmbito da matemática junto da Aula de Fortificação de Lisboa, pode ser balizada pela dos seus antecessores (Francisco Pimentel e Manuel de Azevedo Fortes) e predecessores (José Sanches), estabelecendo-se algures entre 1705 e 1713.

A partir de 1706, os pareceres por si emitidos são assinados como lente da Aula de Fortificação de Lisboa. Sabe-se, no entanto, que em 1709 Domingos Vieira ocupava a posição de lente substituto, sendo o lente proprietário Manuel de Azevedo Fortes[2].

Relativamente à sua produção conhece-se o manuscrito do Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva, de 1709 (3875 v. – Biblioteca da Academia Militar), produzido no âmbito da sua ação pedagógica na Aula da fortificação, bem como compêndios realizados pela mão de alunos que permitem reconhecer conteúdos ministrados nas aulas. É o caso dos manuscritos de Manuel António Matos (engenheiro militar), como o Tractatdo Matemático da arte de municiar as Praças (BN - COD 5176), que na introdução aponta a correspondência do manuscrito com compêndio das noções de arte e ciência de fortificar de Domingos Vieira, ou ainda o Compêndio de tática militar (BNP - PBA 105/26 ou F. 5675) que corresponderá igualmente a notas das aulas de Domingos Vieira[3].

Outras informações

No processo de sistematização das matérias da matemática, geometria e perspectiva o Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva (1709), de Domingos Vieira, revela a organização do conhecimento da matéria a partir da tratadística disponível. Neste caso, a perspectiva, principal alvo da obra, é exposta a partir da sua enunciação teórica, citando autoridades clássicas (Ptolomeu, Euclides, Alhazen e Vitellio), e modernas (Guidobaldo, Meroloycio, Vignola, Acrignio, Kepler, Aquilonio, Dantes, Christovão Seheyner, Francisco Schinardo, Honorato Fabri, Taquet, Gaspar Schotto, etc.), sendo acompanhada pela respetiva tradução gráfica dos procedimentos expostos. O leque de autoridades identificadas na introdução revela os conteúdos da ótica, geometria e perspectiva em circulação em Portugal.

No texto são identificados três tipos de visão, caracterizados segundo a natureza do raio visual (direto, reflexo - catóptrica, quebrado – dióptrica). Contudo, uma vez que o objetivo da obra incide na matéria da ótica util à Arte Militar[4], o autor restringe-se ao estudo da visão direta organizada em dois artigos: ótica especulativa, “He a óptica especulativa, ou theorica, a que trata do modo de ver por rayo directo, demonstrando as propriedades da vizão[5]; ótica prática, ou perspetiva, “He a óptica pratica ou perspectiva hua arte, q[ue] trata das projeções. He a projeção e trasfiração de couza sólida p[ar]a o plano, q[ue] he o mesmo que delinear em algum plano o objecto aparente como quando em algum papel se representa hua fortificação, ou outra qualquer couza”[6]. O texto gere-se assim a partir da tradicional ordenação dos tratados congéneres entre ótica (perspectiva naturalis) e perspetiva (perspectiva artificialis).

Em Da óptica prática, que commum[emt]e chamão perspectiva, expõe-se o dispositivo vitruviano tomado a partir dos modelos projetivos de François d’Aguilon (1613): ortrografico (que supõe centro de projeção no infinito); stereografico (cujo centro de projeção é coincidente com o objeto); eschenografico (com centro de projeção a distância finita face ao objeto). Assim, Domingues Vieira clarifica a diferença entre cada um dos tipos de projeção aplicando demonstração fundada na sombra de esfera armilar a partir de diferentes focos luminosos. No caso da projeção eschenografico, a projeção cónica, expõe a transformação operada entre as entidades no espaço, os círculos paralelos da esfera, e a sua projeção, a sombra em forma Iliptica, sendo precisamente esta projeção que interessa à prática do Architeto militar. Nessa procura de legitimar a pertinência da teoria de acordo com a sua aplicação, o autor aponta ainda a importância deste ramo da ótica à pintura e escultura cujas potencialidades de simulação e engano visual serve à representação dos objetos aparentes. Já na aplicação da perspectiva à arquitetura sobrevém do texto as suas aptidões enquanto suporte conceptual, relativamente à materialização, pré-visualização e crítica do facto projetado, enquanto na pintura esta sustenta o artifício que, através de mecanismos ilusórios, são capazes de reproduzir ou interferir sobre a aparência do mundo.

Balizando a aplicabilidade da perspectiva segundo a ação de diferentes campos disciplinares, inicia-se a sua enunciação através da identificação de definições e fundamentos: tabua, vidro ou secção (colocando-se na linha albertiana da secção do cone visual); linha da terra; ponto principal da vista ou centro da perspetiva; linha horizontal; linha da distância; pontos secundários ou de distância (que sobre a linha horizontal distam do ponto principal o correspondente à distância da vista ao plano da secção perspética, filiando-se no enunciado de Vignola); linha principal; a par de breve alfabeto de planos e retas. A partir destas definições, aborda a convergência de entidades paralelas lançando-se numa sequência de operações para a delineação da perspectiva. Tendo presente que “o que se ve detraz da tabua se pode imaginar”, o autor reforça o desígnio da perspectiva no ato de projeto: dar a ver a ideia do arquiteto.

Ainda que se dirigindo ao que de útil interessa à Arte Militar, é curioso que às instruções na projecção de edifícios (ponto 4º da 2ª parte) o texto divague, ainda que de modo abreviado e sem desenhos de apoio, na projecção das scenas atalhando por práticas externas às do seu âmbito. Tal desvio permite julgar que o recurso a tal projecção seja consequente à sua formação em Santo Antão, onde a representação teatral faz parte da aplicação dos curricula de retórica, mecânica e ótica (conforme se verifica nos manuscritos de Inácio Vieira) ou resulte da transposição acrítica e direta dos conteúdos e sequências plasmadas nas suas fontes. Contudo, dada a objetividade na exposição de Domingos Vieira parece mais credível a primeira hipótese, encarando-se a cenografia como ensaio/exercício prático da perspectiva.  

Obras

1709 – Redige o manuscrito: Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva. 3875 v. Biblioteca da Academia Militar

Notas

  1. ANTT, Consulta do Conselho de Guerra, Maço 64.
  2. Dulcyene Maria Ribeiro, A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil. (PhD thesis, 2009), 80.
  3. Ribeiro, A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil, 207.
  4. Domingos Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva. (n.p., 1744): f. 3.
  5. Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva.
  6. Vieira, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva.

Fontes

Vieira, Domingos, Tratado Matemático que contem a Óptica especulativa e prática ou perspectiva, 3875 v. Biblioteca da Academia Militar.  

Bibliografia

Ribeiro, Dulcyene Maria. “A formação dos engenheiros militares: Azevedo Fortes, Matemática e ensino da Engenharia Militar no século XVIII em Portugal e no Brasil.” PhD thesis. Faculdade de educação da Universidade de São Paulo, 2009. 

Cabeleira, João. “Arquitecturas Imaginárias. Espaço real e ilusório no Barroco português.” PhD thesis. Universidade do Minho, 2015.

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

João Cabeleira

Lab2PT - Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-6800-8557

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/7ypj-np3t

Citar este artigo

Cabeleira, João. "Domingos Vieira (2)", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 17/01/2023). Consultado a 01 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Domingos_Vieira_(2). DOI: https://doi.org/10.34619/7ypj-np3t