Luís Serrão Pimentel: diferenças entre revisões

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===Carreira===
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Luís Serrão Pimentel entrou ao serviço da coroa em Outubro de 1641, informação constante numa carta padrão datada de 1666, que dá a ler parte o seu currículo até então<ref name=":2" /> <ref name=":3" /> <ref>Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Consulta de 4 Setembro de 1663.</ref>
Luís Serrão Pimentel entrou ao serviço da coroa em Outubro de 1641, informação constante numa carta padrão datada de 1666, que dá a ler parte o seu currículo até então<ref name=":2" /> <ref name=":3" /> <ref>Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Consulta de 4 Setembro de 1663.</ref>. Retrospectivamente, pode-se concluir que os serviços prestados na década de 1640 estiveram relacionados com a assistência ao cosmógrafo-mor titular, [[António de Mariz Carneiro]]. Barbosa de Machado afirma que em 1642 Pimentel viu aprovado o regimento de pilotos que apresentou a exame ao proprietário do cargo<ref name=":0" />. É também sabido que Mariz Carneiro ficou impedido de exercer o cargo por ter sido degredado para o Brasil entre 1644 e 1646, tendo visto a sua pena perdoada somente em 1649, circunstância que contribui para a clarificação dos papéis desempenhados<ref name=":4">Matos,"António de Mariz Carneiro Cosmógrafo-Mor".</ref>. Assim, por alvará régio de 13 de Julho de 1647, Luís Serrão Pimentel foi nomeado como "cosmógrafo-mor lente de matemática enquanto durar o impedimento do dito proprietário", sendo ainda mencionado que assim servia já há alguns anos<ref>Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João IV, Lv. 18, fl. 298 v.</ref> <ref name=":4" />.


Retrospectivamente, pode-se concluir que os serviços prestados na década de 1640 estiveram relacionados com a assistência ao cosmógrafo-mor titular, [[António de Mariz Carneiro]]. Barbosa de Machado afirma que em 1642 Pimentel viu aprovado o regimento de pilotos que apresentou a exame ao proprietário do cargo<ref name=":0" />. É também sabido que Mariz Carneiro ficou impedido de exercer o cargo por ter sido degredado para o Brasil entre 1644 e 1646, tendo visto a sua pena perdoada somente em 1649, circunstância que contribui para a clarificação dos papéis desempenhados<ref>Matos,"António de Mariz Carneiro Cosmógrafo-Mor".</ref>.  
Esta data tem sido tomada como momento da instituição da [[Aula de Fortificação de Lisboa]], mas não é correcto. Luís Serrão Pimentel começou a leccionar fortificação apenas a partir de 1654 e desde essa altura a sua identificação profissional surge quase sempre como lente de fortificação. O alvará régio, datado de 29 de Outubro de 1654, tem por objecto a resposta a uma petição de militares, arquitectos e "outras pessoas" e é categórico no esclarecimento desta questão: "[...] hei por bem e me apraz que o dito Luís Serrão Pimentel leia nesta cidade a arte da fortificação e a lição das mais coisas acima referidas aos que as quiserem aprender e que com esta ocupação vença sessenta mil réis por ano [....] e valha posto que seu efeito haja de durar mais de um ano sem embargo de ordenação em contrário."<ref>Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Secretaria de Guerra, Registo, Lv. 17, fl. 172.</ref> <ref>Sepúlveda, ''História Orgânica e Política'', vol. VIII, 548.</ref>. Na petição feita ao rei constam cerca de sessenta assinaturas, incluindo nomes vinculados aos “lugares de aprender arquitetura”, como [[João Nunes Tinoco]], que encabeça a lista, ou [[Mateus do Couto (2)|Mateus do Couto]] e [[Simão Madeira]], além de vários outros militares<ref>Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 14, consulta de 13 Outubro de 1654.</ref>.
Assim, por alvará régio de 13 de Julho de 1647, Luís Serrão Pimentel foi nomeado como "cosmográfo-mor lente de matemática enquanto durar o impedimento do dito proprietário", sendo ainda mencionado que assim servia já há alguns anos.  
 
(ANTT, Chancelaria de D. João IV, Lv. 18, fl. 298 v. Lisboa, 13 de Julho de 1647, trans. Matos 2002, Ferreira 2015).
Da sua actividade como cosmógrafo regista-se a realização de exames a pilotos, cartógrafos e construtores de instrumentos náuticos<ref>Enquanto cosmógrafo-mor interino examinou trinta e dois candidatos a pilotos, em 1641, 1642 e entre 1644 e 1648; Polónia, "Mestres e pilotos das Carreiras Ultramarinas", 271-353.</ref> <ref>Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 50.</ref>, bem como a revisão de regimentos, compilação de dados das viagens e organização de roteiros. Entre as suas tarefas cabia também a responsabilidade de emitir pareceres<ref>No ''Regimento de Pilotos e Roteiro da Navegaçam, e Conquistas do Brazil, Angola, S. Thome, Cabo Verde, Maranhão, Ilhas, & India''s, de Antonio Mariz Carneiro, 1642, existe um parecer de Luís Serrão Pimentel, datado de 1 fevereiro de 1642; Matos, "António Mariz Carneiro"; Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 54.</ref> e participar em juntas sobre questões técnicas e científicas. Destaca-se a sua participação, com Mariz Carneiro, na junta de matemáticos reunida em 18 de Março de 1656 a fim de avaliar a proposta de Tomé da Fonseca sobre a determinação da longitude; nesta ocasião observa-se que Pimentel surge apresentado como Lente de Fortificação.
 
Arquivo Histórico Ultramarino, Índia, Papéis avulsos, capilha de 3 de Abril de 1656, publicado por Matos, "António Mariz Carneiro" e Ferreira, "Luís Serrão Pimentel",143-144; sobre os pareceres de Luís Serrão Pimentel acerca das medições para o cálculo para longitude: Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 59-60.


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Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso VI, Lv. 20, fl. 129 v.-130 v., Carta de mercê atribuindo a Luís Serrão Pimentel a tença de cinquenta e dois mil e quinhentos réis na imposição dos vinhos de Évora, que vagou por morte de sua tia, Isabel Mendes de Tovar, 30 de Julho de 1666. Alvará de renúncia de Luís Serrão Pimentel, da referida tença, em sua filha Ana Maria Pimentel, 31 de Julho de 1666.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso VI, Lv. 20, fl. 129 v.-130 v., Carta de mercê atribuindo a Luís Serrão Pimentel a tença de cinquenta e dois mil e quinhentos réis na imposição dos vinhos de Évora, que vagou por morte de sua tia, Isabel Mendes de Tovar, 30 de Julho de 1666. Alvará de renúncia de Luís Serrão Pimentel, da referida tença, em sua filha Ana Maria Pimentel, 31 de Julho de 1666.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Consulta de 4 Setembro de 1663, Petição de Luís Serrão Pimentel do cargo de engenheiro-mor do reino.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João IV, Lv. 18, fl. 298 v., alvará de nomeação de Luís Serrão Pimentel como cosmógrafo-mor interino, 13 de Julho de 1647.
 
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 14, consulta de 13 Outubro de 1654, Sobre o soldo que se poderá signalar a Luís Serrão Pimentel enquanto assistir na ocupação de ensinar cosmografia e a arte da fortificação.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 36, Consulta sobre requerimento de Luís Serrão Pimentel para publicar o Método Lusitânico, 21 de Agosto de 1677.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, consulta de 4 Setembro de 1663, Petição de Luís Serrão Pimentel do cargo de engenheiro-mor do reino.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Feitos Findos, Registo Geral dos Testamentos de Lisboa, Lv. 13, fls. 104-104 v.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 36, consulta sobre requerimento de Luís Serrão Pimentel para publicar o Método Lusitânico, 21 de Agosto de 1677.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Secretaria de Guerra, Registo, Lv. 17, fl. 172, alvará régio que manda Luís Serrão Pimentel ler fortificação, 10 de Outubro de 1654.


Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Feitos Findos, Registo Geral dos Testamentos de Lisboa, Lv. 13, fls. 104-104 v.




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Olival, Fernanda. "O acesso de uma família de cristãos-novos portugueses à Ordem de Cristo", Ler História 33 (1997): 67-82.
Olival, Fernanda. "O acesso de uma família de cristãos-novos portugueses à Ordem de Cristo", Ler História 33 (1997): 67-82.
Polónia, Amélia. "Mestres e pilotos das Carreiras Ultramarinas (1596-1648), subsídios para o seu estudo", ''Revista da Faculdade de Letras do Porto, História'', 2ª série, 12 (1995): 271-353.


Rossa, Walter. "A Cidade Portuguesa", In: ''A Urbe e o Traço. Uma Década de Estudos sobre o Urbanismo Português,'' 193-360. Coimbra: Almedina, 2002.
Rossa, Walter. "A Cidade Portuguesa", In: ''A Urbe e o Traço. Uma Década de Estudos sobre o Urbanismo Português,'' 193-360. Coimbra: Almedina, 2002.


Sá, Frei Manuel de. ''Memorias Historicas da Ordem de Nossa Senhora do Carmo'', Lisboa: Oficina de José António da Silva,1727.
Sá, Frei Manuel de. ''Memorias Historicas da Ordem de Nossa Senhora do Carmo'', Lisboa: Oficina de José António da Silva,1727.
Santos, António Ribeiro dos. "Memórias Históricas sobre alguns mathematicos portugueses e extrangeiros domiciliados em Portugal ou nas Conquistas", ''Memorias da Literatura Portuguesa'', vol. VIII (parte I), 148-230. Lisboa: Academia de Ciências, 1812.
Sepúlveda, Cristovão Aires de Magalhães. ''História Orgânica e Política do Exército Portuguez, Provas'', vol. V. Lisboa: Imprensa Nacional, 1910.
Sepúlveda, Cristovão Aires de Magalhães. ''História Orgânica e Política do Exército Portuguez, Provas'', vol. VIII. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1919.
Silva, Inocêncio Francisco da. ''Diccionario Bibliographico Portuguez'', vol. V, 321-322. Lisboa: Imprensa Nacional, 1860.


Soromenho, Miguel. "Manuel Pinto de Vilalobos, da Engenharia Militar à Arquitectura". Tese de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa, 1991.
Soromenho, Miguel. "Manuel Pinto de Vilalobos, da Engenharia Militar à Arquitectura". Tese de Mestrado, Universidade Nova de Lisboa, 1991.
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*Obra digitalizada In [http://purl.pt/index/geral/aut/PT/120517.html BNP].
*Obra digitalizada In [http://purl.pt/index/geral/aut/PT/120517.html BNP].
*https://www.publico.pt/2014/03/01/ciencia/noticia/luis-serrao-pimentel-homem-de-ciencia-do-seculo-xvii-foi-resgatado-numa-exposicao-1626644
*https://www.publico.pt/2014/03/01/ciencia/noticia/luis-serrao-pimentel-homem-de-ciencia-do-seculo-xvii-foi-resgatado-numa-exposicao-1626644
 
*
<!-- Comentários vossos e bibliografia citada pelas fontes
CHR D. Afonso VI, liv. 20, fol. 129v (reproduz)
CHR D. Afonso VI, liv. 29, fol. 267(reproduz)
Biblioteca das Necessidades, MS 1013/4 in fol. (reproduz)
MS Biblioteca da Ajuda, livro De Christovam Soares de Abreu Rezidente em França - Papeis variados, folha 271.
-->
 
==Autor(es) do artigo==
==Autor(es) do artigo==



Revisão das 20h16min de 10 de dezembro de 2022


Luís Serrão Pimentel
Nome completo Luís Serrão Pimentel
Outras Grafias Luis Serram, Luis Sarram
Pai Jorge Serrão Pimentel
Mãe Ana Tovar e Miranda
Cônjuge Isabel de Godines
Filho(s) Manuel Pimentel, Jorge Pimentel, Francisco Pimentel, Ana Maria Pimentel
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento 4 fevereiro 1613
Lisboa, Lisboa, Portugal
Morte 13 dezembro 1679
Lisboa, Lisboa, Portugal
Sexo Masculino
Religião Cristã
Residência
Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Data Início: 1613
Fim: 1679
Formação
Formação Matemática
Local de Formação Lisboa, Lisboa, Portugal
Postos
Posto Tenente-General
Data Início: 1663
Fim: 1671
Arma Artilharia
Cargos
Cargo Cosmógrafo
Data Início: outubro de 1641
Fim: 13 de julho de 1647

Cargo Cosmógrafo-mor
Data Início: 13 de julho de 1647
Fim: 14 de dezembro de 1671

Cargo Cosmógrafo-mor
Data Início: 14 de dezembro de 1671
Fim: 13 de dezembro de 1679

Cargo Professor
Data Início: 1647
Fim: 1679

Cargo Professor
Data Início: 1654
Fim: 1679

Cargo Engenheiro
Data Início: 1663
Fim: 14 de dezembro de 1671
Actividade
Actividade Campanha militar
Data Início: 1658
Fim: 1664
Local de Actividade Alentejo, Portugal

Actividade Desenho de fortificação
Data Início: 1661
Fim: 1664
Local de Actividade Alentejo, Portugal

Actividade Missão
Data Início: 1673
Fim: 1673
Local de Actividade Beira Baixa, Portugal

Actividade Autoria de texto
Local de Actividade Lisboa, Lisboa, Portugal


Biografia

Dados biográficos

Luís Serrão Pimentel foi baptizado no dia 4 de Fevereiro de 1613 (data adoptada como referência para o seu nascimento), na freguesia de Santa Justa em Lisboa. Era filho de Ana Tovar e Miranda e de Jorge Serrão Pimentel[1] [2]. O seu bisavô pelo lado paterno, Jorge Serrão de Évora, negociava em finais do século XVI produtos orientais que chegavam a Lisboa e deverá ter conhecido alguma prosperidade pois fundou uma capela no Convento do Carmo da mesma cidade. Assim, a família teria alguns recursos financeiros, tendo legado o morgadio de São Gonçalo na Ameixoeira, no termo de Lisboa, de que era administrador o pai de Luís Serrão Pimentel[3] [4].

É também muito provável que tivesse ascendência judaica, suspeita que o terá impedido, tal como a vários membros da sua família, de obter o hábito da Ordem de Cristo. Viterbo publicou o excerto de um documento, datado de 18 de Maio de 1665, que refere ter Luís Serrão Pimentel recebido mercê do hábito de Cristo, mas sem que o processo tivesse sido efectivado[5] [6] [7].

Casou com Isabel de Godines, sua prima[8], tendo sido pai de três filhos e uma filha: Manuel Pimentel e Francisco Pimentel, seus sucessores nos cargos oficiais, Jorge Pimentel, que terá seguido a vida religiosa[1], e ainda Ana Maria Pimentel, a quem foi autorizada a herança de uma tença recebida por seu pai[9] [10] [11], mas que por volta de 1671 já tinha falecido [12].

Sobre a sua formação escolar não são conhecidas fontes primárias, mas tem-se aceitado como plausível o conjunto de dados coligidos por Barbosa de Machado: na idade juvenil estudou Humanidades no colégio jesuíta de Lisboa e depois, querendo seguir a vida militar, embarcou em 1631 com destino à Índia, com seu tio Fernão Serrão Pimentel, na nau Rosário, que "avistando a costa de Pernambuco arribou a este Reino."[1]. Episódio na verdade ainda por esclarecer, que apoiou a leitura de um insucesso justificativo da posterior aplicação ao estudo das disciplinas matemáticas, que "ouviu pelo espaço de dez anos, assim dos Mestres do Colégio da Companhia de Jesus, como do cosmógrafo-mor Valentim de Sá"[1]. Apesar da escassez de informações precisas, é quase consensual que se tenha formado no âmbito da "Aula da Esfera" do Colégio de Santo Antão, onde poderá ter tido contacto com Ignace Stafford, Simon Fallon e Jan Ciermans, padres com comprovada ligação ao universo da arquitectura militar.

Luís Serrão Pimentel morreu em 1679, no dia 13 de Dezembro, na sequência da queda de um cavalo junto à Igreja da Madalena em Lisboa. Foi sepultado na capela da sua família, situada no claustro do Convento do Carmo em Lisboa[1], cuja epígrafe deixava ler:

"Sepultura perpétua de Jorge Serrão de Évora, e de sua mulher Isabel da Paz, e de seus herdeiros. Nela foi sepultado no mês de Dezembro de 1679 seu bisneto Luís Serrão Pimentel, um dos grandes homens, que nas ciências Matemáticas, no valor e disciplina militar teve este Reino. Foi nele Cosmógrafo mor. Tenente General da Artilharia, e Engenheiro mor. Dos seus Escritos lemos o Roteiro do Mar Mediterrâneo, a Arte de Navegar, e o Método Lusitânico de desenhar as fortificações, primeira obra, que deste género se imprimiu neste Reino."[13] [2].

Enquanto cosmógrafo, engenheiro militar e lente de fortificação, mas também erudito e membro de uma academia literária, o contributo de Luís Serrão Pimentel para a cultura técnico-científica em Portugal na Época Moderna é referido de modo recorrente na historiografia. Destaca-se em especial a sua importância na formação dos engenheiros militares e na acção por estes desenvolvida nos territórios de soberania portuguesa no universo da cultura arquitectónica e urbanística [14][15] [16][17].

Carreira

Luís Serrão Pimentel entrou ao serviço da coroa em Outubro de 1641, informação constante numa carta padrão datada de 1666, que dá a ler parte o seu currículo até então[9] [10] [18]. Retrospectivamente, pode-se concluir que os serviços prestados na década de 1640 estiveram relacionados com a assistência ao cosmógrafo-mor titular, António de Mariz Carneiro. Barbosa de Machado afirma que em 1642 Pimentel viu aprovado o regimento de pilotos que apresentou a exame ao proprietário do cargo[1]. É também sabido que Mariz Carneiro ficou impedido de exercer o cargo por ter sido degredado para o Brasil entre 1644 e 1646, tendo visto a sua pena perdoada somente em 1649, circunstância que contribui para a clarificação dos papéis desempenhados[19]. Assim, por alvará régio de 13 de Julho de 1647, Luís Serrão Pimentel foi nomeado como "cosmógrafo-mor lente de matemática enquanto durar o impedimento do dito proprietário", sendo ainda mencionado que assim servia já há alguns anos[20] [19].

Esta data tem sido tomada como momento da instituição da Aula de Fortificação de Lisboa, mas não é correcto. Luís Serrão Pimentel começou a leccionar fortificação apenas a partir de 1654 e desde essa altura a sua identificação profissional surge quase sempre como lente de fortificação. O alvará régio, datado de 29 de Outubro de 1654, tem por objecto a resposta a uma petição de militares, arquitectos e "outras pessoas" e é categórico no esclarecimento desta questão: "[...] hei por bem e me apraz que o dito Luís Serrão Pimentel leia nesta cidade a arte da fortificação e a lição das mais coisas acima referidas aos que as quiserem aprender e que com esta ocupação vença sessenta mil réis por ano [....] e valha posto que seu efeito haja de durar mais de um ano sem embargo de ordenação em contrário."[21] [22]. Na petição feita ao rei constam cerca de sessenta assinaturas, incluindo nomes vinculados aos “lugares de aprender arquitetura”, como João Nunes Tinoco, que encabeça a lista, ou Mateus do Couto e Simão Madeira, além de vários outros militares[23].

Da sua actividade como cosmógrafo regista-se a realização de exames a pilotos, cartógrafos e construtores de instrumentos náuticos[24] [25], bem como a revisão de regimentos, compilação de dados das viagens e organização de roteiros. Entre as suas tarefas cabia também a responsabilidade de emitir pareceres[26] e participar em juntas sobre questões técnicas e científicas. Destaca-se a sua participação, com Mariz Carneiro, na junta de matemáticos reunida em 18 de Março de 1656 a fim de avaliar a proposta de Tomé da Fonseca sobre a determinação da longitude; nesta ocasião observa-se que Pimentel surge apresentado como Lente de Fortificação.

Arquivo Histórico Ultramarino, Índia, Papéis avulsos, capilha de 3 de Abril de 1656, publicado por Matos, "António Mariz Carneiro" e Ferreira, "Luís Serrão Pimentel",143-144; sobre os pareceres de Luís Serrão Pimentel acerca das medições para o cálculo para longitude: Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 59-60.

Outras informações

Obras

Notas

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 Machado, Biblioteca Lusitana..., III: 133-135.
  2. 2,0 2,1 Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 4-6.
  3. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Feitos Findos, Registo Geral dos Testamentos de Lisboa, Lv. 13, fls. 104-104 v.
  4. Olival, "O acesso de uma família de cristãos-novos", 68-82.
  5. Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, II: 273.
  6. Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 22.
  7. Mais detalhes são conhecidos a partir do processo de habilitação do seu bisneto, Manuel Pimentel de Miranda, filho de Luís Francisco Serrão de Miranda, aberto em 1754; Olival, "O acesso de uma família de cristãos-novos", 67-82.
  8. Machado, Biblioteca Lusitana, vol. II, 220; refere que Isabel de Godins seria a segunda mulher de Luís Serrão Pimentel.
  9. 9,0 9,1 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso VI, Lv. 20, fl. 129 v.-130 v.
  10. 10,0 10,1 Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos..., vol. II: 269-270.
  11. Ferreira, "Luís Serrão Pimentel...", 6, 180-182.
  12. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 36, Consulta de 21 de Agosto de 1677.
  13. Sá, Memorias Historicas da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, 184-185, afirma que a sepultura familiar se encontrava na "primeira quadra junto à porta que dava para a entrada principal da capela dos Terceiros".
  14. Moreira, "Do rigor teórico à urgência prática...", 83-85.
  15. Araujo, As Cidades da Amazónia no Séc.XVIII, 25-72.
  16. Rossa, "A Cidade Portuguesa", 263-274.
  17. Soromenho, "Manuel Pinto de Vilalobos", 4-56.
  18. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Consulta de 4 Setembro de 1663.
  19. 19,0 19,1 Matos,"António de Mariz Carneiro Cosmógrafo-Mor".
  20. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João IV, Lv. 18, fl. 298 v.
  21. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Secretaria de Guerra, Registo, Lv. 17, fl. 172.
  22. Sepúlveda, História Orgânica e Política, vol. VIII, 548.
  23. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 14, consulta de 13 Outubro de 1654.
  24. Enquanto cosmógrafo-mor interino examinou trinta e dois candidatos a pilotos, em 1641, 1642 e entre 1644 e 1648; Polónia, "Mestres e pilotos das Carreiras Ultramarinas", 271-353.
  25. Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 50.
  26. No Regimento de Pilotos e Roteiro da Navegaçam, e Conquistas do Brazil, Angola, S. Thome, Cabo Verde, Maranhão, Ilhas, & Indias, de Antonio Mariz Carneiro, 1642, existe um parecer de Luís Serrão Pimentel, datado de 1 fevereiro de 1642; Matos, "António Mariz Carneiro"; Ferreira, "Luís Serrão Pimentel", 54.

Fontes

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso VI, Lv. 20, fl. 129 v.-130 v., Carta de mercê atribuindo a Luís Serrão Pimentel a tença de cinquenta e dois mil e quinhentos réis na imposição dos vinhos de Évora, que vagou por morte de sua tia, Isabel Mendes de Tovar, 30 de Julho de 1666. Alvará de renúncia de Luís Serrão Pimentel, da referida tença, em sua filha Ana Maria Pimentel, 31 de Julho de 1666.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. João IV, Lv. 18, fl. 298 v., alvará de nomeação de Luís Serrão Pimentel como cosmógrafo-mor interino, 13 de Julho de 1647.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 14, consulta de 13 Outubro de 1654, Sobre o soldo que se poderá signalar a Luís Serrão Pimentel enquanto assistir na ocupação de ensinar cosmografia e a arte da fortificação.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, consulta de 4 Setembro de 1663, Petição de Luís Serrão Pimentel do cargo de engenheiro-mor do reino.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Consultas, Maço 36, consulta sobre requerimento de Luís Serrão Pimentel para publicar o Método Lusitânico, 21 de Agosto de 1677.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Conselho de Guerra, Secretaria de Guerra, Registo, Lv. 17, fl. 172, alvará régio que manda Luís Serrão Pimentel ler fortificação, 10 de Outubro de 1654.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Feitos Findos, Registo Geral dos Testamentos de Lisboa, Lv. 13, fls. 104-104 v.


Bibliografia

AAVV. A Ciência do Desenho. A Ilustração na Colecção de Códices da Biblioteca Nacional, Cat. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2001.

Albuquerque, Luís de, "Luís Serrão Pimentel", Dicionário de História de Portugal, dir. Joel Serrão, vol. V, 79-80. Porto: Livraria Figueirinhas, 1984.

Andrade, António Alberto Banha de. "Descartes em Portugal nos séculos XVII e XVIII", Brotéria (1950), vol. 51 (5): 432-451.

Araujo, Renata Malcher de. As Cidades da Amazónia no Séc.XVIII; Belém, Macapá e Mazagão. Porto: FAUP Edições, 1998.

Carita, Rui et al. Conhecimento e Definição do Território. Os Engenheiros Militares (séculos XVII-XIX), Cat. Lisboa: Direcção dos Serviços de Engenharia, Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo e Arquivo Histórico Militar, 2003.

Carvalho, Aires de, “Um Manuscrito Inédito de Luís Serrão Pimentel Dedicado a Cosme III, Grão-Duque da Toscana”, Estudos Italianos em Portugal 23 (1964): 161-169.

Conde, Antónia Fialho e M. Rosa Massa-Esteve. "Teaching engineers in the seventeenth century: European influences in Portugal", Engineering Studies 10, nº 2-3 (2018): 115-133.

Ferreira, Nuno Alexandre Martins. "Luís Serrão Pimentel (1613-1679): Cosmógrafo Mor e Engenheiro Mor de Portugal." Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2009.

Machado, Diogo Barbosa. Biblioteca Lusitana, Histórica, Artística e Cronológica, vol. II. Coimbra: Atlântica Editora, (1747) 1966.

Machado, Diogo Barbosa. Biblioteca Lusitana, Histórica, Artística e Cronológica, vol. III. Coimbra: Atlântica Editora, (1752) 1966.

Matias, Elze Maria Henny Voonk. "As academias literárias portuguesas dos séculos XVII e XVIII". Tese de doutoramento, Universidade de Lisboa, 1988.

Matos, Rita Cortês de. "António de Mariz Carneiro Cosmógrafo-Mor de Portugal". Tese de Mestrado, Universidade de Lisboa, 2002.

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