Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão: diferenças entre revisões

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Porém, ao apoio real, o Cardeal D. Henrique impunha contrapartidas ao nível da abertura do ensino e formação técnica que estão na origem da Aula da Esfera. Conforme identificou Leitão, através de carta do Pe. Serrão ao Geral da Companhia em Roma, Everardo Mercuriano, datada de 6 de Dezembro de 1573, é explicita a condição de  ''“…que se acrecentassen las classes de latim que fuessen necessarias, que serian hasta una o dos, y que se leyesse una leccion de mathematica, y un curso de artes de tres en tres anos”''<ref>Leitão, ''A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759'', 32.</ref>.
Porém, ao apoio real, o Cardeal D. Henrique impunha contrapartidas ao nível da abertura do ensino e formação técnica que estão na origem da Aula da Esfera. Conforme identificou Leitão, através de carta do Pe. Serrão ao Geral da Companhia em Roma, Everardo Mercuriano, datada de 6 de Dezembro de 1573, é explicita a condição de  ''“…que se acrecentassen las classes de latim que fuessen necessarias, que serian hasta una o dos, y que se leyesse una leccion de mathematica, y un curso de artes de tres en tres anos”''<ref>Leitão, ''A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759'', 32.</ref>.


Os planos estratégicos para o ensino jesuítico foram aqui ajustados às circunstâncias nacionais, de acordo com o pedido régio do Cardeal D. Henrique, conduzindo à integração na instituição dos cursos de formação dos pilotos da marinha, de teóricos e especialistas em náutica e cartografia em paralelo à preparação de missionários com destino às colónias. Uma abertura continuada por Filipe I, assistindo à Aula um público mais vasto do que apenas os escolásticos-estudantes da ordem<ref>“A importância desta «Aula» está patente no facto de ter sido frequentada por um enorme número de alunos não jesuítas, o que lhe permite maior interferência no tecido social português. (…) A ‘Aula de Esfera’ marca, portanto, o momento em que a Província portuguesa da Companhia de Jesus se adaptou institucionalmente para o ensino da matemática, que legitimou e colocou ao dispor da sociedade laica.” Bernardo Mota, O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII (PhD thesis, 2008), 205. A regra sobre a qual os colégios deveriam funcionar exclusivamente como lares de escolásticos-estudantes foi sancionada por bula fundacional ''regimini militantis ecclesiae'' de 27 de setembro de 1540. Porém, a conduta dos alunos externos à ordem é também regulada pelo ''Ratio'', no qual se refere que a companhia os deveria sempre orientar no amor de Deus e todas as virtudes aperfeiçoando-os nas ''ars liberalis'' como aponta Allan Farrell. The Jesuit Ratio Studiorum of 1599 (Conference of major superiors of Jesuits, 1970), 101. Estes encontravam-se obrigados a uma confissão semanal, à frequência de instrução na doutrina cristã e, no ponto 14 do documento, era recomendada a não frequência de espetáculos públicos, comédias e execuções públicas de criminosos não devendo participar em representações teatrais fora da escola sem autorização dos seus professores ou perfeito de estudos. As representações teatrais desenvolvidas pelos jesuítas constituem uma área complementar da pedagogia Inaciana, pretendendo incutir os conhecimentos e valores requeridos aos seus alunos. Segundo Margarida Tavares Conceição (Da cidade e fortificação em textos portugueses. 1540-1640. (PhD thesis, 2008), 324), conservam-se relatos que atestam o recurso a este tipo de eventos já aquando da educação de D. Sebastião.</ref>.
Desenvolvendo de modo contínuo a sua atividade nesta compatibilização entre a missão da companhia e as solicitações da coroa na formação de quadros técnicos especializados, a atividade da Aula da Esfera é interrompida aquando da expulsão dos jesuítas na sequência da promulgação da “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”, de 3 de setembro de 1759.
 
Este ajuste da regra pedagógica conduz a uma abordagem das ciências tendencialmente aplicada, afastando-se de conteúdos mais afeitos à especulação filosófica, e à ministração das aulas em vulgar, em vez do Latim, colmatando a ausência das ciências matemáticas ao nível da universidade<ref>“A ausência geral de uma tradição teórica nas ciências matemáticas a nível universitário é um traço essencial do fundo cultural prevalecente encontrado pelos jesuítas, levando um notável estudioso português a alegar que a universidade não desempenhou nenhum exemplo (...)” com isto o autor não rejeita o carácter pioneiro das obras de Pedro Nunes, mas a sua importância não chegou para criar uma tradição e manutenção desse nível de qualidade e exigência. Henrique Leitão “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759” (New York: Springer, 2002), 229-247.</ref>. Segundo Baldini o programa de Santo Antão estabelece-se como uma mistura do programa matemático do ''Ratio Studiorum'' e elementos do conhecimento geográfico e técnicos náuticos Lusitanos<ref>Ugo Baldini, “The teaching of Mathematics in the Jesuit Colleges of Portugal from 1640 to Pombal” (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2004), 343. </ref>.
 
No panorama dos colégios da Companhia a “Aula da Esfera” é também única pela filiação institucional com a Academia de Clávio no ''Collegium Romano'', sendo que até 1620 as matemáticas foram asseguradas por professores aí formados permitindo a atualização dos ''curricula'' ministrados<ref>Da atualização dos ''curricula'' ministrados o caso mais conhecido é o da introdução das observações por telescópio de Galileu (1610/11). Já em 1615/16 estas observações eram ensinadas por Giovan Paolo Lembo na ''Aula da Sphera'', que discute as descobertas nas suas aulas foram sendo levadas a cabo observações deste género em Lisboa. Por outro lado, Cristoforo Borri publica em 1631, em Lisboa o seu ''Collecta Astronomica'' com informação detalhada sobre as descobertas de Galileu. Da actualidade dos ''curricula'' podemos referir o reconhecimento da obra de Simon Stevin por via do ensino matemático na ''Aula da Esfera'' do Colégio de Santo Antão. Margarida Tavares Conceição, Da cidade e fortificação em textos portugueses (1540-1640) (PhD thesis, 2008), 215.</ref> e um elevado nível de formação<ref>“A ligação entre a Academia de Matemática e Santo Antão não se restringe a uma cooperação a nível de recursos humanos mas assenta também numa especial ligação institucional. Uma vez que os missionários jesuítas só podiam alcançar a Ásia viajando em barcos portugueses, era permitido a estudantes vindo de Roma, enquanto esperavam pelo embarque, terminar o seu curso de teologia em Coimbra ou o seu curso de Matemática em Lisboa.” Bernardo Mota. ''O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII'', 204.</ref>. A instituição assumia-se como centro cosmopolita, no ensino científico português, dado o número de docentes estrangeiros que aqui desempenhavam funções. Deste período poderemos mencionar a presença de mestres como [[Christoph Grienberg]] (1564-1604)<ref>Um dos mais reputados matemáticos da Europa que haveria de suceder a Cristóvão Clávio na chefia da Academia de Matemática do ''Collegio Romano''.</ref>, que desenvolve o cálculo de massas aplicado à escala dos planetas, [[Cristoforo Borri]] (1583-1632), que atualiza as ideias cosmológicas no Portugal de seiscentos, [[Giovanni Paolo Lembo]] (1570-1618), que introduz o conhecimento sobre os telescópios sendo um dos subscritores que confirmou às autoridades eclesiásticas a justeza das observações de Galileu, ou [[Chrysostomus Gall]] (1586-1643) a par dos mais destacados mestres portugueses como [[João Delgado]] (1553-1662)<ref>João Delgado deu início formal ao curso de matemática da “Aula da Esfera” e, enquanto arquiteto, dirige as obras do Colégio das Artes em Coimbra a par das de Santo-Antão-o-Novo e do Noviciado da Cotovia em Lisboa.</ref>, do qual nos chega o manuscrito ''Astrologia Pratica, ou iudiciaria'' (1607), e Francisco da Costa (1567-1604), o qual substitui Delgado na cátedra de matemática e elabora um ''Tratado de Geografia'' (1595).
 
De 1630 a 1636 ensina na ''Aula'' de Santo Antão o inglês [[Inácio Stafford]] (1599-1642) que elabora o ''Tratado da naturesa e uso das paralaxes'' (1633), os ''Elementos matemáticos'' (1634) em castelhano, que se supõem serem textos da sua lição, a par de ''Los usos del Pantometra'' (c.1638) e ''Varias obras Mathematicas'' (1638)<ref>Deste texto, cujos conteúdos tratariam da geometria euclidiana, Francisco Rodrigues (1950) dá notícia de uma tradução manuscrita realizada por Brás de Almeida.</ref>. Também do curso do Padre [[Simon Fallon]] (c.1604-1642)<ref>O jesuíta Simon Fallon, ou Simão Falónio, deu aulas de matemática em Coimbra (1630-1633) e de matemática e astronomia na A''ula da Sphera'' (1638-1640), tendo ainda desempenhado funções técnicas no âmbito da fortificação da península de Setúbal (Setúbal, Arrábida e Sesimbra).</ref> conhecem-se duas sebentas, sendo que a primeira, ''Matérias matemáticas nas quais se contem astronometria, astrologia e outrometria'' (c. 1638)<ref>[https://purl.pt/22632 BN COD 2127]</ref>, relativa às lições de astronomia e agrimensura, se inicia com uma breve digressão pelos princípios gerais da geometria euclidiana.
 
De Stafford é de referir as suas incursões à ''Optica'' euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de [[D. Francisco de Melo]] (1490-1536)<ref>''Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis'' (1514 e 1517), [https://purl.pt/23706 BN COD. 2262], é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva. </ref>, detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em ''Varias obras mathematicas'' (1638)<ref>''Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre'' (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: ''Arithmetica practica geometrica logarithmica'' (p. 1-277); ''Dimension de figuras planas, y solidas'' (p. 279-319); ''La Optica'' (p. 321-348); ''Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes'' (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); ''Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos'' (p. 405-432); ''Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos'' (p. 435-452); ''La Architectura militar'' (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de ''Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês'' ([https://purl.pt/29382 BN COD. 4323]).</ref>, da qual se destaca a exposição da ''Dimension de Figuras Planas, y Solidas'' e os capítulos referentes à ''Optica'' ao ''Tratado da Milicia'' e à ''La Architectura Militar'', evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão<ref>Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O ''Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640'' (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110. </ref> que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.
 
A restauração da independência portuguesa em 1640 implica uma adaptação dos programas da ''Aula''<ref>Até então os cursos eram essencialmente de cosmografia, navegação e geografia, incluindo todos os aspectos práticos na construção e operação de instrumentos náuticos e astronómicos. Henrique Leitão, “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759”, 229-247.</ref>, em função das necessidades militares da guerra com Espanha, pelo que os matemáticos jesuítas acumulavam funções com a superintendência de fortificações, dada a carência de um quadro técnico qualificado para responder às necessidades da guerra. Assim, em meados do século XVII a Aula da Esfera compreendia disciplinas que iam da cosmografia, astronomia à geometria baseada no estudo de Euclides (''Elementos'') à Aritmética, Álgebra, Trigonometria plana e esférica, Náutica e temas vários aplicados à navegação, Hidrografia e Cartografia, Ótica, Perspectiva e Cenografia, Gnomónica, construção de instrumentos científicos e máquinas, Estática e Hidrostática, Arquitetura e Engenharia Militar e assuntos afins (pirotecnia, balística, etc.). Porém, assiste-se a um assinalável declínio do ensino das matemáticas na segunda metade do século XVII o que “(…) comprometeu a implantação da disciplina e a manutenção do seu estatuto epistemológico.”<ref>Bernardo Mota, ''O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII'', 271. De acordo com o autor “Os catálogos não assinalam qualquer professor nos anos 46/8, 49/51, 52/54, 63/64, 65/68. Desse ano em diante, o ensino da disciplina foi assegurado por Jorge Gelarte até 1700, mas este docente possuía, ao que parece, competência matemática insuficiente.” </ref> Nesta linha Ugo Baldini refere que a educação jesuítica, anterior a 1700, peca por alguns atalhos excluindo níveis avançados de reflexão e especulação científica<ref>Dos textos produzidos entre 1640/92, Ugo Baldini evidencia as seguintes matérias: a esfera (astronomia elementar) 4; ciência náutica 3; geografia 1; estatística 1; gnomónica 1; trigonometria 1; uso do pantómetro 1; astrologia 1 (apesar da proibição interna na Companhia relativa ao seu ensino). Do elenco anterior verifica-se uma total ausência de geometria avançada (que de facto parece confinada à Aula de Fortificação), álgebra e geometria analítica (que encontramos igualmente, no seu âmbito mais prático, na Aula de Fortificação).</ref>.
 
É na sequência da fundação da [[Aula de Fortificação de Lisboa|Aula de Fortificação]] (1647) que a ‘Aula da Esfera’ se adapta às circunstâncias preparando os alunos ao ingresso nas carreiras de arte da guerra, da fortificação e navegação<ref>Luís de Albuquerque. ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII'' (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972), 22.</ref>. Matérias como a Aritmética e a Geometria, e em finais do século XVII também a Álgebra, passam a fazer parte dos programas fornecendo bases às lições de arquitetura (incluídas nesta instituição por ordem régia) e formação de arquitetos militares que servem à reorganização defensiva do território metropolitano e ultramarino. Cobrem-se ainda lacunas na formação de técnicos especializados para a realização de expedições cartográficas permitindo o registo de limites territoriais assegurando a soberania da coroa portuguesa.
 
Porém, à época, o corpo docente não atingira a desejada estabilidade já que os jesuítas eram raros entre os estudantes da Aula, não dando continuidade ao desenvolvimento das matérias no interior do colégio, como, simultaneamente, faltaria uma biblioteca matemática consistente<ref>Segundo Ugo Baldini (2004, 345) a dispersão do espólio bibliográfico dos colégios Jesuítas, consequente à expulsão da Companhia em 1759, não permite avaliar o acesso aos textos estrangeiros e a sua atualização. Contudo, destaca-se o trabalho levado a cabo por Henrique Leitão, ''Sphaera mundi: a ciência na aula da esfera: manuscritos científicos do Colégio de Santo Antão nas colecções da BNP (2008)'', onde se inventaria e estuda o espólio atualmente identificado. </ref> e equipamento técnico adequado. O ensino na Aula é, frequentemente, apontado como meramente didático, ou, quando relativamente avançado, não lidava com pura matemática. Este desvio das ciências puras leva a que o Geral previna “(…) para que não se deixe que os alunos que iniciaram estes estudos se desviem do caminho iniciado, dedicando-se a assuntos menores ou aplicados, como a óptica, as maquinarias, a relojoaria ou outras artes mecânicas semelhantes.”<ref>Henrique Leitão, ''A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759.'' (Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007), 27.</ref> Contudo, dos livros e manuscritos de Santo Antão encontram-se obras que exploram estes conteúdos variando a sua aplicação entre a arte de navegar e a produção de instrumentos. Nesse âmbito referira-se o manuscrito anónimo do ''Tratado da Esfera'' (1695)<ref>[https://purl.pt/16672/5/index.html BN COD. 2062]. Contém tábuas de declinações e instruções para construção de relógios astronómicos, e tabelas para latitudes. Associado ao documento encontra-se ''Modo de descrever os relogios quadrantinos figurados supra'' (f. 140); ''Outro modo de delinear este relogio segundo Horonci Finae'', ''Explicação dos relogios de marfim feytos em Diépa, Do relogio lunar'', ''Achar a hora pella clarid[ad]e da lua por meyo do relogio azymuthal'' (f. 154/158).</ref>, ou o manuscrito de [[Luís Caetano Lima]] (1671-1757), ''Gnomonica Universal ou Arte para fazer todas castas de Relogios por D. Luis Caetano de Lima, C.R.'' (1704)<ref>BN COD. 1931</ref>, um pequeno tratado de gnomónica onde se representam modelos de relógios de sol e se explana os métodos de construção.
 
Colmatando esta situação as reformas dos gerais da ordem, Tirso Gonzales e Michelangelo Tamburini, na transição dos séculos XVII para XVIII, incluem o ensino regular das matemáticas nos curricula de filosofia, robustecendo-se assim a formação de um corpo de matemáticos da companhia.
 
Figura de relevo neste contexto de transição de séculos é o Padre [[Luís Gonzaga]] (1666-1747) que ensinava humanidades na [[Universidade de Évora]] transferindo-se para Santo Antão onde passa a ministrar matemática<ref>D. Pedro II chama-o a ensinar matemática ao infante, futuro D. João V, bem como aos infantes seus irmãos entre os anos de 1700 e 1725.</ref>. Redigiu as lições de cosmografia, astrologia e matemática que integram o seu curso, chegando até hoje sebentas, em parte autografas. Da sua obra destaca-se o tratado da ''Esfera astronómica'' (1700/1)<ref>BNA Ms 46 VIII.</ref>, e o ''tratado de astrologia'' (1702)<ref>BNA Ms 46 VIII.</ref>, no qual Albuquerque detectou nos fólios 139-142v ''fragmentos de geometria prática'' com problemas tradicionais de agrimensura e de medidas, a par de tabelas de equivalência de medidas e desenhos de figuras geométricas<ref>O manuscrito inclui problemas clássicos como a sua proposição 1ª, ''Medir huma linha a qual se pode chgar so por hum ponto'', e a proposição 2ª, ''Medir huma linha a que se não pode chegar por nenhum dos extremos.'' Apesar da interrupção da 1ª parte do documento este inclui ainda outras duas partes versando sobre noções de conversão das medidas usadas na Europa, ''Scala mensoria,'' e de aritmética, ''Scala Aritmethica''.</ref>.
 
De Luís Gonzaga destaca-se ainda o documento o manuscrito do ''tratado de Architectura'' (1704)<ref>BNA, 46-VIII-21.</ref>, o qual resulta de um conjunto de exposições incluídas nas suas lições<ref>Paulo Varela Gomes, ''Igrejas de planta centralizada em Portugal no século XVIII, Arquitectura, Religião e Política''. (Porto: FAUP publicações), 2001, 213.</ref>. Um conteúdo, consequente a decisão de D. Pedro II em preparar arquitetos patente em nota do tratado onde se afirma que “(…) o «''curso de architectura''» fora «''mandado ditar por ordem do Aug. Sr. D. Pedro 2º em ho Collº de Stº Antam''» e «''ao depois mandado ensinar (…) a seos filhos pollo Padre Luiz Gonzaga''»”<ref>Luís de Albuquerque, ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII.'' (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar), 1972, 21.</ref>[3] A obra é organizada em ''Disputas,'' subdivididas em ''fundamentos'' e ''provas,'' em que a primeira define o âmbito da obra, ''Das preminencias da Architectura militar,'' aprofundando a partir daí temas como a aptidão de terrenos, termos, ângulos e balística<ref>Conforme análise do índice por Luís de  Albuquerque, ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII'', 1972, 44.</ref>.
 
Do acervo em depósito na Biblioteca Nacional podem-se ainda referir três manuscritos, todos do início do século XVIII, onde se incluem de modo explícito os conhecimentos em matérias euclidianas. São eles: ''Elementos de geometria''<ref>''Elementos de Geometria L.9o, ou 12. Neste livro, q[ue] corresponde nos solidos ao 6.o dos planos trata Euclides par[cial]m[ent]e das piramides assim rectelinias como conicas dos Celindros, e das esferas examina todas as suas medidas e porporções razão porq[ue] he m[ui]to familiar aos geometras praticos. Dos mais corpos poliedros trata no L[ivr]o Seg[uint] e nos tanto dos deste como dos [...] trataremos nos Selectos de Arquimedes em hua e outra Geometria.'' BN COD 5365</ref>, de autor anónimo e sem data precisa, trata-se de um manual de geometria, muito abreviado, com referência aos Elementos de Euclides, constituído por seis definições e dezoito proposições com teoria e demonstração, ilustrados por 29 figuras; O ''Tratado trigonometrico de geometria plana e corporia 2.o 3o e 4o: 1.o L[ivro] de Euclides e de longemetrica''  (1715)<ref>BN COD. 5175//1.</ref>, de [[João Tomás Correia]] (1667-?), que contém uma segunda parte relativa a elementos da geometria prática com noções de ''Trigonometrica'', ''Planimetrica'', ''Steriomet[r]iça'' e ''Longimetrica'', pelo que o autor associa os elementos euclidianos à prática de levantamento e à qual estariam certamente implícitos conhecimentos da ótica euclidiana; O ''Elementos de Euclides'' (1739)<ref>''Elementos de Euclides ou tractado de geometria elementar ditado por Joze Sanches da S[ilv]a Sarg[en]to mor de Infantaria e lente na Aula Regia das Fortificaçoens desta cid[ad]e de l[i]x[bo]a 1739.'' BN COD 5194//2</ref> de [[José Sanches]] (1688-?) onde se expõem os seis primeiros livros correspondentes à geometria plana<ref>BN COD. 5194//2) - “Tractado dos elementos de Euclides” (p. 339); “Livro.1.o Dos elementos de Euclides” (p. 340-424); “Livro 2. Dos Elementos de Euclides” (p. 425-452); “Livro 3. Dos Elementos de Euclides” (p. 453-503); Livro 4. Dos Elementos de Euclides” (p. 504-520); “Livro 5. Dos Elementos de Euclides” (p. 521-549); “Livro 6.o Dos Elementos de Euclides” (p. 550-583); “Livro 11 Dos Elementos de Euclides” (p. 584-618); “Livro 12 Dos Elementos de Euclides” (p. 619-637). Tem junto: «Elementos das Mathematicas ou Tractado da grandeza em geral» (p. 1-335).</ref>. Do mesmo José Sanches encontra-se na Torre do Tombo a sua tese apresentada ao Colégio de Santo Antão, ''Perspectiva matemática assombrada aos raios do mais brilhante astro'' (1716)<ref>TT Série Preta 3578 (38) c.f.</ref>, a par dos manuscritos do ''Tratado matemático de trigonometria'' (c.1719)<ref>PT/TT/MSLIV/2016. A obra contém o ''Tractado da trigonometria esférica'', o ''Tractado da geometria prática'', “''He a  geometria pratica conforme a etimologia do nome hua sciencia, q trata da medida da terra; porq este nome geometria he grego, q se compõem de duas lições a saber geo, q significa a terra, e metria, q qr dizer medida.”'' Sanches Silva c.1719, Fol 410, e o ''Tractado mathematico dos probl. Geométricos.''</ref>, e ''Curso matemático'' (?)<ref>PT/TT/MSLIV/2188 - A obra seria organizada em 14 tomos: o 1º seria o da arithmetica; 2º elementos de Euclides; 3º de trigonomteria + geomteria plana, esférica e prática; 4º de arquitectura militar; 5º dos alojam(en)tos dos exércitos, ofença, e defença das Praças; 6º da Artelharia fogos e bombas; 7º da ??çoes & tatica; 8º da geografia; 9º da hydrografia; 10º da astronomia; 11º da astrologia e calendário; 12º da óptica; 13º da catóptrica e dióptrica; 14º da perspectiva e arquitectura civil, e nelles varias curiozid(ad)es.</ref>.
 
A Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão conhece um período de florescimento no início do século XVIII, sistematizando, atualizando e aprofundando conteúdos, nomeadamente através de autores como os Padres [[Inácio Vieira]] (1678-1739) e [[Manuel de Campos]] (1681-1758). Simultaneamente, o ambiente aí vivido leva a que a Aula passe a receber, além dos estudantes que integrarão o corpo técnico científico do império, arquitetos civis, pintores ou preparadores de cena interessados em aprofundar os seus conhecimentos em matemática e ótica que, abordadas desde Euclides aos autores mais modernos, tinham aplicação direta na sua prática profissional.
 
Este florescimento é coincidente com o reinado de D. João V, a partir do qual se assiste a uma profunda alteração do panorama científico em Portugal. Uma renovação assente no fomento de viagens e intercâmbio científico onde o círculo da Companhia de Jesus fortalece as relações e presença na corte beneficiando do patronato régio<ref>A educação do monarca, de cariz clássico, fora também ela entregue aos padres Jesuítas Francisco da Cruz, João seco e Luís Gonzaga, o que poderá determinar a hegemonia da Casa professa junto do monarca e no domínio da ciência e ensino em Portugal à época.</ref>. Simultaneamente, assiste-se aos primeiros passos das academias<ref>Mesmo no que se refere às academias algumas encontravam-se sob a tutela da Companhia como a ''Academia dos Escolhidos'' que terá tido sessões em Santo Antão e da qual se publicaram documentos como a ''“Oraçaõ academica, com que se deu fim em dezanove de Outubro de 1742 ao segundo dia do certame, que a Academia dos Escolhidos celebrou na Aula da Mathematica do Real Collegio de Santo Antaõ da Companhia de Jesu, pela melhoria do augustissimo Rey D. Joaõ V Nosso Senhor. Relaçam verdadeira do certame, que no Real Collegio das Artes de S. Antam, celebrou a Academia dos Escolhidos desta Corte à melhoria do nosso monarca D. Joam V: com a noticia dos engenhos, que nelle foraõ premiados.”'' Lisboa: Officina dos Herdeiros de António Pedrozo Galram, 1745 (FCG LT 432-reservados).</ref>, criando novas plataformas de discussão e intercâmbio científico, e ao financiamento régio de infraestruturas de ensino e investigação (universidades, bibliotecas e observatórios).
 
O monarca recorria ao corpo docente do Colégio de Santo Antão para recrutar técnicos para campanhas cartográficas, tendo alguns sido promovidos a matemáticos e astrónomos régios. De entre estes, [[Domingos Capacci]] (1694-1736) e [[João Batista Carbone]] (1694-1750)<ref>No caso de Carbone é relevante o facto de este publicar regularmente na ''Acta eruditorum'' e na ''Philosophical transactions'', o que atesta o valor e consistência da sua investigação e produção científica. </ref>, jesuítas de origem italiana que desempenham um papel de relevo na corte e cuja influência extravasa a atividade científica, tocando matérias políticas e diplomáticas. Por exemplo na década de 20 do século XVIII, sob o patronato do rei e responsabilidade destes jesuítas italianos, é promovida a construção do observatório astronómico do Paço da Ribeira, e de um outro observatório, para uso exclusivo dos jesuítas, no Colégio de Santo Antão.
 
Contudo, no reinado de D. José I a atividade da Aula da Esfera é interrompida com a expulsão dos jesuítas após promulgação da “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”, de 3 de setembro de 1759.
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===Outras informações===<!--é o local onde cabe tudo o que não se relaciona especificamente com os dois parâmetros anteriores-->
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==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->
<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->
Os planos estratégicos para o ensino jesuítico foram aqui ajustados às circunstâncias nacionais, de acordo com o pedido régio do Cardeal D. Henrique, conduzindo à integração na instituição dos cursos de formação dos pilotos da marinha, de teóricos e especialistas em náutica e cartografia em paralelo à preparação de missionários com destino às colónias. Uma abertura continuada por Filipe I, assistindo à Aula um público mais vasto do que apenas os escolásticos-estudantes da ordem<ref>“A importância desta «Aula» está patente no facto de ter sido frequentada por um enorme número de alunos não jesuítas, o que lhe permite maior interferência no tecido social português. (…) A ‘Aula de Esfera’ marca, portanto, o momento em que a Província portuguesa da Companhia de Jesus se adaptou institucionalmente para o ensino da matemática, que legitimou e colocou ao dispor da sociedade laica.” Bernardo Mota, O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII (PhD thesis, 2008), 205. A regra sobre a qual os colégios deveriam funcionar exclusivamente como lares de escolásticos-estudantes foi sancionada por bula fundacional ''regimini militantis ecclesiae'' de 27 de setembro de 1540. Porém, a conduta dos alunos externos à ordem é também regulada pelo ''Ratio'', no qual se refere que a companhia os deveria sempre orientar no amor de Deus e todas as virtudes aperfeiçoando-os nas ''ars liberalis'' como aponta Allan Farrell. The Jesuit Ratio Studiorum of 1599 (Conference of major superiors of Jesuits, 1970), 101. Estes encontravam-se obrigados a uma confissão semanal, à frequência de instrução na doutrina cristã e, no ponto 14 do documento, era recomendada a não frequência de espetáculos públicos, comédias e execuções públicas de criminosos não devendo participar em representações teatrais fora da escola sem autorização dos seus professores ou perfeito de estudos. As representações teatrais desenvolvidas pelos jesuítas constituem uma área complementar da pedagogia Inaciana, pretendendo incutir os conhecimentos e valores requeridos aos seus alunos. Segundo Margarida Tavares Conceição (Da cidade e fortificação em textos portugueses. 1540-1640. (PhD thesis, 2008), 324), conservam-se relatos que atestam o recurso a este tipo de eventos já aquando da educação de D. Sebastião.</ref>.
Este ajuste da regra pedagógica conduz a uma abordagem das ciências tendencialmente aplicada, afastando-se de conteúdos mais afeitos à especulação filosófica, e à ministração das aulas em vulgar, em vez do Latim, colmatando a ausência das ciências matemáticas ao nível da universidade<ref>“A ausência geral de uma tradição teórica nas ciências matemáticas a nível universitário é um traço essencial do fundo cultural prevalecente encontrado pelos jesuítas, levando um notável estudioso português a alegar que a universidade não desempenhou nenhum exemplo (...)” com isto o autor não rejeita o carácter pioneiro das obras de Pedro Nunes, mas a sua importância não chegou para criar uma tradição e manutenção desse nível de qualidade e exigência. Henrique Leitão “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759” (New York: Springer, 2002), 229-247.</ref>. Segundo Baldini o programa de Santo Antão estabelece-se como uma mistura do programa matemático do ''Ratio Studiorum'' e elementos do conhecimento geográfico e técnicos náuticos Lusitanos<ref>Ugo Baldini, “The teaching of Mathematics in the Jesuit Colleges of Portugal from 1640 to Pombal” (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2004), 343. </ref>.
No panorama dos colégios da Companhia a “Aula da Esfera” é também única pela filiação institucional com a Academia de Clávio no ''Collegium Romano'', sendo que até 1620 as matemáticas foram asseguradas por professores aí formados permitindo a atualização dos ''curricula'' ministrados<ref>Da atualização dos ''curricula'' ministrados o caso mais conhecido é o da introdução das observações por telescópio de Galileu (1610/11). Já em 1615/16 estas observações eram ensinadas por Giovan Paolo Lembo na ''Aula da Sphera'', que discute as descobertas nas suas aulas foram sendo levadas a cabo observações deste género em Lisboa. Por outro lado, Cristoforo Borri publica em 1631, em Lisboa o seu ''Collecta Astronomica'' com informação detalhada sobre as descobertas de Galileu. Da actualidade dos ''curricula'' podemos referir o reconhecimento da obra de Simon Stevin por via do ensino matemático na ''Aula da Esfera'' do Colégio de Santo Antão. Margarida Tavares Conceição, Da cidade e fortificação em textos portugueses (1540-1640) (PhD thesis, 2008), 215.</ref> e um elevado nível de formação<ref>“A ligação entre a Academia de Matemática e Santo Antão não se restringe a uma cooperação a nível de recursos humanos mas assenta também numa especial ligação institucional. Uma vez que os missionários jesuítas só podiam alcançar a Ásia viajando em barcos portugueses, era permitido a estudantes vindo de Roma, enquanto esperavam pelo embarque, terminar o seu curso de teologia em Coimbra ou o seu curso de Matemática em Lisboa.” Bernardo Mota. ''O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII'', 204.</ref>. A instituição assumia-se como centro cosmopolita, no ensino científico português, dado o número de docentes estrangeiros que aqui desempenhavam funções. Deste período poderemos mencionar a presença de mestres como [[Christoph Grienberg]] (1564-1604)<ref>Um dos mais reputados matemáticos da Europa que haveria de suceder a Cristóvão Clávio na chefia da Academia de Matemática do ''Collegio Romano''.</ref>, que desenvolve o cálculo de massas aplicado à escala dos planetas, [[Cristoforo Borri]] (1583-1632), que atualiza as ideias cosmológicas no Portugal de seiscentos, [[Giovanni Paolo Lembo]] (1570-1618), que introduz o conhecimento sobre os telescópios sendo um dos subscritores que confirmou às autoridades eclesiásticas a justeza das observações de Galileu, ou [[Chrysostomus Gall]] (1586-1643) a par dos mais destacados mestres portugueses como [[João Delgado]] (1553-1662)<ref>João Delgado deu início formal ao curso de matemática da “Aula da Esfera” e, enquanto arquiteto, dirige as obras do Colégio das Artes em Coimbra a par das de Santo-Antão-o-Novo e do Noviciado da Cotovia em Lisboa.</ref>, do qual nos chega o manuscrito ''Astrologia Pratica, ou iudiciaria'' (1607), e Francisco da Costa (1567-1604), o qual substitui Delgado na cátedra de matemática e elabora um ''Tratado de Geografia'' (1595).
De 1630 a 1636 ensina na ''Aula'' de Santo Antão o inglês [[Inácio Stafford]] (1599-1642) que elabora o ''Tratado da naturesa e uso das paralaxes'' (1633), os ''Elementos matemáticos'' (1634) em castelhano, que se supõem serem textos da sua lição, a par de ''Los usos del Pantometra'' (c.1638) e ''Varias obras Mathematicas'' (1638)<ref>Deste texto, cujos conteúdos tratariam da geometria euclidiana, Francisco Rodrigues (1950) dá notícia de uma tradução manuscrita realizada por Brás de Almeida.</ref>. Também do curso do Padre [[Simon Fallon]] (c.1604-1642)<ref>O jesuíta Simon Fallon, ou Simão Falónio, deu aulas de matemática em Coimbra (1630-1633) e de matemática e astronomia na A''ula da Sphera'' (1638-1640), tendo ainda desempenhado funções técnicas no âmbito da fortificação da península de Setúbal (Setúbal, Arrábida e Sesimbra).</ref> conhecem-se duas sebentas, sendo que a primeira, ''Matérias matemáticas nas quais se contem astronometria, astrologia e outrometria'' (c. 1638)<ref>[https://purl.pt/22632 BN COD 2127]</ref>, relativa às lições de astronomia e agrimensura, se inicia com uma breve digressão pelos princípios gerais da geometria euclidiana.
De Stafford é de referir as suas incursões à ''Optica'' euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de [[D. Francisco de Melo]] (1490-1536)<ref>''Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis'' (1514 e 1517), [https://purl.pt/23706 BN COD. 2262], é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva. </ref>, detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em ''Varias obras mathematicas'' (1638)<ref>''Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre'' (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: ''Arithmetica practica geometrica logarithmica'' (p. 1-277); ''Dimension de figuras planas, y solidas'' (p. 279-319); ''La Optica'' (p. 321-348); ''Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes'' (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); ''Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos'' (p. 405-432); ''Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos'' (p. 435-452); ''La Architectura militar'' (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de ''Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês'' ([https://purl.pt/29382 BN COD. 4323]).</ref>, da qual se destaca a exposição da ''Dimension de Figuras Planas, y Solidas'' e os capítulos referentes à ''Optica'' ao ''Tratado da Milicia'' e à ''La Architectura Militar'', evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão<ref>Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O ''Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640'' (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110. </ref> que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.
A restauração da independência portuguesa em 1640 implica uma adaptação dos programas da ''Aula''<ref>Até então os cursos eram essencialmente de cosmografia, navegação e geografia, incluindo todos os aspectos práticos na construção e operação de instrumentos náuticos e astronómicos. Henrique Leitão, “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759”, 229-247.</ref>, em função das necessidades militares da guerra com Espanha, pelo que os matemáticos jesuítas acumulavam funções com a superintendência de fortificações, dada a carência de um quadro técnico qualificado para responder às necessidades da guerra. Assim, em meados do século XVII a Aula da Esfera compreendia disciplinas que iam da cosmografia, astronomia à geometria baseada no estudo de Euclides (''Elementos'') à Aritmética, Álgebra, Trigonometria plana e esférica, Náutica e temas vários aplicados à navegação, Hidrografia e Cartografia, Ótica, Perspectiva e Cenografia, Gnomónica, construção de instrumentos científicos e máquinas, Estática e Hidrostática, Arquitetura e Engenharia Militar e assuntos afins (pirotecnia, balística, etc.). Porém, assiste-se a um assinalável declínio do ensino das matemáticas na segunda metade do século XVII o que “(…) comprometeu a implantação da disciplina e a manutenção do seu estatuto epistemológico.”<ref>Bernardo Mota, ''O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII'', 271. De acordo com o autor “Os catálogos não assinalam qualquer professor nos anos 46/8, 49/51, 52/54, 63/64, 65/68. Desse ano em diante, o ensino da disciplina foi assegurado por Jorge Gelarte até 1700, mas este docente possuía, ao que parece, competência matemática insuficiente.” </ref> Nesta linha Ugo Baldini refere que a educação jesuítica, anterior a 1700, peca por alguns atalhos excluindo níveis avançados de reflexão e especulação científica<ref>Dos textos produzidos entre 1640/92, Ugo Baldini evidencia as seguintes matérias: a esfera (astronomia elementar) 4; ciência náutica 3; geografia 1; estatística 1; gnomónica 1; trigonometria 1; uso do pantómetro 1; astrologia 1 (apesar da proibição interna na Companhia relativa ao seu ensino). Do elenco anterior verifica-se uma total ausência de geometria avançada (que de facto parece confinada à Aula de Fortificação), álgebra e geometria analítica (que encontramos igualmente, no seu âmbito mais prático, na Aula de Fortificação).</ref>.
É na sequência da fundação da [[Aula de Fortificação de Lisboa|Aula de Fortificação]] (1647) que a ‘Aula da Esfera’ se adapta às circunstâncias preparando os alunos ao ingresso nas carreiras de arte da guerra, da fortificação e navegação<ref>Luís de Albuquerque. ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII'' (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972), 22.</ref>. Matérias como a Aritmética e a Geometria, e em finais do século XVII também a Álgebra, passam a fazer parte dos programas fornecendo bases às lições de arquitetura (incluídas nesta instituição por ordem régia) e formação de arquitetos militares que servem à reorganização defensiva do território metropolitano e ultramarino. Cobrem-se ainda lacunas na formação de técnicos especializados para a realização de expedições cartográficas permitindo o registo de limites territoriais assegurando a soberania da coroa portuguesa.
Porém, à época, o corpo docente não atingira a desejada estabilidade já que os jesuítas eram raros entre os estudantes da Aula, não dando continuidade ao desenvolvimento das matérias no interior do colégio, como, simultaneamente, faltaria uma biblioteca matemática consistente<ref>Segundo Ugo Baldini (2004, 345) a dispersão do espólio bibliográfico dos colégios Jesuítas, consequente à expulsão da Companhia em 1759, não permite avaliar o acesso aos textos estrangeiros e a sua atualização. Contudo, destaca-se o trabalho levado a cabo por Henrique Leitão, ''Sphaera mundi: a ciência na aula da esfera: manuscritos científicos do Colégio de Santo Antão nas colecções da BNP (2008)'', onde se inventaria e estuda o espólio atualmente identificado. </ref> e equipamento técnico adequado. O ensino na Aula é, frequentemente, apontado como meramente didático, ou, quando relativamente avançado, não lidava com pura matemática. Este desvio das ciências puras leva a que o Geral previna “(…) para que não se deixe que os alunos que iniciaram estes estudos se desviem do caminho iniciado, dedicando-se a assuntos menores ou aplicados, como a óptica, as maquinarias, a relojoaria ou outras artes mecânicas semelhantes.”<ref>Henrique Leitão, ''A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759.'' (Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007), 27.</ref> Contudo, dos livros e manuscritos de Santo Antão encontram-se obras que exploram estes conteúdos variando a sua aplicação entre a arte de navegar e a produção de instrumentos. Nesse âmbito referira-se o manuscrito anónimo do ''Tratado da Esfera'' (1695)<ref>[https://purl.pt/16672/5/index.html BN COD. 2062]. Contém tábuas de declinações e instruções para construção de relógios astronómicos, e tabelas para latitudes. Associado ao documento encontra-se ''Modo de descrever os relogios quadrantinos figurados supra'' (f. 140); ''Outro modo de delinear este relogio segundo Horonci Finae'', ''Explicação dos relogios de marfim feytos em Diépa, Do relogio lunar'', ''Achar a hora pella clarid[ad]e da lua por meyo do relogio azymuthal'' (f. 154/158).</ref>, ou o manuscrito de [[Luís Caetano Lima]] (1671-1757), ''Gnomonica Universal ou Arte para fazer todas castas de Relogios por D. Luis Caetano de Lima, C.R.'' (1704)<ref>BN COD. 1931</ref>, um pequeno tratado de gnomónica onde se representam modelos de relógios de sol e se explana os métodos de construção.
Colmatando esta situação as reformas dos gerais da ordem, Tirso Gonzales e Michelangelo Tamburini, na transição dos séculos XVII para XVIII, incluem o ensino regular das matemáticas nos curricula de filosofia, robustecendo-se assim a formação de um corpo de matemáticos da companhia.
Figura de relevo neste contexto de transição de séculos é o Padre [[Luís Gonzaga]] (1666-1747) que ensinava humanidades na [[Universidade de Évora]] transferindo-se para Santo Antão onde passa a ministrar matemática<ref>D. Pedro II chama-o a ensinar matemática ao infante, futuro D. João V, bem como aos infantes seus irmãos entre os anos de 1700 e 1725.</ref>. Redigiu as lições de cosmografia, astrologia e matemática que integram o seu curso, chegando até hoje sebentas, em parte autografas. Da sua obra destaca-se o tratado da ''Esfera astronómica'' (1700/1)<ref>BNA Ms 46 VIII.</ref>, e o ''tratado de astrologia'' (1702)<ref>BNA Ms 46 VIII.</ref>, no qual Albuquerque detectou nos fólios 139-142v ''fragmentos de geometria prática'' com problemas tradicionais de agrimensura e de medidas, a par de tabelas de equivalência de medidas e desenhos de figuras geométricas<ref>O manuscrito inclui problemas clássicos como a sua proposição 1ª, ''Medir huma linha a qual se pode chgar so por hum ponto'', e a proposição 2ª, ''Medir huma linha a que se não pode chegar por nenhum dos extremos.'' Apesar da interrupção da 1ª parte do documento este inclui ainda outras duas partes versando sobre noções de conversão das medidas usadas na Europa, ''Scala mensoria,'' e de aritmética, ''Scala Aritmethica''.</ref>.
De Luís Gonzaga destaca-se ainda o documento o manuscrito do ''tratado de Architectura'' (1704)<ref>BNA, 46-VIII-21.</ref>, o qual resulta de um conjunto de exposições incluídas nas suas lições<ref>Paulo Varela Gomes, ''Igrejas de planta centralizada em Portugal no século XVIII, Arquitectura, Religião e Política''. (Porto: FAUP publicações), 2001, 213.</ref>. Um conteúdo, consequente a decisão de D. Pedro II em preparar arquitetos patente em nota do tratado onde se afirma que “(…) o «''curso de architectura''» fora «''mandado ditar por ordem do Aug. Sr. D. Pedro 2º em ho Collº de Stº Antam''» e «''ao depois mandado ensinar (…) a seos filhos pollo Padre Luiz Gonzaga''»”<ref>Luís de Albuquerque, ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII.'' (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar), 1972, 21.</ref>[3] A obra é organizada em ''Disputas,'' subdivididas em ''fundamentos'' e ''provas,'' em que a primeira define o âmbito da obra, ''Das preminencias da Architectura militar,'' aprofundando a partir daí temas como a aptidão de terrenos, termos, ângulos e balística<ref>Conforme análise do índice por Luís de  Albuquerque, ''A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII'', 1972, 44.</ref>.
Do acervo em depósito na Biblioteca Nacional podem-se ainda referir três manuscritos, todos do início do século XVIII, onde se incluem de modo explícito os conhecimentos em matérias euclidianas. São eles: ''Elementos de geometria''<ref>''Elementos de Geometria L.9o, ou 12. Neste livro, q[ue] corresponde nos solidos ao 6.o dos planos trata Euclides par[cial]m[ent]e das piramides assim rectelinias como conicas dos Celindros, e das esferas examina todas as suas medidas e porporções razão porq[ue] he m[ui]to familiar aos geometras praticos. Dos mais corpos poliedros trata no L[ivr]o Seg[uint] e nos tanto dos deste como dos [...] trataremos nos Selectos de Arquimedes em hua e outra Geometria.'' BN COD 5365</ref>, de autor anónimo e sem data precisa, trata-se de um manual de geometria, muito abreviado, com referência aos Elementos de Euclides, constituído por seis definições e dezoito proposições com teoria e demonstração, ilustrados por 29 figuras; O ''Tratado trigonometrico de geometria plana e corporia 2.o 3o e 4o: 1.o L[ivro] de Euclides e de longemetrica''  (1715)<ref>BN COD. 5175//1.</ref>, de [[João Tomás Correia]] (1667-?), que contém uma segunda parte relativa a elementos da geometria prática com noções de ''Trigonometrica'', ''Planimetrica'', ''Steriomet[r]iça'' e ''Longimetrica'', pelo que o autor associa os elementos euclidianos à prática de levantamento e à qual estariam certamente implícitos conhecimentos da ótica euclidiana; O ''Elementos de Euclides'' (1739)<ref>''Elementos de Euclides ou tractado de geometria elementar ditado por Joze Sanches da S[ilv]a Sarg[en]to mor de Infantaria e lente na Aula Regia das Fortificaçoens desta cid[ad]e de l[i]x[bo]a 1739.'' BN COD 5194//2</ref> de [[José Sanches]] (1688-?) onde se expõem os seis primeiros livros correspondentes à geometria plana<ref>BN COD. 5194//2) - “Tractado dos elementos de Euclides” (p. 339); “Livro.1.o Dos elementos de Euclides” (p. 340-424); “Livro 2. Dos Elementos de Euclides” (p. 425-452); “Livro 3. Dos Elementos de Euclides” (p. 453-503); Livro 4. Dos Elementos de Euclides” (p. 504-520); “Livro 5. Dos Elementos de Euclides” (p. 521-549); “Livro 6.o Dos Elementos de Euclides” (p. 550-583); “Livro 11 Dos Elementos de Euclides” (p. 584-618); “Livro 12 Dos Elementos de Euclides” (p. 619-637). Tem junto: «Elementos das Mathematicas ou Tractado da grandeza em geral» (p. 1-335).</ref>. Do mesmo José Sanches encontra-se na Torre do Tombo a sua tese apresentada ao Colégio de Santo Antão, ''Perspectiva matemática assombrada aos raios do mais brilhante astro'' (1716)<ref>TT Série Preta 3578 (38) c.f.</ref>, a par dos manuscritos do ''Tratado matemático de trigonometria'' (c.1719)<ref>PT/TT/MSLIV/2016. A obra contém o ''Tractado da trigonometria esférica'', o ''Tractado da geometria prática'', “''He a  geometria pratica conforme a etimologia do nome hua sciencia, q trata da medida da terra; porq este nome geometria he grego, q se compõem de duas lições a saber geo, q significa a terra, e metria, q qr dizer medida.”'' Sanches Silva c.1719, Fol 410, e o ''Tractado mathematico dos probl. Geométricos.''</ref>, e ''Curso matemático'' (?)<ref>PT/TT/MSLIV/2188 - A obra seria organizada em 14 tomos: o 1º seria o da arithmetica; 2º elementos de Euclides; 3º de trigonomteria + geomteria plana, esférica e prática; 4º de arquitectura militar; 5º dos alojam(en)tos dos exércitos, ofença, e defença das Praças; 6º da Artelharia fogos e bombas; 7º da ??çoes & tatica; 8º da geografia; 9º da hydrografia; 10º da astronomia; 11º da astrologia e calendário; 12º da óptica; 13º da catóptrica e dióptrica; 14º da perspectiva e arquitectura civil, e nelles varias curiozid(ad)es.</ref>.


A Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão conhece um período de florescimento no início do século XVIII, sistematizando, atualizando e aprofundando conteúdos, nomeadamente através de autores como os Padres [[Inácio Vieira]] (1678-1739) e [[Manuel de Campos]] (1681-1758). Simultaneamente, o ambiente aí vivido leva a que a Aula passe a receber, além dos estudantes que integrarão o corpo técnico científico do império, arquitetos civis, pintores ou preparadores de cena interessados em aprofundar os seus conhecimentos em matemática e ótica que, abordadas desde Euclides aos autores mais modernos, tinham aplicação direta na sua prática profissional.
Este florescimento é coincidente com o reinado de D. João V, a partir do qual se assiste a uma profunda alteração do panorama científico em Portugal. Uma renovação assente no fomento de viagens e intercâmbio científico onde o círculo da Companhia de Jesus fortalece as relações e presença na corte beneficiando do patronato régio<ref>A educação do monarca, de cariz clássico, fora também ela entregue aos padres Jesuítas Francisco da Cruz, João seco e Luís Gonzaga, o que poderá determinar a hegemonia da Casa professa junto do monarca e no domínio da ciência e ensino em Portugal à época.</ref>. Simultaneamente, assiste-se aos primeiros passos das academias<ref>Mesmo no que se refere às academias algumas encontravam-se sob a tutela da Companhia como a ''Academia dos Escolhidos'' que terá tido sessões em Santo Antão e da qual se publicaram documentos como a ''“Oraçaõ academica, com que se deu fim em dezanove de Outubro de 1742 ao segundo dia do certame, que a Academia dos Escolhidos celebrou na Aula da Mathematica do Real Collegio de Santo Antaõ da Companhia de Jesu, pela melhoria do augustissimo Rey D. Joaõ V Nosso Senhor. Relaçam verdadeira do certame, que no Real Collegio das Artes de S. Antam, celebrou a Academia dos Escolhidos desta Corte à melhoria do nosso monarca D. Joam V: com a noticia dos engenhos, que nelle foraõ premiados.”'' Lisboa: Officina dos Herdeiros de António Pedrozo Galram, 1745 (FCG LT 432-reservados).</ref>, criando novas plataformas de discussão e intercâmbio científico, e ao financiamento régio de infraestruturas de ensino e investigação (universidades, bibliotecas e observatórios).
O monarca recorria ao corpo docente do Colégio de Santo Antão para recrutar técnicos para campanhas cartográficas, tendo alguns sido promovidos a matemáticos e astrónomos régios. De entre estes, [[Domingos Capacci]] (1694-1736) e [[João Batista Carbone]] (1694-1750)<ref>No caso de Carbone é relevante o facto de este publicar regularmente na ''Acta eruditorum'' e na ''Philosophical transactions'', o que atesta o valor e consistência da sua investigação e produção científica. </ref>, jesuítas de origem italiana que desempenham um papel de relevo na corte e cuja influência extravasa a atividade científica, tocando matérias políticas e diplomáticas. Por exemplo na década de 20 do século XVIII, sob o patronato do rei e responsabilidade destes jesuítas italianos, é promovida a construção do observatório astronómico do Paço da Ribeira, e de um outro observatório, para uso exclusivo dos jesuítas, no Colégio de Santo Antão.
Contudo, no reinado de D. José I a atividade da Aula da Esfera é interrompida com a expulsão dos jesuítas após promulgação da “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”, de 3 de setembro de 1759.
==Notas==<!-- As notas e a bibliografia que foi, de facto, usada para construir a informação. Atenção: Chicago full note with bibliography-->
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<references />
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Revisão das 14h24min de 14 de outubro de 2022


Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão
(valor desconhecido)
Outras denominações valor desconhecido
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 18 outubro 1590
Data de extinção 1759
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Mosteiro de Santo Antão-o-Velho, Lisboa,-
Início: 1590
Fim: 1593

Localização Colégio de Santo Antão-o-Novo, Lisboa,-
Início: 1593
Fim: 1759
Antecessora valor desconhecido

Sucessora valor desconhecido


História

Dos finais do século XVI a meados do século XVIII a Aula da Esfera do Colégio Santo Antão evidencia-se como a mais importante instituição de ensino e prática científica em Portugal, assegurando de modo contínuo o ensino de disciplinas físico matemáticas em resposta às necessidades de formação de um corpo tecno científico de suporte às exigências do império ultramarino. O nome da “Aula”, terá origem nos tratados de cosmografia medievais, denominados de tratados da esfera, como a obra de Sacrobosco, evidenciando de imediato a sua missão e principais conteúdos formativos[1]. Ainda que haja notícia de que a Esfera foi lecionada desde o início nos colégios de Coimbra (1542), Évora (1550 e convertido em universidade em 1559) e Lisboa (1553), é difícil avaliar a sua efetiva continuidade na segunda metade do século XVI, em muito devido ao impasse acerca do valor epistemológico da matemática e geometria[2]. Contudo, e uma vez que o ensino destas ciências passa a integrar o Ratio Studiorum (1599), pela influência de Cristovão Clávio e do Collegium Romano, a Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão emerge como exceção no panorama português.

Se fundação do colégio de Santo Antão remonta ao ano de 1553, e embora em 1555 o padre Francisco Rodrigues ministre já conteúdos introdutórios da cosmografia e astronomia, o ensino regular e estruturado das matérias matemáticas só se estabelece em 1590. Uma data próxima à da transferência da instituição do Colégio de Santo Antão-o-Velho (Mouraria, Lisboa), para uma nova e ambiciosa sede o Colégio de Santo Antão-o-Novo (Santana, Lisboa).

A Companhia de Jesus estabelece-se em Portugal no ano de 1540, o mesmo ano da sua fundação em Roma, com a chegada dos Padres Simão Rodrigues e Francisco Xavier. Instalando-se na casa de Santo Antão, o edifício, denominado de “Coleginho”, fora erguido no local da antiga mesquita maior da Mouraria entretanto extinta e transformada no reinado de D. Manuel I em convento. Uma casa que passa pela mão de diferentes comunidades religiosas, como as freiras terceiras franciscanas, freiras dominicanas e cónegos regulares, sendo no ano de 1542, entregue por D. João III à Companhia de Jesus, que aí se instala[3]. Porém, aquando da transferência dos jesuítas para a sua nova casa, o edifício passa para a mãos dos Ermitas de Santo Agostinho que aí permanecem até à extinção das ordens religiosas.

A nova casa inaciana, o Colégio de Santo Antão-o-Novo, associa-se à figura do Cardeal D. Henrique[4] que, em 1573, assegurou da parte de D. Sebastião uma generosa renda perpétua, permitindo suportar a empresa da nova construção cuja primeira pedra é lançada a 11 de maio de 1579.

Porém, ao apoio real, o Cardeal D. Henrique impunha contrapartidas ao nível da abertura do ensino e formação técnica que estão na origem da Aula da Esfera. Conforme identificou Leitão, através de carta do Pe. Serrão ao Geral da Companhia em Roma, Everardo Mercuriano, datada de 6 de Dezembro de 1573, é explicita a condição de  “…que se acrecentassen las classes de latim que fuessen necessarias, que serian hasta una o dos, y que se leyesse una leccion de mathematica, y un curso de artes de tres en tres anos”[5].

Desenvolvendo de modo contínuo a sua atividade nesta compatibilização entre a missão da companhia e as solicitações da coroa na formação de quadros técnicos especializados, a atividade da Aula da Esfera é interrompida aquando da expulsão dos jesuítas na sequência da promulgação da “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”, de 3 de setembro de 1759.

Outras informações

Professores

A presente listagem de professores da “Aula da Esfera” corresponde à relação publicada por Ugo Baldini, L’insegnamento della matematica nel Collegio di S. Antão a Lisbona, 1590-1640 (1997), e The teaching of mathematics in the Jesuit colleges of Portugal from 1640 to Pombal (2000), também aplicada como orientação na investigação e publicações organizadas por Henrique Leitão (2007).

1590-93 João Delgado

1595-97 João Delgado

1597-98 António Leitão

1598-99 João Delgado

1599-1602 Cristoph Grienberger

1602-04 Francisco da Costa

1604-05 Francisco Machado

1605-08 João Delgado

1610-14 Sebastião Dias

1615-17 G. Paolo Lembo

1617-19 Dionísio Lopes

1620-25 J. Chrysostomus Gall

1627-28 Cristoforo Borri

1630-36 Ignace Stafford

1638-41 Simon Fallon

1641-42 Jan Cierman

1642-46 Hendrick Uwens

1648-49 Thomas Barton

1651-52 John Riston

1654-55 João da Costa

1655-58 Bartolomeu Duarte

1658-63 Valentin Stansel

1664-65 John Marques

1668-85 George Gelarte

1686-87 F. X. Schildenhofen

1689-90 F. X. Schildenhofen

1692-93 George Gelarte

1695-1700 George Gelarte

1700-06 Luís Gonzaga

1706-07 João Garção

1707-08 Jerónimo de Carvalhal

1708-11 Inácio Vieira

1709-19 Inácio Vieira

1719-21 Manuel de Campos

1721-22 Diogo Soares

1724-25 Domingos Pinheiro

1725-31 Jacinto da Costa

1733-42 Manuel de Campos

1742-43 Francisco Gião

1743-48 João de Borja

1748-51 Tomás de Campos

1753-59 Eusébio da Veiga

Curricula

Os planos estratégicos para o ensino jesuítico foram aqui ajustados às circunstâncias nacionais, de acordo com o pedido régio do Cardeal D. Henrique, conduzindo à integração na instituição dos cursos de formação dos pilotos da marinha, de teóricos e especialistas em náutica e cartografia em paralelo à preparação de missionários com destino às colónias. Uma abertura continuada por Filipe I, assistindo à Aula um público mais vasto do que apenas os escolásticos-estudantes da ordem[6].

Este ajuste da regra pedagógica conduz a uma abordagem das ciências tendencialmente aplicada, afastando-se de conteúdos mais afeitos à especulação filosófica, e à ministração das aulas em vulgar, em vez do Latim, colmatando a ausência das ciências matemáticas ao nível da universidade[7]. Segundo Baldini o programa de Santo Antão estabelece-se como uma mistura do programa matemático do Ratio Studiorum e elementos do conhecimento geográfico e técnicos náuticos Lusitanos[8].

No panorama dos colégios da Companhia a “Aula da Esfera” é também única pela filiação institucional com a Academia de Clávio no Collegium Romano, sendo que até 1620 as matemáticas foram asseguradas por professores aí formados permitindo a atualização dos curricula ministrados[9] e um elevado nível de formação[10]. A instituição assumia-se como centro cosmopolita, no ensino científico português, dado o número de docentes estrangeiros que aqui desempenhavam funções. Deste período poderemos mencionar a presença de mestres como Christoph Grienberg (1564-1604)[11], que desenvolve o cálculo de massas aplicado à escala dos planetas, Cristoforo Borri (1583-1632), que atualiza as ideias cosmológicas no Portugal de seiscentos, Giovanni Paolo Lembo (1570-1618), que introduz o conhecimento sobre os telescópios sendo um dos subscritores que confirmou às autoridades eclesiásticas a justeza das observações de Galileu, ou Chrysostomus Gall (1586-1643) a par dos mais destacados mestres portugueses como João Delgado (1553-1662)[12], do qual nos chega o manuscrito Astrologia Pratica, ou iudiciaria (1607), e Francisco da Costa (1567-1604), o qual substitui Delgado na cátedra de matemática e elabora um Tratado de Geografia (1595).

De 1630 a 1636 ensina na Aula de Santo Antão o inglês Inácio Stafford (1599-1642) que elabora o Tratado da naturesa e uso das paralaxes (1633), os Elementos matemáticos (1634) em castelhano, que se supõem serem textos da sua lição, a par de Los usos del Pantometra (c.1638) e Varias obras Mathematicas (1638)[13]. Também do curso do Padre Simon Fallon (c.1604-1642)[14] conhecem-se duas sebentas, sendo que a primeira, Matérias matemáticas nas quais se contem astronometria, astrologia e outrometria (c. 1638)[15], relativa às lições de astronomia e agrimensura, se inicia com uma breve digressão pelos princípios gerais da geometria euclidiana.

De Stafford é de referir as suas incursões à Optica euclidiana onde, dada a relação umbilical com os princípios geradores da perspectiva, explora princípios de proporcionalidade dos elementos no espaço e aborda as bases da teoria emissiva em que os raios visuais divergem dos olhos. Como tal, para lá da obra de D. Francisco de Melo (1490-1536)[16], detecta-se o rastro da introdução da ótica euclidiana em Portugal em Varias obras mathematicas (1638)[17], da qual se destaca a exposição da Dimension de Figuras Planas, y Solidas e os capítulos referentes à Optica ao Tratado da Milicia e à La Architectura Militar, evidenciando conteúdos em circulação em Santo Antão[18] que, após a restauração, se repercutem na Aula da Fortificação.

A restauração da independência portuguesa em 1640 implica uma adaptação dos programas da Aula[19], em função das necessidades militares da guerra com Espanha, pelo que os matemáticos jesuítas acumulavam funções com a superintendência de fortificações, dada a carência de um quadro técnico qualificado para responder às necessidades da guerra. Assim, em meados do século XVII a Aula da Esfera compreendia disciplinas que iam da cosmografia, astronomia à geometria baseada no estudo de Euclides (Elementos) à Aritmética, Álgebra, Trigonometria plana e esférica, Náutica e temas vários aplicados à navegação, Hidrografia e Cartografia, Ótica, Perspectiva e Cenografia, Gnomónica, construção de instrumentos científicos e máquinas, Estática e Hidrostática, Arquitetura e Engenharia Militar e assuntos afins (pirotecnia, balística, etc.). Porém, assiste-se a um assinalável declínio do ensino das matemáticas na segunda metade do século XVII o que “(…) comprometeu a implantação da disciplina e a manutenção do seu estatuto epistemológico.”[20] Nesta linha Ugo Baldini refere que a educação jesuítica, anterior a 1700, peca por alguns atalhos excluindo níveis avançados de reflexão e especulação científica[21].

É na sequência da fundação da Aula de Fortificação (1647) que a ‘Aula da Esfera’ se adapta às circunstâncias preparando os alunos ao ingresso nas carreiras de arte da guerra, da fortificação e navegação[22]. Matérias como a Aritmética e a Geometria, e em finais do século XVII também a Álgebra, passam a fazer parte dos programas fornecendo bases às lições de arquitetura (incluídas nesta instituição por ordem régia) e formação de arquitetos militares que servem à reorganização defensiva do território metropolitano e ultramarino. Cobrem-se ainda lacunas na formação de técnicos especializados para a realização de expedições cartográficas permitindo o registo de limites territoriais assegurando a soberania da coroa portuguesa.

Porém, à época, o corpo docente não atingira a desejada estabilidade já que os jesuítas eram raros entre os estudantes da Aula, não dando continuidade ao desenvolvimento das matérias no interior do colégio, como, simultaneamente, faltaria uma biblioteca matemática consistente[23] e equipamento técnico adequado. O ensino na Aula é, frequentemente, apontado como meramente didático, ou, quando relativamente avançado, não lidava com pura matemática. Este desvio das ciências puras leva a que o Geral previna “(…) para que não se deixe que os alunos que iniciaram estes estudos se desviem do caminho iniciado, dedicando-se a assuntos menores ou aplicados, como a óptica, as maquinarias, a relojoaria ou outras artes mecânicas semelhantes.”[24] Contudo, dos livros e manuscritos de Santo Antão encontram-se obras que exploram estes conteúdos variando a sua aplicação entre a arte de navegar e a produção de instrumentos. Nesse âmbito referira-se o manuscrito anónimo do Tratado da Esfera (1695)[25], ou o manuscrito de Luís Caetano Lima (1671-1757), Gnomonica Universal ou Arte para fazer todas castas de Relogios por D. Luis Caetano de Lima, C.R. (1704)[26], um pequeno tratado de gnomónica onde se representam modelos de relógios de sol e se explana os métodos de construção.

Colmatando esta situação as reformas dos gerais da ordem, Tirso Gonzales e Michelangelo Tamburini, na transição dos séculos XVII para XVIII, incluem o ensino regular das matemáticas nos curricula de filosofia, robustecendo-se assim a formação de um corpo de matemáticos da companhia.

Figura de relevo neste contexto de transição de séculos é o Padre Luís Gonzaga (1666-1747) que ensinava humanidades na Universidade de Évora transferindo-se para Santo Antão onde passa a ministrar matemática[27]. Redigiu as lições de cosmografia, astrologia e matemática que integram o seu curso, chegando até hoje sebentas, em parte autografas. Da sua obra destaca-se o tratado da Esfera astronómica (1700/1)[28], e o tratado de astrologia (1702)[29], no qual Albuquerque detectou nos fólios 139-142v fragmentos de geometria prática com problemas tradicionais de agrimensura e de medidas, a par de tabelas de equivalência de medidas e desenhos de figuras geométricas[30].

De Luís Gonzaga destaca-se ainda o documento o manuscrito do tratado de Architectura (1704)[31], o qual resulta de um conjunto de exposições incluídas nas suas lições[32]. Um conteúdo, consequente a decisão de D. Pedro II em preparar arquitetos patente em nota do tratado onde se afirma que “(…) o «curso de architectura» fora «mandado ditar por ordem do Aug. Sr. D. Pedro 2º em ho Collº de Stº Antam» e «ao depois mandado ensinar (…) a seos filhos pollo Padre Luiz Gonzaga»”[33][3] A obra é organizada em Disputas, subdivididas em fundamentos e provas, em que a primeira define o âmbito da obra, Das preminencias da Architectura militar, aprofundando a partir daí temas como a aptidão de terrenos, termos, ângulos e balística[34].

Do acervo em depósito na Biblioteca Nacional podem-se ainda referir três manuscritos, todos do início do século XVIII, onde se incluem de modo explícito os conhecimentos em matérias euclidianas. São eles: Elementos de geometria[35], de autor anónimo e sem data precisa, trata-se de um manual de geometria, muito abreviado, com referência aos Elementos de Euclides, constituído por seis definições e dezoito proposições com teoria e demonstração, ilustrados por 29 figuras; O Tratado trigonometrico de geometria plana e corporia 2.o 3o e 4o: 1.o L[ivro] de Euclides e de longemetrica  (1715)[36], de João Tomás Correia (1667-?), que contém uma segunda parte relativa a elementos da geometria prática com noções de Trigonometrica, Planimetrica, Steriomet[r]iça e Longimetrica, pelo que o autor associa os elementos euclidianos à prática de levantamento e à qual estariam certamente implícitos conhecimentos da ótica euclidiana; O Elementos de Euclides (1739)[37] de José Sanches (1688-?) onde se expõem os seis primeiros livros correspondentes à geometria plana[38]. Do mesmo José Sanches encontra-se na Torre do Tombo a sua tese apresentada ao Colégio de Santo Antão, Perspectiva matemática assombrada aos raios do mais brilhante astro (1716)[39], a par dos manuscritos do Tratado matemático de trigonometria (c.1719)[40], e Curso matemático (?)[41].

A Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão conhece um período de florescimento no início do século XVIII, sistematizando, atualizando e aprofundando conteúdos, nomeadamente através de autores como os Padres Inácio Vieira (1678-1739) e Manuel de Campos (1681-1758). Simultaneamente, o ambiente aí vivido leva a que a Aula passe a receber, além dos estudantes que integrarão o corpo técnico científico do império, arquitetos civis, pintores ou preparadores de cena interessados em aprofundar os seus conhecimentos em matemática e ótica que, abordadas desde Euclides aos autores mais modernos, tinham aplicação direta na sua prática profissional.

Este florescimento é coincidente com o reinado de D. João V, a partir do qual se assiste a uma profunda alteração do panorama científico em Portugal. Uma renovação assente no fomento de viagens e intercâmbio científico onde o círculo da Companhia de Jesus fortalece as relações e presença na corte beneficiando do patronato régio[42]. Simultaneamente, assiste-se aos primeiros passos das academias[43], criando novas plataformas de discussão e intercâmbio científico, e ao financiamento régio de infraestruturas de ensino e investigação (universidades, bibliotecas e observatórios).

O monarca recorria ao corpo docente do Colégio de Santo Antão para recrutar técnicos para campanhas cartográficas, tendo alguns sido promovidos a matemáticos e astrónomos régios. De entre estes, Domingos Capacci (1694-1736) e João Batista Carbone (1694-1750)[44], jesuítas de origem italiana que desempenham um papel de relevo na corte e cuja influência extravasa a atividade científica, tocando matérias políticas e diplomáticas. Por exemplo na década de 20 do século XVIII, sob o patronato do rei e responsabilidade destes jesuítas italianos, é promovida a construção do observatório astronómico do Paço da Ribeira, e de um outro observatório, para uso exclusivo dos jesuítas, no Colégio de Santo Antão.

Contudo, no reinado de D. José I a atividade da Aula da Esfera é interrompida com a expulsão dos jesuítas após promulgação da “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”, de 3 de setembro de 1759.

Notas

  1. Luís de Albuquerque. A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972), 8.
  2. Henrique Leitão, A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759. (Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007), 30.
  3. Esta relação com a coroa, surge no encalce da reforma cultural promovida por D. João III, a qual se estende da Aula do Paço à Universidade (transferida definitivamente para Coimbra em 1537), e à criação de estudos introdutórios como o Colégio das Artes (1547), e abertura do Colégio de Jesus de Coimbra (1542) e posterior tutela do Colégio das Artes pelos Jesuítas (1555).
  4. Para Leitão (A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759, 94-95), é determinante resgatar o papel do cardeal D. Henrique na fundação da Aula da Esfera já que a historiografia tendeu, até muito recentemente, a vincular a origem da “Aula da Esfera” apenas ao Rei D. Sebastião.
  5. Leitão, A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759, 32.
  6. “A importância desta «Aula» está patente no facto de ter sido frequentada por um enorme número de alunos não jesuítas, o que lhe permite maior interferência no tecido social português. (…) A ‘Aula de Esfera’ marca, portanto, o momento em que a Província portuguesa da Companhia de Jesus se adaptou institucionalmente para o ensino da matemática, que legitimou e colocou ao dispor da sociedade laica.” Bernardo Mota, O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII (PhD thesis, 2008), 205. A regra sobre a qual os colégios deveriam funcionar exclusivamente como lares de escolásticos-estudantes foi sancionada por bula fundacional regimini militantis ecclesiae de 27 de setembro de 1540. Porém, a conduta dos alunos externos à ordem é também regulada pelo Ratio, no qual se refere que a companhia os deveria sempre orientar no amor de Deus e todas as virtudes aperfeiçoando-os nas ars liberalis como aponta Allan Farrell. The Jesuit Ratio Studiorum of 1599 (Conference of major superiors of Jesuits, 1970), 101. Estes encontravam-se obrigados a uma confissão semanal, à frequência de instrução na doutrina cristã e, no ponto 14 do documento, era recomendada a não frequência de espetáculos públicos, comédias e execuções públicas de criminosos não devendo participar em representações teatrais fora da escola sem autorização dos seus professores ou perfeito de estudos. As representações teatrais desenvolvidas pelos jesuítas constituem uma área complementar da pedagogia Inaciana, pretendendo incutir os conhecimentos e valores requeridos aos seus alunos. Segundo Margarida Tavares Conceição (Da cidade e fortificação em textos portugueses. 1540-1640. (PhD thesis, 2008), 324), conservam-se relatos que atestam o recurso a este tipo de eventos já aquando da educação de D. Sebastião.
  7. “A ausência geral de uma tradição teórica nas ciências matemáticas a nível universitário é um traço essencial do fundo cultural prevalecente encontrado pelos jesuítas, levando um notável estudioso português a alegar que a universidade não desempenhou nenhum exemplo (...)” com isto o autor não rejeita o carácter pioneiro das obras de Pedro Nunes, mas a sua importância não chegou para criar uma tradição e manutenção desse nível de qualidade e exigência. Henrique Leitão “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759” (New York: Springer, 2002), 229-247.
  8. Ugo Baldini, “The teaching of Mathematics in the Jesuit Colleges of Portugal from 1640 to Pombal” (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2004), 343.
  9. Da atualização dos curricula ministrados o caso mais conhecido é o da introdução das observações por telescópio de Galileu (1610/11). Já em 1615/16 estas observações eram ensinadas por Giovan Paolo Lembo na Aula da Sphera, que discute as descobertas nas suas aulas foram sendo levadas a cabo observações deste género em Lisboa. Por outro lado, Cristoforo Borri publica em 1631, em Lisboa o seu Collecta Astronomica com informação detalhada sobre as descobertas de Galileu. Da actualidade dos curricula podemos referir o reconhecimento da obra de Simon Stevin por via do ensino matemático na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão. Margarida Tavares Conceição, Da cidade e fortificação em textos portugueses (1540-1640) (PhD thesis, 2008), 215.
  10. “A ligação entre a Academia de Matemática e Santo Antão não se restringe a uma cooperação a nível de recursos humanos mas assenta também numa especial ligação institucional. Uma vez que os missionários jesuítas só podiam alcançar a Ásia viajando em barcos portugueses, era permitido a estudantes vindo de Roma, enquanto esperavam pelo embarque, terminar o seu curso de teologia em Coimbra ou o seu curso de Matemática em Lisboa.” Bernardo Mota. O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII, 204.
  11. Um dos mais reputados matemáticos da Europa que haveria de suceder a Cristóvão Clávio na chefia da Academia de Matemática do Collegio Romano.
  12. João Delgado deu início formal ao curso de matemática da “Aula da Esfera” e, enquanto arquiteto, dirige as obras do Colégio das Artes em Coimbra a par das de Santo-Antão-o-Novo e do Noviciado da Cotovia em Lisboa.
  13. Deste texto, cujos conteúdos tratariam da geometria euclidiana, Francisco Rodrigues (1950) dá notícia de uma tradução manuscrita realizada por Brás de Almeida.
  14. O jesuíta Simon Fallon, ou Simão Falónio, deu aulas de matemática em Coimbra (1630-1633) e de matemática e astronomia na Aula da Sphera (1638-1640), tendo ainda desempenhado funções técnicas no âmbito da fortificação da península de Setúbal (Setúbal, Arrábida e Sesimbra).
  15. BN COD 2127
  16. Perspectivae Euclidis, cum Francisci de Mello Commetariis (1514 e 1517), BN COD. 2262, é caracterizado por um conjunto de comentários originais a textos de Euclides que vertem, todos eles, sobre a ótica e a perspetiva.
  17. Varias obras mathematicas compuestas por el. P. Ignacio Stafford mestre de Mathematica en el Colegio de S. Anton de la Compañia de Iesus y no acavadas por cauza de la muerte del dicho Padre (BN PBA. 240). A obra organiza-se segundo: Arithmetica practica geometrica logarithmica (p. 1-277); Dimension de figuras planas, y solidas (p. 279-319); La Optica (p. 321-348); Tratado da naturesa, e uso dos paralaxes (p. 351-393; ilustrações p. 399-404); Apologia contra certo autor tocante a los rumbos nauticos (p. 405-432); Compendio de problemas astronomicos, geographicos y hydrographicos (p. 435-452); La Architectura militar (p. 505-642). Do mesmo autor poremos ainda referir de Los Usos de la regla ordinária, o escala que acompaña el pantometra Inglês (BN COD. 4323).
  18. Da mesma época pode-se apontar outro manuscrito, em depósito na Biblioteca nacional, que versa sobre a óptica. O Apendice ao Compendio matema[tico] em Sete rios 24 de fevereiro de 640 (BN COD 6651//3), um apêndice a um compêndio de matemática, com referências a Plutarco, Aristóteles e Platão, contendo matérias da ótica a partir do f. 110.
  19. Até então os cursos eram essencialmente de cosmografia, navegação e geografia, incluindo todos os aspectos práticos na construção e operação de instrumentos náuticos e astronómicos. Henrique Leitão, “Jesuit Mathematical Practice in Portugal, 1540-1759”, 229-247.
  20. Bernardo Mota, O estatuto da matemática em Portugal nos séculos XVI e XVII, 271. De acordo com o autor “Os catálogos não assinalam qualquer professor nos anos 46/8, 49/51, 52/54, 63/64, 65/68. Desse ano em diante, o ensino da disciplina foi assegurado por Jorge Gelarte até 1700, mas este docente possuía, ao que parece, competência matemática insuficiente.”
  21. Dos textos produzidos entre 1640/92, Ugo Baldini evidencia as seguintes matérias: a esfera (astronomia elementar) 4; ciência náutica 3; geografia 1; estatística 1; gnomónica 1; trigonometria 1; uso do pantómetro 1; astrologia 1 (apesar da proibição interna na Companhia relativa ao seu ensino). Do elenco anterior verifica-se uma total ausência de geometria avançada (que de facto parece confinada à Aula de Fortificação), álgebra e geometria analítica (que encontramos igualmente, no seu âmbito mais prático, na Aula de Fortificação).
  22. Luís de Albuquerque. A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1972), 22.
  23. Segundo Ugo Baldini (2004, 345) a dispersão do espólio bibliográfico dos colégios Jesuítas, consequente à expulsão da Companhia em 1759, não permite avaliar o acesso aos textos estrangeiros e a sua atualização. Contudo, destaca-se o trabalho levado a cabo por Henrique Leitão, Sphaera mundi: a ciência na aula da esfera: manuscritos científicos do Colégio de Santo Antão nas colecções da BNP (2008), onde se inventaria e estuda o espólio atualmente identificado.
  24. Henrique Leitão, A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, 1590-1759. (Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007), 27.
  25. BN COD. 2062. Contém tábuas de declinações e instruções para construção de relógios astronómicos, e tabelas para latitudes. Associado ao documento encontra-se Modo de descrever os relogios quadrantinos figurados supra (f. 140); Outro modo de delinear este relogio segundo Horonci Finae, Explicação dos relogios de marfim feytos em Diépa, Do relogio lunar, Achar a hora pella clarid[ad]e da lua por meyo do relogio azymuthal (f. 154/158).
  26. BN COD. 1931
  27. D. Pedro II chama-o a ensinar matemática ao infante, futuro D. João V, bem como aos infantes seus irmãos entre os anos de 1700 e 1725.
  28. BNA Ms 46 VIII.
  29. BNA Ms 46 VIII.
  30. O manuscrito inclui problemas clássicos como a sua proposição 1ª, Medir huma linha a qual se pode chgar so por hum ponto, e a proposição 2ª, Medir huma linha a que se não pode chegar por nenhum dos extremos. Apesar da interrupção da 1ª parte do documento este inclui ainda outras duas partes versando sobre noções de conversão das medidas usadas na Europa, Scala mensoria, e de aritmética, Scala Aritmethica.
  31. BNA, 46-VIII-21.
  32. Paulo Varela Gomes, Igrejas de planta centralizada em Portugal no século XVIII, Arquitectura, Religião e Política. (Porto: FAUP publicações), 2001, 213.
  33. Luís de Albuquerque, A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII. (Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar), 1972, 21.
  34. Conforme análise do índice por Luís de Albuquerque, A "Aula de Esfera" do Colégio de Santo Antão no século XVII, 1972, 44.
  35. Elementos de Geometria L.9o, ou 12. Neste livro, q[ue] corresponde nos solidos ao 6.o dos planos trata Euclides par[cial]m[ent]e das piramides assim rectelinias como conicas dos Celindros, e das esferas examina todas as suas medidas e porporções razão porq[ue] he m[ui]to familiar aos geometras praticos. Dos mais corpos poliedros trata no L[ivr]o Seg[uint] e nos tanto dos deste como dos [...] trataremos nos Selectos de Arquimedes em hua e outra Geometria. BN COD 5365
  36. BN COD. 5175//1.
  37. Elementos de Euclides ou tractado de geometria elementar ditado por Joze Sanches da S[ilv]a Sarg[en]to mor de Infantaria e lente na Aula Regia das Fortificaçoens desta cid[ad]e de l[i]x[bo]a 1739. BN COD 5194//2
  38. BN COD. 5194//2) - “Tractado dos elementos de Euclides” (p. 339); “Livro.1.o Dos elementos de Euclides” (p. 340-424); “Livro 2. Dos Elementos de Euclides” (p. 425-452); “Livro 3. Dos Elementos de Euclides” (p. 453-503); Livro 4. Dos Elementos de Euclides” (p. 504-520); “Livro 5. Dos Elementos de Euclides” (p. 521-549); “Livro 6.o Dos Elementos de Euclides” (p. 550-583); “Livro 11 Dos Elementos de Euclides” (p. 584-618); “Livro 12 Dos Elementos de Euclides” (p. 619-637). Tem junto: «Elementos das Mathematicas ou Tractado da grandeza em geral» (p. 1-335).
  39. TT Série Preta 3578 (38) c.f.
  40. PT/TT/MSLIV/2016. A obra contém o Tractado da trigonometria esférica, o Tractado da geometria prática, “He a  geometria pratica conforme a etimologia do nome hua sciencia, q trata da medida da terra; porq este nome geometria he grego, q se compõem de duas lições a saber geo, q significa a terra, e metria, q qr dizer medida.” Sanches Silva c.1719, Fol 410, e o Tractado mathematico dos probl. Geométricos.
  41. PT/TT/MSLIV/2188 - A obra seria organizada em 14 tomos: o 1º seria o da arithmetica; 2º elementos de Euclides; 3º de trigonomteria + geomteria plana, esférica e prática; 4º de arquitectura militar; 5º dos alojam(en)tos dos exércitos, ofença, e defença das Praças; 6º da Artelharia fogos e bombas; 7º da ??çoes & tatica; 8º da geografia; 9º da hydrografia; 10º da astronomia; 11º da astrologia e calendário; 12º da óptica; 13º da catóptrica e dióptrica; 14º da perspectiva e arquitectura civil, e nelles varias curiozid(ad)es.
  42. A educação do monarca, de cariz clássico, fora também ela entregue aos padres Jesuítas Francisco da Cruz, João seco e Luís Gonzaga, o que poderá determinar a hegemonia da Casa professa junto do monarca e no domínio da ciência e ensino em Portugal à época.
  43. Mesmo no que se refere às academias algumas encontravam-se sob a tutela da Companhia como a Academia dos Escolhidos que terá tido sessões em Santo Antão e da qual se publicaram documentos como a “Oraçaõ academica, com que se deu fim em dezanove de Outubro de 1742 ao segundo dia do certame, que a Academia dos Escolhidos celebrou na Aula da Mathematica do Real Collegio de Santo Antaõ da Companhia de Jesu, pela melhoria do augustissimo Rey D. Joaõ V Nosso Senhor. Relaçam verdadeira do certame, que no Real Collegio das Artes de S. Antam, celebrou a Academia dos Escolhidos desta Corte à melhoria do nosso monarca D. Joam V: com a noticia dos engenhos, que nelle foraõ premiados.” Lisboa: Officina dos Herdeiros de António Pedrozo Galram, 1745 (FCG LT 432-reservados).
  44. No caso de Carbone é relevante o facto de este publicar regularmente na Acta eruditorum e na Philosophical transactions, o que atesta o valor e consistência da sua investigação e produção científica.

Fontes

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Ligações Internas

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Categoria:Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão

Ligações Externas

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Aula_da_Esfera

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https://www.publico.pt/2008/02/23/jornal/visita-guiada-ao-mundo-fan--tastico-da-aula-da-esfera-250432

https://www.rtp.pt/programa/tv/p31026/e9

Autor(es) do artigo

João Cabeleira

Lab2PT - Universidade do Minho

http://orcid.org/0000-0002-6800-8557

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

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