Aula de Fortificação de Goa

Fonte: eViterbo
Revisão em 19h41min de 28 de agosto de 2023 por Alice (discussão | contribs) (→‎História)
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa


Aula de Fortificação de Goa
(valor desconhecido)
Outras denominações Aula de Matemática aplicada à Architectura Militar; Aula de Arquitectura Militar
Tipo de Instituição valor desconhecido
Data de fundação valor desconhecido
Data de extinção 1817
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Goa, Índia
Início: 1812
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Academia Militar de Goa


História

Inserida num esforço de criação de uma rede de aulas em diversos pontos do império, foram diversas as tentativas de tentar estabelecer uma Aula de Fortificação em Goa. A primeira notícia que se conhece data de 12 de Novembro de 1674 quando o Conselho Ultramarino fez uma consulta a Luís Serrão Pimental sobre os engenheiros para enviar para a Índia e para o Brasil. Pimentel indicou Manuel Barreto da Ponte para a Índia “por ser capaz de ensinar o que tinha aprendido[1]”. O conselho aprovou ainda que Barreto da Ponte ensinasse " a seis sujeitos aos quais o V. Rei com os do Conselho nomearão as porções que hão de ser pagas pela fazenda real para que melhor se apliquem, porque a vista destes aprenderão outros muitos; e sempre sairão alguns sábios para este exercício"[2], ou seja que se estabelecessem seis “partidos” ou seja seis lugares pagos de aprendizagem.

A 16 de Fevereiro de 1675 Manuel Barreto da Ponte foi efetivamente nomeado Engenheiro-mor do Estado da Índia com a obrigação de ensinar na Cidade de Goa para onde partiria nessa monção[1][2]. Cerca de um mês depois, a 26 de março do mesmo ano, ainda o engenheiro não tinha chegado à Índia, uma consulta do governo de Goa ao Conselho Ultramarino mostrava que existiam preocupações sobre quem seriam os alunos destas aulas. Nesse documento, da Índia chega a advertência de que as aulas deveriam ser dadas "portugueses casados e não a outros" assegurando que não houvesse possibilidade de os alunos "depois se passem aos Mouros". O parecer do Conselho parece ser que se cumpram as ordens anteriormente enviadas[3]. Em Janeiro de 1676 Manuel Barreto da Ponte toma posse do seu cargo de engenheiro-mor da Estado da Índia[4] [5]. O descontentamento e preocupação do governo de Goa continuou, como atesta um conjunto de documentação datado dos anos de 1676 e 1677. Tudo leva a crer que apesar das ordens que levava de Lisboa, Manuel Barreto da Ponte não terá começado a ensinar, pois as hesitações e resistências do Governo de Goa continuavam: "considerava grande inconveniente (...) porque depois de aprenderem se devertiam pelos reinos estranhos onde exercitavam o oficio muito em prejuízo do desejado que neste reino"[5][6][7]. Em resposta do Conselho Ultramarino datada de 28 Janeiro de 1677, fica claro que aquando da nomeação de Barreto da Ponte, e apesar de caber ao Vice-Rei da India, D. José Pedro da Câmara, nomear os alunos que seriam partidistas, era sublinhado que estes partidos não deviam ser atribuídos "a soldados e menos a reformados" referindo que "Se admitissem a esses partidos moços naturais da terra desobrigados e a vista deles não faltariam ali outros a quem a curiosidade os obrigasse aprender"[7].Esta nova carta do Vice-Rei da Índia terá chegado ao conselho a 23 de Fevereiro de 1675 ou seja pouco depois de Barreto da ponte ter chegado à India. Considerando as opiniões vindas de Goa, o Conselho Ultramarino frisa que então o Vice-Rei deve então ordenar a Manuel Barreto da Ponte que ensine a 6 portugueses “porque com isso se ficara minorado o risco poderem passar a reinos estranho[7].O Conselho Ultramarino considera ainda que o Vice-Rei deve consultar o Conselho da Fazenda pois que esta solução poderia trazer “maiores dificuldades porque farão muita despesa à fazenda de V.A.; e podendo morrer na India, ou faltar por outro qualquer acidente ficará sendo inutil a despeza, que com eles se fizer o Estado da India, sentindo a mesma falta[7]. Se Manuel Barreto da Ponte terá chegado a dar aulas permanece uma incógnita, uma vez que não se encontrou documentação que o comprove nem referência a qualquer pessoa que com ele tivesse aprendido.


Somente a 15 de Janeiro de 1699, volta a haver notícia de uma nova tentativa, quando uma ordem foi então Vice-Rei da Índia, António Luís Gonçalves da Camara Coutinho, ordenando que se ensinasse fortificação. Um ensino apoiado na figura individual do engenheiro, com regras claras de funcionamento "...nesse Estado em que ha engenheiro, haja aula, em que ele possa ensinar a fortificação; havendo nela três discípulos de partido, ... e para se aceitarem terão ao menos dezoito anos de idade.... E todos os anos serão examinados para se ver se se adiantam nos estudos e se tem genio para eles; porque quando não aproveitem pela incapacidade serão logo excluídos; e quando não seja pela pouca aplicação, se lhes assinará tempo para se ver o que se melhoram; e quando se não aproveitem nele, serão também despedidos. E quando haja pessoas que voluntariamente queiram aprender sem partido, serão admitidas e ensinadas; para que assim possa nesta conquista haver engenheiros" [8]. Esta carta é contemporânea e semelhantes a outras enviadas para o  Brasil para o Rio de Janeiro (Aula de Fortificação do Rio de Janeiro), para a Bahia (Aula Militar da Bahia) e para Pernambuco (Aula Militar do Recife), para Angola e para Cabo Verde. A estas juntavam-se as aulas criadas na metrópole em Elvas, Viana e Almeida (Aula de Fortificação de Viana, Aula de Fortificação de Almeida), que com a aula de Lisboa, formavam uma rede de formação de engenheiros espalhada no império. Embora, com resultados práticos distintos nos diversos territórios, como se pode verificar no caso de Goa em análise, estas cartas confirmam o empenho de D. Pedro II na criação de desta rede.

Em Goa, mais uma vez, as aulas não devem ter tido início pois o Vice-rei, a 28 Dezembro desse mesmo ano de 1699, escreveu para Lisboa referindo que João Pires Rebouça, o único engenheiro que havia em Goa, não tinha capacidade para dar aulas[8].Rebouça, efectivamente, nunca deve ter ensinado. Em 1707, data em que pede para regressar ao reino, no seu pedido refere que "assistia às fortificações do estado"[9].

Outras informações

Professores

Curricula

Notas

  1. 1,0 1,1 Conselho Ultramarino_Brasil_Bahia. 1674, Novembro, 12, Lisboa. Doc. 2615. Catálogo Luísa da Fonseca. Consulta do Conselho Ultramarino sobre os engenheiros João Lucas Ferreira Simões, de Viana do Castelo, Manuel Barreto da Ponte, João Coutinho e Antonio Correia Pinto, que podem ir para os Estados da India e Brasil.
  2. 2,0 2,1 Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Manuel Barreto da Ponte. Carta Patente. Engenheiro do Estado da Índia. Registo Geral de Mercês, Mercês (Chancelaria) de D. Afonso VI, liv. 18, f. 139v. Transcrita por: Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou a serviço de Portugal, 3: 248 ; Sepúlveda, História da Engenharia Militar Portuguesa, 16: 250-251.
  3. Arquivo Histórico Ultramarino. Conselho Ultramarino. Consultas da Índia. Sobre o engenheiro que vai à índia ensinar a fortificação a portugueses casados, e não a outros. AHU_CU_CONSULTAS DA ÍNDIA, Cod. 212, fl. 43. Vejam-se ainda os documentos posteriores também citados neste verbete.
  4. Historical Archive of Goa. Cartas do vice-rei Luís Furtado e Albuquerque datadas de 22 e 23 de Janeiro de 1676, Livro das Monções nº 39-40, Ms. 48, fls. 132-133, 234-235. Citadas por Mendiratta, “Dispositivos do Sistema Defensivo da Província do Norte do Estado da Índia, 1521-1739”, 118.
  5. 5,0 5,1 Arquivo Histórico Ultramarino. Conselho Ultramarino. Consultas da Índia. Sobre o que escreve o conde vice-rei da índia acerca dos sujeitos que o engenheiro Manuel Barreto da Ponte devia ensinar naquele estado a mesma arte. AHU_CU_CONSULTAS DA ÍNDIA, Cod. 212, fl. 58. 28 de Janeiro de 1677.
  6. AHU_ACL_CU_58_CX054_India_ 1675_1679. 28 de Janeiro de 1677. Cx30. Doc. 68
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 AHU_ACL_CU_58_CX054_India_ 1675_1679. 28 de Janeiro de 1677. Cx30. Doc. 128. Sobre o que escreveu o Conde Vice-Rei da India à cerca dos Sujeitos que o Engenheiro Manuel Barreto da Ponte devia ensinar naquele Estado a mesma arte.
  8. 8,0 8,1 Estas cartas régias foram transcritas dos livros das Livros das Monções por Cunha Rivara no Chronista de Tissuary (1868) nº 26, nº 28 foram posteriormente publicadas por outros autores como: Nazareth, J.M. do Carmo. Início de Estudos Militares na Índia, 284-285 e Pd. Filipe Nery de Souza Noticia Histórica e Legislativa da Instrução Pública, Vol V, 147-148.
  9. João Pires Rebouça. Arquivo Nacional Torre do Tombo. Registo Geral de Mercês, Mercês de D. João V, liv. 1, f.54v

Fontes

Bibliografia

Ligações Internas

Para consultar as pessoas relacionadas com esta instituição, nomeadamente professores e alunos, siga o link: Categoria:Aula de Fortificação de Goa

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/yw2n-ufjw

Citar este artigo