Aula de Artilharia de Goa

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Aula de Artilharia de Goa
(valor desconhecido)
Outras denominações valor desconhecido
Tipo de Instituição Ensino militar
Data de fundação 1776
Data de extinção 1817
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Goa, Índia
Início: 1776
Fim: 1817
Antecessora valor desconhecido

Sucessora Academia Militar de Goa


História

Criada por Alvará de 28 de Abril de 1773, a Aula de Artilharia de Goa foi criada ao mesmo tempo que foi organizado o regimento de Artilharia, foi "mandando estabelecel-a na fortaleza de N.S. do Cabo"[1][2].

João Baptista Vieira Godinho nomeado para servir na Índia em 1774 foi então "encarregado da comissão de lente Régio" no regimento de Artilharia, cargo "que exercitou por mais de vinte anos"[3]. Era uma Aula Regimental como outras criadas que já existiam no reino.

Será essa data, 1774 que Azevedo[4] e Soares[5] indicam o início do funcionamento da Aula. No entanto, segundo Sampaio[6] e Garcias[1], esta teve início a 2 Janeiro de 1776, quando uma determinação régia a terá novamente estabelecido ou reforçado a necessidade de se estabelecer uma Aula.

Vieira Godinho foi nomeado para a Índia em 1774 e chegou ao território na monção de 1774 com o governador D. José Pedro da Câmara, por esse motivo seria possível a aula ter tido início antes de Janeiro de 1776, até porque logo em Maio de 1776 o mesmo governador dava conta que Vieira Godinho era “muy hábil lente (...) que se interessa com o mayor cuidado, e igual honra, em tudo[7]. Nessa data, Maio de 1776, D. José Pedro da Câmara escreveu ao Marques de Pombal sobre as duas Aulas, da Marinha e da Artilharia, e juntou à correspondência os estatutos das referidas Aulas. Os primeiros estão datados de Julho de 1775, mas os respeitantes à Artilharia não se encontram datados[8]. Considera-se que devem ser contemporâneos, como foi o início efetivo das Aulas com uma diferença de abertura de alguns meses. A Aula da Marinha teve sessão inaugural em Agosto de 1775 e Sanches Brito referiu que “passados alguns meses se abriu a Aula de Artilharia[9].

Apesar desta cronologia poder parecer por vezes um pouco contraditória, na realidade demonstra o tempo e as dificuldades do processo do estabelecimento destas Aula no território de Goa. A Aula de Artilharia deve então ter funcionado desde o início de 1776 sob a direção de Vieira Godinho, no quartel de Gaspar Dias em St. Inês, uma vez que a Fortaleza do Cabo não tinha condições[1][3][7].

Em 1784, João Baptista Vieira Godinho foi nomeado para o Governo e Capitania Geral das Ilhas de Timor e Solor, cargo que ocupou até 1787. No entanto, e segundo o próprio, não deixou de ocupar o lugar de lente da Aula de Artilharia[10]. Vieira Godinho pede diversas vezes para ser afastado do cargo mas em 1799, quando faz um pedido para regressar ao reino, ainda ocupava o lugar de lente em Goa. O pedido foi na altura rejeitado, mas Vieira Godinho acabou por deixar Goa a 16 de Maio de 1799 rumo a Bahia, Brasil, onde permanece pelo menos até Fevereiro de 1803[11] [12]. Em 1807, Vieira Godinho, que se encontrava no reino pelo menos desde 1804[11], pede para ser jubilado do cargo de Lente[3].

Em 1812 o Conde de Sarzedas, Bernardo José de Lorena, Vice-rei da Índia desde 1806, deixou em ofício o testemunho de como as Aulas de Artilharia então funcionavam. O Lente na altura era o Brigadeiro Hermenegildo Costa Campos, que se encontrava doente há muito tempo. Foi substituído “pelo Coronel Sepúlveda”, mas que pela sua morte foi ele substituído por Grizogono Anselmo de Mattos e Siqueira. Acrescentou ainda que “ninguém frequenta a Aula de Artilharia. Algum, oficial, ou Inferior mais curioso tem passado para a Aula dos Engenheiros” e era da opinião que se devia encerrar a Aula de Artilharia declarando “parece despeza superfula a que se faz com Lente e Substituto d’Artilharia[5] Não se tem a certeza se o seu parecer teve consequências imediatas ou se a Aula ficou simplesmente inativa até que em 1817 foi definitivamente substituída, juntamente com a Aula de Marinha e da Fortificação, pela Academia Militar de Goa.

Outras informações

Professores

Lentes: João Baptista Vieira Godinho (1776-1799); Hermenegildo Costa Campos (?-1812);

Lentes substitutos: "Coronel Sepúlveda" provavelmente António José de Sousa Sepúlveda; Grizogono Anselmo de Mattos e Siqueira (1802-).

Curricula

O Alvará que criou em 28 de Abril de 1773 referia que fosse “logo estabalecida huma aula, na qual se ditem lições de tudo o que pertence á profissão d'artilharia pelo menos 3 dias em cada semana, hora e meia de manhã, e meia hora de tarde” [1].

Os estatutos elaborados posteriormente para reger as aulas, que têm início em 1776, mantinham a mesma carga horária lectiva do alvará anterior mas juntavam as horas num só bloco diário, ficando as lições a funcionar “em todo o ano, ás segundas, quartas e sábados, das 8 às 10h da manhã”. As tardes ficavam livres para exercícios práticos. Esta regra poderia ser alterada na altura das monções ou por qualquer outro motivo devendo o Lente responsável comunicar primeiro ao comandante do regimento[7].

O “curso matemático de Mr. Belidor” devia ser seguido respeitando a ordem das matérias, quer na suas partes teóricas quer nas práticas e se não houvessem exemplares do curso para todos deveriam produzir-se apostilhas. Devia ainda o Lente depois de “traduzido e ordenado os extractos da artilharia de Mr. de de St-Remy” os “partilhar na segunda aula de cada semana”, que constituía um apoio nos exercícios práticos[7].

Em 1812 o Conde de Sarzedas, dizia que as aulas eram dadas “seguindo absolutamente Belidor como único autor[5]


O "curso matemático de Mr. Belidor", refere-se à obra do engenheiro hispano-francês Bernard Forest de Bélidor (1698-1761).

Os “extractos da artilharia de Mr. de de St-Remy” refere-se à obra de Pierre Surirey de Saint-Remy, (1644-1716), Mémoires d'artillerie, recueillis par le Sr Surirey de Saint-Remy, impressa em Paris em 1697.

Notas

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 Gracias, “Aula de Artilharia Em Goa”, O Oriente Português XIV, no. 5–6 (1917): 107–18.
  2. Miranda, Quadros Históricos de Goa, Vol. II, 87.
  3. 3,0 3,1 3,2 Arquivo Histórico Ultramarino. CU. Consultas do Brasil. Bahia. Cx. 248. D. 17110. Requerimento do Marechal de Campo João Batista Vieira Godinho ao Príncipe Regente [D. João] solicitando ser jubilado na cadeira de Lente, que exerceu na Índia, para que possa assumir integralmente o atual cargo. 1807.
  4. Azevedo, “Segunda memória Descriptiva e estatistica das possessões portuguezas na Asia”, 1: 8.
  5. 5,0 5,1 5,2 Soares, Bosquejo das Possessões Portuguezas no Oriente, I:201
  6. Sampaio “Breve Notícia Da Origem e Divulgação Dos Estudos Superiores Em Goa",111
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 Transcrição da carta do governador D. José Pedro da Câmara de 6 de Maio de 1776 em Gracias, “Aula de Artilharia Em Goa”, O Oriente Português XIV, no. 5–6 (1917): 109. Correspondência disponível em: Arquivo Histórico Ultramarino. Livro das Monções. COD 221, 174-181v.
  8. Arquivo Histórico Ultramarino. Livro das Monções. 1775-1776. COD 2211, 198-210v.
  9. Arquivo Histórico Ultramarino. Índia (1741-1791). ACL. CU, 58, cx. 87, cap. 47, Officios de José Sanches de Brito. Chefe da Marinha do Estado.Ordens que se hão.de observar na Aula da Marinha de Goa e método que se seguirá no ensino de pilotagem”. 15 de Maio de 1776.
  10. Arquivo Histórico Ultramarino. Brasil-Baía. ACL.CU.005. Cx.238.D 16388. Requerimento do Brigadeiro de Artilaria da Bahia, João Batista Vieira Godinho ao Príncipe Regente (D: João) solicitando livença para desembarcar na corte. Ant. 5 de Setembro de 1805.
  11. 11,0 11,1 Mota, João Baptista Vieira Godinho, 17-19, 350-364.
  12. Directorate of Archives, Archeology and Museum, Goa. Monções do Reino. Liv 178-A, Fls. 239-239v. Pedido de João Baptista Vieira Godinho, do Regimento de Artilharia de Goa, pedido para servir no Brasil, onde já serviu anteriormente. 14 de março de 1799.

Fontes

Arquivo Histórico Ultramarino. CU. Consultas do Brasil. Bahia. 005. Cx.238.D 16388. Requerimento do Brigadeiro de Artilaria da Bahia, João Batista Vieira Godinho ao Príncipe Regente (D: João) solicitando livença para desembarcar na corte. Ant. 5 de Setembro de 1805.

Arquivo Histórico Ultramarino. CU. Consultas do Brasil. Bahia. Cx. 248. D. 17110. Requerimento do Marechal de Campo João Batista Vieira Godinho ao Príncipe Regente [D. João] solicitando ser jubilado na cadeira de Lente, que exerceu na Índia, para que possa assumir integralmente o atual cargo. 1807.

Arquivo Histórico Ultramarino. Livro das Monções. 1775-1776. COD 2211.

Directorate of Archives, Archeology and Museum, Goa. Monções do Reino. Liv 178-A, Fls. 239-239v. Pedido de João Baptista Vieira Godinho, do Regimento de Artilharia de Goa, pedido para servir no Brasil, onde já serviu anteriormente. 14 de março de 1799.

Bibliografia

Azevedo, Manoel Felicisimo Louzada d’Araujo d’. “Segunda Memória Descriptiva e Estatistica Das Possessões Portuguezas Na Asia e Seu Estado Actual”, Annaes Marítimos e Coloniais, 1ª série, n.1, 1842.

Gracias, José António Ismael. “Aula de Artilharia Em Goa.” O Oriente Português XIV, no. 5–6 (1917).

Miranda, Jacintho Caetano Barreto. Quadros Históricos de Goa. Tentativa Histórica. 2 vols. Margão: Typografia do Ultramar, 1864.

Mota, Filomena Ferreira Teodósio. João Baptista Vieira Godinho (1742-1811). Governador e Militar. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2005.

Sampaio, João Mello de. ‘Breve Notícia da Origem e Divulgação dos Estudos Superiores em Goa, Por Methodos Europeus e em Língua Portugueza’. O Oriente Português II, no. 3 (1905).

Soares, Joaquim P. Celestino. Bosquejo das Possessões Portuguezas no Oriente ou Resumo de algumas derrotas da India e da China. Vol. I, III. Lisboa: Imprensa Nacional, 1851.

Ligações Internas

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Categoria: Aula de Artilharia de Goa

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

Alice Santiago Faria

CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa

https://orcid.org/0000-0002-5006-4067.

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/9pjl-ls4f

Citar este artigo

Faria, Alice Santiago. "Aula de Artilharia de Goa", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. Consultado a 15 de fevereiro de 2025, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_de_Artilharia_de_Goa. DOI: https://doi.org/10.34619/9pjl-ls4f