José Gonçalves Galeão

Fonte: eViterbo
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José Gonçalves Galeão
Nome completo José Gonçalves Galeão
Outras Grafias valor desconhecido
Pai João Gonçalves Galeão
Mãe valor desconhecido
Cônjuge valor desconhecido
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) valor desconhecido
Nascimento valor desconhecido
Coimbra, Portugal
Morte 1805
Salvador, Bahia, Brasil
Sexo Masculino
Religião Cristã
Residência
Residência Lisboa, Lisboa, Portugal
Data Início: 08 de agosto de 1765
Fim: 1774

Residência Rio Grande do Sul, Brasil
Data Início: 1774
Fim: 1776

Residência Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Data Início: 1776
Fim: 1777
Formação
Formação Engenharia Militar
Data Início: 08 de agosto de 1765
Fim: 1774
Local de Formação Lisboa, Lisboa, Portugal
Postos
Posto Cabo de esquadra
Data Início: 12 de maio de 1768
Fim: 19 de maio de 1770
Arma Artilharia

Posto Furriel
Data Início: 19 de maio de 1770
Fim: 07 de setembro de 1776
Arma Artilharia

Posto 2º Tenente
Data Início: 07 de setembro de 1776
Fim: 26 de maio de 1778
Arma Artilharia
Cargos
Cargo Professor
Data Início: 1780
Fim: 1797
Actividade
Actividade Desenho urbano
Data Início: 1785
Fim: 1785
Local de Actividade Salvador, Bahia, Brasil


Biografia

Dados biográficos

José Gonçalves Galeão era natural de Alfarelos, filho de João Gonçalves Galeão. Cumpridos os 18 anos de idade, assentou voluntariamente praça de soldado no regimento da 2.ª armada. Em 8 de agosto de 1765, passou para o Regimento de Artilharia da Corte, com a mesma praça, “a fim de estudar o que S.M manda para os oficiais de Artilharia”[1]. Fez aí a sua formação com o coronel Luís D'Alincourt, identificando-se a si próprio como discípulo deste: “Tudo devo ao Coronel Luís de Alincourt, de quem sou discípulo, e o não ser completo, é só culpa da pobreza em que sempre vivi com o simples soldo, não me chegando para comprar livros que tive sempre na vontade para meu adiantamento”[2].

Em 1774, foi embarcado numa expedição cujo destino era o Rio Grande do Sul. Dois anos depois, indo com prisioneiros e desertores ao Rio de Janeiro, passou a servir no regimento de artilharia daquela capital[1]. Em 1777, era segundo tenente de artilharia no Rio de Janeiro e foi transferido para a Bahia para integrar o regimento de artilharia daquela cidade, onde passou a ensinar “a prática e teoria”. Manteve-se em Salvador, como “Lente de Artilharia”, desde 1780 e, depois de 1782, “Lente de Artilharia e Engenharia”, até pelo menos 1797. Morreu em 1805. Terá casado em Salvador e tinha seguramente filhos, pois a eles se refere, sem, porém, indicar os seus nomes[1].

Carreira

Em 12 de maio de 1768, era cabo de esquadra do regimento de artilharia da corte. Em 19 de maio de 1770, passou a furriel do mesmo regimento. Neste posto, embarcou em 7 de Abril de 1774 para expedição do Sul. Em 7 de setembro de 1776, foi promovido a 2º tenente de artilharia no Rio de Janeiro. Era muito apreciado pelo vice-rei, marquês do Lavradio, que o julgava “muito hábil tanto na teórica como na prática”[3]. Neste ano, em 28 de outubro, foi transferido para a Bahia sendo incumbido, pelo governador Manuel da Cunha de Meneses, de ensinar geometria e exercícios práticos de peça e morteiro ao regimento de artilharia daquela cidade. A partir de 13 de março de 1777, ficou agregado a esse regimento, tendo sido promovido a tenente efectivo em 26 de maio do ano seguinte.

Em carta datada de fevereiro de 1778, dirigida, provavelmente, ao vice-rei, diz que “os exercícios vou continuando no ensino deles, geometria tenho um número de discípulos dos quais uns andam no 9º livro, outros no 8º, 7º, 6º, 5º e 4º livros de Belidor, todos com admirável gosto este pouco adiantamento o praticam no terreno reduzindo qualquer figura a diferentes, sabem medir distâncias, alturas e tudo quanto é preciso para bem lançar bombas nos três diferentes objetos”[2].

Embora orgulhoso do progresso dos discípulos, afirmava nesta ocasião que “eu não me animo a pedir a V. E.  [para ser] lente para o regimento, pois não tenho ciência para o ser, só sim desejo satisfazer a obrigação de que estou incumbido, e para que quando vier o que merecer ser lente ache discípulos que lhe deem bom gosto[2].

Contudo, Gonçalves Galeão era, pelo menos desde 1780, efetivamente, indicado como lente da aula de artilharia. Neste ano, a “relação dos oficiais, oficiais inferiores, cadetes e soldados que frequentavam a aula do regimento da Bahia” incluía 47 indivíduos. De cada um deles era anotado o seu adiantamento, ou seja, qual o volume do livro de Belidor que se encontravam a estudar[4]. Em 1781, foi feito capitão do regimento de artilharia e continuou a dar as aulas.

Depois do falecimento de José António Caldas, Galeão foi nomeado interinamente “Lente de Artilharia e Engenharia” em 13 de dezembro 1782 pelo Marquês de Valença. A partir de então, começou a receber um acréscimo de 20.000 reis de soldo, mas estava obrigado a indicar um fiador e a confirmar esta patente, o mais brevemente possível, o que não terá feito[5]. Neste ano, a aula de artilharia absorve de certo modo a anterior Aula Militar da Bahia, tendo, neste contexto, Joaquim Vieira da Silva sido seu discípulo[6].

Assumiu o posto de sargento-mor do regimento de artilharia em 5 de julho de 1788, mantendo-se o seu acréscimo de soldo enquanto lente. Foi nomeado para o posto pelo governador D. Fernando José de Portugal “por ter feito em minha presença um dilatado exame público, em que mostrou os seus grandes conhecimentos em todas as partes da artilharia, sem que tivesse um opositor”[7]. Em 1793, o escrivão da vedoria põe em causa o pagamento da quantia extra, e o vedor escreve ao governador perguntado se se devia manter o acréscimo de soldo, ou retirar, e cobrar, a quantia entretanto recebida, para tal acionando o fiador Agostinho José Barreto, que se achava, então, “sequestrado” por dívidas à Fazenda Real. A decisão do governador foi que se continuasse a pagar o soldo de lente, até que o rei ordenasse o contrário[5]. Em 13 de maio de 1796, passou a tenente coronel do regimento de artilharia, mas a questão relativa ao acréscimo de soldo ainda não estaria totalmente resolvida. Em 1797, José Galeão escreve a D. Rodrigo de Sousa Coutinho pedindo o seu auxílio neste assunto[1]. A nomeação para o lugar foi aprovada, finalmente, em 15 de dezembro de 1797[8]. Em 21 de março de 1800, foi promovido a coronel graduado.

Segundo defendeu em requerimentos feitos em 1804 e 1805, afirmava que, em 1800, deveria ter subido de posto passando a coronel, mas que havia sido preterido “por entrar para o efetivo o Coronel João Batista Vieira Godinho, do regimento de artilharia de Goa, que tinha passado por agregado ao da Bahia”[9]. Nesta ocasião, foi contemplado com a simples graduação de coronel, ficando, contudo, com o exercício e posto de tenente-coronel, posto para o qual também o tinham preterido do posto de coronel e que vagara no primeiro regimento de linha, alegando que pela sua formação era necessário para o regimento de artilharia, ao que Galeão comenta que “parece que pela mesma devera ser atendido e não preterido”. Argumentava ainda que outros mais “modernos” que ele tinham já subido de posto em outros regimentos, e pedia que lhe fosse passada “patente de coronel efetivo do regimento, vencendo logo o soldo e ficando o exercício para quando vagasse o comando” que, então, era do já marechal João Batista Vieira Godinho[9].

Outras informações

Em abril de 1780, José Gonçalves Galeão enviou para Martinho de Melo e Castro uma série de documentos relativos a experiências realizadas na aula do regimento de artilharia pelo Coronel Teodósio da Silva Reboxo para testar a resistência das madeiras da Bahia[10].

Obras

No Arquivo Histórico do Exército, no Rio de Janeiro, constam os seguintes mapas de sua autoria:

Geografica Topográfica da Cidade Capital de São Salvador Bahia de Todos os Santos uma das mais famosas da America Meridional (...) tirada por José Gonçalves Galeão, Capitão e Lente no Regimento de Artilharia, reduzida e riscada  por Joaquim Vieira da Silva, sargento no mesmo regimento no ano de 1785. colorido, nanquim, aquarela, com legenda, papel canson, telado, 121 cm x  64 cm. (AHE 04.24.263)[11].

Planta que mostra todas as dimensões do dique que serve de fosso a parte da praça da Bahia (...) Tirada por José Gonçalves Galeão, Capitão de Infantaria e Artilharia, lente na Aula Militar da Bahia, Reduzida e riscada por Joaquim Vieira da Silva, sargento do mesmo regimento e seu discípulo na dita Aula em Junho de 1781(?) colorido, nanquim, aquarela, com nota explicativa, escala, rosa dos ventos, papel canson, telado, 74 cm x 48,5 cm.(AHE 05.33.257)[12].

Notas

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 17541. Carta de José Gonçalves Galeão a Dom Rodrigo de Sousa Coutinho. Bahia, 2 de Janeiro de 1797.
  2. 2,0 2,1 2,2 Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 9667. Carta do 2º tenente José Gonçalves Galeão em que informa do ensino que professava no regimento de Artilharia e dos progressos obtidos nos exercícios práticos com as peças e morteiros. Bahia, 17 de Fevereiro de 1778.
  3. Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 9668. Carta do 2º tenente José Gonçalves Galeão em que informa do ensino que professava no regimento de Artilharia e dos progressos obtidos nos exercícios práticos com as peças e morteiros. Bahia, 17 de Fevereiro de 1778.
  4. Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 10528. Carta do tenente José Gonçalves Galeão para Martinho de Melo e Castro no qual de se refere à aula do regimento de artilharia e às experiências das madeiras que fizera o coronel Teodósio da Silva Reboxo. Bahia, 12 de Abril de 1780.
  5. 5,0 5,1 Arquivo Histórico Ultramarino. CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 15224. Ofício do Governador D. Fernando José de Portugal para Martinho de Melo e Castro, em que expõe as dúvidas suscitadas pelo vedor sobre o vencimento que recebia o sargento-mor José Gonçalves Galeão como lente de Artilharia e Engenharia, lugar que exercia desde 1777. Bahia, 9 de Março de 1793.
  6. Viterbo, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, 3:190.
  7. Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 12999. Ofício do Governador D. Fernando José de Portugal para Martinho de Melo e castro no qual informa acerca das diversas promoções que fizera no regimento da guarnição. Bahia, 22 de Julho de 1788.
  8. Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 27609. Carta de José Gonçalves Galeão ao rei. Bahia, 15 de Agosto de 1805.
  9. 9,0 9,1 Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 27608. Carta de José Gonçalves Galeão ao rei. Bahia, 15 de Agosto de 1805.
  10. Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 10527-10531. Carta do tenente José Gonçalves Galeão para Martinho de Melo e Castro no qual de se refere à aula do regimento de artilharia e às experiências das madeiras que fizera o coronel Teodósio da Silva Reboxo. Bahia, 12 de Abril de 1780.
  11. Arquivo Histórico do Exército (Brasil), 04.24.263.
  12. Arquivo Histórico do Exército (Brasil), 05.33.257.

Fontes

Arquivo Histórico do Exército (Brasil), 04.24.263.

Arquivo Histórico do Exército (Brasil), 05.33.257.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 9667-9671. Carta do 2º tenente José Gonçalves Galeão em que informa do ensino que professava no regimento de Artilharia e dos progressos obtidos nos exercícios práticos com as peças e morteiros. Bahia, 17 de Fevereiro de 1778.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 10527-10531. Carta do tenente José Gonçalves Galeão para Martinho de Melo e Castro no qual de se refere à aula do regimento de artilharia e às experiências das madeiras que fizera o coronel Teodósio da Silva Reboxo. Bahia, 12 de Abril de 1780.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 11201-11202. Carta do José Gonçalves Galeão para Martinho de Melo e Castro no qual de se refere à remessa da relação dos seus discípulos da Aula Militar. Bahia, 29 de Março de 1783.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro Almeida), doc. 12997-13000. Ofício do Governador D. Fernando José de Portugal para Martinho de Melo e castro no qual informa acerca das diversas promoções que fizera no regimento da guarnição. Bahia, 22 de Julho de 1788.

Arquivo Histórico Ultramarino. CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 15224-15236. Ofício do Governador D. Fernando José de Portugal para Martinho de Melo e Castro, em que expõe as dúvidas suscitadas pelo vedor sobre o vencimento que recebia o sargento-mor José Gonçalves Galeão como lente de Artilharia e Engenharia, lugar que exercia desde 1777. Bahia, 9 de Março de 1793.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 17541. Carta de José Gonçalves Galeão a Dom Rodrigo de Sousa Coutinho. Bahia, 2 de Janeiro de 1797.

Arquivo Histórico Ultramarino, CU_Brasil_Bahia (Catálogo Castro e Almeida), doc. 27608-27609. Carta de José Gonçalves Galeão ao rei. Bahia, 15 de Agosto de 1805.

Bibliografia

Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade/ Fapesp, 2011.

Oliveira, Mário Mendonça de. As Fortificações Portuguesas de Salvador Quando Cabeça do Brasil. Salvador: Omar G., 2004.

Viterbo, Francisco de Sousa. Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou a serviço de Portugal. Vol. 3. Lisboa: Imprensa Nacional, 1922.

Autor(es) do artigo

Renata Araujo

CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Algarve

https://orcid.org/0000-0002-7249-1078

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/gqja-3xvz

Citar este artigo

Araujo, Renata. "José Gonçalves Galeão", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 18/03/2024). Consultado a 29 de abril de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Jos%C3%A9_Gon%C3%A7alves_Gale%C3%A3o. DOI: https://doi.org/10.34619/gqja-3xvz