Escola Politécnica de Lisboa: diferenças entre revisões

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==História==<!--História geral da instituição. Este é o local para colocar toda a informação que justifica o que está na infobox e outra complementar, subdividida em períodos, se necessário-->
==História==<!--História geral da instituição. Este é o local para colocar toda a informação que justifica o que está na infobox e outra complementar, subdividida em períodos, se necessário-->
A Escola Politécnica de Lisboa foi criada por decreto de 11 de Janeiro de 1837<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 7:122.</ref>. Respeitou-lhe a institucionalização definitiva da instrução científica, em Lisboa, à semelhança do que ocorreu, nesse ano, na cidade do Porto com a criação da [[Academia Politécnica do Porto]]. A nova instituição foi sucedânea da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real da Marinha de Lisboa]] e do [[Colégio Real dos Nobres|Colégio Real dos Nobres,]] pelo que o seu ensino abrangeria as dimensões militar e civil, e o seu corpo docente seria composto por professores daquela Academia nos anos iniciais do seu funcionamento<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>. Em consequência, a Escola Politécnica seria caracterizada segundo a mais valia que representava a abrangência do seu escopo científico: "Um instituto de ciências físicas e aplicadas, destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis, oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia, e estado maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria"<ref>Ribeiro, 7:122.</ref>.    
A Escola Politécnica de Lisboa foi criada por decreto de 11 de Janeiro de 1837<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos'', 7:122.</ref>. Respeitou-lhe a institucionalização definitiva da instrução científica, em Lisboa, à semelhança do que ocorreu, nesse ano, na cidade do Porto com a criação da [[Academia Politécnica do Porto]]. A nova instituição foi sucedânea da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real da Marinha de Lisboa]] e do [[Colégio Real dos Nobres|Colégio Real dos Nobres,]] pelo que o seu ensino abrangeria as dimensões militar e civil, e o seu corpo docente seria composto por professores daquela Academia nos anos iniciais do seu funcionamento<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>. Em consequência, a Escola Politécnica seria caracterizada segundo a mais valia que devia representar a abrangência do seu escopo científico: "Um instituto de ciências físicas e aplicadas, destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis, oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia, e estado maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria"<ref>Ribeiro, 7:122.</ref>.    


[[Colégio Real dos Nobres|Colégio Real dos Nobres,]] ocuparia as instalações do último num período inicial do seu funcionamento.  
Ainda assim, não seria certa a concordância total sobre a sua viabilidade. Esta seria posta em causa no projecto de lei apresentado pelo deputado José Manuel Botelho às Câmaras, em 1840<ref>Ribeiro, 7:129.</ref>. A proposta defendia a extinção da Escola Politécnica face à despesa realizada com a sua fundação e manutenção, e propunha, em consequência, o restabelecimento da [[Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho|Academia Real de Fortificação]], [[Colégio Real dos Nobres|Real Colégio dos Nobres]] e [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia da Marinha]], instituições de instrução científica criadas em Lisboa no período que precedeu a instauração do liberalismo monárquico em Portugal, que as extinguiu ou reformulou. A comparação exarada entre instituições de índoles e com planos de estudo tão diferentes, consequente do desenvolvimento dado a diferentes disciplinas na Escola Politécnica, seria objeto de crítica por parte da comissão encarregada de examinar o projeto. Como tal, essa disparidade fundamentou a rejeição daquela proposta legislativa: "''Que era o Colégio dos Nobres? Um liceu de instrução secundária mais ou menos bem organizado, e com o adorno de quatro disciplinas de luxo, a música, a esgria, a dança, e a equitação. Que é a Escola Politécnica? Um instituto de ciências físicas e aplicadas''"<ref>Ribeiro, 7:130.</ref>.   
 
A propósito, contrapondo o retrocesso a que o projeto de lei de José Botelho parecia querer condenar a instrução científica civil e militar em Lisboa, a comissão teceria considerações históricas sobre o projeto de criação do referido instituto de ciências físicas na capital. A ideia era projetada para o período imediato ao início das invasões francesas e à partida da Família Real. Assim, então, "''já em 1800 o doutor Ciera propunha uma reforma destes estudos, e que pouco depois os célebres Brotero e abade Correia da Serra foram encarregados de organizar um plano para a organização de um estabelecimento de ciências físicas em Lisboa, e que feito o plano e até nomeados os professores e designado o local não veio a lume a obra'' (...) ''Já, pois, desde essa época se via a necessidade de dar unidade ao estudo das ciências físicas''"<ref>Ribeiro, 7:131.</ref>.     
 
As auscultações da sociedade civil sobre a questão da viabilidade da Escola Politécnica de Lisboa permaneceriam patentes ao longo de 1840 com a publicação de José António David Henriques, que criticava o parecer daquela comissão, e a resposta do historiador e político Alexandre Herculano, na qualidade de vogal daquela comissão, defendendo a extinção do [[Colégio Real dos Nobres]]<ref>Ribeiro, 7:131.</ref>.   
 
Em 1852, já longe da querela, João de Andrade Corvo, professor da Escola Politécnica e do Instituto Agrícola de Lisboa, sintetizava o propósito e fim daquela instituição: "A escola politécnica de Lisboa tem uma função a preencher; é o ensinar as ciências preparatórias para as escolas especiais que prepara para o serviço do Estado". No caso português, comparado ao modelo francês, apenas faltariam as "escolas especiais" para completarem o trabalho iniciado pela Escola Politécnica. cresceria ainda a sua crítica quanto à falta das referidas "escolas especiais"   
 
Na verdade, a afinidade institucional entre o Colégio Real dos Nobres e a Escola Politécnica de Lisboa foi física e material, tendo a última ocupado o edifício do Colégio e conservado o recheio daquela instituição. Em 1843, esse mesmo edifício sofria um violento incêndio, obrigando à deslocação daquela Escola e da Escola do Exército<ref>Ribeiro, 7:133.</ref>. A partir de 1854, a Escola Politécnica encontrava-se instalada no edifício da Academia Real das Ciências de Lisboa, no antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco<ref>Ribeiro, ''Historia dos estabelecimentos scientificos,'' 10:46-47.</ref>.         
 
Em 1851, era nomeada uma comissão encarregue de apresentar um plano de reorganização da Escola Politécnica almejando-se o desenvolvimento dos seus estudos<ref>Ribeiro, 7:139.</ref>. Não obstante, no ano seguinte, apenas se procederia à criação de "uma cadeira especial de montanística [extração e fusão de metais] e docimasia [estudo da proporção do metal no minério]"<ref name=":11">Ribeiro, 7:140.</ref>, cuja regência seria assegurada por um professor que houvesse frequentado curso análogo no estrangeiro.         
 
[[Colégio Real dos Nobres|Colégio Real dos Nobres,]] ocuparia as instalações do último num período inicial do seu funcionamento.    


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Escola Politécnica de Lisboa
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A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "''que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército''"<ref name=":2">Ribeiro, 7:124.</ref>. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>.
A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "''que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército''"<ref name=":2">Ribeiro, 7:124.</ref>. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>. A coadjuvar o diretor, em particular, na organização da Escola, num primeiro período de funcionamento, foi nomeada uma comissão composta por professores das extintas Academias de [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Marinha]] e de [[Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho|Fortificação, Artilharia e Desenho]], a saber, respectivamente, José Cordeiro Feio e [[Fortunato José Barreiros]]; Guilherme José António Dias Pegado, professor do [[Real Colégio Militar]]; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda<ref>Ribeiro, 7:128.</ref>.


A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes<ref name=":2" />. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "''encarregado de promover o melhoramento do ensino''", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da [[Escola do Exército]], um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.
A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes<ref name=":2" />. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "''encarregado de promover o melhoramento do ensino''", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da [[Escola do Exército]], um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.
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Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação eram uma biblioteca, o Observatório Astronómico precedente da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]], um gabinete de física, um laboratório de química, um gabinete de história natural e um jardim botânico<ref>Ribeiro, 7:123-124.</ref>.
Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação eram uma biblioteca, o Observatório Astronómico precedente da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]], um gabinete de física, um laboratório de química, um gabinete de história natural e um jardim botânico<ref>Ribeiro, 7:123-124.</ref>.
Em 1842, o conselho da Escola Politécnica representava ao governo no sentido de colocar à disposição das suas aulas o "''Planetário do padre António Pereira de Figueiredo''", cujo exemplar estava na posse da Biblioteca de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:133.</ref>.


==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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Substituto "das ditas cadeiras", em 1840: Gregoriano Nazianzeno do Rego<ref>''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.
Substituto "das ditas cadeiras", em 1840: Gregoriano Nazianzeno do Rego<ref>''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.


Preparador da 5ª cadeira, em 1840: Tomás de Aquino Pagones<ref>''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.
Idem, da 6ª cadeira, em 1840: Francisco Mendes Cardoso Leal Júnior<ref>''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.
Idem, da 8ª cadeira, em 1840: Clemente Joaquim de Abranches Bizarro<ref>''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.




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Professor substituto da 5ª cadeira: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira<ref>Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.</ref>.
Professor substituto da 5ª cadeira: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira<ref>Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.</ref>.
Em 1853 foi criado o lugar de professor substituto da sexta cadeira<ref>Ribeiro, 7:141.</ref>.


==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "''que abrange o estudo de todas as disciplinas''" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na [[Escola do Exército]], conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto<ref>Ribeiro, 7:124.</ref>.
A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "''que abrange o estudo de todas as disciplinas''" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na [[Escola do Exército]], conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto<ref>Ribeiro, 7:124.</ref>.
A partir de 1852, os alunos do curso de formação de engenheiros militares tinham que frequentar a cadeira especial de montanística e docimasia<ref name=":11" />.


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|Professor proprietário, em 1837: João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão<ref>Ribeiro, 7:128.</ref>.
|Professor proprietário, em 1837: João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão<ref>Ribeiro, 7:128.</ref>.
Professor substituto, em 1840: Joaquim Cordeiro Feio<ref name=":10">''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.
Professor substituto, em 1840: Joaquim Cordeiro Feio<ref name=":10">''Almanak Estatistico de Lisboa em 1840'', 99.</ref>.
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Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878, pp. 122-142.
Ribeiro, José Silvestre. ''Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia''. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878, pp. 122-142.
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
==Bibliografia == <!-- Ou seja, a bibliografia, com links quando possível, que conhecem sobre o assunto. Atenção: Chicago bibliography-->
ribeiro 7
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==Ligações Internas==
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Revisão das 18h55min de 17 de outubro de 2022


Escola Politécnica de Lisboa
(EPL)
Outras denominações Escola Polytechnica de Lisboa
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 11 janeiro 1837
Data de extinção 1911
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Colégio Real dos Nobres, Lisboa,-
Início: 11 de janeiro de 1837
Fim: 1843

Início: 1854

Localização Rua da Escola Politécnica
Início: 1870
Fim: 1911
Antecessora Academia Real de Marinha de Lisboa, Colégio Real dos Nobres, Academia Real Militar do Rio de Janeiro

Sucessora Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa


História

A Escola Politécnica de Lisboa foi criada por decreto de 11 de Janeiro de 1837[1]. Respeitou-lhe a institucionalização definitiva da instrução científica, em Lisboa, à semelhança do que ocorreu, nesse ano, na cidade do Porto com a criação da Academia Politécnica do Porto. A nova instituição foi sucedânea da Academia Real da Marinha de Lisboa e do Colégio Real dos Nobres, pelo que o seu ensino abrangeria as dimensões militar e civil, e o seu corpo docente seria composto por professores daquela Academia nos anos iniciais do seu funcionamento[2]. Em consequência, a Escola Politécnica seria caracterizada segundo a mais valia que devia representar a abrangência do seu escopo científico: "Um instituto de ciências físicas e aplicadas, destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis, oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia, e estado maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria"[3].

Ainda assim, não seria certa a concordância total sobre a sua viabilidade. Esta seria posta em causa no projecto de lei apresentado pelo deputado José Manuel Botelho às Câmaras, em 1840[4]. A proposta defendia a extinção da Escola Politécnica face à despesa realizada com a sua fundação e manutenção, e propunha, em consequência, o restabelecimento da Academia Real de Fortificação, Real Colégio dos Nobres e Academia da Marinha, instituições de instrução científica criadas em Lisboa no período que precedeu a instauração do liberalismo monárquico em Portugal, que as extinguiu ou reformulou. A comparação exarada entre instituições de índoles e com planos de estudo tão diferentes, consequente do desenvolvimento dado a diferentes disciplinas na Escola Politécnica, seria objeto de crítica por parte da comissão encarregada de examinar o projeto. Como tal, essa disparidade fundamentou a rejeição daquela proposta legislativa: "Que era o Colégio dos Nobres? Um liceu de instrução secundária mais ou menos bem organizado, e com o adorno de quatro disciplinas de luxo, a música, a esgria, a dança, e a equitação. Que é a Escola Politécnica? Um instituto de ciências físicas e aplicadas"[5].

A propósito, contrapondo o retrocesso a que o projeto de lei de José Botelho parecia querer condenar a instrução científica civil e militar em Lisboa, a comissão teceria considerações históricas sobre o projeto de criação do referido instituto de ciências físicas na capital. A ideia era projetada para o período imediato ao início das invasões francesas e à partida da Família Real. Assim, então, "já em 1800 o doutor Ciera propunha uma reforma destes estudos, e que pouco depois os célebres Brotero e abade Correia da Serra foram encarregados de organizar um plano para a organização de um estabelecimento de ciências físicas em Lisboa, e que feito o plano e até nomeados os professores e designado o local não veio a lume a obra (...) Já, pois, desde essa época se via a necessidade de dar unidade ao estudo das ciências físicas"[6].

As auscultações da sociedade civil sobre a questão da viabilidade da Escola Politécnica de Lisboa permaneceriam patentes ao longo de 1840 com a publicação de José António David Henriques, que criticava o parecer daquela comissão, e a resposta do historiador e político Alexandre Herculano, na qualidade de vogal daquela comissão, defendendo a extinção do Colégio Real dos Nobres[7].

Em 1852, já longe da querela, João de Andrade Corvo, professor da Escola Politécnica e do Instituto Agrícola de Lisboa, sintetizava o propósito e fim daquela instituição: "A escola politécnica de Lisboa tem uma função a preencher; é o ensinar as ciências preparatórias para as escolas especiais que prepara para o serviço do Estado". No caso português, comparado ao modelo francês, apenas faltariam as "escolas especiais" para completarem o trabalho iniciado pela Escola Politécnica. cresceria ainda a sua crítica quanto à falta das referidas "escolas especiais"

Na verdade, a afinidade institucional entre o Colégio Real dos Nobres e a Escola Politécnica de Lisboa foi física e material, tendo a última ocupado o edifício do Colégio e conservado o recheio daquela instituição. Em 1843, esse mesmo edifício sofria um violento incêndio, obrigando à deslocação daquela Escola e da Escola do Exército[8]. A partir de 1854, a Escola Politécnica encontrava-se instalada no edifício da Academia Real das Ciências de Lisboa, no antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco[9].

Em 1851, era nomeada uma comissão encarregue de apresentar um plano de reorganização da Escola Politécnica almejando-se o desenvolvimento dos seus estudos[10]. Não obstante, no ano seguinte, apenas se procederia à criação de "uma cadeira especial de montanística [extração e fusão de metais] e docimasia [estudo da proporção do metal no minério]"[11], cuja regência seria assegurada por um professor que houvesse frequentado curso análogo no estrangeiro.

Colégio Real dos Nobres, ocuparia as instalações do último num período inicial do seu funcionamento.

Outras informações

Em 1854, as instalações da Academia Real de Ciências de Lisboa, no Palácio das Necessidades? acolhiam as aulas da Escola Politécnica de Lisboa após destruição das instalações do Colégio dos Nobres, dispondo as suas colecções ao ensino daquela corporação[12].

Escola Politécnica de Lisboa

12:255-295.

16:178-, 437, 463.

17:14;42;203-204;208;279; 586.



! Ver segundo curso no plano de 1892, para acrescentar nas habilitações para o curso de engenharia militar da Escola do Exército. do mesmo ano. !

Sepúlveda, Historia organica e politica do Exercito Português, 6:150.

Director, em 1840 e 1846: José Feliciano da Silva Costa[13][14].


A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército"[15]. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa[16]. A coadjuvar o diretor, em particular, na organização da Escola, num primeiro período de funcionamento, foi nomeada uma comissão composta por professores das extintas Academias de Marinha e de Fortificação, Artilharia e Desenho, a saber, respectivamente, José Cordeiro Feio e Fortunato José Barreiros; Guilherme José António Dias Pegado, professor do Real Colégio Militar; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda[17].

A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes[15]. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "encarregado de promover o melhoramento do ensino", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da Escola do Exército, um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo[18].



Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação eram uma biblioteca, o Observatório Astronómico precedente da Academia Real de Marinha, um gabinete de física, um laboratório de química, um gabinete de história natural e um jardim botânico[19].

Em 1842, o conselho da Escola Politécnica representava ao governo no sentido de colocar à disposição das suas aulas o "Planetário do padre António Pereira de Figueiredo", cujo exemplar estava na posse da Biblioteca de Lisboa[20].

Professores

Professores em 1840.

Substituto "das ditas cadeiras", em 1840: Gregoriano Nazianzeno do Rego[21].


CORPO DOCENTE EM 1846:

1ª: João Ferreira Campos (Major engenheiro)[22].

7.ª: Francisco António Pereira da Costa[23].

8.ª: José Maria Grande[24].

Professor de desenho: D. Luís Muriel[25].

Substitutos das cadeiras de matemática: Gregório Nazianzeno do Rego (Segundo tenente engenheiro naval); José Joaquim de Abreu Rego (Bacharel)[26].

Substituto da 5/6: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira (Alferes do exército)[27].

Substituto da 7: José Maria Latino Coelho (Alferes aluno)[28].

Substituto da 9: João de Andrade Corvo (Alferes aluno)[28].

Substituto da 10: Luís de Almeida Albuquerque (Bacharel)[28].

Preparador de física: José Maurício Vieira[29].

Preparador de química: Francisco Mendes Cardoso Leal Júnior[30].




- José Rodrigues Coelho do Amaral (Coronel de Engenharia. Director da Escola Politécnica de Lisboa). Professor proprietário da 4.ª cadeira. Ribeiro, 12:152.  


Professor substituto da 7ª cadeira e professor bibliotecário, a partir de 13 de Maio de 1844: José Maria Latino Coelho[31].

Professor substituto da 5ª cadeira: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[32].


Em 1853 foi criado o lugar de professor substituto da sexta cadeira[33].

Curricula

O plano de estudos da Escola Politécnica de Lisboa apresentado aquando da sua fundação era formado por 14 unidades curriculares, a que acrescia "o desenho linear, convenientemente desenvolvido, e os princípios gerais de desenho de figura, de plantas, de animais, e de outros produtos da natureza, e o da representação de instrumentos, máquinas e aparelhos"[34]. No período inicial do seu funcionamento, a Escola Politécnica ministraria a cadeira de navegação, do terceiro ano da extinta Academia Real de Marinha de Lisboa, uma vez que, à altura, ainda não se achava constituída a Escola Naval, sucedânea da última[35].

A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "que abrange o estudo de todas as disciplinas" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na Escola do Exército, conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto[36].

A partir de 1852, os alunos do curso de formação de engenheiros militares tinham que frequentar a cadeira especial de montanística e docimasia[11].

1837
Ano Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Primeira cadeira "Aritmética, álgebra elementar, geometria sintética elementar, plana, sólida e descritiva; introdução à geometria algébrica, trigonometria retilínea e esférica"[37]. Professor proprietário, em 1840: José Cordeiro Feio (Tenente coronel engenheiro)[38].

Professor substituto, em 1840: João Ferreira Campos[39].

Segunda cadeira "Álgebra transcendente, geometria analítica plana, e a três dimensões; cálculo diferencial e integral, e princípios dos cálculos das diferenças, variações e probabilidades"[37]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: José de Freitas Teixeira Spínola de Castelo Branco (Major engenheiro)[38][40].

Professor substituto, em 1840: João Ferreira Campos[39].

Terceira cadeira "Mecânica, e suas principais aplicações às máquinas, com especialidade às de vapor"[37]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Albino Francisco de Figueiredo e Almeida (Major engenheiro)[38][41].
Quarta cadeira "Astronomia e geodésia"[37]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Filipe Folque (Major engenheiro)[38][42].
Quinta cadeira "Física experimental, e matemática"[37]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Guilherme José António Dias Pegado[38][43].
Sexta cadeira "Química geral, e noções da suas principais aplicações às artes"[37]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Júlio Máximo Pimentel[38][44].
Sétima cadeira "Mineralogia, geologia, e princípios de metalurgia"[37].
Oitava cadeira "Anatomia, e fisiologia comparadas, e zoologia"[37]. Professor proprietário, em 1840: Francisco Xavier de Almeida[38].
Nona cadeira "Botânica, e princípios de agricultura"[37].
Décima cadeira "Economia política, e princípios de direito administrativo e comercial"[37].
Cadeira de Navegação Professor proprietário, em 1837: João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão[45].

Professor substituto, em 1840: Joaquim Cordeiro Feio[46].

Cadeira especial de montanística e docimasia[11]

Notas

  1. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:122.
  2. Ribeiro, 7:127.
  3. Ribeiro, 7:122.
  4. Ribeiro, 7:129.
  5. Ribeiro, 7:130.
  6. Ribeiro, 7:131.
  7. Ribeiro, 7:131.
  8. Ribeiro, 7:133.
  9. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 10:46-47.
  10. Ribeiro, 7:139.
  11. 11,0 11,1 11,2 Ribeiro, 7:140.
  12. Ribeiro, 10:46-47.
  13. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 98.
  14. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 213.
  15. 15,0 15,1 Ribeiro, 7:124.
  16. Ribeiro, 7:127.
  17. Ribeiro, 7:128.
  18. Ribeiro, 7:126.
  19. Ribeiro, 7:123-124.
  20. Ribeiro, 7:133.
  21. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
  22. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  23. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  24. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  25. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  26. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  27. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  28. 28,0 28,1 28,2 Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  29. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  30. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  31. Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.
  32. Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.
  33. Ribeiro, 7:141.
  34. Ribeiro, 7:123.
  35. Ribeiro, 7:126.
  36. Ribeiro, 7:124.
  37. 37,0 37,1 37,2 37,3 37,4 37,5 37,6 37,7 37,8 37,9 Ribeiro, 7:123.
  38. 38,0 38,1 38,2 38,3 38,4 38,5 38,6 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 98.
  39. 39,0 39,1 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
  40. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  41. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  42. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  43. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  44. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  45. Ribeiro, 7:128.
  46. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.

Fontes

Almanak Estatistico de Lisboa em 1840. Lisboa: Impressão Morandiana, 1839.

Almanak Estatistico de Lisboa em 1846. Lisboa: Typographia do Gratis, [s.d.].

Governo Português (16 de Janeiro de 1837). "Decreto de 11 de Janeiro de 1837", Diário do Governo, 13, 70-73.


Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878, pp. 122-142.

Bibliografia

ribeiro 7 ribeiro, 10

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Categoria:Escola Politécnica de Lisboa

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Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

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