Escola Politécnica de Lisboa
Escola Politécnica de Lisboa | |
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(EPL) | |
Outras denominações | Escola Polytechnica de Lisboa |
Tipo de Instituição | Ensino civil |
Data de fundação | 11 janeiro 1837 |
Data de extinção | 15 maio 1911 |
Paralisação | Início: valor desconhecido Fim: valor desconhecido |
Localização | |
Localização | Colégio Real dos Nobres, Lisboa,- Início: 11 de janeiro de 1837 Fim: 1843 |
Início: 1854 | |
Localização | Rua da Escola Politécnica Início: 1870 Fim: 1911 |
Antecessora | Academia Real de Marinha de Lisboa, Colégio Real dos Nobres, Academia Real Militar do Rio de Janeiro |
Sucessora | Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa |
História
A Escola Politécnica de Lisboa (EPL) foi uma instituição de ensino técnico e científico criada por decreto de 11 de Janeiro de 1837, sob a tutela do Ministério da Guerra liderado pelo visconde de Sá da Bandeira[1]. À semelhança do que ocorreu, nesse ano, com a criação da Academia Politécnica do Porto, a fundação respeitou à institucionalização definitiva da instrução preparatória científica em Lisboa no período inicial do constitucionalismo monárquico.
A instituição da EPL sucedeu a uma primeira tentativa de estabelecer os estudos preparatórios em Lisboa levada a cabo, em 1835, por Rodrigo da Fonseca Magalhães, então Ministro do Reino, com a criação do Instituto de Ciências Físicas e Matemáticas. Justificava-a "a incapacidade de auto-reforma e de renovação curricular e a total inércia da instituição universitária" em compatibilizar o seu ensino com as necessidades de instrução colocadas pelas novas elites do regime liberal com fim de liberalizar e modernizar a sociedade e o espaço económico português[2]. Contudo, a existência do Instituto conheceu uma duração efémera de menos de um mês, o que se explica em função quer do afastamento do seu autor do governo, quer pela influência da Universidade de Coimbra no Ministério do Reino, movida com o objectivo de conservar o monopólio que detinha sobre o ensino científico de grau superior[3][4].
A criação da EPL foi influenciada pelo ensino politécnico francês fundado com a criação da École Polytechnique de Paris, em 1794, de forma independente das estruturas universitárias existentes[5][6]. As características base do ensino politécnico, "estandardização, racionalização, precisão e objectividade", permitiram a transferência e adaptabilidade desse modelo às realidades locais de outras nações europeias. A implementação do ensino politécnico no espaço europeu ocorreu em simultâneo com a emergência e construção dos Estados modernos e liberais, sendo processos "indissociáveis" na medida em que a construção dos últimos dependeu da existência daquele ensino[7]. O sistema de formação politécnica, no qual "quer o currículo, quer os métodos de ensino espelham a especialização dos conhecimentos técnicos e a centralidade da sua dimensão científica e teórica"[8], veio responder à necessidade dos Estados em incorporarem novas elites científicas e quadros técnicos, em particular os engenheiros, que lhes permitissem efectivar uma gestão moderna do território com base científica e técnica. Nesse sentido, a constituição da EPL e a formação de novos quadros possibilitou ao Estado português oitocentista a “construção de infra-estruturas, de sistemas racionais de administração do território e de formas de explorar economicamente os espaços nacionais”[9].
À semelhança das restantes experiências politécnicas europeias[10], a EPL foi herdeira da tradição portuguesa de educação superior militar setecentista, potenciada, entre outros, pela transferência de professores das antigas Academias para a nova Escola[11]. Essa tradição corporizava-se em instituições como a Academia Real da Marinha de Lisboa, a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho ou a Academia Real Militar do Rio de Janeiro. Considerando, em particular, as duas primeiras, estas instituições compuseram um sistema de ensino dividido entre o ensino preparatório e o ensino de especialização militar, respectivamente, que veio a ser recuperado com a criação da EPL e, enquanto escolas de aplicação especial, ainda que apenas de natureza militar, da Escola do Exército[12] e da Escola Naval, sucessora da Academia Real de Marinha de Lisboa.
A natureza militar de que a EPL foi dotada pela iniciativa do visconde de Sá da Bandeira, e a recusa de um modelo puramente civil de transmissão do conhecimento científico e tecnológico em Lisboa, compôs uma estratégia que permitiu a sua criação e conservação a longo prazo. Ao acatar o modelo militar, a instituição justificava a sua existência na íntima relação que estabelecia com a Escola do Exército. Nessa medida, a EPL compôs e contribuiu para o processo de "militarização da ciência" ocorrido ao longo de oitocentos[13]. Ao adoptar uma natureza essencialmente militar, a EPL protegia-se tanto contra a hegemonia da Universidade de Coimbra, que o regime liberal não conseguiu diminuir como desejava, como perante uma inevitável recusa das elites militares em permitirem que os futuros instruendos militares recebessem uma preparação civil e não militar - que, de resto se confirmaria com a recusa inicial de permitir à Academia Politécnica do Porto que leccionasse os cursos preparatórios dos futuros instruendos militares[14].
Sendo igualmente sucedâneo do Colégio Real dos Nobres[15], o ensino politécnico de Lisboa adquiriu tanto uma dimensão preparatória militar como civil: "Um instituto de ciências físicas e aplicadas, destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis, oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia, e estado maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria"[16]. Contudo, a hegemonia militar condicionou decisivamente a evolução do modelo politécnico português ao longo do século XIX. Ao contrário da experiência francesa, não se conheceu a criação de escolas de especialização, de natureza civil, que dessem continuidade aos estudos obtidos na EPL. O ensino de engenharia é exemplar desse condicionamento. Tendo sido mantido exclusivamente na esfera da influência militar, a Escola do Exército foi "a única escola de formação superior para engenheiros durante todo o século XIX"[17]. No geral, esta configurou "o centro de recrutamento da grande maioria dos agentes técnicos portugueses"[18].
Apesar da estratégia adoptada, a existência da EPL não deixaria de ser questionada e posta em causa. Justamente, um projecto de lei apresentado pelo deputado José Manuel Botelho, em 1840, à Câmara dos Deputados propunha a restituição das antigas Academias militares e do Colégio dos Nobres e a consequente extinção da EPL. Apesar de ter sido apreciada negativamente pela Comissão de Instrução, a questão subsistiria na imprensa. Do debate resultou a redação do opúsculo Da Eschola Polytechnica e do Collegio dos Nobres, da autoria de Alexandre Herculano em defesa da conservação da EPL[19].
Em 1851, era nomeada uma comissão encarregue de apresentar um plano de reorganização da EPL com o fim de dar desenvolvimento aos seus estudos[20], e do qual resultaria a criação de duas novas cadeiras. Ao longo do ano de 1857, foram propostas reformas do quadro disciplinar da EPL para que fossem incluídas as disciplinas de "geometria descritiva" e "química orgânica", e se desse "maior desenvolvimento ao ensino, na escola, das ciências administrativas, da economia política, e da estatística, atenta a grande importância que no regimen dos estados têm assumido as indicadas ciências". Propunha-se igualmente a transferência do Museu Nacional para a EPL e a criação de um laboratório para investigações químicas[21].
Uma vez garantida a conservação da EPL, esta transitou para a tutela do Ministério do Reino em 1859[22]. Tendo adquirido uma natureza civil, ainda assim, seria "impossível destacá-la da Escola do Exército, durante as décadas seguintes", verificando-se que a maioria dos alunos que completaram os seus cursos eram destinados às escolas militares[23].
Após a Implantação da República, os poderes republicanos procederam à reorganização do sistema de ensino superior com a criação de novas universidades em Lisboa e no Porto, terminando com o monopólio científico da Universidade de Coimbra. Em Lisboa, no processo de criação da Faculdade de Ciências, dotada de estatutos em 15 de Maio de 1911, foram transferidos os professores, alunos e estabelecimentos da extinta EPL. A herança transmitida entre as duas instituições estabelecia, portanto, “uma filiação directa da Faculdade de Ciências numa tradição secular de ensino superior existente em Lisboa, corroborando a percepção dos professores da Politécnica de que havia uma continuidade entre as duas instituições”[24].
Outras informações
A EPL era dirigida por um diretor, "que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército"[25]. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa[26], que permaneceu no lugar pelo menos até 1846[27]. Com a transferência para a tutela do Ministério do Reino em 1859, o director da EPL passou a poder ser de categoria civil[28]. Em 1862, José Silvestre Ribeiro indica os nomes do visconde de Vila Maior, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel[29], e de José Rodrigues Coelho do Amaral, coronel de engenharia e professor da Escola do Exército, na qualidade de diretores[30]. No período inicial de funcionamento da Escola e com fim à sua organização, o diretor foi coadjuvado por uma comissão composta por professores das extintas Academias de Marinha e de Fortificação, Artilharia e Desenho, José Cordeiro Feio e Fortunato José Barreiros, respectivamente; Guilherme José António Dias Pegado, professor do Real Colégio Militar; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda[31].
A direção científica da EPL era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes[32]. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "encarregado de promover o melhoramento do ensino", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da Escola do Exército, um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo[33].
Os estabelecimentos auxiliares anexos à EPL aquando da sua fundação compunham-se de uma biblioteca, do Observatório Astronómico[34], precedente da Academia Real de Marinha, do gabinete de física, do laboratório de química, do gabinete de história natural e de um jardim botânico[35]. Este último, localizado na Ajuda, foi anexado à EPL em 1839[36]. O Museu de História Natural, que anteriormente funcionava na dependência da Academia Real das Ciências de Lisboa, foi transferido para a EPL em 1858[37]. A partir de 1861, juntamente com as coleções e herbários do Jardim Botânico da Ajuda, as colecções mineralógicas e zoológicas do Museu de História Natural compuseram o Museu Nacional de Lisboa que, em 1878, veio a constituir a secção botânica da EPL[38].
Em 1857, José Silvestre Ribeiro dá conta do bom funcionamento do Observatório Meteorológico Infante D. Luís[39][40], o qual seria instalado em novo edifício inaugurado em 24 de Outubro de 1863. Em 1862, encontrava-se igualmente instalado um gabinete de mineralogia e um gabinete de manipulações fotográficas[41].
A EPL ocupou o edifício do Colégio Real dos Nobres e conservou o recheio daquela instituição. Em 1843, esse mesmo edifício sofreu um violento incêndio, obrigando à deslocação da EPL e da Escola do Exército, que, até então, partilharam o mesmo espaço demonstrando a afinidade entre as duas[42]. A partir de 1854, a EPL encontrava-se instalada no edifício da Academia Real das Ciências de Lisboa, no antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco[43]. Após longa discussão e moroso processo de alocação de fundos públicos, em 1857, foi aprovado o plano de construção do novo edifício da EPL concluído na década de 70[44]. Entre 1860 e 1870, a EPL ocupou o "antigo edifício do Monte Olivete", já sem a Escola do Exército, instalada no Palácio da Bemposta a partir de 1850[45].
Professores
No período inicial de funcionamento da EPL, o corpo docente compunha-se de 10 professores proprietários, de nomeação vitalícia, e oito professores substitutos, acrescendo o professor proprietário de Desenho e um professor substituto[46]. Entre estes transitaram da Academia Real de Marinha os professores proprietários José Cordeiro Feio, José de Freitas Teixeira Spinola Castelo Branco, Albino de Figueiredo e Almeida, Filipe Folque e João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão, e o professor substituto João Ferreira Campos[47].
A composição do corpo docente evoluiu com o acréscimo e supressão de cadeiras realizados nas décadas seguintes. Em 1853, foi criado o lugar de professor substituto da sexta cadeira[48]. Em 1869, o corpo docente foi reduzido com a supressão de três lugares de professor substituto - um substituto das cadeiras de Matemática, e dois substitutos da cadeira de Química e de Geometria descritiva) à semelhança do que ocorreu nos quadros docentes de outras instituições, como o Instituto Industrial de Lisboa ou o Instituto Geral de Agricultura, em resposta à crise financeira internacional e a necessidade de reduzir a despesa pública com o ensino público[49][50].
A composição do corpo docente da EPL até 1890 demonstra uma relação próxima com a Academia Real das Ciências, sendo que 24 dos 31 professores foram sócios daquela agremiação científica[51].
Curricula
O plano de estudos da EPL era composto por 11 disciplinas e apresentava uma forte presença das matérias matemáticas, à semelhança da matriz curricular dos estudos militares setecentistas. Essa predominância justificava-se por os estudos matemáticos serem considerados a base instrumental necessária para o estudo e aplicação das restantes disciplinas do plano[52]. Às matérias matemáticas, alocadas, principalmente, à primeira e segunda cadeiras, sucedia-se o estudo da Mecânica (terceira cadeira), da Astronomia e Geodésia (quarta cadeira), da Física (quinta cadeira), da Química (sexta cadeira) e das ciências naturais, como Mineralogia, Geologia (sétima cadeira), Anatomia, Zoologia (oitava cadeira) ou Botânica (nona cadeira). A estas acresciam os estudos económicos e de direito (décima cadeira) e a disciplina de desenho[53][54].
No período inicial do funcionamento da EPL foi ministrada, até 1845, a cadeira de navegação pertencente ao terceiro ano da extinta Academia Real de Marinha de Lisboa, uma vez que ainda não se encontrava constituída a Escola Naval, sucedânea desta última[55]; e a aula de Introdução à História natural dos três reinos que funcionou até 1854, quando passou a ser leccionada na Academia Real das Ciências[56].
A presença curricular de disciplinas como a Astronomia no plano de estudos explica-se segundo a utilidade que teriam no processo de construção do Estado oitocentista, do reforço da sua soberania e capacidade de gestão do território. No caso particular da Astronomia, com ênfase para a área disciplinar da Astronomia esférica (que permitia determinar as coordenadas geográficas da terra), esta teria aplicação prática à cartografia e náutica[57]. No sentido oposto, e contrário ao desenvolvimento de aplicação prática dado à matemática, por exemplo, através da astronomia, o ensino de disciplinas como a química teve um menor desenvolvimento na EPL. Com um ensino de pendor mais teórico, a “escassa dimensão laboratorial” justificava-se pela falta de um sector industrial nacional que aproveitasse e igualmente criasse a necessidade da aplicação prática desses conhecimentos[58]. Observa-se que a capacidade de investigação da EPL foi sempre condicionada pela falta de programas definidos de investigação e a sua orientação para a resolução de problemas científicos práticos que o Estado pretendeu ver solucionados[59].
Em 31 de Dezembro de 1852, foi criada a cadeira especial de Montanística e Docimasia[60], sendo de frequência obrigatória para os alunos do curso de engenheiros militares[61]. Esta cadeira foi reformulada, em 1856, para abranger a disciplina de Metalurgia, que transitava da sétima cadeira. Nesta última permaneciam apenas as disciplinas de Mineralogia e Geologia[62], tendo sido suprimida em consequência da redução de despesa pública realizada nos estabelecimentos de instrução em 1869[63].
Por lei de 7 de Junho de 1859, e de acordo com a proposta de reforma apresentada pelo Conselho Escolar, o quadro disciplinar foi alargado com a criação de duas novas cadeiras, Geometria descritiva e Química orgânica[60]. Já, em 1898, a quinta cadeira seria desdobrada em duas unidades[64].
A oferta da EPL compunha-se de cinco cursos: o curso geral e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na Escola do Exército e na Escola Naval. A saber: o primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis; o segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; o terceiro curso preparatório para oficiais da marinha, reorganizado e reduzido em 1864[65]; e o quarto curso preparatório para engenheiros construtores navais[36], reorganizado em em 1880[66]. Era determinado que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto[67]. Os estudantes destinados às escolas medico-cirúrgicas e de farmácia, e também aos estudos de veterinária, realizavam os seus estudos preparatórios na EPL[68][65].
A distribuição de cadeiras pelos cursos foi reorganizada em 1857, uma vez que, por alteração efetuada em 1854, o primeiro ano se compunha da primeira cadeira e do primeiro ano de desenho originando a sobrecarga dos restantes dois anos[69]. De forma a serem adaptados às alterações realizadas no quadro de cadeiras nas décadas anteriores, os cursos da EPL foram novamente reorganizados em 1860[70]. Em função, os critérios de admissão à Escola do Exército e Escola Naval foram alterados demonstrando a vinculação entre estas e a EPL. Pela mesma reforma, foi instituído um sexto curso preparatório para oficiais de cavalaria e infantaria[71]. Em 1862, foi instituído um curso de engenheiros hidrógrafos composto pelo curso existente de oficiais de marinha e dois anos de curso especial. Em função da constituição do Corpo de Engenheiros Hidrográfos o curso foi reorganizado em 1869[72].
Em 1894, o primeiro e segundo cursos preparatórios foram reorganizados e passaram a constituir um único curso preparatório para os oficiais das diferentes armas do Exército e para os engenheiros civis. Este curso era igual ao existente na Academia Politécnica do Porto e na Universidade de Coimbra[66]. Dois anos depois, a reforma da Escola do Exército reorganizou os critérios de admissão para oficiais de infantaria e cavalaria resultando na redução do curso preparatório e na obrigatoriedade de frequência da cadeira de Química orgânica para os oficiais destinados às armas de engenharia e artilharia[73].
A partir de 1894, a oferta civil de cursos da EPL foi alargada com a criação do curso de habilitação para professor de liceu nas disciplina de Matemática, Ciências Físico-Químicas, Ciências Histórico-Naturais e Desenho[74].
A EPL foi herdeira e cultivadora de uma “cultura de precisão e de objectividade” traduzida na organização e “estabilização” do currículo das cadeiras, na normalização dos processos de avaliação e na uniformização dos métodos de ensino praticados na instituição[75]. Neste contexto de homogeneização do conhecimento, destaca-se a iniciativa dos professores na redação de manuais escolares, que serviam de base às aulas leccionadas e vieram permitir um acesso gradualmente mais alargado aos conhecimentos transmitidos. Esta prática foi “uma constante ao longo de toda a história da Escola Politécnica, sendo uma das funções mais duradoras dos seus professores”. Demonstrativa da sua importância e extensão na cultura da instituição, na segunda metade do século XIX, seria criada uma litografia própria da EPL, da qual foi responsável o professor de Astronomia e Geodésia, Filipe Folque[76].
Plano de estudos de 1837-1911 | ||||
Ano | Nome da Cadeira | Matérias | Livros | Professores |
Primeira cadeira | Aritmética, Álgebra elementar, Geometria sintética elementar, plana, sólida e descritiva; introdução à Geometria algébrica, e Trigonometria retilínea e esférica. | Professor proprietário entre 1837 e 1840: José Cordeiro Feio[46][77].
Professor proprietário em 1846: João Ferreira Campos[78]. Professor substituto entre 1837 e 1840: João Ferreira Campos[79][80]. Professor substituto em 1846: Gregório Nazianzeno do Rego[81]. Professor substituto em 1846: José Joaquim de Abreu Rego[81]. | ||
Segunda cadeira | Álgebra transcendente, Geometria analítica plana e a três dimensões; cálculo diferencial e integral, e princípios dos cálculos das diferenças, variações e probabilidades. | Professor proprietário entre 1837 e 1846: José de Freitas Teixeira Spínola de Castelo Branco[46][78].
Professor substituto entre 1837 e 1840: João Ferreira Campos[79][80]. Professor substituto em 1846: Gregório Nazianzeno do Rego[81]. Professor substituto em 1846: José Joaquim de Abreu Rego[81]. | ||
Terceira cadeira | Mecânica e suas principais aplicações às máquinas, com especialidade às de vapor. | Professor proprietário entre 1837 e 1846: Albino Francisco de Figueiredo e Almeida[46][78]. | ||
Quarta cadeira | Astronomia e Geodésia. | Folque, Filipe. Elementos d’Astronomia coordenados para uso dos alumnos da Eschola Polytechnica. Lisboa: Litografia da Escola Politécnica, 1840[82]. | Professor proprietário entre 1837 e 1846: Filipe Folque[46][78]. | |
Quinta cadeira | Física experimental e matemática. (Dividida em duas unidades em 1898). | Professor proprietário entre 1837 e 1846: Guilherme José António Dias Pegado[46][78].
Professor proprietário em 1861: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[78]. Professor substituto em 1846: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[78]. | ||
Sexta cadeira | Química geral e noções das suas principais aplicações às artes. | Professor proprietário entre 1840 e 1846: Júlio Máximo Pimentel[77][78].
Professor substituto em 1846: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[78]. | ||
Sétima cadeira | Mineralogia, Geologia, e princípios de Metalurgia.
(A partir de 1856, a matéria de Metalurgia deixa de constar nesta cadeira e transita para a cadeira de Montanística e Docimasia). |
Professor proprietário em 1840: Francisco António Pereira da Costa[78].
Professor substituto entre 13 de Maio de 1844 e 1846: José Maria Latino Coelho [81][83]. | ||
Oitava cadeira | Anatomia, e Fisiologia comparadas, e Zoologia. | Professor proprietário em 1840: Francisco Xavier de Almeida[77].
Professor proprietário em 1846: José Maria Grande[81]. | ||
Nona cadeira | Botânica, e princípios de agricultura. | Professor substituto em 1846: João de Andrade Corvo[81]. | ||
Décima cadeira | Economia política e princípios de Direito administrativo e comercial. | Professor substituto em 1846: Luís de Almeida Albuquerque[81]. | ||
Cadeira de desenho | Desenho linear, convenientemente desenvolvido, e os princípios gerais de desenho de figura, de plantas, de animais, e de outros produtos da natureza, e o da representação de instrumentos, máquinas e aparelhos. | Professor proprietário em 1846: D. Luís Muriel[81]. | ||
Cadeira de Navegação | Professor proprietário em 1837: João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão[79].
Professor substituto em 1840: Joaquim Cordeiro Feio[80]. | |||
Cadeira especial de Montanística e Docimasia (1852-1869). | (A partir de 1856, integrou a disciplina de Metalurgia). | |||
Cadeira de Geometria Descritiva (1859). | ||||
Cadeira de Química Orgânica (1859). | ||||
Professor substituto "das ditas cadeiras" em 1840: Gregoriano Nazianzeno do Rego[80]. |
Notas
- ↑ José Silvestre Ribeiro apresenta um relação de documentos, relativos à história da Escola Politécnica de Lisboa, consultável em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:293-294.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 44-45.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 395.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 46-47.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 391-392; Macedo, Projectar e Construir a Nação, 35.
- ↑ Luís Carolino apresenta uma comparação entre a École Polytechnique e a Escola Politécnica de Lisboa com base nos requisitos de admissão, a preparação dos alunos, nomeadamente nos princípios matemáticos, e no currículo leccionado. O autor conclui que apesar de a primeira ter influenciado a constituição da última, tal não significou a institucionalização exacta desse modelo em Portugal, sendo necessário atender aos factores locais que influenciaram a criação da Escola Politécnica de Lisboa. Carolino, "The making of an academic tradition", 396-397.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 33; 35; 37-38.
- ↑ Macedo, 35.
- ↑ Simões et al., "A Escola Politécnica de Lisboa", 2:783.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 38.
- ↑ Macedo, 65.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 399-400.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 51; 53.
- ↑ Macedo, 50; 58.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 406.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:122.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 53.
- ↑ Macedo, 57.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 20-22.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:139.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:165-166.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 398.
- ↑ Macedo, Projectar e Construir a Nação, 55.
- ↑ Simões et al., "A Escola Politécnica de Lisboa", 2:782-783.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:124.
- ↑ Ribeiro, 7:127.
- ↑ Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 213.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 33.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:286.
- ↑ Ribeiro, 12:152.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:128.
- ↑ Ribeiro, 7:124.
- ↑ Ribeiro, 7:126.
- ↑ Podem ser consultadas informações sobre o Observatório astronómico na dependência da Escola Politécnica de Lisboa em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 14:286-187; 16:437.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:123-124.
- ↑ 36,0 36,1 Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 10.
- ↑ Ribeiro, 12:167.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 10; 50.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:266.
- ↑ Podem ser consultadas informações sobre o Observatório meteorológico Infante D. Luís em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 14:289-305; 16:109; 130.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:286.
- ↑ Macedo, "Engenheiros e capital", 55-56.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 10:46-47.
- ↑ Sobre a construção do novo edifício da EPL vide Macedo, "Engenheiros e capital", 58-62.
- ↑ Macedo, "Engenheiros e capital", 57.
- ↑ 46,0 46,1 46,2 46,3 46,4 46,5 Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 8.
- ↑ Cunha, 8-9.
- ↑ Ribeiro, 7:141.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:291.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 38-39.
- ↑ Podem ser consultadas mais informações sobre o processo de admissão dos professores da EPL em Macedo, Projectar e Construir a Nação, 65-66.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 401-402.
- ↑ O programa e regulamento do curso de desenho em 1857 pode ser consultado em Ribeiro, Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:161-164.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 7.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:126.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 7-8.
- ↑ Simões et al., "A Escola Politécnica de Lisboa", 2:787.
- ↑ Simões et al., 2:787-788.
- ↑ Simões et al., 2:790.
- ↑ 60,0 60,1 Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 38.
- ↑ Ribeiro, 7:140.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:258.
- ↑ Ribeiro, 12:292.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 39.
- ↑ 65,0 65,1 Cunha, 56.
- ↑ 66,0 66,1 Cunha, 54.
- ↑ Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:124.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 399.
- ↑ A reorganização disciplinar pelas cadeiras existentes pode ser consultada em Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos,12:260.
- ↑ A distribuição das cadeiras pelos cursos pode ser consultada em Ribeiro, 12:277-278.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 52-53. Nas mesmas páginas pode ser consultada a distribuição das disciplinas pelos cursos.
- ↑ Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 53-54.
- ↑ Cunha, 55.
- ↑ Cunha, 55-56.
- ↑ Simões et al., "A Escola Politécnica de Lisboa", 786.
- ↑ Simões et al., 786-787.
- ↑ 77,0 77,1 77,2 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 98.
- ↑ 78,0 78,1 78,2 78,3 78,4 78,5 78,6 78,7 78,8 78,9 Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
- ↑ 79,0 79,1 79,2 Cunha, A Escola Politécnica de Lisboa, 9.
- ↑ 80,0 80,1 80,2 80,3 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
- ↑ 81,0 81,1 81,2 81,3 81,4 81,5 81,6 81,7 81,8 Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
- ↑ Carolino, "The making of an academic tradition", 408.
- ↑ Arquivo Histórico Militar. Processo de José Maria Latino Coelho, cx. 982.
Fontes
Arquivo Histórico Militar. Processo de José Maria Latino Coelho, cx. 982.
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Bibliografia
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Ligações Internas
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Categoria:Escola Politécnica de Lisboa
Ligações Externas
Marques, Daniel Brito Candeiras Gamito. "O ensino e a investigação em Zoologia e em Botânica na Escola Politécnica de Lisboa (1837-1911)". Tese de doutoramento, Universidade Nova de Lisboa, 2015.
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Autor(es) do artigo
João de Almeida Barata
https://orcid.org/0000-0001-9048-0447
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
Apoio especial “Verão com Ciência 2022” da UID 4666 – CHAM — Centro de Humanidades, financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES (PIDDAC)
DOI
https://doi.org/10.34619/w6pc-yu51
Citar este artigo
Almeida Barata, João de. "Escola Politécnica de Lisboa", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2024. Consultado a 27 de março de 2025, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Escola_Polit%C3%A9cnica_de_Lisboa. DOI: https://doi.org/10.34619/w6pc-yu51