Escola Politécnica de Lisboa: diferenças entre revisões

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Em 1859, a Escola Politécnica transitava da superintendência do Ministério da Guerra para o Ministério do Reino<ref>Ribeiro, 12:268.</ref>. No mesmo ano, os poderes públicos acediam favoravelmente a uma das reformas apresentadas pelo conselho da Escola Politécnica e eram criadas duas novas cadeiras, de geometria descritiva e química orgânica<ref>Ribeiro, 12:268.</ref>. Em 11 de Outubro, era ordenado àquele conselho que redigisse os programas a observar naquelas cadeiras<ref>Ribeiro, 12:270.</ref>.               
Em 1859, a Escola Politécnica transitava da superintendência do Ministério da Guerra para o Ministério do Reino<ref>Ribeiro, 12:268.</ref>. No mesmo ano, os poderes públicos acediam favoravelmente a uma das reformas apresentadas pelo conselho da Escola Politécnica e eram criadas duas novas cadeiras, de geometria descritiva e química orgânica<ref>Ribeiro, 12:268.</ref>. Em 11 de Outubro, era ordenado àquele conselho que redigisse os programas a observar naquelas cadeiras<ref>Ribeiro, 12:270.</ref>.               
Em 1869, o corpo docente da Escola Politécnica era reduzido pela supressão de três lugares de professor substituto à semelhança do que ocorreria em outras escolas, como o Instituto Industrial de Lisboa ou o Instituto Geral de Agricultura, face à crise financeira internacional e a necessidade de reduzir a despesa pública<ref>Ribeiro, 12:291.</ref>.             


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A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "''que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército''"<ref name=":2">Ribeiro, 7:124.</ref>. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>. A coadjuvar o diretor, em particular, na organização da Escola, num primeiro período de funcionamento, foi nomeada uma comissão composta por professores das extintas Academias de [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Marinha]] e de [[Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho|Fortificação, Artilharia e Desenho]], a saber, respectivamente, José Cordeiro Feio e [[Fortunato José Barreiros]]; Guilherme José António Dias Pegado, professor do [[Real Colégio Militar]]; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda<ref>Ribeiro, 7:128.</ref>.
A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "''que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército''"<ref name=":2">Ribeiro, 7:124.</ref>. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa<ref>Ribeiro, 7:127.</ref>. Em 1862, o visconde de Vila Maior ocupava o lugar de diretor<ref>Ribeiro, 12:286.</ref>. No período inicial de funcionamento da Escola e com fim à sua organização, o diretor foi coadjuvado por uma comissão composta por professores das extintas Academias de [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Marinha]] e de [[Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho|Fortificação, Artilharia e Desenho]], a saber, respectivamente, José Cordeiro Feio e [[Fortunato José Barreiros]]; Guilherme José António Dias Pegado, professor do [[Real Colégio Militar]]; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda<ref>Ribeiro, 7:128.</ref>.


A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes<ref name=":2" />. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "''encarregado de promover o melhoramento do ensino''", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da [[Escola do Exército]], um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.
A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes<ref name=":2" />. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "''encarregado de promover o melhoramento do ensino''", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da [[Escola do Exército]], um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.




 
Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação compunham-se de uma biblioteca, do Observatório Astronómico, precedente da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]], do gabinete de física, do laboratório de química, do gabinete de história natural e de um jardim botânico<ref>Ribeiro, 7:123-124.</ref>. Em 1862, encontrava-se igualmente instalado um gabinete de mineralogia e um gabinete de manipulações fotográficas<ref>Ribeiro, 12:286.</ref>.  
 
Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação eram uma biblioteca, o Observatório Astronómico precedente da [[Academia Real de Marinha de Lisboa|Academia Real de Marinha]], um gabinete de física, um laboratório de química, um gabinete de história natural e um jardim botânico<ref>Ribeiro, 7:123-124.</ref>.


Em 1842, o conselho da Escola Politécnica representava ao governo no sentido de colocar à disposição das suas aulas o "''Planetário do padre António Pereira de Figueiredo''", cujo exemplar estava na posse da Biblioteca de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:133.</ref>.
Em 1842, o conselho da Escola Politécnica representava ao governo no sentido de colocar à disposição das suas aulas o "''Planetário do padre António Pereira de Figueiredo''", cujo exemplar estava na posse da Biblioteca de Lisboa<ref>Ribeiro, 7:133.</ref>.


Para o ano de 1857 dá José Silvestre Ribeiro conta do proveitoso funcionamento do Observatório Meteorológico Infante D. Luís<ref>Ribeiro, 12:266.</ref>.
Para o ano de 1857 dá José Silvestre Ribeiro conta do proveitoso funcionamento do Observatório Meteorológico Infante D. Luís<ref>Ribeiro, 12:266.</ref>. O Observatório foi instalado em novo edifício inaugurado em 24 de Outubro de 1863<ref>beiro, 12:286.i</ref>.


==Professores== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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==Curricula== <!--Apagar caso a instituição não seja de ensino-->
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<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->
<!--Nota: no caso de instituições que não sejam de ensino, a criação de novos campos tem que ser debatida previamente-->
O plano de estudos da Escola Politécnica de Lisboa apresentado aquando da sua fundação era formado por 14 unidades curriculares. Acrescia "''o desenho linear, convenientemente desenvolvido, e os princípios gerais de desenho de figura, de plantas, de animais, e de outros produtos da natureza, e o da representação de instrumentos, máquinas e aparelhos''"<ref>Ribeiro, 7:123.</ref><ref>O programa e regulamento do curso de desenho em 1857 pode ser consultado em Ribeiro, 12:161-164.</ref>. No período inicial do seu funcionamento, a Escola Politécnica ministraria a cadeira de navegação, do terceiro ano da extinta [[Academia Real de Marinha de Lisboa]], uma vez que, à altura, ainda não se achava constituída a Escola Naval, sucedânea da última<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.
O plano de estudos da Escola Politécnica de Lisboa apresentado aquando da sua fundação era formado por 14 unidades curriculares. Acrescia "''o desenho linear, convenientemente desenvolvido, e os princípios gerais de desenho de figura, de plantas, de animais, e de outros produtos da natureza, e o da representação de instrumentos, máquinas e aparelhos''"<ref>Ribeiro, 7:123.</ref><ref>O programa e regulamento do curso de desenho em 1857 pode ser consultado em Ribeiro, 12:161-164.</ref>. No período inicial do seu funcionamento, a Escola Politécnica ministrou a cadeira de navegação, do terceiro ano da extinta [[Academia Real de Marinha de Lisboa]], uma vez que ainda não se encontrava constituída a Escola Naval, sucedânea da última<ref>Ribeiro, 7:126.</ref>.


A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "''que abrange o estudo de todas as disciplinas''" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na [[Escola do Exército]], conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto<ref>Ribeiro, 7:124.</ref>.
A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "''que abrange o estudo de todas as disciplinas''" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na [[Escola do Exército]], conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto<ref>Ribeiro, 7:124.</ref>.
Em 1854, foi suprimido o curso de introdução à história natural, sendo substituto por curso análogo regido na [[Academia Real das Ciências de Lisboa|Academia Real das Ciências]]<ref>Ribeiro, 12:257.</ref>.
Em 1862, José Silvestre Ribeiro dá conta da existência de um "''curso suplementar de estudos dos engenheiros hidrográficos''"<ref>Ribeiro, 12:283.</ref>.


A partir de 1852, os alunos do curso de formação de engenheiros militares tinham que frequentar a cadeira especial de montanística e docimasia<ref name=":11" />.
A partir de 1852, os alunos do curso de formação de engenheiros militares tinham que frequentar a cadeira especial de montanística e docimasia<ref name=":11" />.
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Esta mesma cadeira seria reformulada para abranger as matérias de metalurgia em 1856. As matérias transitavam da sétima cadeira, que permanecia apenas com mineralogia e geologia, devendo os alunos do curso de oficial de artilharia frequentá-la na cadeira de montanística e docimasia<ref>Ribeiro, 12:258.</ref>.
Esta mesma cadeira seria reformulada para abranger as matérias de metalurgia em 1856. As matérias transitavam da sétima cadeira, que permanecia apenas com mineralogia e geologia, devendo os alunos do curso de oficial de artilharia frequentá-la na cadeira de montanística e docimasia<ref>Ribeiro, 12:258.</ref>.


Em 1854, foi suprimido o curso de introdução à história natural, sendo substituto por curso análogo regido na [[Academia Real das Ciências de Lisboa|Academia Real das Ciências]]<ref>Ribeiro, 12:257.</ref>.
Procedeu-se a uma reorganização disciplinar no quadro de cadeiras da Escola em 29 de Setembro de 1857, uma vez que, por alteração efetuada em 1854, o primeiro ano se  compunha da primeira cadeira e do primeiro ano de desenho originando a sobrecarga dos restantes dois anos<ref>A reorganização disciplinar pelas cadeiras existentes pode ser consultada em Ribeiro, 12:260.</ref>.
 
Em 1860, foi aplicada nova redistribuição das cadeiras pelos cursos da Escola Politécnica<ref>A distribuição das cadeiras pelos cursos pode ser consultada em Ribeiro, 12:277-278.</ref>.
 
A partir de 1868 determinava-se que os cursos que frequentassem a disciplina de astronomia era obrigados a realizar exercícios no Observatório Real da Marinha. realização de exercícios<ref>Ribeiro, 12:291.</ref>.


Procedeu-se a uma reorganização disciplinar no quadro de cadeiras da Escola em 29 de Setembro de 1857, uma vez que, por alteração efetuada em 1854, o primeiro ano se  compunha da primeira cadeira e do primeiro ano de desenho originando a sobrecarga dos restantes dois anos<ref>A reorganização disciplinar pelas cadeiras existentes pode ser consultada em Ribeiro, 12:260.</ref>.




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|Professor proprietário, em 1840 e 1846: Guilherme José António Dias Pegado<ref name=":0" /><ref name=":7">''Almanak Estatistico de Lisboa em 1846'', 243.</ref>.
|Professor proprietário, em 1840 e 1846: Guilherme José António Dias Pegado<ref name=":0" /><ref name=":7">''Almanak Estatistico de Lisboa em 1846'', 243.</ref>.
Professor proprietário, em 1861: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira<ref>Ribeiro, 12:281.</ref>.
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Revisão das 16h10min de 18 de outubro de 2022


Escola Politécnica de Lisboa
(EPL)
Outras denominações Escola Polytechnica de Lisboa
Tipo de Instituição Ensino civil
Data de fundação 11 janeiro 1837
Data de extinção 1911
Paralisação
Início: valor desconhecido
Fim: valor desconhecido
Localização
Localização Colégio Real dos Nobres, Lisboa,-
Início: 11 de janeiro de 1837
Fim: 1843

Início: 1854

Localização Rua da Escola Politécnica
Início: 1870
Fim: 1911
Antecessora Academia Real de Marinha de Lisboa, Colégio Real dos Nobres, Academia Real Militar do Rio de Janeiro

Sucessora Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa


História

A Escola Politécnica de Lisboa foi criada por decreto de 11 de Janeiro de 1837[1], sob dependência do Ministério da Guerra. À semelhança do que ocorreu, nesse ano, com a criação da Academia Politécnica do Porto, a fundação da Escola Politécnica respeitou à institucionalização definitiva da instrução preparatória científica em Lisboa. A nova instituição foi sucedânea da Academia Real da Marinha de Lisboa e do Colégio Real dos Nobres, pelo que o seu ensino abrangeria as dimensões militar e civil. Em consequência, a Escola Politécnica seria caracterizada segundo a mais valia que devia representar a abrangência do seu escopo de instrução científica: "Um instituto de ciências físicas e aplicadas, destinado não só aos preparatórios dos engenheiros militares, engenheiros civis, oficiais e construtores de marinha, oficiais de artilharia, e estado maior, mas também a ministrar os conhecimentos auxiliares e indispensáveis ao estudo da medicina, da farmácia, do comércio, e o que mais importante é, da agricultura e da indústria"[2].

Não obstante, a criação e viabilidade da instituição não deixaram de ser questionadas. Nomeadamente, pelo projecto de lei apresentado pelo deputado José Manuel Botelho às Câmaras, em 1840[3], em que se defendia a extinção da Escola Politécnica, face à despesa realizada com a sua fundação e manutenção, sendo substituída pelo reestabelecimento da Academia Real de Fortificação, Real Colégio dos Nobres e Academia da Marinha, instituições de instrução científica criadas em Lisboa, no período que precedeu a instauração do liberalismo monárquico em Portugal, que, governando, as extinguiu ou reformulou. A comparação exarada entre instituições de índoles e com planos de estudo tão diferentes, consequente do desenvolvimento dado a diferentes disciplinas na Escola Politécnica, seria objeto de crítica por parte da comissão encarregada de examinar o projeto. Como tal, essa disparidade fundamentou a rejeição daquela proposta legislativa: "Que era o Colégio dos Nobres? Um liceu de instrução secundária mais ou menos bem organizado, e com o adorno de quatro disciplinas de luxo, a música, a esgria, a dança, e a equitação. Que é a Escola Politécnica? Um instituto de ciências físicas e aplicadas"[4].

A propósito, contrapondo o retrocesso a que o projeto de lei de José Botelho parecia querer condenar a instrução científica civil e militar em Lisboa, a comissão teceria considerações históricas sobre o projeto de criação do referido instituto de ciências físicas na capital. A ideia era projetada para o período imediato ao início das invasões francesas e à partida da Família Real. Assim, então, "já em 1800 o doutor Ciera propunha uma reforma destes estudos, e que pouco depois os célebres Brotero e abade Correia da Serra foram encarregados de organizar um plano para a organização de um estabelecimento de ciências físicas em Lisboa, e que feito o plano e até nomeados os professores e designado o local não veio a lume a obra (...) Já, pois, desde essa época se via a necessidade de dar unidade ao estudo das ciências físicas"[5].

As auscultações da sociedade civil sobre a questão da viabilidade da Escola Politécnica de Lisboa permaneceriam patentes ao longo de 1840 com a publicação de José António David Henriques, que criticava o parecer daquela comissão, e a resposta do historiador e político Alexandre Herculano, na qualidade de vogal daquela comissão, defendendo a extinção do Colégio Real dos Nobres[6].

Resolvida a continuação da Escola Politécnica, em 1852, João de Andrade Corvo, seu professor, bem como do Instituto Agrícola de Lisboa, sintetizava o propósito e fim daquela instituição: "A escola politécnica de Lisboa tem uma função a preencher; é o ensinar as ciências preparatórias para as escolas especiais que prepara para o serviço do Estado". No caso português, comparado ao modelo francês, apenas faltariam as "escolas especiais" para completarem o trabalho iniciado pela Escola Politécnica[7].

A afinidade institucional entre o Colégio Real dos Nobres e a Escola Politécnica de Lisboa foi física e material, tendo a última ocupado o edifício do Colégio e conservado o recheio daquela instituição. Em 1843, esse mesmo edifício sofria um violento incêndio, obrigando à deslocação daquela Escola e da Escola do Exército[8]. A partir de 1854, a Escola Politécnica encontrava-se instalada no edifício da Academia Real das Ciências de Lisboa, no antigo Convento de Nossa Senhora de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco[9]. Em 1857, iniciou-se a reconstrução do edifício da Escola[10].

Em 1851, era nomeada uma comissão encarregue de apresentar um plano de reorganização da Escola Politécnica almejando-se o desenvolvimento dos seus estudos[11]. Não obstante, no ano seguinte, apenas se procederia à criação de "uma cadeira especial de montanística [extração e fusão de metais] e docimasia [estudo da proporção do metal no minério]"[12], cuja regência seria assegurada por um professor que houvesse frequentado curso análogo no estrangeiro.

Mais tarde, durante 1857, foram propostas reformas do quadro disciplinar da Escola para que incluísse as disciplinas de "geometria descritiva" e "química orgânica", e desse "maior desenvolvimento ao ensino, na escola, das ciências administrativas, da economia política, e da estatística, atenta a grande importância que no regimen dos estados têm assumido as indicadas ciências". Outrossim, propunha-se a transferência do Museu Nacional para a Escola e a criação de um laboratório para investigações químicas[13]. O Museu de História Natural anteriormente sobre a dependência da Academia Real das Ciências de Lisboa foi transferido para a Escola Politécnica em 1858[14].

Em 1859, a Escola Politécnica transitava da superintendência do Ministério da Guerra para o Ministério do Reino[15]. No mesmo ano, os poderes públicos acediam favoravelmente a uma das reformas apresentadas pelo conselho da Escola Politécnica e eram criadas duas novas cadeiras, de geometria descritiva e química orgânica[16]. Em 11 de Outubro, era ordenado àquele conselho que redigisse os programas a observar naquelas cadeiras[17].

Em 1869, o corpo docente da Escola Politécnica era reduzido pela supressão de três lugares de professor substituto à semelhança do que ocorreria em outras escolas, como o Instituto Industrial de Lisboa ou o Instituto Geral de Agricultura, face à crise financeira internacional e a necessidade de reduzir a despesa pública[18].

Outras informações

Escola Politécnica de Lisboa

12:255-295.

16:178-, 437, 463.

17:14;42;203-204;208;279; 586.



! Ver segundo curso no plano de 1892, para acrescentar nas habilitações para o curso de engenharia militar da Escola do Exército. do mesmo ano. !

Sepúlveda, Historia organica e politica do Exercito Português, 6:150.

Director, em 1840 e 1846: José Feliciano da Silva Costa[19][20].


A Escola Politécnica de Lisboa era dirigida por um diretor, "que seja oficial general, ou oficial superior de qualquer das armas científicas do exército"[21]. A primeira nomeação no lugar de diretor recaiu no coronel de engenharia, José Feliciano da Silva Costa[22]. Em 1862, o visconde de Vila Maior ocupava o lugar de diretor[23]. No período inicial de funcionamento da Escola e com fim à sua organização, o diretor foi coadjuvado por uma comissão composta por professores das extintas Academias de Marinha e de Fortificação, Artilharia e Desenho, a saber, respectivamente, José Cordeiro Feio e Fortunato José Barreiros; Guilherme José António Dias Pegado, professor do Real Colégio Militar; e António Cabral de Sá Nogueira, provedor da Casa da Moeda[24].

A sua direcção científica era assegurada por conselho composto pelos professores de ambas as classes[21]. Acresciam um conselho para a gestão financeira e um conselho de aperfeiçoamento "encarregado de promover o melhoramento do ensino", sendo composto pelo diretor, dois lentes da escola, um lente da Escola do Exército, um lente da Escola Naval, e dois membros eleitos pelo governo[25].


Os estabelecimentos auxiliares anexos à Escola Politécnica aquando da sua fundação compunham-se de uma biblioteca, do Observatório Astronómico, precedente da Academia Real de Marinha, do gabinete de física, do laboratório de química, do gabinete de história natural e de um jardim botânico[26]. Em 1862, encontrava-se igualmente instalado um gabinete de mineralogia e um gabinete de manipulações fotográficas[27].

Em 1842, o conselho da Escola Politécnica representava ao governo no sentido de colocar à disposição das suas aulas o "Planetário do padre António Pereira de Figueiredo", cujo exemplar estava na posse da Biblioteca de Lisboa[28].

Para o ano de 1857 dá José Silvestre Ribeiro conta do proveitoso funcionamento do Observatório Meteorológico Infante D. Luís[29]. O Observatório foi instalado em novo edifício inaugurado em 24 de Outubro de 1863[30].

Professores

Professores em 1840.

Substituto "das ditas cadeiras", em 1840: Gregoriano Nazianzeno do Rego[31].


CORPO DOCENTE EM 1846:

1ª: João Ferreira Campos (Major engenheiro)[32].

7.ª: Francisco António Pereira da Costa[33].

8.ª: José Maria Grande[34].

Professor de desenho: D. Luís Muriel[35].

Substitutos das cadeiras de matemática: Gregório Nazianzeno do Rego (Segundo tenente engenheiro naval); José Joaquim de Abreu Rego (Bacharel)[36].

Substituto da 5/6: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira (Alferes do exército)[37].

Substituto da 7: José Maria Latino Coelho (Alferes aluno)[38].

Substituto da 9: João de Andrade Corvo (Alferes aluno)[38].

Substituto da 10: Luís de Almeida Albuquerque (Bacharel)[38].

Preparador de física: José Maurício Vieira[39].

Preparador de química: Francisco Mendes Cardoso Leal Júnior[40].




- José Rodrigues Coelho do Amaral (Coronel de Engenharia. Director da Escola Politécnica de Lisboa). Professor proprietário da 4.ª cadeira. Ribeiro, 12:152.  


Professor substituto da 7ª cadeira e professor bibliotecário, a partir de 13 de Maio de 1844: José Maria Latino Coelho[41].

Professor substituto da 5ª cadeira: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[42].


Em 1853 foi criado o lugar de professor substituto da sexta cadeira[43].

Curricula

O plano de estudos da Escola Politécnica de Lisboa apresentado aquando da sua fundação era formado por 14 unidades curriculares. Acrescia "o desenho linear, convenientemente desenvolvido, e os princípios gerais de desenho de figura, de plantas, de animais, e de outros produtos da natureza, e o da representação de instrumentos, máquinas e aparelhos"[44][45]. No período inicial do seu funcionamento, a Escola Politécnica ministrou a cadeira de navegação, do terceiro ano da extinta Academia Real de Marinha de Lisboa, uma vez que ainda não se encontrava constituída a Escola Naval, sucedânea da última[46].

A oferta da Escola Politécnica compunha-se de cinco cursos, distinguindo-se entre o curso geral, "que abrange o estudo de todas as disciplinas" e os cursos preparatórios obrigatórios para a frequência nos cursos de ciências militares ministrados na Escola do Exército, conterrânea daquela primeira e igualmente fundada em 1837, a saber: um primeiro curso preparatório para formação de oficiais do estado maior e de engenharia militar, e engenheiros civis, na parte civil; um segundo curso preparatório para oficiais de artilharia; um terceiro curso preparatório para oficiais da marinha; e um quarto curso preparatório para engenheiros construtores de marinha. A mais, era estabelecido que as disciplinas de primeiro ano, comuns aos cinco cursos, fossem frequentadas enquanto preparatório para oficiais de infantaria e cavalaria; sendo a primeira cadeira de matemática o preparatório para piloto[47].

Em 1854, foi suprimido o curso de introdução à história natural, sendo substituto por curso análogo regido na Academia Real das Ciências[48].

Em 1862, José Silvestre Ribeiro dá conta da existência de um "curso suplementar de estudos dos engenheiros hidrográficos"[49].

A partir de 1852, os alunos do curso de formação de engenheiros militares tinham que frequentar a cadeira especial de montanística e docimasia[12].

Esta mesma cadeira seria reformulada para abranger as matérias de metalurgia em 1856. As matérias transitavam da sétima cadeira, que permanecia apenas com mineralogia e geologia, devendo os alunos do curso de oficial de artilharia frequentá-la na cadeira de montanística e docimasia[50].

Procedeu-se a uma reorganização disciplinar no quadro de cadeiras da Escola em 29 de Setembro de 1857, uma vez que, por alteração efetuada em 1854, o primeiro ano se compunha da primeira cadeira e do primeiro ano de desenho originando a sobrecarga dos restantes dois anos[51].

Em 1860, foi aplicada nova redistribuição das cadeiras pelos cursos da Escola Politécnica[52].

A partir de 1868 determinava-se que os cursos que frequentassem a disciplina de astronomia era obrigados a realizar exercícios no Observatório Real da Marinha. realização de exercícios[53].


1837
Ano Nome da Cadeira Matérias Livros Professores
Primeira cadeira "Aritmética, álgebra elementar, geometria sintética elementar, plana, sólida e descritiva; introdução à geometria algébrica, trigonometria retilínea e esférica"[54]. Professor proprietário, em 1840: José Cordeiro Feio (Tenente coronel engenheiro)[55].

Professor substituto, em 1840: João Ferreira Campos[56].

Segunda cadeira "Álgebra transcendente, geometria analítica plana, e a três dimensões; cálculo diferencial e integral, e princípios dos cálculos das diferenças, variações e probabilidades"[54]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: José de Freitas Teixeira Spínola de Castelo Branco (Major engenheiro)[55][57].

Professor substituto, em 1840: João Ferreira Campos[56].

Terceira cadeira "Mecânica, e suas principais aplicações às máquinas, com especialidade às de vapor"[54]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Albino Francisco de Figueiredo e Almeida (Major engenheiro)[55][58].
Quarta cadeira "Astronomia e geodésia"[54]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Filipe Folque (Major engenheiro)[55][59].
Quinta cadeira "Física experimental, e matemática"[54]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Guilherme José António Dias Pegado[55][60].

Professor proprietário, em 1861: Joaquim Henriques Fradesso da Silveira[61].

Sexta cadeira "Química geral, e noções da suas principais aplicações às artes"[54]. Professor proprietário, em 1840 e 1846: Júlio Máximo Pimentel[55][62].
Sétima cadeira "Mineralogia, geologia, e princípios de metalurgia"[54].

A partir de 1856, a matéria de metalurgia deixa de constar nesta cadeira e transita para a cadeira de montanística e docimasia[63].

Oitava cadeira "Anatomia, e fisiologia comparadas, e zoologia"[54]. Professor proprietário, em 1840: Francisco Xavier de Almeida[55].
Nona cadeira "Botânica, e princípios de agricultura"[54].
Décima cadeira "Economia política, e princípios de direito administrativo e comercial"[54].
Cadeira de Navegação Professor proprietário, em 1837: João Gonçalo de Miranda Robalo Pelejão[64].

Professor substituto, em 1840: Joaquim Cordeiro Feio[65].

Cadeira especial de Montanística e Docimasia (1852) [12] A partir de 1856, integra as matérias de metalurgia[66].
Cadeira de Geometria Descritiva (1859)[67].
Cadeira de Química Orgânica(1859)[67].

Notas

  1. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 7:122.
  2. Ribeiro, 7:122.
  3. Ribeiro, 7:129.
  4. Ribeiro, 7:130.
  5. Ribeiro, 7:131.
  6. Ribeiro, 7:131.
  7. Ribeiro, 12:255-256.
  8. Ribeiro, 7:133.
  9. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 10:46-47.
  10. Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos, 12:165.
  11. Ribeiro, 7:139.
  12. 12,0 12,1 12,2 Ribeiro, 7:140.
  13. Ribeiro, 12:165-166.
  14. Ribeiro, 12:167.
  15. Ribeiro, 12:268.
  16. Ribeiro, 12:268.
  17. Ribeiro, 12:270.
  18. Ribeiro, 12:291.
  19. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 98.
  20. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 213.
  21. 21,0 21,1 Ribeiro, 7:124.
  22. Ribeiro, 7:127.
  23. Ribeiro, 12:286.
  24. Ribeiro, 7:128.
  25. Ribeiro, 7:126.
  26. Ribeiro, 7:123-124.
  27. Ribeiro, 12:286.
  28. Ribeiro, 7:133.
  29. Ribeiro, 12:266.
  30. beiro, 12:286.i
  31. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
  32. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  33. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  34. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  35. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  36. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  37. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  38. 38,0 38,1 38,2 Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  39. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  40. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 244.
  41. Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.
  42. Arquivo Histórico Militar. Processo individual de José Maria Latino Coelho. Cx. 982.
  43. Ribeiro, 7:141.
  44. Ribeiro, 7:123.
  45. O programa e regulamento do curso de desenho em 1857 pode ser consultado em Ribeiro, 12:161-164.
  46. Ribeiro, 7:126.
  47. Ribeiro, 7:124.
  48. Ribeiro, 12:257.
  49. Ribeiro, 12:283.
  50. Ribeiro, 12:258.
  51. A reorganização disciplinar pelas cadeiras existentes pode ser consultada em Ribeiro, 12:260.
  52. A distribuição das cadeiras pelos cursos pode ser consultada em Ribeiro, 12:277-278.
  53. Ribeiro, 12:291.
  54. 54,0 54,1 54,2 54,3 54,4 54,5 54,6 54,7 54,8 54,9 Ribeiro, 7:123.
  55. 55,0 55,1 55,2 55,3 55,4 55,5 55,6 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 98.
  56. 56,0 56,1 Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
  57. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  58. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  59. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  60. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  61. Ribeiro, 12:281.
  62. Almanak Estatistico de Lisboa em 1846, 243.
  63. Ribeiro, 12:258.
  64. Ribeiro, 7:128.
  65. Almanak Estatistico de Lisboa em 1840, 99.
  66. Ribeiro, 12:258.
  67. 67,0 67,1 Ribeiro, 12:268.

Fontes

Almanak Estatistico de Lisboa em 1840. Lisboa: Impressão Morandiana, 1839.

Almanak Estatistico de Lisboa em 1846. Lisboa: Typographia do Gratis, [s.d.].

Governo Português (16 de Janeiro de 1837). "Decreto de 11 de Janeiro de 1837", Diário do Governo, 13, 70-73.


Ribeiro, José Silvestre. Historia dos estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Sucessivos Reinados da Monarquia. Vol. 7. Lisboa: Typografia Real da Academia de Sciencias, 1878, pp. 122-142.

Bibliografia

ribeiro 7 ribeiro, 10

Ligações Internas

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Categoria:Escola Politécnica de Lisboa

Ligações Externas

Autor(es) do artigo

João de Almeida Barata

https://orcid.org/0000-0001-9048-0447

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

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