José Velho de Azevedo: diferenças entre revisões

Fonte: eViterbo
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=== Dados biográficos ===
=== Dados biográficos ===
José Velho de Azevedo era filho do engenheiro [[Jerónimo Velho de Azevedo]] e Mécia Coelha. Tal como o seu irmão, [[António Velho de Azevedo]], também engenheiro, terá feito a sua formação inicial com o próprio pai em Almeida, onde nasceu, na [[Aula de Fortificação de Almeida]]. Depois de ter trabalhado cerca de nove anos nas fortificações da Beira e Trás os Montes, passou para o Estado do Maranhão e Grão Pará em 1693, e lá permaneceu até a sua morte em 14 de novembro de 1724<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_009, cx. 24, D. 2453. </ref>.
José Velho de Azevedo era filho do engenheiro [[Jerónimo Velho de Azevedo]] e de Mécia Coelha. Tal como o seu irmão, [[António Velho de Azevedo]], também engenheiro, terá feito a sua formação inicial com o próprio pai em Almeida, onde nasceu, na [[Aula de Fortificação de Almeida]]. Depois de ter trabalhado cerca de nove anos nas fortificações da Beira e Trás os Montes, passou para o Estado do Maranhão e Grão Pará em 1693, e lá permaneceu até a sua morte em 14 de novembro de 1724<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_009, cx. 24, D. 2453. </ref>.


No Maranhão e Grão Pará, além dos vários trabalhos em que esteve envolvido enquanto engenheiro, ocupou várias vezes  posto de capitão-mor da capitania do Pará, em algumas circunstâncias interinamente (1698, 1707, 1714) e, oficialmente, entre 1716 e 1722. Casou-se em Belém com Ângela da Silva. Em 1704, obteve cartas de sesmarias relativas a ''“três léguas e meia de terras onde possuía um engenho real de açúcar e mais légua e meia que pediu, pois as que ocupava já estavam desgastadas pelo prolongado uso”.'' Em 1722, outra carta de sesmaria confirma que possuía ''“meia légua de terra no sítio de Guarapiranga, "no igarapé que chamam de Peris", com lavouras de cacau e currais de gado”''<ref>Santos, “Os capitães-mores do pará (1707-1737)", 667-688.</ref>. No seu testamento, além do engenho e das casas de vivenda que tinha em Belém, deixou também determinado o legado de ''“quarenta horas e cem mil reis por ano para ornato da capela de Nossa Senhora do Socorro”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 22, D. 2069. </ref>.
No Maranhão e Grão Pará, além dos vários trabalhos em que esteve envolvido enquanto engenheiro, ocupou várias vezes o posto de capitão-mor da capitania do Pará, interinamente, em 1698, 1707 e 1714; e, oficialmente, entre 1716 e 1722. Casou-se, em Belém, com Ângela da Silva. Em 1704, obteve cartas de sesmarias relativas a ''“três léguas e meia de terras onde possuía um engenho real de açúcar e mais légua e meia que pediu, pois as que ocupava já estavam desgastadas pelo prolongado uso”.'' Em 1722, outra carta de sesmaria confirma que possuía ''“meia légua de terra no sítio de Guarapiranga, "no igarapé que chamam de Peris", com lavouras de cacau e currais de gado”''<ref>Santos, “Os capitães-mores do pará (1707-1737)", 667-688.</ref>. No seu testamento, além do engenho e das casas de vivenda que tinha em Belém, deixou também determinado o legado de ''“quarenta horas e cem mil reis por ano para ornato da capela de Nossa Senhora do Socorro”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 22, D. 2069. </ref>.


===Carreira===
===Carreira===
Entre 2 de setembro de 1683 e 31 de janeiro de 1693, serviu como soldado e depois ajudante engenheiro nas fortificações das províncias da Beira e Trás os Montes, assistindo às diversas obras que ali se fizeram, tendo feito, nomeadamente, vistoria e reparos nas fortificações de Bragança e Montalegre, que se tinham arruinado<ref name=":0">Viterbo, ''Diccionario Histórico e Documental dos Architectos'', 3:173-174.</ref>.   
Entre 2 de setembro de 1683 e 31 de janeiro de 1693, serviu como soldado, e depois ajudante engenheiro, nas fortificações das províncias da Beira e Trás os Montes, assistindo às diversas obras que ali se fizeram. Em particular, realizou vistoria e reparos nas fortificações de Bragança e Montalegre, que se tinham arruinado<ref name=":0">Viterbo, ''Diccionario Histórico e Documental dos Architectos'', 3:173-174.</ref>.   


Em 13 de março de 1693, foi nomeado sargento-mor com exercício de engenheiro para a capitania do Pará, onde deveria servir por tempo de seis anos. Sentou praça naquela capitania em 1 de julho do mesmo ano.  
Em 13 de março de 1693, foi nomeado sargento-mor com exercício de engenheiro para a capitania do Pará, onde deveria servir por tempo de seis anos. Sentou praça naquela capitania em 1 de julho do mesmo ano.  


Em 1695, em carta dirigida a Mendo de Foios Pereira, secretário de estado do rei D. Pedro II, José Velho de Azevedo conta dos trabalhos até então realizados referindo-se a “''continuação''” da fortaleza da Barra de Belém, de que enviou a respectiva planta, assim como às fortificações do Cabo do Norte, as quais diz que “''continuou e acabou''”, e em Gurupá, onde diz que “''desenhou umas pequenas defesas''”<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 322. </ref>.  
Em 1695, em carta dirigida a Mendo de Foios Pereira, secretário de estado do rei D. Pedro II, José Velho de Azevedo dava conta dos trabalhos, até então, realizados referindo-se à “''continuação''” da fortaleza da Barra de Belém, de que enviou a respectiva planta. Referia também as fortificações do Cabo do Norte, que afirmava “''continuou e acabou''”, e em Gurupá, em que “''desenhou umas pequenas defesas''”<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 322. </ref>.  


Em 1698, alegando que se achava ''“molestado com doença que o obrigava a mudar de terra”'', é o próprio José Velho de Azevedo quem se oferece para passar como sargento-mor para o Rio de Janeiro. Afirmava que saindo do Maranhão poderia chegar ao Rio de Janeiro mais rapidamente que alguém vindo da corte. Pedia ainda que lhe fosse dado o soldo de vinte seis mil reis, tal como o tinham [[Pedro Correia Rebelo]] em Pernambuco e [[José Paes Esteves|José Paes Estevens]] na Bahia<ref name=":1">Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 350. </ref>.  
Em 1698, alegando que se achava ''“molestado com doença que o obrigava a mudar de terra”'', é o próprio José Velho de Azevedo quem se oferece para passar como sargento-mor para o Rio de Janeiro. Afirmava que, saindo do Maranhão, poderia chegar ao Rio de Janeiro mais rapidamente do que alguém vindo da corte. Pedia ainda que lhe fosse dado o soldo de vinte seis mil reis, tal como o tinham [[Pedro Correia Rebelo]] em Pernambuco e [[José Paes Esteves|José Paes Estevens]] na Bahia<ref name=":1">Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 350. </ref>.  


O Conselho Ultramarino concorda com os argumentos e com o pedido e, com efeito, em 27 de Dezembro de 1698, José Velho de Azevedo foi nomeado sargento-mor ''ad honorem'' da capitania do Rio de Janeiro, em substituição de [[Gregório Gomes Henriques]]. A sua carta patente determinava que deveria passar por terra do estado do Maranhão para a Bahia e dali embarcar para o Rio de Janeiro<ref name=":0" />. Determinava ainda que venceria o soldo pedido, que era maior do que o que se tinha dado aos seus antecessores, mas que tal implicava que seria ''“obrigado a ensinar aos artilheiros, porque esta foi a razão que moveu a vossa majestade a conceder aquele mesmo acrescentamento ao da Bahia e Pernambuco”''<ref name=":0" />. A viagem ao Rio de Janeiro não chegou a acontecer e José Velho de Azevedo permaneceu no Pará, onde efetivamente deu lições aos artilheiros. Vide [[Aula de Fortificação de São Luís]].  
O Conselho Ultramarino concorda com os argumentos e com o pedido. Com efeito, em 27 de Dezembro de 1698, José Velho de Azevedo foi nomeado sargento-mor ''ad honorem'' da capitania do Rio de Janeiro, em substituição de [[Gregório Gomes Henriques]]. A sua carta patente determinava que deveria passar por terra do estado do Maranhão para a Bahia e, dali, embarcar para o Rio de Janeiro<ref name=":0" />. Determinava ainda que venceria o soldo pedido, que era maior do que o que se tinha dado aos seus antecessores, mas que tal implicava que seria ''“obrigado a ensinar aos artilheiros, porque esta foi a razão que moveu a vossa majestade a conceder aquele mesmo acrescentamento ao da Bahia e Pernambuco”''<ref name=":0" />. A viagem ao Rio de Janeiro não chegou a acontecer e José Velho de Azevedo permaneceu no Pará, onde, efetivamente, deu lições aos artilheiros. Vide [[Aula de Fortificação de São Luís]].  


Em 12 de agosto de 1702, foi nomeado tenente general de artilharia com exercício de engenheiro, posto em que permaneceu até 12 de junho de 1716, quando assumiu por patente o cargo de capitão-mor do Pará o qual serviu até 11 de janeiro de 1722<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 7, D. 637. </ref>.
Em 12 de agosto de 1702, foi nomeado tenente general de artilharia com exercício de engenheiro, posto em que permaneceu até 12 de junho de 1716, quando assumiu por patente o cargo de capitão-mor do Pará o qual serviu até 11 de janeiro de 1722<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 7, D. 637. </ref>.
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O governador António Rolim de Moura certificava em 1705 que José Velho de Azevedo ''“concorreu para a fábrica do novo armazém de pólvora e reedificação da fortaleza desta cidade e trincheiras dela”.'' Na mesma data os oficiais do senado da câmara de Belém certificavam também que o engenheiro estava empenhado em continuar abra do fortim do porto de Nossa Senhora das Mercês<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 507. </ref>.  
O governador António Rolim de Moura certificava em 1705 que José Velho de Azevedo ''“concorreu para a fábrica do novo armazém de pólvora e reedificação da fortaleza desta cidade e trincheiras dela”.'' Na mesma data os oficiais do senado da câmara de Belém certificavam também que o engenheiro estava empenhado em continuar abra do fortim do porto de Nossa Senhora das Mercês<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 507. </ref>.  


No requerimento que faz, em 1712, pedindo o hábito da ordem de Cristo, (que não se sabe se o obteve) descreve sinteticamente os seus trabalhos na capitania dizendo que se tinha ocupado ''“assim em fábricas e desenhos das fortificações e do hospício dos padres piedosos do Gurupá, como na doutrina e exercício da infantaria, dando toda boa forma no que tocava a artilharia”.'' Afirma ainda que não tendo pedido nunca ajudas de custo, tinha, ao contrário, em mais de uma ocasião fornecido elementos e materiais para que as obras reais se pudessem realizar. Entre outras circunstâncias, em que tinha fornecido uma canoa, cal, madeira ou que tinha “''emprestado''” trabalhadores seus para ajudar nas obras, refere expressamente a uma ocasião em que ''“vendo a pouca condução que havia na expedição de pedras para fazer o frontispício da matriz da cidade do Pará ofereceu e doou para este efeito carro, bois e um escravo em que andaram por tempo de sete meses até se findar a dita obra, avantajando-se a quase todos os moradores no donativo”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 491. </ref>.
No requerimento que faz, em 1712, pedindo o hábito da ordem de Cristo - que não se sabe se o obteve -, descreve sinteticamente os seus trabalhos na capitania dizendo que se tinha ocupado ''“assim em fábricas e desenhos das fortificações e do hospício dos padres piedosos do Gurupá, como na doutrina e exercício da infantaria, dando toda boa forma no que tocava a artilharia”.'' Afirma ainda que não tendo pedido nunca ajudas de custo, tinha, ao contrário, em mais de uma ocasião fornecido elementos e materiais para que as obras reais se pudessem realizar. Entre outras circunstâncias, em que tinha fornecido uma canoa, cal, madeira ou que tinha “''emprestado''” trabalhadores seus para ajudar nas obras, refere expressamente a uma ocasião em que ''“vendo a pouca condução que havia na expedição de pedras para fazer o frontispício da matriz da cidade do Pará ofereceu e doou para este efeito carro, bois e um escravo em que andaram por tempo de sete meses até se findar a dita obra, avantajando-se a quase todos os moradores no donativo”''<ref>Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 491. </ref>.


===Outras informações===
===Outras informações===


==Obras==
==Obras==
Em Belém, deu continuidade às obras da fortaleza da Barra e da cidade, tendo realizado desenhos para ambas. Interveio também no baluarte de Santo António e sobretudo no baluarte das Mercês. Em 1705 edificou o armazém de pólvora<ref name=":2">Chambouleyron e Wania, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 43-63. </ref>.  
Em Belém, deu continuidade às obras da fortaleza da Barra e da cidade, tendo realizado desenhos para ambas. Interveio também no baluarte de Santo António e sobretudo no baluarte das Mercês. Em 1705, edificou o armazém de pólvora<ref name=":2">Chambouleyron e Wania, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 43-63. </ref>.  


Fez obras diversas nas fortificações do cabo do Norte, no forte do Paru, e na fortaleza de Gurupá, onde fez também o projeto e obra do Hospício dos Capuchos da Piedade (1695).  É possível que possa ter tido intervenção no hospício dos frades da Piedade em Belém.
Fez obras diversas nas fortificações do cabo do Norte, no forte do Paru, e na fortaleza de Gurupá, onde fez também o projeto e obra do Hospício dos Capuchos da Piedade (1695).  É possível que possa ter tido intervenção no hospício dos frades da Piedade em Belém.
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<nowiki>http://acervo.redememoria.bn.br/redeMemoria/handle/20.500.12156.2/241088</nowiki>.   
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Embora não assinadas, também são provavelmente de sua autoria<ref name=":2" />:  
Embora não assinadas, também são provavelmente de sua autoria:  


Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ CARTm_013, D. 0792. “Planta da cidade do Pará”, c. 1696.
Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ CARTm_013, D. 0792. “Planta da cidade do Pará”, c. 1696<ref name=":2" />.


Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D.0794. “Mapa de defesa da cidade do Grão Pará”, c. 1724.
Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D.0794. “Mapa de defesa da cidade do Grão Pará”, c. 1724<ref name=":2" />.


==Notas==
==Notas==

Revisão das 17h07min de 29 de maio de 2023


José Velho de Azevedo
Nome completo José Velho de Azevedo
Outras Grafias José Coelho de Azevedo
Pai Jerónimo Velho de Azevedo
Mãe Mécia Coelha
Cônjuge Ângela da Silva
Filho(s) valor desconhecido
Irmão(s) António Velho de Azevedo
Nascimento valor desconhecido
Almeida, Guarda, Portugal
Morte 14 novembro 1724
Belém, Pará, Brasil
Sexo Masculino
Religião Cristã
Residência
Residência Almeida, Guarda, Portugal
Data Fim: 1693

Residência Belém, Pará, Brasil
Data Início: 1693
Fim: 1724
Formação
Formação Engenharia Militar
Data Início: 1683
Fim: 1693
Local de Formação Almeida, Guarda, Portugal
Postos
Posto Ajudante
Data Fim: 31 de janeiro de 1693

Data Início: 13 de março de 1693
Fim: 12 de agosto de 1702

Posto Tenente-General
Data Início: 12 de agosto de 1702
Fim: 12 de junho de 1716
Arma Artilharia

Posto Soldado
Data Início: 02 de setembro de 1683
Fim: 1693
Cargos
Data Início: 12 de junho de 1716
Fim: 11 de janeiro de 1722
Actividade
Actividade Desenho de fortificação
Data Início: 1693
Fim: 1725
Local de Actividade Belém, Pará, Brasil

Actividade Desenho de arquitectura
Data Início: 1695
Fim: 1695
Local de Actividade Pará, Brasil


Biografia

Dados biográficos

José Velho de Azevedo era filho do engenheiro Jerónimo Velho de Azevedo e de Mécia Coelha. Tal como o seu irmão, António Velho de Azevedo, também engenheiro, terá feito a sua formação inicial com o próprio pai em Almeida, onde nasceu, na Aula de Fortificação de Almeida. Depois de ter trabalhado cerca de nove anos nas fortificações da Beira e Trás os Montes, passou para o Estado do Maranhão e Grão Pará em 1693, e lá permaneceu até a sua morte em 14 de novembro de 1724[1].

No Maranhão e Grão Pará, além dos vários trabalhos em que esteve envolvido enquanto engenheiro, ocupou várias vezes o posto de capitão-mor da capitania do Pará, interinamente, em 1698, 1707 e 1714; e, oficialmente, entre 1716 e 1722. Casou-se, em Belém, com Ângela da Silva. Em 1704, obteve cartas de sesmarias relativas a “três léguas e meia de terras onde possuía um engenho real de açúcar e mais légua e meia que pediu, pois as que ocupava já estavam desgastadas pelo prolongado uso”. Em 1722, outra carta de sesmaria confirma que possuía “meia légua de terra no sítio de Guarapiranga, "no igarapé que chamam de Peris", com lavouras de cacau e currais de gado”[2]. No seu testamento, além do engenho e das casas de vivenda que tinha em Belém, deixou também determinado o legado de “quarenta horas e cem mil reis por ano para ornato da capela de Nossa Senhora do Socorro”[3].

Carreira

Entre 2 de setembro de 1683 e 31 de janeiro de 1693, serviu como soldado, e depois ajudante engenheiro, nas fortificações das províncias da Beira e Trás os Montes, assistindo às diversas obras que ali se fizeram. Em particular, realizou vistoria e reparos nas fortificações de Bragança e Montalegre, que se tinham arruinado[4].

Em 13 de março de 1693, foi nomeado sargento-mor com exercício de engenheiro para a capitania do Pará, onde deveria servir por tempo de seis anos. Sentou praça naquela capitania em 1 de julho do mesmo ano.

Em 1695, em carta dirigida a Mendo de Foios Pereira, secretário de estado do rei D. Pedro II, José Velho de Azevedo dava conta dos trabalhos, até então, realizados referindo-se à “continuação” da fortaleza da Barra de Belém, de que enviou a respectiva planta. Referia também as fortificações do Cabo do Norte, que afirmava “continuou e acabou”, e em Gurupá, em que “desenhou umas pequenas defesas[5].

Em 1698, alegando que se achava “molestado com doença que o obrigava a mudar de terra”, é o próprio José Velho de Azevedo quem se oferece para passar como sargento-mor para o Rio de Janeiro. Afirmava que, saindo do Maranhão, poderia chegar ao Rio de Janeiro mais rapidamente do que alguém vindo da corte. Pedia ainda que lhe fosse dado o soldo de vinte seis mil reis, tal como o tinham Pedro Correia Rebelo em Pernambuco e José Paes Estevens na Bahia[6].

O Conselho Ultramarino concorda com os argumentos e com o pedido. Com efeito, em 27 de Dezembro de 1698, José Velho de Azevedo foi nomeado sargento-mor ad honorem da capitania do Rio de Janeiro, em substituição de Gregório Gomes Henriques. A sua carta patente determinava que deveria passar por terra do estado do Maranhão para a Bahia e, dali, embarcar para o Rio de Janeiro[4]. Determinava ainda que venceria o soldo pedido, que era maior do que o que se tinha dado aos seus antecessores, mas que tal implicava que seria “obrigado a ensinar aos artilheiros, porque esta foi a razão que moveu a vossa majestade a conceder aquele mesmo acrescentamento ao da Bahia e Pernambuco”[4]. A viagem ao Rio de Janeiro não chegou a acontecer e José Velho de Azevedo permaneceu no Pará, onde, efetivamente, deu lições aos artilheiros. Vide Aula de Fortificação de São Luís.

Em 12 de agosto de 1702, foi nomeado tenente general de artilharia com exercício de engenheiro, posto em que permaneceu até 12 de junho de 1716, quando assumiu por patente o cargo de capitão-mor do Pará o qual serviu até 11 de janeiro de 1722[7].

O governador António Rolim de Moura certificava em 1705 que José Velho de Azevedo “concorreu para a fábrica do novo armazém de pólvora e reedificação da fortaleza desta cidade e trincheiras dela”. Na mesma data os oficiais do senado da câmara de Belém certificavam também que o engenheiro estava empenhado em continuar abra do fortim do porto de Nossa Senhora das Mercês[8].

No requerimento que faz, em 1712, pedindo o hábito da ordem de Cristo - que não se sabe se o obteve -, descreve sinteticamente os seus trabalhos na capitania dizendo que se tinha ocupado “assim em fábricas e desenhos das fortificações e do hospício dos padres piedosos do Gurupá, como na doutrina e exercício da infantaria, dando toda boa forma no que tocava a artilharia”. Afirma ainda que não tendo pedido nunca ajudas de custo, tinha, ao contrário, em mais de uma ocasião fornecido elementos e materiais para que as obras reais se pudessem realizar. Entre outras circunstâncias, em que tinha fornecido uma canoa, cal, madeira ou que tinha “emprestado” trabalhadores seus para ajudar nas obras, refere expressamente a uma ocasião em que “vendo a pouca condução que havia na expedição de pedras para fazer o frontispício da matriz da cidade do Pará ofereceu e doou para este efeito carro, bois e um escravo em que andaram por tempo de sete meses até se findar a dita obra, avantajando-se a quase todos os moradores no donativo”[9].

Outras informações

Obras

Em Belém, deu continuidade às obras da fortaleza da Barra e da cidade, tendo realizado desenhos para ambas. Interveio também no baluarte de Santo António e sobretudo no baluarte das Mercês. Em 1705, edificou o armazém de pólvora[10].

Fez obras diversas nas fortificações do cabo do Norte, no forte do Paru, e na fortaleza de Gurupá, onde fez também o projeto e obra do Hospício dos Capuchos da Piedade (1695).  É possível que possa ter tido intervenção no hospício dos frades da Piedade em Belém.

No Arquivo Histórico Ultramarino consta a seguinte planta de sua autoria:

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D. 0790/0791.  Azevedo, José Coelho de. “Planta da fortaleza da barra do Pará.” ca 1696.

http://acervo.redememoria.bn.br/redeMemoria/handle/20.500.12156.2/241088.

Embora não assinadas, também são provavelmente de sua autoria:

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ CARTm_013, D. 0792. “Planta da cidade do Pará”, c. 1696[10].

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_CARTm_013, D.0794. “Mapa de defesa da cidade do Grão Pará”, c. 1724[10].

Notas

  1. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_009, cx. 24, D. 2453.
  2. Santos, “Os capitães-mores do pará (1707-1737)", 667-688.
  3. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 22, D. 2069.
  4. 4,0 4,1 4,2 Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, 3:173-174.
  5. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 322.
  6. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 350.
  7. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 7, D. 637.
  8. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 507.
  9. Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 491.
  10. 10,0 10,1 10,2 Chambouleyron e Wania, “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial”, 43-63.

Fontes

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 322. 1695, Julho, 8, Pará. Carta do sargento –mor engenheiro da capitania do Pará, josé Velho de Azevedo, para o secretário de estado, mendo de Fóios Pereira, sobre o envio da planta da fortaleza da Barra do Pará  e da sua visita à fortaleza do Cabo do Norte; queixa-se também de que não lhe são pagos os soldos de engenheiro. (documento anexo a AHU_ACL_CART_013, D. 789)

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 4, D. 350. 1698, Dezembro, 11, Lisboa. Consulta do Conselho Ultramarino para o rei D. Pedro II, sobre o requerimento do sargento-mor e engenheiro da capitania do Pará José Velho de Azevedo.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 491. (Ant. 1712, Agosto, 18) Requerimento de Jose Velho de Azevedo para o rei D. Doão V, solicitando a concessão do Hábito da Ordem de Cristo e uma tença efetiva de duzentos mil reis.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 6, D. 507. (Ant. 1714, agosto, 11) Requerimento de José Velho de Azevedo para o rei D. João V, solicitando a autenticação dos serviços e patentes que apresenta em anexo.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 7, D. 637. Requerimento de José Velho de Azevedo, para o rei [D. João V], solicitando seu provimento no posto de coronel-engenheiro da capitania do Pará, com o mesmo soldo de tenente-general de Artilharia.

Arquivo Histórico Ultramarino. AHU_ACL_CU_013, cx. 22, D. 2069 . 1739, agosto, 23, Belém do Pará. Carta do ex-ouvidor geral da capitania do Pará José Borges Valério para o rei D. João V sobre os erros ocorridos na partilha de bens do capitão-mor José Velho de Azevedo.

Arquivo Nacional Torre do Tombo. PT/AHU/CU/013/0006/00523. CARTA do capitão-mor [da capitania do Pará], José Velho de Azevedo, para o rei [D. João V], sobre o estado da administração militar da capitania do Pará, com especial destaque para as fortificações, peças de artilharia existentes (armas e munições) e Corpos Militares disponíveis para a defesa daquele Estado

Bibliografia

Araujo, Renata, As Cidades da Amazónia no século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão. Porto: Faup, 1998.

Chambouleyron, Rafael; Viana, Wania. “Engenheiros Militares Portugueses na Amazónia Colonial.” Em O Imenso Portugal estudos luso-amazônicos. Belém: UFPA, Cátedra João Lúcio de Azevedo, 2019, pp. 43-63.

Fabiano Vilaça dos Santos, “Os capitães-mores do pará (1707-1737): trajetórias, governo e dinâmica administrativa no Estado do Maranhão." Topoi 16, no. 31 (Julho/Dezembro 2015): 667-688.

Viterbo, Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou a serviço de Portugal. Vol. 3. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências, 1922.

Autor(es) do artigo

Renata Araujo

CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Algarve

https://orcid.org/0000-0002-7249-1078

Financiamento

Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-científicas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017

DOI

https://doi.org/10.34619/u7sd-nyzg

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Araujo, Renata. "José Velho de Azevedo", in eViterbo. Lisboa: CHAM - Centro de Humanidades, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 2022. (última modificação: 29/05/2023). Consultado a 26 de abril de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Jos%C3%A9_Velho_de_Azevedo. DOI: https://doi.org/10.34619/u7sd-nyzg