Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro: diferenças entre revisões
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''"Faço saber a vos, governador e capitão general da capitania do Rio de Janeiro que por ser conveniente a meu serviço que neste praça onde mandei formar de novo um terço de artilheiros haja Aula onde os oficiais e soldados do dito terço e as mais pessoas que quiserem aplicar-se possam aprender a teoria da artilharia e uso dos fogos artificiais, criando-se por este modo oficiais que depois de instruídos na dita Aula possam ser empregados nos postos da repartição da artilharia dessa e das mais capitanias, fui servido haver por bem por decreto de treze deste presente mês como se estabeleça a dita Aula e para mestre dela nomeei a José Fernandes Pinto Alpoim que proximamente provi no posto de sargento-mor do referido terço, o qual, além dos exercícios a que é obrigado pelo mesmo posto terá o de ditar postila, e ensinar a teoria da artilharia a todos os que quiserem aplicar-se a ela e especialmente aos oficiais do dito terço que nesta primeira criação forem providos , os quais serão igualmente obrigados a assisitir às liçoes da aula ao menos por tempo de cinco anos e faltando a elas serão castigados a vosso critério. E para o futuro não podereis informar para os postos de artilharia do terço, nem aprovar para os denombramentos, oficial algum que não tenha frequentado a dita Aula e seja examinado e aprovado nas matérias que nela se ditarem"''<ref>Pardal, Paulo. “Nota Biográfica e Análise Crítica.” In ''Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim 1744 (Reprodução Fac-Similar)'', 13–72. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987, p. 59.</ref> | ''"Faço saber a vos, governador e capitão general da capitania do Rio de Janeiro que por ser conveniente a meu serviço que neste praça onde mandei formar de novo um terço de artilheiros haja Aula onde os oficiais e soldados do dito terço e as mais pessoas que quiserem aplicar-se possam aprender a teoria da artilharia e uso dos fogos artificiais, criando-se por este modo oficiais que depois de instruídos na dita Aula possam ser empregados nos postos da repartição da artilharia dessa e das mais capitanias, fui servido haver por bem por decreto de treze deste presente mês como se estabeleça a dita Aula e para mestre dela nomeei a José Fernandes Pinto Alpoim que proximamente provi no posto de sargento-mor do referido terço, o qual, além dos exercícios a que é obrigado pelo mesmo posto terá o de ditar postila, e ensinar a teoria da artilharia a todos os que quiserem aplicar-se a ela e especialmente aos oficiais do dito terço que nesta primeira criação forem providos , os quais serão igualmente obrigados a assisitir às liçoes da aula ao menos por tempo de cinco anos e faltando a elas serão castigados a vosso critério. E para o futuro não podereis informar para os postos de artilharia do terço, nem aprovar para os denombramentos, oficial algum que não tenha frequentado a dita Aula e seja examinado e aprovado nas matérias que nela se ditarem"''<ref>Pardal, Paulo. “Nota Biográfica e Análise Crítica.” In ''Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim 1744 (Reprodução Fac-Similar)'', 13–72. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987, p. 59.</ref> | ||
Esta aula ,"formada de novo", surge na sequência da anterior [[Aula de Fortificação do Rio de Janeiro]] que vinha funcionando, talvez com algumas interrrupções, desde o final do século XVII. O papel de Alpoim é, como vimos, central na constituição da Aula do Terço, reforçando o interesse nas matérias específicas de artilharia. Mas, tal como na aula precedente, também se ditavam seguramente matérias relativas à fortificação. Assim o garantia a formação de Alpoim feita no reino, inicialmente na [[Academia de Fortificação de Viana]], junto a seu tio, [[Manuel Pinto de Vilalobos]], e continuada na [[Aula de Fortificação e Arquitectura Militar]] de Lisboa, com [[Manuel de Azevedo Fortes]]. Também a sua própria experiência como mestre, pois terá sido lente substituto ainda na [[ | Esta aula ,"formada de novo", surge na sequência da anterior [[Aula de Fortificação do Rio de Janeiro]] que vinha funcionando, talvez com algumas interrrupções, desde o final do século XVII. O papel de Alpoim é, como vimos, central na constituição da Aula do Terço, reforçando o interesse nas matérias específicas de artilharia. Mas, tal como na aula precedente, também se ditavam seguramente matérias relativas à fortificação. Assim o garantia a formação de Alpoim feita no reino, inicialmente na [[Academia de Fortificação de Viana]], junto a seu tio, [[Manuel Pinto de Vilalobos]], e continuada na [[Aula de Fortificação e Arquitectura Militar]] de Lisboa, com [[Manuel de Azevedo Fortes]]. Também a sua própria experiência como mestre, pois terá sido lente substituto ainda na [[Aula de Fortificação de Viana]] e depois na [[Aula de Fortificação de Almeida]], instituída em 1732. | ||
Em 1744 Alpoim publicou ''Exame de Artilheiros'' (Lisboa: Oficina de José Antonio Plates) e em 1748 ''Exame de Bombeiros'' (Madrid: Oficina de Francisco Martinez Abad), tratados que sintetizam as matérias ensinadas na Aula. Mesmo durante o período em que esteve em campanha com Gomes Freire de Andrade, nas demarcações de limites (1752-1759) e na guerra guaranítica (1753-1756), há relatos de que Alpoim continuava a ensinar nos próprios acampamentos. No poema o ''Uraguai,'' de Basílio da Gama, que foi um dos seus discípulos, há uma estrofe em que se louva o seu papel pedagógico. Este aspecto é significativo, na medida em que reafirma quer a estrutura metodológica das aulas, fundada sobre aplicação prática dos conhecimentos, quer a sua função pragmática e eminentemente multiplicadora. | Em 1744 Alpoim publicou ''Exame de Artilheiros'' (Lisboa: Oficina de José Antonio Plates) e em 1748 ''Exame de Bombeiros'' (Madrid: Oficina de Francisco Martinez Abad), tratados que sintetizam as matérias ensinadas na Aula. Mesmo durante o período em que esteve em campanha com Gomes Freire de Andrade, nas demarcações de limites (1752-1759) e na guerra guaranítica (1753-1756), há relatos de que Alpoim continuava a ensinar nos próprios acampamentos. No poema o ''Uraguai,'' de Basílio da Gama, que foi um dos seus discípulos, há uma estrofe em que se louva o seu papel pedagógico. Este aspecto é significativo, na medida em que reafirma quer a estrutura metodológica das aulas, fundada sobre aplicação prática dos conhecimentos, quer a sua função pragmática e eminentemente multiplicadora. | ||
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Revisão das 19h11min de 2 de fevereiro de 2021
Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro | |
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Outras denominações | Aula do Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro |
Data de fundação | 13 de agosto de 1738 |
Data de extinção | 1792 |
Localização | |
Localização | Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil Início: 13 de agosto de 1738 Fim: 1792 |
Antecessora | Aula de Fortificação do Rio de Janeiro |
Sucessora | Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho |
História
Em 13 de agosto de 1738 foi criada por carta régia a Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro e em 19 de agosto de 1738 José Fernandes Pinto Alpoim foi nomeado lente da aula, tendo ali servido praticamente até a sua morte, em 1765. O documento em que se comunica ao governador a decisão régia esclarece os objetivos e o modo de funcionamento da Aula.
"Faço saber a vos, governador e capitão general da capitania do Rio de Janeiro que por ser conveniente a meu serviço que neste praça onde mandei formar de novo um terço de artilheiros haja Aula onde os oficiais e soldados do dito terço e as mais pessoas que quiserem aplicar-se possam aprender a teoria da artilharia e uso dos fogos artificiais, criando-se por este modo oficiais que depois de instruídos na dita Aula possam ser empregados nos postos da repartição da artilharia dessa e das mais capitanias, fui servido haver por bem por decreto de treze deste presente mês como se estabeleça a dita Aula e para mestre dela nomeei a José Fernandes Pinto Alpoim que proximamente provi no posto de sargento-mor do referido terço, o qual, além dos exercícios a que é obrigado pelo mesmo posto terá o de ditar postila, e ensinar a teoria da artilharia a todos os que quiserem aplicar-se a ela e especialmente aos oficiais do dito terço que nesta primeira criação forem providos , os quais serão igualmente obrigados a assisitir às liçoes da aula ao menos por tempo de cinco anos e faltando a elas serão castigados a vosso critério. E para o futuro não podereis informar para os postos de artilharia do terço, nem aprovar para os denombramentos, oficial algum que não tenha frequentado a dita Aula e seja examinado e aprovado nas matérias que nela se ditarem"[1]
Esta aula ,"formada de novo", surge na sequência da anterior Aula de Fortificação do Rio de Janeiro que vinha funcionando, talvez com algumas interrrupções, desde o final do século XVII. O papel de Alpoim é, como vimos, central na constituição da Aula do Terço, reforçando o interesse nas matérias específicas de artilharia. Mas, tal como na aula precedente, também se ditavam seguramente matérias relativas à fortificação. Assim o garantia a formação de Alpoim feita no reino, inicialmente na Academia de Fortificação de Viana, junto a seu tio, Manuel Pinto de Vilalobos, e continuada na Aula de Fortificação e Arquitectura Militar de Lisboa, com Manuel de Azevedo Fortes. Também a sua própria experiência como mestre, pois terá sido lente substituto ainda na Aula de Fortificação de Viana e depois na Aula de Fortificação de Almeida, instituída em 1732.
Em 1744 Alpoim publicou Exame de Artilheiros (Lisboa: Oficina de José Antonio Plates) e em 1748 Exame de Bombeiros (Madrid: Oficina de Francisco Martinez Abad), tratados que sintetizam as matérias ensinadas na Aula. Mesmo durante o período em que esteve em campanha com Gomes Freire de Andrade, nas demarcações de limites (1752-1759) e na guerra guaranítica (1753-1756), há relatos de que Alpoim continuava a ensinar nos próprios acampamentos. No poema o Uraguai, de Basílio da Gama, que foi um dos seus discípulos, há uma estrofe em que se louva o seu papel pedagógico. Este aspecto é significativo, na medida em que reafirma quer a estrutura metodológica das aulas, fundada sobre aplicação prática dos conhecimentos, quer a sua função pragmática e eminentemente multiplicadora.
Em 1748 André Ribeiro Coutinho, autor do tratado Capitão de Infantaria, era mestre de campo do batalhão de artilharia e, junto a Alpoim, lente da Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro[2]. Depois da morte de Alpoim, em 1765, o sargento-mor Eusébio António de Ribeiros foi o lente da Aula, entre 1768 e 1774 [3]. Foi substituído neste ano pelo Tenente coronel António Joaquim de Oliveira que vinha com a função de "lente da Aula do Regimento de Artilharia desta capital e com a obrigação de ensinar igualmente a Arquitetura Militar a seis aulistas praticantes", escolhidos pelo vice-rei[3]. António Joaquim de Oliveira foi lente entre 1774 e 1795 e teve como ajudantes o cadete Caetano Pimentel e o sargento-mor José Pereira Pinto[4]. Trouxe do reino vários instrumentos para serem usados no curso, como bússulas, pranchetas, quadrantes e livros, entre os quais quatorze jogos do Noveau Curs Mathematique e um volume do La Science des Ingénieurs, de Bernard Forest de Bélidor[5]. Ainda no ano de 1774 se acrescentou à Aula do Terço de Artilharia a disciplina de arquitetura militar[4]. Em 1790, José Lane, autor de um tratado sobre Arquitetura Militar, tradução da obra de Antoni, lecionava na aula[2]. Entre os alunos que passaram pela Aula do Terço pode citar-se Alexandre Eloy Portelli.
Em 1792 a Aula do Terço de Artilharia, também conhecida por Aula do Regimento de Artilharia, foi reformada passando a chamar-se Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, continuando a ser dirigida por António Joaquim de Oliveira.
Outras informações
Professores
José Fernandes Pinto Alpoim (1738-1765); André Ribeiro Coutinho (1748); Eusébio António de Ribeiros (1768); António Joaquim de Oliveira (1774-1795);
Curricula
Notas
- ↑ Pardal, Paulo. “Nota Biográfica e Análise Crítica.” In Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim 1744 (Reprodução Fac-Similar), 13–72. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987, p. 59.
- ↑ 2,0 2,1 Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil Dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade : Fapesp, 2011, p. 211.
- ↑ 3,0 3,1 Cavalcanti, Nireu Oliveira. Arquitetos & Engenheiros: Sonho de Entidade Desde 1798. Rio de Janeiro: Crea-RJ, 2007, p. 45.
- ↑ 4,0 4,1 Piva, Teresa. “A Evolução Da Engenharia Militar No Rio de Janeiro de 1765 a 1810.” In História Da Ciência Luso-Brasileira. Coimbra Entre Portugal e o Brasil, 145–56. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
- ↑ Pardal, Paulo. Brasil 1792: Início do Ensino da Engenharia Civil e da Escola de Engenharia da UFRJ. [Salvador]: Odebrecht, 1985.
Fontes
Bibliografia
Bueno, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: O Brasil Dos Engenheiros Militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade : Fapesp, 2011.
Cavalcanti, Nireu Oliveira. Arquitetos & Engenheiros: Sonho de Entidade Desde 1798. Rio de Janeiro: Crea-RJ, 2007.
Pardal, Paulo. “Nota Biografica e Análise Crítica.” In Exame de Artilheiros de José Fernandes Pinto Alpoim 1744 (Reprodução Fac-Similar), 13–72. Rio de Janeiro: Xerox do Brasil, 1987.
Pardal, Paulo. Brasil 1792: Início do Ensino da Engenharia Civil e da Escola de Engenharia da UFRJ. [Salvador]: Odebrecht, 1985.
Piva, Teresa. “A Evolução Da Engenharia Militar No Rio de Janeiro de 1765 a 1810.” In História Da Ciência Luso-Brasileira. Coimbra Entre Portugal e o Brasil, 145–56. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
Ligações Internas
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Ligações Externas
Autor(es) do artigo
Renata Araujo
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto TechNetEMPIRE | Redes técnico-cientificas na formação do ambiente construído no Império português (1647-1871) PTDC/ART-DAQ/31959/2017
DOI
Citar este artigo
- Aula do Terço de Artilharia do Rio de Janeiro (última modificação: 02/02/2021). eViterbo. Visitado em 14 de maio de 2024, em https://eviterbo.fcsh.unl.pt/wiki/Aula_do_Ter%C3%A7o_de_Artilharia_do_Rio_de_Janeiro